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2.2. Teoria de stakeholders e Parques Tecnológicos
Lidar com os mais diferentes stakeholders é uma tarefa complexa, já que suas demandas podem, às vezes, estar até em extremos opostos, inclusive em termos de posicionamento estratégico (FREEMAN, 1984 apud JONES, 1995). Portanto, a capacidade de equilibrar as demandas de todos os atores participantes em qualquer organização é importante para conseguir uma cooperação entre eles (JONES, 1995; CHIOCHETTA, 2010).
A palavra stakeholder foi citada por primeira vez em um relatório do Instituto de Pesquisa de Stanford, em 1963, para indicar os principais grupos de uma empresa (DONALSON; PRESTON, 1995). Já Freeman (1984 apud JONES, 1995), apresenta o
stakeholder como um indivíduo ou grupo que afeta ou é afetado pelo alcance dos objetivos da
organização. Também pode ser considerado como a parte interessada nos rumos estratégicos da organização, em uma relação de influência mútua (ASHLEY; GARBELINI, 2009).
Carroll e Buchholtz (2011) apresentam uma categorização de stakeholders em dois grupos sociais:
i) Primários: acionistas e investidores, empregados e gestores, consumidores, comunidades locais, fornecedores e outros parceiros de negócios;
ii) Secundários: governo e entidades reguladoras, instituições civis, grupos sociais de pressão, observadores acadêmicos e mídia, organizações comerciais, competidores.
Enquanto os primários exercem participação direta, os secundários exercem influência indireta nos resultados de uma organização. Em relação a Parques Tecnológicos, Steiner, Cassim e Robazzi (2008) apresentam os papéis diferenciados na atuação de stakeholders envolvidos nesses tipos de iniciativas –Quadro 8.
Quadro 8 - Stakeholders envolvidos e seus possíveis papéis.
Atores Papéis desenvolvidas no Parque Tecnológico
Setor público em todas as esferas (federal, estadual, municipal)
São responsáveis por políticas de indução do desenvolvimento por meio de:
-Políticas públicas de Parques Tecnológicos como mecanismos de desenvolvimento nacional e local;
-Articulação entre os diversos níveis do poder público (federal, estadual e municipal), entre o poder público e privado, e entre o poder público e a academia;
-Investimento em equipamentos públicos específicos na área de laboratórios, serviços e formação de recursos humanos demandados pelo mercado local;
-Definição de uma política de atração de empresas para PTs; -Financiamento e capitalização de parques como função do setor público.
Órgãos governamentais São instituições ligadas ao poder público que são financiadoras de projetos ou de iniciativas.
Universidades
É onde está focada a geração de novas tecnologias e a formação de profissionais que poderão ser absorvidos pelas empresas participantes de parques.
Centros de pesquisa, desenvolvimento e
inovação São agentes geradores de conhecimento e novas tecnologias.
Incubadoras
São agentes que aproveitam da proximidade de Universidades, centros de pesquisa e EBTs, para criar seus empreendimentos com objetivos de oportunizar seu crescimento.
Empresas de base tecnológica –EBTs
São empresas que participam de Parques Tecnológicos, com o intuito de estar próximas da geração de novas tecnologias, da formação de especialistas nas mais diversas áreas e para participar de um mesmo espaço físico envolvendo todo o processo desde a geração de novas tecnologias até a prospecção de novos mercados.
Desenvolvedores Incorporados / Investidores
São aqueles agentes que estão alinhados às diretrizes de Parques Tecnológicos por meio de negócios imobiliários específicos. Serão responsáveis por construir e vender ou alugar espaços para empresas de base tecnológica e prestar serviços que incluem hotéis, auditórios, restaurantes, serviços gráficos, entre outros.
Sociedades empresariais
São agentes que defendem os interesses de seus representados e cooperam na geração de novas metodologias e inovações.
Instituições bancárias e/ou investidores com capital de risco
São empresas e/ou instituições que estão inseridas nos parques para possibilitar o desenvolvimento e crescimento de organizações instaladas.
Fonte: Elaborado pela autora com dados extraídos de Steiner, Cassim e Robazzi (2008).
Mesmo que os interesses dos stakeholders sejam distintos, o alcance dos objetivos de Parques Tecnológicos estará limitado ao quanto esses atores trabalham em conjunto (VEDOVELLO; JUDICE; MACULAN, 2006). Dessa maneira, é importante que os
stakeholders visem a disciplinar o processo de troca de informações e de criação de
estratégia empresarial pode ser entendida por todos na organização (STEINER; CASSIM; ROBAZZI, 2008).
Tendo em conta o anterior, os stakeholders vêm ao encontro do Modelo de Hélice Tríplice, de Etzkowitz e Leydesdorff (1996) que representa a interação entre governo, academia e empresa. Esse modelo descreve uma rede de relacionamento por meio de processos de inovação para: (i) acesso a novos mercados e conhecimento externo; (ii) partilha de riscos; (iii) obtenção de novas tecnologias; (iv) facilidade de comercialização de determinados produtos e (v) reunião de competência complementares (PITTAWAY; ROBERTSON; MUNIR; DENYER, 2004).
2.2.1 Modelo de Hélice Tríplice e Parques Tecnológicos
Tradicionalmente, a perspectiva sobre o papel da universidade tem sido o ensino e a pesquisa para a produção de conhecimento, sem envolver atividades comerciais. No entanto, devido às transformações acadêmicas tornou-se possível o atual papel empresarial dessa instituição. Segundo Etzkowitz e Spivack (2001) o âmbito acadêmico tem vivenciado 3 revoluções acadêmicas que fizeram com que seu papel evoluísse:
1. A primeira revolução aconteceu no início do século XIX e fomentou a atividade de pesquisa em universidades como elemento de transmissão de conhecimento;
2. A segunda revolução acadêmica surgiu no início do século XX e promoveu o desenvolvimento econômico social na educação;
3. A terceira revolução acadêmica, que é desenvolvida atualmente, apresenta o novo modelo de universidade empreendedora.
Conforme Teixeira e Costa (2006), identificam-se dois tipos de modelos universitários de transferência de tecnologia e conhecimento: (i) o modelo tradicional que possui um enfoque acadêmico e (ii) o modelo mais empreendedor que está ligado à indústria e as dinâmicas empresariais. A partir desse segundo modelo, começa-se a formar o conceito da tríplice hélice, que coloca à universidade como fornecedor chave de pesquisa e treinamento de pessoal (ETZKOWITZ, 2008).
Segundo a ANPROTEC (2002) o Modelo de Hélice Tríplice (T-H) apresenta uma interação coordenada entre três agentes sociais: instituições governamentais, setor empresarial e academia; com a finalidade de promover o desenvolvimento socioeconômico. Esse modelo proposto por Etzkowitz e Leydesdorff (2000) é uma expressão das dinâmicas,
associadas a três elementos básicos: (i) dar maior importância ao papel da universidade no processo de inovação, em comparação com as empresas e o governo, baseado na sociedade do conhecimento; (ii) a política de inovação é cada vez mais resultado do auxílio do governo bem como das interações de cooperação entre as outras esferas institucionais e (iii) cada esfera institucional cumpre com suas funções tradicionais e realiza funções de outras esferas, criando um eixo com um novo papel, sem esquecer suas funções tradicionais (ETKOWITZ, 2008).
De acordo com as metas, princípios e práticas típicos enunciados pela Unesco (2008), a IASP (2002) e a ABDI (2008), o Modelo de Hélice Tríplice poder ser apresentado da seguinte maneira na Figura 1.
Figura 1 - Modelo de Hélice Tríplice e elementos integradores.
Fonte: Elaborado pela autora com dados extraídos de Unesco (2008), a IASP (2002) e a ABDI (2008).
Segundo a Figura 1, os Parques Tecnológicos criam relações privilegiadas com os governos para obter benefícios tributários, cooperação direta com as universidades e proximidade com setores empresariais específicos.
O projeto segue a base conceitual do modelo universitário empreendedor para transferência de tecnologia e conhecimento e do Modelo de Hélice Tríplice (T-H), e então as
unidades de análise escolhidas foram Parques Tecnológicos com parcerias com universidades.