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BRICS: pontos estratégicos e desvantagens (um balanço)

2. Capítulo II – O Protagonismo dos BRICS na Cena Internacional

2.6 BRICS: pontos estratégicos e desvantagens (um balanço)

De acordo com a análise realizada, as capacidades dos BRICS podem ser sintetizadas da seguinte forma:

Brasil

Pontos Estratégicos Constrangimentos - Crescente protagonismo internacional

- Potência energética - Potência agrícola

- Crescimento económico moderado

- Graves carências sociais e níveis elevados de pobreza (ocupa a posição 73 do Índice de Desenvolvimento Humano, em 2010)

- Oposição regional da Argentina, México e Venezuela

Fonte: Tabela elaborada por Miguel Almeida, com base em 2011

Rússia

Pontos Estratégicos Constrangimentos - Potência de combustíveis fósseis

- Superpotência nuclear

- Grande potência mundial com uma palavra a dizer em questões como o Médio Oriente e a Coreia do Norte

- Membro permanente do Conselho de Segurança

- Economia ainda fraca e pouco aberta a multinacionais

- Crescimento demográfico negativo

- Imagem política e militar negativa (fruto das intervenções militares russas em conflitos como a Tchetchénia e a Geórgia)

- Perda de influência na sua esfera de intervenção regional

Fonte: Tabela elaborada por Miguel Almeida, com base em 2011

102

Dominique Darbon, “L’Afrique du Sud: une puissance au seul regard des autres?”, in L’enjeu mondial: les pays émergents, Presses de Sciences Po-L’Express, Paris, 2008

Índia

Pontos Estratégicos Constrangimentos - Crescimento económico na casa dos 8%

- Forte setor privado e empresarial - Crescimento demográfico gigantesco

- Apoio dos EUA à sua entrada como membro permanente no Conselho de Segurança

- Democracia estável

- Elevado índice de pobreza

- Graves problemas sociais (ocupa a posição 119 do Índice de Desenvolvimento Humano, em 2010) - Infraestruturas deficientes

- Grave conflito com o Paquistão e tensões históricas com a China

Fonte: Tabela elaborada por Miguel Almeida, com base em 2011

China

Pontos Estratégicos Constrangimentos - Crescimento económico na casa dos 10%

- Maior detentora mundial de títulos de dívida dos EUA

- Grande massa demográfica

- Crescimento gigantesco ao nível do investimento direto estrangeiro (IDE)

- Crescimento gigantesco ao nível da construção - Estratégia de investimento em África

- Perspetiva de estagnação demográfica a longo prazo

- Crescentes manifestações internas

- Conflitos em Taiwan, no Tibete e em Xinjiang - Regime político repressor e, consequentemente, penalizador da imagem da China

- Graves deficiências sociais (ocupa a posição 89 do Índice de Desenvolvimento Humano, em 2010) Fonte: Tabela elaborada por Miguel Almeida, com base em 2011

África do Sul

Pontos Estratégicos Constrangimentos - Líder do seu complexo regional

- País de África com melhor desempenho económico

- Ausência de disputas ou conflitos regionais

- Dimensão reduzida

- Desigualdades sociais abissais

- Muito longe do desempenho económico dos BRICS

Fonte: Tabela elaborada por Miguel Almeida, com base em 2011

A par destes elementos, os BRICS enquanto grupo apresentam ainda duas características fundamentais:

• A primeira é a de que a sua ascensão internacional se deve, fundamentalmente, a um colossal crescimento económico impulsionado pela gigantesca massa demográfica, juntamente com uma mão de obra barata e igualmente gigantesca.

• A segunda característica reside na noção de bloco aplicada ao conceito dos BRICS. Ora, pela análise já realizada, os BRICS retêm divergências políticas de natureza regional. A grande razão da união entre os BRICS é o poder da superpotência. Não é, pois, possível considerá-los como um bloco, pois além de não existirem órgãos e instituições oficiais que regulem a sua estratégia, os seus entendimentos são sobretudo pontuais e muito concretos. Não se trata, portanto, de um grupo coerente. Nas palavras de Cornelia Woll,

“Les pays émergents agissent rarement comme un bloc cohérent, mais plutôt comme des acteurs qui se regroupent selon des coalitions fluctuantes”103.

103

Cornelia Woll, “Les stratégies des pays émergents au sein de l’Organisation mondiale du commerce”, in L’enjeu mondial: les pays émergents, Presses de Sciences Po, Paris, 2008, p. 273

Ainda assim, importa salientar que existem pontos onde as potências emergentes já começam a alterar o eixo de tomada de decisões que é o atlântico norte. A Cimeira de Copenhaga sobre as alterações climáticas, em 2009, constituiu um dos maiores exemplos da força crescente de países como os BASIC (Brasil, China, Índia e África do Sul), cuja influência na cimeira conseguiu ultrapassar a tradicional influência da União Europeia nos acordos internacionais. Pela primeira vez, a União Europeia foi deixada de fora da redação do acordo final, já que o entendimento e as reuniões finais se fizeram exclusivamente entre os EUA e os países BASIC. Assim, e independentemente do sucesso ou insucesso relativamente ao acordo alcançado, a verdade é que a posição das potências emergentes, e em particular da China, conseguiram ter maior peso do que as grandes potências europeias ou do que o Japão.

Em termos globais, a posição dos BRICS no mundo pode ser sintetizada através do Quadro II: a parte a azul representa os melhores indicadores que caracterizam este grupo (massa crítica, grandeza das economias ou o investimento direto estrangeiro), e a parte vermelha representa os piores indicadores dos BRICS, justamente indicadores sociais, pobreza e desenvolvimento humano. O caso particular da África do Sul demonstra que, de facto, a sua dimensão é muito inferior aos restantes BRIC. Em suma, trata-se, portanto, de economias com grandes deficiências, mas igualmente com a grandeza suficiente para, num futuro próximo, atingirem um desenvolvimento mais elevado.

Quadro II

A Posição dos BRICS nos Rankings Mundiais País Território1 População1 Exército1 PIB

nominal2 Investimento Estrangeiro3 IDH4 Desigualdade Social5 Poder de Compra2 Brasil 5º 5º 14º 7º 14º 73º 10º 71º Rússia 1º 9º 4º 11º 19º 65º 53º 52º Índia 7º 2º 2º 10º 24º 119º 79º 129º China 3º 1º 1º 2º 7º 89º 34º 94º África do Sul 25º 25º 59º 29º 29º 110º 2º 77º

1 Banco Mundial – disponível em: http://databank.worldbank.org/ddp/home.do

2 FMI – disponível em: http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2011/01/weodata/weoselgr.aspx

3 CIA – disponível em: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2198rank.html 4 ONU – disponível em: http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2010/chapters/pt/

Capítulo III – O Poder Real dos BRICS

3. Uma Fórmula de Poder