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I. A DINÂMICA CONSTITUTIVA DA VONTADE

3. A VONTADE NA PÓS-MODERNIDADE

3.3. TIPOS PUROS DE DESEJOS NA PÓS-MODERNIDADE

3.3.1. O cínico-descrente

O indivíduo pós-moderno cínico é aquele que em nada crê. Mas a raiz de sua descrença não é a indiferença. Ele é aquele que lança suas críticas ferozes contra as convenções sociais. Seu sonho é que as relações sociais percam seu caráter de abstração e vaidade. Ele descrê de toda sociabilidade que traia ou se distancie das necessidades mais essenciais da vida. O pós-moderno cínico-descrente não acredita que haja um sentido que mereça ser regulador da existência e se irrita quando alguém proclama algum. Possui um desejo, então, de abolir ou fazer ruir os sentidos e os conceitos estabelecidos socialmente e valoriza o impulsivo, o naturalismo, a instintividade mais básica, animalesca, e as necessidades mais símplices. Seu objetivo é a ironização de tudo. A ironia e o paródico têm mais valor do que a crítica. Privilegia a discordância e está sempre pronto a reagir com uma série de investidas contra qualquer concepção metafísica que encontra. É um “desfazedor”, uma “persona non grata”, um bufão, aquele que se descompromete por opção.

De fato, o cinismo é sempre uma reincidência histórica. A história ocidental é marcada por uma trajetória que se pautou de início com a concepção de providência, que depois foi transposta para a idéia de progresso e depois sucumbe no nihilismo.226 Como afirma Lyon, parece que hoje vivemos numa “aceitação geral da visão de que nossas observações dependem de suposições, e de que essas suposições estão conectadas com cosmovisões e com posições de poder.”227 Isto tudo produz o efeito da atitude cínica, no sentido grego clássico. Uma das atitudes do pós-moderno é seu cinismo aliado à descrença. A idéia de conhecimento da humanidade é um absurdo. Não só qualquer ordenação já realizada do mundo se mostrou como uma fábula, como também se tornou inútil insistir em fazê-la.

3.3.2. O PASSIVO-INDIFERENTE

Para o pós-moderno passivo-indiferente, a ruína ou artificialidade dos valores sociais é de importância secundária, quando comparada com a enorme satisfação que há na não-participação e na indiferença. O indivíduo pós-moderno passivo tem a atitude de sempre desdramatizar o social, evitando que qualquer preocupação se erga ou pese demais no centro da vontade. Ao primeiro sinal social de tensão, depressão ou intensificação do interesse, cai num silêncio sociável absorvente ou,

226 LYON, David. Pós-modernidade. Op.cit., p. 14 227 Ibid., p. 15

quando se atreve a dizer algo nestas situações, faz apelos para se descontrair e relaxar. O pós- moderno passivo nada espera, por nada luta. Evita conversas sérias e tem aversão por quem tenta começá-las. Interessa-se pelas últimas tendências da comunicação fácil e a-crítica. Não consegue cultivar disciplina para nada, exceto na sua repugnânc ia à seriedade.

Não gosta de praticar esportes. Não tem a menor idéia do que dizer quando o assunto é uma grande paixão de vida ou de vocação. Detesta ler livros. Prefere a televisão ou o computador alegando não haver outra coisa melhor em que se ocupar e que só a tv consegue fazê-lo mais relaxado. Gosta de ir ao cinema, mas sempre escolhe os “blockbusters”, pois para ele um filme é melhor assistido com muita gente, pois sua intimidade passiva depende disso – “a anônima cumplicidade o conforta em seu isolamento psicológico.”228

Baudrillard possui um olhar mais positivo quanto ao passivo-indiferente. Ele interpreta esta atitude alegando que, como a relatividade se tornou algo natural para nós através da implacável monstruosidade informacional e do mar de simulações, as massas descobriram como subverter tudo isso através da estratégia do silêncio ou da passividade. Talvez através da passividade o código possa ser minado. Se reclamar da alienação produzida pela mídia ou lutar contra o terrorismo do código não produz efeito, a única saída é o silêncio. Assim, a passividade foi tomada como forma de resistência. “Resistência ao trabalho, resistência à medicina, resistência à escola, Resistência à segurança e resistência à informação.”229 Na passividade, percebemos que “a resistência ao social sob todas as formas progrediu mais rapidamente do que o social.”230

De qualquer forma, não é equivocado dizer que nossas culturas flutuam atualmente “em algum ponto entre a passividade e a espontaneidade selvagem”.231 Não há a vontade de criar, nem de destruir. Move-se apenas, quando muito, na reprodução. Mas, em meio aos enigmas provocados pela atitude passivo-indiferente, a pergunta central que devemos fazer, adverte Baudrillard, é por que tal indiferença e passividade são possíveis:

“Por que após inúmeras revoluções e um século ou dois de aprendizagem política, apesar dos jornais, dos sindicatos, dos partidos, dos intelectuais e de todas as energias postas a educar e a mobilizar o povo, por que ainda se encontram (e se encontrará o mesmo em dez ou vinte anos) mil pessoas para se mobilizar e vinte milhões para ficar passivas? – e não somente passivas, mas por francamente preferirem, com toda boa fé e satisfação, e sem mesmo se perguntar por que, um jogo de futebol a um drama polít ico e humano?”232

228 ECO, Humberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo, Editora Perspectiva, 1976, p. 342 229 BAUDRILLARD, Jean. À sombra das maiorias silenciosas. Op. cit., p. 36

230 Ibid., p. 37 231 Ibid., p. 10 232 Ibid., p. 17

Para Baudrillard, alegar que há um desejo de alienação e servidão, como faz Lyotard, não procede. Nem tampouco procede uma espécie de “microfascismo cotidiano que é tão incompreensível quanto sua virtual pulsão de liberação.”233 Na verdade, não há nem desejo de fascismo, nem de poder, nem de revolução. Talvez esta seja a nossa última esperança: que as massas tenham um inconsciente ou um desejo, o que permitiria reinvesti-las como suporte ou suposto de sentido. Mas este suposto desejo, reinventado em toda parte, não é senão o referencial do desespero político. E a estratégia do desejo, após ter sido envolvida no marketing empresarial, hoje se debruça na promoção revolucionária das massas.

Nos é extremamente doloroso aceitar que vivemos na era do desejo morto. O desejo morto produz a solidão de ter todas as coisas cheias – o triunfo dos objetos. Na indiferença não há a dor da saudade. Nossa era acredita que não é preciso a saudade. Nada que nos espere, nada para que voltar, ainda que seja no futuro. Quando muito, o que temos é um pastiche esvaziado do passado, como vimos. O poder lutou para que houvesse uma sociedade totalmente apática, mas agora tal inércia gerada “tornou-se o signo de sua própria morte. É por isso que o poder procura inverter as estratégias: da passividade à participação. Mas é tarde: na massa o político se deteriora como vontade e representação”234 e cai no vazio. O desejo de sentido, quando falta, o desejo de realidade, quando se faz ausente em todas as partes, não podem ser ple namente satisfeitos e são um abismo definitivo.235 Isto pode ser chamado de um hiper-conformismo destruidor.236 Em outras palavras o desejo morto.

3.3.3. O SUJEITO ESVAZIADO

Outra atitude é a do indivíduo esvaziado ou o pós-moderno que mortificou-se como sujeito. Para ele, a marca da pós-modernidade não está na forma da mortificação da vontade indiferente ou passiva, nem coloca em prioridade a denúncia da inutilidade dos valores sociais. O sujeito esvaziado é o pós-moderno que recusa o senso pessoal, o privado, o si-próprio inconfundível, ou mesmo o corporal, como identidade. O eu singular, a identidade privada, a individualidade única, a visão singular do mundo – tudo isso foi evaporado, extinto. É o sujeito-engrenagem ou, nas palavras de Nietzsche, de rebanho. Ele só pode ser algo na medida em que se encontra em uma multidão ou incorporado. Sem o suporte dos grupos, ele entra num sentimento de profundo vazio e solidão.

233 Ibid., p. 19 234 Ibid., p. 24 235 Ibid., p. 27 236 Ibid., p. 41

Em nosso capitalismo corporativo tardio, temos o homem-organizacionável, das burocracias empresarias, da super-população, dos ajuntamentos, dos grandes eventos e da festividade, da grande sociabilidade hábil.. Na pós-modernidade o sujeito não representa mais o ponto central da realidade. O centro transferiu-se para o objeto, o objeto hiper-real, simulado. Em lugar da lógica do sujeito, temos a lógica do objeto. “O objeto triunfa hoje por todo o lado, através da sua posição de objeto, sobre o sujeito. Escapa-lhe por todo o lado e o reenvia à sua inatingível posição de sujeito. Pela sua complexidade, não só ultrapassa como anula as perguntas que o outro lhe pode fazer. Esta vingança do objeto está apenas no seu começo”.237 O que move a realidade não são mais os cidadãos, com seus direitos civis, nem os proletariados. Tudo isto foi assimilado e devidamente processado de modo a se tornarem consumidores. Mas, acima de tudo, “a massa é um objeto puro, isto é, aquilo que desapareceu no horizonte do sujeito e do sentido.238 Isoladas em seu silêncio, as massas humanas não são mais sujeito (sobretudo não da história). Elas não podem, portanto, ser faladas, articuladas, representadas, nem passar pelo ‘estágio do espelho’ político e pelo ciclo das identificações imaginárias. Não sendo sujeito, elas não podem ser alienadas.”239 Depois dos séculos de subjetividade triunfal, é hoje a ironia do objeto que nos espreita, ironia objetiva, lisível no próprio centro da informação e da ciência, no próprio centro do sistema e das suas leis, no centro do desejo e de toda a psicologia.

As perspectivas humanistas na época do hiper-real tornam-se nulas porque já não somos mais orientados por um telos. O pós-estruturalismo vai mais além alegando que “o individual não é somente coisa do passado como também não passa de um mito. Antes de mais nada, ele nunca existiu realmente; nunca existiram sujeitos autônomos desse tipo. Tal construto foi uma mistificação filosófica e cultural que procurava persuadir as pessoas de que elas ‘tinham’ sujeitos individuais e possuíam tal identidade pessoal singular.”240

3.3.4. O HEDONISTA-CONSUMISTA

O hedonista-consumista é o tipo pós-moderno mais ativo. Diferente do cínico, do passivo e do esvaziado, ele é movido pelo prazer, seja objetivo ou imaginário. Todo prazer é bem vindo, seja “real” ou virtual, contanto que seja prazer. Ele é um grande acumulador de sensações. Sua forma privilegiadora de “aproveitar” a vida se dá através dos sentidos. O hedonista-consumista é aquele que procura ver mais, ouvir mais, cheirar mais, saborear mais, enfim, ter o máximo de prazer onde

237 IDEM. As estratégias fatais. Op. cit., p. 70 238 Ibid., p. 80

239 IDEM. p. 23

estiver. Este impulso o torna um aliado convicto do consumismo. Tudo está em iminente potencial de ser transformado em sensação. Tudo se torna demasiadamente próximo, promíscuo, sem limites, deixando se penetrar por todos os poros e orifícios. Ele entrega-se ao prazer do consumo como quem tira o máximo que pode dele, já que o mundo se tornou uma fábula.

No hedonista-consumista há uma ânsia de prazer a qualquer preço. Mas não um prazer “made in Id, mas made in Superego – o superego pós-moderno que diz que “tudo vale” e “tudo deve porque pode”.241 Para o hedonista-consumista todos se sentem na obrigação de se divertir, de “curtir a vida adoidado” e de “trabalhar muito para ter dinheiro ou prestígio social”, não importando os limites de si próprio e dos outros. Ele está até disposto a se vender se isto lhe der prazer. No natal, ele não se satisfaz em ficar com seus familiares em casa e se põe a percorrer o maior número de lares amigos e conhecidos pela simples ampliação do prazer que estas ocasiões dão às sensações e ao consumo. Ele é capaz de comemorar intensamente um gol que todo mundo comemora sem mesmo saber qual o time em questão. Ele usa o celular inúmeras vezes sem motivo concreto pelo simples prazer de se sentir e demonstrar a todos que está conectado. Vive à procura do próximo orgasmo porque, além de isto lhe dar muito prazer, suspeita que todos também fazem assim. Ele gosta de se sentir feliz e vencedor. Ele também tenta, com todas as suas forças, sentir prazer naquilo que é obrigado a fazer. No fundo, ele não faz distinção de limites definidos entre trabalho, lazer, estudo, diversão, alimentação, etc.

Para este pós-moderno, “a moral puritana foi substituída pela moral hedonista de pura satisfação e funciona como um novo estado de natureza”242: “Eu tenho o direito de ter 3 carros e várias mulheres”. O slogan “liberte-se para ser você mesmo” de roupagens modernas é apropriado significando “liberte-se para projetar os seus desejos em mercadorias”. O “liberte-se para gozar a vida” quer dizer, “liberte-se para regredir e se tornar irracional, adaptando-se à organização da produção e vendo nela o maior tesouro possível na vida.” O hedonista consumidor é o ser social perfeito. Ele vive numa práxis de consumo. Diferente do cínico-descrente, o hedonista-consumista possui algumas crenças: em primeiro lugar, ele crê que a sociedade de consumo (objetos, produtos, publicidade, mídia) oferece ao indivíduo, pela primeira vez na história, uma possibilidade de libertação e de realização total. Também crê que o consumo é a melhor expressão possível do individual e do coletivo, com uma linguagem autêntica, verdadeira e culturalmente nova. Ele rebate as alegações de “niilismo do consumo” com um “novo humanismo do consumo”.243 Hoje, diz ele,

241 LIMA, Raymundo de. Para entender o pós-modernismo. Revista eletrônica Espaço Acadêmico, nº 35, abril-2004, www.espacoacademico.com.br/, p. 5

242 BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. Op. cit., p. 194 243 Ibid., p. 193 a 194

podemos nos permitir ser criança sem termos vergonha disso. A liberdade de “ser” é ofensiva. Ela joga um ser humano contra o outro. Nós há muito carecíamos de uma liberdade do possuir, mais inofensiva, nos tornando aventureiros sociais.

Para ele, não há como o prazer e o consumismo serem imorais. Fazer da vida um prazer é moral, não imoral. O sacerdote justificador de tal moralidade é a publicidade. O sacerdócio publicitário assume a responsabilidade moral pelo hedonismo-consumista, que possui o segredo da administração dos desejos e das pulsões humanas – basta que as direcionemos sempre para os objetos, pois ao assim procedermos, “a irracionalidade cada vez mais ‘livre’ das pulsões na base irá a par de um controle cada vez mais estrito no vértice”.244 A ambição do hedonista-consumista é a instalação de uma nova “ordem” humana na terra, em que a liberdade e a felicidade prevaleçam sem quaisquer apoios transcendentais ou sobrenaturais. Para ele, nós podemos sim nos tornar aquilo que queremos.

3.3.5. O IMEDIATISTA

O imediatista é o pós-moderno mais movente e mais mergulhado no aqui-agora. Ele dá um valor extremo ao presente porque acha que é nele que se encontra a verdadeira liberdade, a verdadeira autonomia e independência. O imediato é coroado por ele com uma super-valorização ontológico-temporal do momento vivido. No imediato temos mais realidade. É ali que há mais ser, mais vida, mais energia, mais intensidade de vida e de mundo. Não estar mergulhado intensamente no presente significa estar numa condição inferior de existir. Não estar imerso no presente é insistir num estado senil, antiquário e descabido para a pulsão “real” dos acontecimentos. O presente deve ser cortado da história e o tempo não deve super-estruturar os espaços. Como ele persegue a riqueza do imediato, e como não há um “para frente” ou “para trás”, o que conta é exatamente sua habilidade de se mover no que considera a riqueza oferecida pelos espaços. Por isso está sempre a dizer: “Preciso de mais espaço. A ninguém será permitido questionar o meu direito de sair do espaço em que atualmente estou.”245 Procura, então, se mover sempre, ser um turista no mundo, estar onde a ação está, pronto a assimilar experiências quando elas chegam. Suas idéias e aspirações não são de longo prazo. Ao contrário, não tem disposição ou vontade para o duradouro. O que dura é o efêmero. Sua estratégia de vida é evitar que se fixe. Ele não se compromete com o sentido das experiências passadas e nem dá muita importância à antecipações do futuro. Na continuidade de seu mover-se, nenhuma imagem da situação futura se acha à mão para encher a experiência presente

244 Ibid., p. 195

com um significado. Cada presente que se sucede deve explicar-se em função de si próprio e fornecer sua própria chave para lhe interpretar o sentido. É assim que exerce seu impulso para aproveitar cada minuto do presente. Nada que ocorre hoje se liga ao amanhã, ou ao ontem.

Quanto às relações humanas, o imediatista “mantém curto cada jogo da vida, de modo que um jogo da vida sensatamente disputado requer a desintegração de um jogo que tudo abarca.”246 O viver são jogos estreitos, pequenos e breves, cuja validade nunca se estende para além do momento vivido. Para ele, este “além do momento” é uma ilusão doentia. Assim, possui um cuidado disciplinado para que as conseqüências de um jogo não sobrevivam ao próprio jogo, pois, para ele, os que gostam de produzir tais conseqüências são aqueles que têm medo de viver mergulhados intensamente no presente. A ordem é “vigiar para não cair na tentação das conseqüências”. As companhias que possui agora são fruto de um impulso e de um desejo que morrerão nos lugares que se seguirão. As pessoas são sim conseqüências de seu movimento, mas são conseqüências não antecipadas e, portanto, não têm nenhum direito de cobrar a sua lealdade. Para viver, basta um dia de cada vez. E o dia nada mais é que a sucessão de intensidades, situações e emergências menores. Ele se precavê ao máximo contra os compromissos de longo prazo. Recusa-se a se “fixar” ou a se prender a algo, a um lugar ou alguém além dos limites do presente, por mais agradável que tal prospectiva possa parecer. O imediatista não jura coerência ou lealdade a nada ou a ninguém. Cada momento é um evento fechado em torno de si mesmo. Cada nova experiência é um começo absoluto, mas seu fim é igualmente absoluto.

3.3.5. O RELIGIOSO

O pós-moderno religioso consegue ser fervoroso, esotérico, oriental, ecumênico, tolerante, exigente, complacente, dogmático e ocidental ao mesmo tempo, pois a fé é uma questão de opção de escolha conforme as exigências das mais variadas situações uma vez que Deus está em todo lugar. Assim, o religioso pós-moderno tem o poder de criar para si constantemente olhos novos e individualizados com respeito ao divino. Ele consegue acionar a divindade quantas vezes quiser, quando quiser e na forma que quiser. Deus está disponível a qualquer um conforme o gosto, a predileção e predisposições particulares. Para o religioso pós-moderno, Deus se preocupa muito mais com as pessoas em particular do que com a história ou questões estruturais. Dessa forma, é mais importante ter uma fé que sente do que uma fé que pensa. No campo da fé, a emoção é superior ao pensar, a menos que o pensar tenha um teor utilitário das bênçãos divinas.

O critério de qualidade de uma fé genuína encontra-se no grau de prosperidade, bem- aventuranças e bem-estar. Estas são as evidências visíveis de uma fé poderosa e bem-sucedida. Deus recompensa fielmente com abundância e prosperidade aqueles que confiam nele inabalavelmente. Não faz sentido algum ter fé em um Deus fraco pois Deus é poder. Ora, se Deus é todo poderoso, também não faz sentido que aqueles que se submetem ao seu poder fiquem satisfeitos com as quirelas da vida. Os filhos de Deus são prósperos nas sociedades, poderosos e abençoados. Quem estiver fraco na fé não terá a mesma ventura. Este poder divino não pode ser administrado por nenhuma instituição religiosa. Ao contrário, ele está em relação direta com a intensidade da fé e não em consonância com aportes conceituais e classificatórios. Deus não se aproxima daquele que procura entendê-lo, mas daquele que o deseja, que o quer.

Uma outra possibilidade que o pós-moderno pode cultivar como modo de aproximação ao divino é a retomada do milenar rito do sacrifício. O pós-moderno sacrifica dinheiro à Deus como modo de sensibiliza-lo a ser generoso em seus benefícios. O crente do passado temia não conseguir as bênçãos divinas se não buscasse a Deus com sinceridade de coração. Agora o pós-moderno religioso teme falhar como negociador e não ser habilidoso nas condições da negociação. Seu objetivo maior não é apenas voltar ao lar com um sentimento de felicidade, mas saber como conseguir coisas.

No aspecto da adoração em sua comunidade de fé, o pós-moderno considera ótimo o culto que o faça rir ou chorar, mas se aborrecerá grandemente se o fizer pensar. Se o pastor insitir em temas como “compromisso”, o “seguir uma causa” ou o “bom testemunho”, os pós-modernos religiosos se esforçarão para que o pastor seja expulso. Se nada ocorrer, eles abandonam a igreja ou