• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – ESTUDO EXPERIMENTAL: ESTUDOS DE PERFIS

2. AVALIAÇÃO NEUROPSICOLINGUÍSTICA DOS SUJEITOS

2.3. C ARATERIZAÇÃO LINGUÍSTICA E INSTRUMENTOS USADOS

Para a recolha dos parâmetros linguísticos selecionaram-se algumas provas, cujas funções avaliadas se encontram resumidas na tabela 4.

93

Tabela 4 – Provas utilizadas para a avaliação linguística. Bateria avaliação linguística

Provas Subtestes Função avaliada

ALEPE

Conhecimento de fonemas

Consciência fonológica e

processamento da palavra escrita Conhecimento de rimas Leitura de letras Leitura de palavras Leitura de pseudopalavras

O REI - Teste de fluência e

precisão de leitura em voz alta N/A Fluência e precisão

TCL 3 - Teste de compreensão de leitura Compreensão literal Compreensão na leitura Compreensão inferencial Compreensão crítica Reorganização

2.3.1. ALEPE (Bateria de Avaliação da Leitura em Português Europeu)

A bateria ALEPE (Sucena & Castro, 2011) avalia alguns dos principais conhecimentos e processos envolvidos na leitura: consciência fonológica, nomeação rápida, conhecimento de letras, leitura de palavras e de pseudopalavras.

De acordo com os autores, “este instrumento tem dois grandes objetivos: a avaliação do nível de leitura da criança, tendo em conta a idade cronológica e o nível de escolaridade, e a análise detalhada dos processos cognitivos implicados, de modo a caraterizar melhor o nível de leitura alcançado e a identificar as razões que poderão estar na base de uma eventual dificuldade de aprendizagem” (p.14). A ALEPE focaliza- se em duas dimensões: o processamento da palavra escrita e o processamento fonológico (Sucena & Castro, 2011).

Dos 13 testes que fazem parte da ALEPE, selecionaram-se os seguintes: Consciência fonológica epilinguística do fonema; Consciência fonológica epilinguística da rima; Leitura de letras maiúsculas; Leitura de palavras (Lista B); Leitura de pseudopalavras (Lista B’) e Leitura de palavras (Lista C). Tanto a consciência fonológica epilinguística do fonema, como a consciência fonológica epilinguística da rima são compostas por 20 itens que correspondem à tarefa. Cada item é formado por um par de palavras, que se encontra identificado segundo a sua estrutura silábica, nomeadamente:

94 1. CV [Consoante-Vogal (sílaba aberta)] – por exemplo: dedo-duna e cano-lama,

respetivamente consciência epilinguística do fonema e da rima;

2. nCV (Sílaba CV não comum) – por exemplo: bebé-sofá e sala-tinto, respetivamente consciência epilinguística do fonema e da rima;

3. CVC ([Consoante-Vogal-Consoante (sílaba fechada)] – por exemplo: mosca- março e filme-silva, respetivamente consciência epilinguística do fonema e da rima;

4. nCVC (sílaba CVC não comum) – por exemplo: pisco-salsa e barco-festa, respetivamente consciência epilinguística do fonema e da rima.

A tarefa consiste em julgar pares de palavras como iguais/diferentes quanto ao fonema inicial e quanto à rima.

A leitura de palavras em voz alta da lista B e C é composta por palavras simples (por exemplo, duna e batata, respetivamente lista B e C), consistentes (por exemplo, ziguezague e piquenique, respetivamente lista B e C) e inconsistentes (por exemplo, nexo e dessoldar, respetivamente lista B e C), ao passo que a lista B’ é composta por pseudopalavras simples (por exemplo, camote ou zineca) e complexas (por exemplo, parrica ou maguetigue). De acordo com Sucena & Castro (2011), “os estímulos simples são aqueles em que as correspondências grafema-fonema são biunívocas (por exemplo, café ou dedo) sendo que a leitura correta apenas requer sensibilidade à posição (por exemplo, gato ou bola). Os estímulos consistentes, de baixo nível de complexidade, não admitem variação e incluem grafemas complexos como “lh”, “rr” (por exemplo, milho e carro), ou outros, e regularidades contextuais como como “r” ou “s” entre vogais” (por exemplo, caro e casa). Os estímulos inconsistentes, de elevado nível de complexidade, são aqueles cuja leitura correta não pode ser derivada da aplicação de regras de conversão grafema-fonema, nem simples nem contextuais (por exemplo, tóxico ou próximo ou exato ou êxtase). A leitura correta implica o conhecimento prévio da palavra ou da sua composição morfológica (conhecimento lexical e/ou conhecimento morfológico” (pp.15-16).

Por último, importa referir que para o desenvolvimento da ALEPE foram selecionadas palavras com frequência intermédia, isto é, nem palavras frequentes nem palavras raras (Sucena & Castro, 2011) e que não foi estudado o efeito tamanho-palavra.

95

2.3.2. Teste de Compreensão de Leitura (TCL-3)

O Teste de Compreensão de Leitura - 3 (TCL-3) (Cadime, Ribeiro, & Viana, 2012) permite avaliar o desempenho das crianças que estão a frequentar o 3.º ano do 1.º Ciclo do Ensino Básico ao nível da compreensão da leitura. Os itens deste instrumento avaliam as seguintes áreas: Compreensão literal (CL); Compreensão inferencial (CI); Compreensão crítica (CC) e Reorganização da informação (RI). “O primeiro nível, CL, requer a extração de informação que está explícita no texto. No segundo nível, CI, exige- se que o leitor utilize as ideias e informação explícita e implícita no texto, mas também a sua intuição, os seus conhecimentos prévios e a sua experiência pessoal como base para formular conjeturas e hipóteses. O terceiro nível, RI, implica que o leitor analise, sintetize e/ou organize informação veiculada pelo texto. Por fim, o quarto nível designado por CC implica a formulação de juízos próprios, a distinção entre real e fantasia ou facto e opinião, a avaliação do estilo do autor, a caraterização das personagens, a deteção e avaliação dos pontos de vista do autor, entre outras reações às mensagens percebidas e às qualidades estéticas de uma obra.

A prova pode também ser aplicada a crianças com dificuldades, de anos de escolaridade mais avançados, possibilitando uma avaliação de cariz mais qualitativo (Cadime et al., 2012).

Por último, importa sublinhar que os itens deste instrumento possuem um grau crescente de dificuldade, pelo que, a compreensão literal deverá ser mais acessível que a inferencial, dadas as operações de tratamento da informação que implicam. Subsequentemente, prevê-se que as crianças disléxicas apresentem um pior desempenho à medida que a complexidade for aumentando.

2.3.3. O REI – Teste de fluência e precisão de leitura

O Rei é um teste que avalia a precisão e a fluência de leitura de crianças entre o 2.º e

o 6.º ano de escolaridade (Carvalho, 2010). Pretende traduzir o desempenho de uma criança na leitura em voz alta de um texto. É de aplicação individual, simples e rápida, permitindo caraterizar o desempenho da criança face aos seus pares, tanto em termos de anos de escolaridade como de idade cronológica. A amostra utilizada, apesar de ser limitada a uma região de Portugal, pretende representar algumas caraterísticas da população escolar portuguesa. Apresenta bons indicadores psicométricos, tanto em termos de fiabilidade como de validade (Carvalho, 2010).

96 As variáveis dependentes selecionadas para avaliar os graus de fluência foram a velocidade (número de palavras lidas corretamente por minuto) e a precisão (percentagem de erros).