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A UFABC, em seu Plano de Desenvolvimento Ins- titucional 2013-2022, aponta para a questão da Qua- lidade de Vida como um dos seus pilares em relação à política institucional de longo prazo, no sentido de envidar esforços para a melhoria da qualidade de vida de sua comunidade acadêmica, articulando ações nos mais diferentes campos, desde esporte e lazer até em áreas da saúde, alimentação, assistência social, entre outras. Especificamente no campo do esporte e do la- zer, as metas institucionais propostas apontam para uma série de ações para possibilitar não só a democra- tização do acesso às práticas esportivas, mas também no sentido de construção de ações pautadas na trans- versalidade e também na criação de mecanismos de garantia de ambientes propícios para a prática de atividade física. Assim, a SEL buscou estruturar al-

gumas ações e projetos no sentido de possibilitar o acesso à prática de atividade física regular pela comu- nidade da UFABC.

Em um primeiro diagnóstico situacional sobre a prática de atividades físicas regulares, a equipe da SEL pôde perceber que a ausência de programas regulares era um dos impeditivos para a criação de uma cultura de práticas corporais no âmbito interno e também na comunidade do entorno da UFABC.

No sentido de superar o desafio de oferecer progra- mas nessa área, a equipe da SEL recorreu à prática da caminhada, já que, conforme sugerem Hallal et al. (2005) e Lee e Buchner (2008), acaba por se constituir em uma opção acessível, podendo ser realizada em di- ferentes locais, não requerendo o uso de equipamen- tos especiais e podendo ser inclusive uma opção de atividade no campo do esporte, também podendo ser inserida no campo do lazer de maneira bastante direta e com baixo risco de lesão (EYLER et al., 2003).

Além disso, a opção pela caminhada vai ao encon- tro da relevância dessa prática com a comunidade-alvo do programa, já que as ações desenvolvidas pela SEL procuram agregar, no delineamento dessas atividades, significado e importância para o público-alvo, no sen- tido de gerar um comprometimento dos sujeitos envol- vidos que são entendidos como atores desse processo planejado como dialógico na perspectiva freireana de formação dos sujeitos, em que “ensinar não é transfe- rir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE,

2004, p. 52).

Com base nesses pressupostos, a SEL construiu o Projeto Caminhada Orientada na UFABC, iniciado em 2014 no campus de São Bernardo do Campo, sen- do coordenado por um docente da área da Educação Física em conjunto com profissionais do campo da saúde alocados na Seção de Promoção da Saúde da Proap. A equipe era composta de um professor de Educação Física, um estagiário do Bacharelado em Educação Física, uma enfermeira e dois técnicos de enfermagem. As atividades aconteciam às segundas, quartas e sextas-feiras com encontros de 90 minutos, em turmas semestrais.

Inicialmente, o projeto havia sido delineado para atendimento da comunidade interna da UFABC, com foco especial em servidores técnicos administrativos, docentes e alunos. No entanto, logo de início, no mo- mento de divulgação das turmas, a comunidade do en- torno já demonstrou grande interesse na atividade. Em função disso, o projeto acabou sendo redimensionado para o atendimento da comunidade do entorno da uni- versidade. Além disso, já nas sessões iniciais, quando as aulas aconteciam no parque municipal, houve um aumento do número de inscritos. Em sua maioria, o grupo de praticantes era composto de população idosa e alguns adultos, sendo que a faixa etária variava de 22 a 65 anos, e quase sua totalidade estava ingressan- do em um programa de atividade física regular após um longo período de sedentarismo.

campus da UFABC como também em um parque mu-

nicipal anexo à universidade, eram divididas em uma sessão de alongamento e aquecimento seguida de uma caminhada orientada com duração entre 30 e 40 minu- tos. Em todos os encontros a equipe de saúde aferia a pressão e a frequência cardíaca, tanto no início como ao final do encontro.

Além disso, durante as aulas eram realizadas con- versas e apontamentos sobre os benefícios da prática re- gular de atividade física, assim como de noções básicas de promoção de qualidade de vida que eram comparti- lhadas com os alunos em rodas de conversa que aconte- ciam semanalmente durante um dos encontros.

Após três meses de intervenção, foi observada a ne- cessidade de incluir no programa sessões de fortaleci- mento muscular e equilíbrio, dadas as características dos participantes do programa e também em função da necessidade que eles apontaram ao longo das conversas que aconteciam ao final das sessões sobre o impacto do programa no dia a dia de cada um.

Destaque-se que o incremento do programa, para além da prática da caminhada orientada, foi sentido como uma necessidade não apenas com o intuito de melhoria das capacidades físicas e habilidades moto- ras, mas também como um mecanismo de aderência ao projeto diversificando as práticas e como uma ação de atendimento às demandas apontadas pelos próprios participantes nos momentos de roda de conversa em que se percebia a reverberação dessa atividade no cotidiano desses sujeitos.

Nesse sentido, vale lembrar o destacado por Brandão (2005, p. 4):

Não sendo mensurável por meio de indi- cadores de “quantidade da qualidade”, a qualidade de vida não é e nem depende de uma crescente estocagem de bens que se tem. Ao contrário, essa qualidade reside no crescendo das interações […] partilhá- veis na experiência crescentemente soli- dária de uma vida que se “vive” e de uma vida que se “é”.

Assim, o que se verificou ao longo dos encontros do Projeto Caminhada Orientada foi que os diálogos e tro- cas de experiência entre os sujeitos atendidos acabaram por se configurar como um aspecto relevante quando considerados os benefícios gerados em relação à quali- dade de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enfim, resgatando a alusão no título desse traba- lho de que “pedalar/caminhar é preciso”, ressaltamos a necessidade de ampliar a atuação da UFABC em sua inserção regional, enfatizando que o Grande ABC pau- lista se caracteriza como um território rico em expe- riências de esporte e lazer e que a atuação de uma universidade pública, comprometida com a perspecti- va da qualidade de vida, só tem a contribuir com a qualificação dessas experiências. As práticas corporais

outros sujeitos que, ao possibilitarem a construção de sentidos e significados originais, configuram-se como produções diversificadas da cultura. Suas diferentes manifestações assumem, no mundo contemporâneo, uma importância cada vez maior no cotidiano das pes- soas e na história social, constituindo subjetividades e singularidades, nas dimensões do lazer, da saúde, do trabalho e da educação.

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