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Os caminhos e descaminhos da responsabilidade sócio ambiental no setor sucroalcooleiro Pernambucano Histórico da RSA no Mundo, no Brasil e no

Os caminhos e descaminhos da responsabilidade sócio ambiental no

3. Os caminhos e descaminhos da responsabilidade sócio ambiental no setor sucroalcooleiro Pernambucano Histórico da RSA no Mundo, no Brasil e no

setor, definições

3.1 Definições

O conceito de responsabilidade sócio ambiental (RSA) não está consolidado, permite várias interpretações que variam de autor para autor e de empresa para empresa, além das definições estudadas não serem claras nos limites. Os principais pontos em comum dizem respeito às estratégias aplicadas no cotidiano da gestão nas empresas.

Como ocorre, por exemplo, com o cumprimento da lei. Algumas empresas consideram estar em dia com a legislação como estratégia de RSA. Já outras separam cumprir a lei, o que seria uma obrigação da empresa, e não RSA. Para parte dos autores estudados o cumprimento da lei não é necessário para empresa ser considerada socialmente e ambientalmente responsável. E essa prerrogativa é defendida, inclusive, pelos chamados “selos verdes” entre eles a série ISO 14.000. Para ser certificado, por exemplo, a empresa não precisa estar totalmente em dia com a legislação trabalhista. Esse assunto será tratado na conclusão do presente trabalho.

Os autores mais citados são, na maioria, vindos das áreas de conhecimento da administração, ética empresarial, marketing social, economia e gestão sócio ambiental. A bibliografia existente sobre a temática no Brasil não é extensa haja vista que o tema entrou na pauta das empresas e da sociedade há pouco tempo, como será tratado adiante.

A concepção de RSA está intimamente ligada a do terceiro setor, tratada no primeiro capítulo, pois se trata de uma iniciativa “voluntária” das empresas.254 Porém a temática foi dividida em dois blocos para assim esclarecer a origem, as definições, estratégias e sua função na contemporaneidade. Já que o empresariado, principal grupo estudado, os sindicatos patronais, e seus respectivos autores das áreas de administração e afins, a consideram como foco das iniciativas e principal fonte de investimento das empresas nas áreas sociais e ambiental.

As ONGs, fundações, institutos, entre outras entidades são os “executivos” da RSA. Instrumentadores na gestão dos projetos traçados pelas empresas e na recuperação dos financiamentos por meio da ligação com o Estado. Não se pretende afirmar que são distintos, pois os dois se complementam, são faces da mesma moeda.

254 MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente de intervenção. São

A RSA é entendida, na presente dissertação, como uma estratégia de reestruturação capitalista que tenta reordenar o processo de produção, e conseqüentemente, de exploração da natureza natural e humana em busca de um novo tipo de diferencial de concorrência. Por esse caminho, as empresas procuram estar no comando e ditar o ritmo das mudanças, além de centralizarem e assim se tornarem os principais atores das intervenções sociais e ambientais. A partir desses pressupostos, surgem as seguintes questões: será que a empresa, que tem o lucro como principal motivo de sua existência, deve ser responsável pelas demandas sociais e ambientais de uma sociedade? Seria ela idônea o suficiente para tal atividade?

Outro ponto que será tratado é o posicionamento do empresariado quanto à, RSA. Os dados foram coletados em duas entrevistas realizadas no sindicato patronal do setor sucroalcooleiro de Pernambuco, pesquisa de campo a respeito do tema nas usinas Trapiche e Cruangi, na análise dos materiais produzidos pelo setor sobre o tema, além das entrevistas com empresários e seus representantes do agronegócio sucroalcooleiro pernambucano. Vários desses dados são inéditos, entre eles, os projetos de investimento em responsabilidade sócio ambiental, tamanho das reservas e das áreas de reflorestamento, áreas totais das usinas, bem como área de cana plantada, que serão tratados ao longo do capítulo. Não é possível ter acesso a tais informações sem um trabalho de campo extenso e intenso nas usinas porque não se mostram “abertas” a pesquisas na área de meio ambiente.

Com os dados pode-se perceber como opera a gestão da RSA seus desdobramentos e contradições que, por ser “criada e pregada pela classe dominante”, contém traços marcantes de sua ideologia.

Todas as definições partem da idéia da construção de uma “nova racionalidade social”;255 “nova ética empresarial”;256 “O ciclo virtuoso do desenvolvimento sustentável”,257 entre outras. Nas definições fica clara a idéia que a realidade está posta desta forma e não há como alterá-la a não ser dentro do modo capitalista de produção, só resta então, “humaniza - lá”, ou amenizar conseqüências e contradições.

Como afirma Mészáros, a máxima reforçada por políticos, empresários e outros atores sociais de que “não há saídas” logo vamos nos preocupar com “o que é possível,” torna-se contraditória, pois, “Afinal como entender a política como “a busca do possível socialmente

255 NETO, Fpm & FROES, César. Gestão da responsabilidade social corporativa: o caso brasileiro. Rio de

Janeiro: Qualitymark, 2001.

256

FABIÃO, F. F. “O negócio da ética: um estudo sobre o terceiro setor empresarial.” In: Prêmio Ethos Valor e

Responsabilidade Social das Empresas: A contribuição das Universidades, VII. São Paulo: Instituto Ethos,

2003.

257

FÉLIX, L. F. F. “O ciclo virtuoso do desenvolvimento responsável”. In: Prêmio Ethos Valor e

Responsabilidade Social das Empresas: A contribuição das Universidades, VII. São Paulo: Instituto Ethos,

confiável” se a viabilidade de qualquer alternativa aos imperativos da ordem vigente está a priori excluída por ser impossível?”.258

De acordo com o quadro V, estão postas as ferramentas que o empresariado utiliza na construção da apregoada “nova racionalidade econômica”, com redirecionamento, sem disfarce algum, das funções decisórias do Estado para as empresas e a consequente diminuição planejada. Prática defendida por políticas de cunho neoliberal.

Por esse caminho fica claro que não se trata de algo tão novo assim259, inclusive sendo elas as grandes responsáveis pela crise ambiental como está posta, a lógica do capital aplicada à natureza humana ou não. Os “remédios” propostos também são amplamente conhecidos, como a maximização das vantagens tecnológicas, globalização e domínio do econômico sobre o político.

QUADRO IV:

ANTIGA LÓGICA ECONÔMICA X NOVA LÓGICA ECONÔMICA260

RACIONALIDADE ECONOMICA