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Econômico pois gera empregos,

2.1.5 Uso de agrotóxicos

A aplicação da tecnologia para aumento da produtividade agrícola por meio de herbicidas, defensivos e fertilizantes teve início na chamada segunda revolução agrícola entre 1830 e 1880. Foi o início da química aplicada ao solo principalmente depois das descobertas de Liebig.

A primeira revolução agrícola foi um processo gradual onde os principais diferenciais de produtividade do solo são os hoje defendidos pela moderna agroecologia,167 a rotação de culturas, adubação com esterco, drenagem e manejo de rebanhos.

Na contemporaneidade, segundo a maioria dos autores estudados, se vive a terceira revolução agrícola iniciada no séc. XX, a base do agronegócio.

(...) Envolveu a substituição da tração animal pela tração mecânica na agricultura, seguida pela concentração de animais em estábulos imensos, conjugada com a alteração genética das plantas (produzindo monoculturas mais estreitas) e uso mais intensivo de substâncias químicas – tais como fertilizantes e pesticidas.168

A aplicação de herbicidas169 é intensa na cultura de cana de açúcar, ainda há aplicação de fungicidas, acaricidas e vários tipos de defensivos agrícolas.170 E essa aplicação diminui consideravelmente o custo da cultura, pois diminui o número de limpas.171 Para se manter a lavoura com um índice de sanidade aceitável são necessárias três “limpas” por ano, cada “limpa” manual custa em média mil reais o hectare172

já a aplicação de defensivos custa cem reais por a mesma área. Na usina Trapiche, por exemplo, com área de 19 mil hectares de cana

167 A agroecologia consiste numa proposta de agricultura sustentável, no sentido de perenidade. Ela se preocupa

com a manutenção do solo, da biodiversidade, dos recursos hídricos e segurança alimentar. Suas práticas muitas vezes retomam antigas técnicas, como por exemplo a agricultura itinerante. “Essa agricultura, chamada de itinerante ou coivara, tem sido considerada não-prejudicial ao ecossistema como um todo; com o tempo o equilíbrio é restabelecido”. WOSTER, Donald. “Doing environmental history”; “The end of the earth: perspectives on modern environmental history”. Tradução de José Augusto Drummond. Cambridge: Cambridge University Press, 1998, pp. 289-307.

168 FOSTER, John Bellamy. A ecologia de Marx: materialismo e natureza. Op. Cit., p. 210.

169 Herbicida, de acordo com a etimologia: herbi=herva; Cida=matar. Os herbicidas são tipos de agrotóxicos para

controle específico de ervas daninha, seu uso pode implicar em contaminação do ambiente natural além de surgimento de ervas resistentes. Podem ser sintéticos ou naturais e são caracterizados pelo baixo custo de uso e rapidez de ação.

170 Os agrotóxicos, defensivos agrícolas, praguicidas ou pesticidas são substâncias químicas naturais ou

sintéticas, destinadas a controlar ou combater de algum modo as pragas. A estratégia de mudar o nome de agrotóxico para defensivo foi uma jogada de marketing para dar a idéia de “remédio” e não veneno.

171 ANDRADE, Manuel Correia de Oliveira. A cana de açúcar na Região da Mata Pernambucana –

Reestruturação produtiva da área canavieira de Pernambuco nas décadas de 80 e 90: Impacto ambiental,

sócio-econômico e político. Manuel Correia de Andrade e Sandra Maria Correia de Andrade. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2001.

plantada, o custo total da limpa manual seria R$19.000.000 com uso de defensivos o custo fica em R$ 1.900.000 O que representa uma economia dez vezes maior do que se a limpa fosse manual.

Por isso que poucas usinas são credenciadas como fornecedoras de cana orgânica. Geralmente pequenas ou médias propriedades, usam controle biológico de pragas, e destinam a produção a subprodutos, como por exemplo, a cachaça orgânica certificada Sanhançu, produzida em Pernambuco. Uma aposta no público do chamado “consumo verde”.

Como possibilidade para a redução do uso dos defensivos, herbicidas e outros produtos da série, a indústria da cana aposta no desenvolvimento de modalidades geneticamente modificadas e transgênicas. O que vem ocorrendo com a soja no Brasil.

Em relação a proteção a fauna – mamíferos, aves, anfíbios e invertebrados, é classificado como grau 2 e 1 de impacto (baixo ou nenhum impacto) e 3 (médio impacto) para os répteis”.173 O que impressiona é que, segundo a AMANE, entidade de terceiro setor que trabalha em parceria com as usinas de Pernambuco, foram encontradas espécies de aves endêmicas nos remanescentes de mata atlântica.

Entre elas a corujinha, que figura na capa da publicação da Usina Trapiche sobre responsabilidade sócio ambiental, a Glaucidium mooreorum Caburé. Pelo tamanho da devastação da Mata Atlântica, só restam 8% de remanescentes significativos na escarpas da Serra do Mar,174

é possível apenas se estimar quanto de biodiversidade se perdeu devido às imensas áreas destinadas a monocultura.175

Segundo a agroindústria o modo de proteção passa por “práticas de conservação da

biodiversidade incluem preservar amostras importantes de biodiversidade para o futuro, prospectar de modo não intrusivo a biodiversidade ainda não explorada e promover o uso da terra e recursos naturais de modo ambientalmente correto”.176 Nessa citação fica claro a idéia de DS e conservacionismo defendidas pelo setor.

Na região Nordeste não há levantamento georeferenciado da área que as usinas ocupam, além de suas áreas de plantio. Essa é umas das exigências da Operação Engenho Verde. Segundo ROGERS, na época colonial em Pernambuco, os senhores de engenho “enfatizavam o efeito da posse de propriedade e não o fato da posse”, logo, “eles reconheciam

173 MACEDO, Isaias d. C. A energia da cana-de-açúcar: doze estudos sobre agroindústria da cana-de-açúcar no

Brasil e a sua sustentabilidade. Op. Cit.

174

DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. Tradução de Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

175 Segundo DEAN 1994, na contemporaneidade, é impossível representar a mata atlântica, a não ser por sua

analogia com a Floresta Amazônica.

176 MACEDO, Isaias d. C. A energia da cana-de-açúcar: doze estudos sobre agroindústria da cana-de-açúcar no

a importância de controlar a terra e mandar nos recursos, e desprezavam a execução da cerimônia de posse representada por notários e agrimensores. Nesse mundo, o poder de propriedade foi reconhecido sem título escrito em cartório”.177 Prática ainda presente, quando perguntados sobre os limites da propriedade, bem como dimensões de matas, rios etc. os entrevistados tiveram extrema dificuldade de responder com dados “duros”. A exigência do georeferenciamento pelo IBAMA é muito mau vista pela classe patronal.

As áreas também variam de acordo com o mercado, uma das características da concorrência intra ramos. De acordo com o valor do açúcar ou do etanol e do álcool anidro no mercado é que as áreas de outros cultivos, como laranja e café, são revertidas para cana-de- açúcar. Como ocorrido no estado de São Paulo nas últimas décadas.

Com esse “apetite” capitalista, aumento da demanda por energias “limpas” aumento da procura por açúcar no mercado externo devido a quebra da safra em outros países produtores,178 financiamento público estatal, como é possível garantir que haverá limites para a ampliação da produção e produtividade no setor sucroalcooleiro? E, conseqüentemente, mais áreas destinadas ao agronegócio?

2.1.6 Exploração dos Recursos Hídricos. Dependência da água, uso dos rios,