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Econômico pois gera empregos,

2.1.7 Poluição do ar O caso das queimadas

Um dos impactos mais criticados internacionalmente da monocultura de cana-de- açúcar é a queima para retirar a palha como procedimento que antecede a colheita. Durante o processo são produzidas e liberadas elevadas quantidades do gás de efeito estufa no ambiente, o gás carbônico (CO2), além do dióxido de enxofre (SO2) e diversos compostos cancerígenos,

como os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) etc.

Outro problema reside na associação entre o monóxido de carbono e a hemoglobina. Ao formar compostos instáveis traz riscos a saúde animal e humana. Além do aumento do ozônio na baixa atmosfera, com alto poder oxidante.197 “O CO está associado a vários

problemas neurológicos; ozone troposférico prejudica a agricultura, assim como NOX e SO2,

com a formação da chuva ácida”.198

Alguns autores, membros da elite intelectual apoiada pelo setor, entre eles MIRANDA, MACEDO e RIPOLI, além de estudos da CETESB199

defendem que a queima da cana não provoca danos à saúde, apenas gera desconforto a populações circunvizinhas as lavouras quanto ao chamado “carvãozinho”, cinzas geradas pela queima da matéria orgânica.

A queima apresenta algumas vantagens em relação ao corte cru para os produtores. No que diz respeito à agronomia, há destruição da praga broca da cana,200 além do aumento das

197

RIPOLI, Tomaz Caetano Cannavam. Biomassa de cana-de-açúcar: colheita, energia e ambiente. Piracicaba: Divisão de biblioteca e documentação – ESALQ/USP, 2007.

198 ELIA, Neto. A. “Tratamento de Efluentes na Agroindústria Sucroalcooleira”. In: MACEDO, Isaias d. C. A

energia da cana-de-açúcar: doze estudos sobre agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil e a sua

sustentabilidade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia – UNICA: União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo, 2005.

199 Companhia ambiental do estado de são Paulo.

200 “A mais importante praga, da Broca-da-Cana, é a Diatraea saccharalis, cujo adulto é uma mariposa de

hábitos noturnos, e que realiza a postura na parte dorsal das folhas. Nascidas, as lagartinhas descem pela folha e penetram no colmo, perfurando-o na região nodal. Dentro do colmo cavam galerias, onde permanecem até o estádio adulto. Os prejuízos decorrentes do ataque são a perda de peso devido ao mau desenvolvimento das plantas atacadas, morte de algumas plantas, quebra do colmo na região da galeria por agentes mecânicos e redução da quantidade de caldo. Além desses, o principal prejuízo é causado pela ação de agentes patológicos, como o Fusarium moniliforme e Colletotrichum falcatum, que penetram pelo orifício ou são arrastados juntamente com a lagartinha, ocasionando, respectivamente, a podridão-de-fusarium e a podridão-vermelha,

cinzas do solo, entre outros. No que diz respeito à economia torna a colheita mais rápida, fácil e barata. Também há diminuição no uso de herbicidas, já que as ervas daninhas são queimadas juntamente com a palha. Na indústria, facilita a formação do caldo, pois a cana já vem “pré-cozida”, principalmente nas destilarias de médio e pequeno porte.201

Segundo dados do setor sucroalcooleiro a queima dos canaviais é prática posterior ao início da década de 1950, e foi introduzida com a intenção de aumentar a produtividade do corte manual paralelamente à introdução de máquinas carregadoras.202 A prática teve aumento significativo com o apoio estatal por meio de programas de racionalização da atividade, tratados no primeiro capítulo. No Brasil, no âmbito federal, prevalece o decreto nº 2.661 de 8/06/98 que regulamenta o código florestal e estabelece manejos de precaução do emprego do fogo nas lavouras.

O decreto prevê a eliminação do emprego do fogo nas áreas passíveis de mecanização, como no Estado de São Paulo até 2021. A lei nº 11.241 de 19/09/2002,203 assinada pelo governador Geraldo Alckmin prevê a eliminação das queimadas nas lavouras do Estado. Em 10 de Março de 2008 foi assinado um acordo para a antecipação do fim do uso do fogo como atividade pré-colheita. O prazo foi antecipado para 2014, por iniciativa do empresariado local. A mecanização pode reduzir os impactos ambientais em relação à queima da cana e suas consequências, mas, por outro lado, gera o desemprego em massa de uma enorme parte da população, já que uma colheitadeira chega a substituir cem cortadores, o que será discutido no próximo tópico do presente capítulo.

Em Pernambuco não há previsão para extinção da queima, segundo o Sindaçúcar do estado. Isso se dá devido à declividade acentuada das áreas de produção além do preço da mão de obra ser economicamente vantajoso. Ainda assim há projetos com desenvolvimento de protótipos de colheitadeiras que possam “subir ladeiras”. A principal fábrica dessas máquinas está localizada na Zona da Mata Norte do Estado, a IMPLANOR.

A possibilidade de corte da cana crua é colocada como grande entrave para a colheita. Segundo o empresariado não é possível encontrar mão de obra que esteja disponível para essa atividade. A cana crua é muito mais trabalhosa de ser colhida, o que gera uma remuneração maior para o cortador, segundo o Sindaçúcar PE.

responsáveis pela inversão e perda de sacarose no colmo”. Disponível em URL: http://www.agroredenoticias.com.br/textos.aspx?2mgdI6svxmWqPKVR/goRzg. Coleta em Maio 2010.

201 RIPOLI, Tomaz Caetano Cannavam. Biomassa de cana-de-açúcar: colheita, energia e ambiente. Op. Cit. 202

Idem.

203 Disponível em: URL: http://www.barretos.sp.gov.br/planodiretor/arquivos/lei_Est_11241.pdf. Coleta em

O setor se defende afirmando que o etanol, como produto indireto dessa queima é muito menos poluente do que a queima de combustíveis fósseis. Outro ponto colocado diz respeito ao tempo de crescimento da cana, onde o CO2 seria “resgatado” da atmosfera. A cana

é uma cultura anual, leva tempo para crescer e absolve, vamos assim colocar, gradativamente o CO2 e o transforma em Oxigênio por meio da fotossíntese. A queima libera uma quantidade

enorme desse gás, entre outros, em um período curto de tempo, causando um desequilíbrio ambiental não somente no ar, mas em todo meio ambiente natural e no ser humano.

2.2 Exploração da natureza humana para além dos limites. Particularidades do