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A Campanha de Educação de Adultos pretendia estender a educação primária à totalidade dos jovens e adultos iletrados, abrindo uma discussão sobre o analfabetismo, e correspondia aos anseios qualitativos dos educadores; esse momento, portanto, pode ser visto como uma tentativa de conciliação entre quantidade e qualidade. Surgiu a possibilidade de reflexão e debate em torno do analfabetismo no Brasil e, se antes o analfabeto era visto apenas como um indivíduo incapaz, essa visão preconceituosa foi fortemente criticada e seus saberes e capacidades passaram a ser reconhecidos.

O planejamento inicial da Campanha implicava uma articulação que envolvia a União, os Estados e os Municípios. Caberia ao Ministério da Educação e Saúde, o planejamento geral, a orientação técnica, auxílio financeiro e o fornecimento de textos de leitura.

A Campanha preocupou-se com oferecimento de um material didático, com a finalidade de garantir um mínimo de padronização. Contava com um currículo especial de ensino visual, cartilhas, jornais, folhetos e textos de leitura diversas, elaborados no Setor de Orientação Pedagógica do Serviço de Educação de Adultos (SEA) e distribuídos em todos os cursos do país. Entre as inúmeras publicações que foram editadas pelo Ministério da Educação, merece destaque o Primeiro Guia de Leitura, que era uma espécie de cartilha oficial da Campanha, e apresentava os primeiros passos da alfabetização, sendo inspirada no sistema de Laubach,

A confiança na capacidade de aprendizagem dos adultos e a difusão de um método de ensino de leitura para adultos conhecido como Laubach inspiraram a iniciativa do Ministério da Educação de produzirem pela primeira vez, por ocasião da Campanha, material didático específico para o ensino da leitura e da escrita para os adultos. (BRASIL, 2001, p. 21).

Podemos verificar, por meio dos dados da tabela abaixo, que o número de jovens e adultos, atendidos pela rede de escolas de ensino nesse período, era bem expressivo, o que confirma a realização dos objetivos quantitativos alcançados na Campanha.

Tabela 1. Número de Cursos mantidos antes da Campanha

Ano Nº de Cursos mantidos com auxílio Federal Total

Antes da Campanha 1943 1.809 1944 1.777 1945 1.810 1946 2.077 Fonte: BEISEGEL, 1974

Tabela 2. Número de Cursos mantidos depois da Campanha

Ano Nº de cursos mantidos com auxílio Federal Total

Depois da Campanha 1947 10.416 11.945 1948 14.110 15.527 1949 15.204 16.300 1950 16.500 17.600 Fonte: BEISEGEL, 1974

Embora tivesse alcançado bons resultados, a Campanha de Educação de Adultos perdeu forças a partir de 1954, em virtude das críticas que se relacionavam tanto à carência administrativa como à financeira, além da baixa remuneração dos professores, com o atraso no pagamento. Dessa forma, nem mesmos os leigos se interessavam pela Campanha, o caráter do voluntariado

deixou de existir, a qualidade do ensino tornou-se precária e com a baixa frequência e aproveitamento dos alunos, a campanha entrou em declínio.

Portanto, se de um lado o aspecto quantitativo foi significante, o aspecto qualitativo ainda estava longe de atingir sua meta. Numa tentativa em encontrar soluções mais adequadas aos problemas educacionais de jovens e adultos, tendo em vista a falência da CEAA, foi realizado o II Congresso Nacional de Educação de Adultos (CNEA), no Rio de Janeiro, entre 09 e 16 de julho de 1958, patrocinado por entidades públicas e privadas, contando com o apoio do Ministério da Educação e Cultura.

Com o objetivo de indicar diretrizes para que o Governo atuasse na educação de adultos, o Congresso promoveu a participação dos educadores e acenando como estímulo o incentivo de novas ideias e métodos educativos para adultos, para que esses pudessem participar, efetivamente, da vida política do país. No entender de Paiva (2003)

O Congresso é, pois, um acontecimento que nos oferece a oportunidade de observar o início da transformação do pensamento pedagógico brasileiro, com o abandono do otimismo pedagógico e a reintrodução da reflexão sobre o social na elaboração das ideias pedagógicas. Além disso, ele serviu também como estímulo ao desenvolvimento de novas ideias e novos métodos educativos para adultos. Nele é possível constatar que o realismo em educação, ou seja, a consideração dos aspectos internos do processo educativo ao lado de sua vinculação com a vida em sociedade tende, então, a impor-se sobre as demais posições. As preocupações

quantitativas não se acompanham mais do preconceito contra o analfabeto e, ao lado delas, persiste a preocupação com a qualidade do ensino e com a revisão dos métodos. Paiva (2003, p. 239, grifo

nosso)

No mesmo ano, outra campanha foi lançada: a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), que pretendia ser um programa experimental de educação popular em geral. Tinha como objetivo a erradicação do analfabetismo e destinava-se à educação popular de crianças e adultos, visando, também, contribuir para o desenvolvimento econômico-social. Para o início dessa Campanha foi escolhida a cidade mineira de Leopoldina, terra natal do então Ministro da Educação Clóvis Salgado. Quanto à formação dos professores, juntamente com o INEP e a CNER, a CNEA abriu curso para o

treinamento de professores, que compreendia todo o currículo do curso primário, com a intenção de oferecer aos professores o domínio e o controle dessas matérias elementares.

A experiência desse projeto teve um saldo positivo em termos nacionais e, em algumas regiões, as recomendações do projeto influenciaram as decisões em termos educacionais. A partir de 1961, a CNEA começa a passar por dificuldades financeiras culminando na sua extinção13.

Segundo Haddad e Di Pierro (2000)

Nestes anos as características próprias da educação de adultos passaram a ser reconhecidas, conduzindo à exigência de um tratamento específico nos planos pedagógico e didático. [...] A educação de adultos passou a ser reconhecida também como um poderoso instrumento de ação política. Finalmente, foi-lhe atribuída uma forte missão de resgate e valorização do saber popular, tornando a educação o motor de um movimento amplo de valorização da cultura popular. (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 113).