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Antes da e durante a coleta de dados em sala de aula nossa preocupação era a de como organizar a nossa observação.

Apoiados nas referências teóricas e em reflexões com colegas do grupo de pesquisa, do mesmo período em que assistia às aulas, fomos organizando um roteiro de observação, destacando algumas categorias.

1. Objetivos de aprendizagem

2. Adequação do plano de atividades aos objetivos propostos 3. Gestão da sala de aula. Escolhas metodológicas,

4. Interação com os estudantes. Intervenções da professora. 5. Avaliação contínua das aprendizagens

Além desse conjunto de itens de observação, para analisar as atividades propostas pela professora, faremos uso de um conjunto de descritores elaborados pelo grupo de pesquisa e usado também nas dissertações de Januário (2012) e Lima (2012).

Nos quadros a seguir, apresentamos os descritores elaborados a partir dos trabalhos de autores como Bishop, Pires e Skovsmose.

Quadro 3. Descritores de Princípios do enfoque cultural do currículo de Matemática

Presença Ausência

Representatividade

As atividades visam não apenas ao acesso à linguagem matemática, mas às explicações e teorizações,

às ideias intuitivas, à seguridade para explicar determinados fenômenos, o

progresso, e aos porquês dos saberes.

Ênfase na linguagem matemática, enfatizando um

corpo de conhecimentos prontos e fechados; ausência

de sentido e compreensão das ideias matemáticas.

Formalismo

As atividades incutem os conceitos matemáticos, procurando articulá-los com saberes informais e saberes

técnicos.

As atividades privilegiam apenas um dos níveis ou apresentam os três, sem

articulá-los.

Acessibilidade

Situações de aprendizagem que partam do contexto do

aluno, ou de seu grupo social, para o contexto da

Matemática, de modo a respeitar a capacidade intelectual do discente.

Situações que partam do contexto matemático para o

contexto do aluno – ou que só contemplem o contexto matemático –, e que esteja

acima da capacidade intelectual daquele que

aprende.

Poder explicativo

Atividades que apresentem explicações dos conceitos e ideias matemáticas e incutam

argumentos, para que os alunos possam compreender

e explicar situações vivenciadas em seu meio

social.

Atividades que aplicam conceitos e ideias matemáticas apenas por meio de regras e técnicas.

Concepção ampla e elementar

Atividades que estabelecem conexões das ideias matemáticas entre diferentes

contextos

Atividades apresentam aplicação de ideias matemáticas apenas em um

Quadro 4. Descritores de Componentes do currículo de enculturação Presença Ausência Componente simbólico Apresentam os conceitos matemáticos interligados entre si, contemplando as seis atividades universais.

Os conceitos são abordados como temas estanques.

Componente social

Possibilita ao aluno utilizar as ideias matemáticas para compreender os fatos sociais

presentes em seu mundo vida, posicionando-os de modo crítico. Situações matemáticas desarticuladas de acontecimentos sociais. Componente cultural As atividades solicitam ao aluno atitudes investigativas,

possibilitando a compreensão dos porquês

dos saberes matemático.

Atividades que não solicitam o desvendar das ideias

matemáticas.

Quadro 5. Descritores de Critérios de seleção de conteúdos

Presença Ausência

Pelo uso no cotidiano

Os conteúdos mais enfatizados são aqueles que

mostram a aplicabilidade da Matemática no cotidiano das

pessoas.

Nas atividades apresentadas, não são frequentes as situações- problemas relacionadas ao

cotidiano das pessoas.

Pela necessidade de aprender mais

Matemática

Os conteúdos mais enfatizados são aqueles que

preparam o aluno para construir ideias matemáticas

cada vez mais complexas.

Nas atividades apresentadas não há preocupação de sistematizar, generalizar

ideias matemáticas.

Pela tradição

Os conteúdos são aqueles guiados pela tradição

pedagógica.

A ênfase é colocada em temas algébricos sem atenção a temas referentes à geometria, à estatística entre

Quadro 6. Descritores de Organização dos conteúdos

Presença Ausência

Linear

Os conteúdos de cada assunto são apresentados

numa sequência linear, baseada na constituição de

pré-requisitos, segundo a lógica do mais simples para o

mais complexo, mas sem destaque às interconexões.

Tratamento de conteúdos de modo estanque, sem a preocupação com pré-

requisitos ou com a progressão do mais simples

para o mais complexo.

Em rede

Na organização dos conteúdos, estimula-se a articulação entre os temas, permite-se maior flexibilidade

quanto ao nível de abordagem e o percurso

curricular é ditado pela atribuição de significados.

Conteúdos de modo geral são trabalhados uma única vez, sem articulação com o que se aprendeu antes, mas supondo a existência de pré-

requisitos.

Quadro 7. Descritores de escolha de contextos

Paradigma do Exercício Paradigma da Investigação

Referências à matemática pura

Dominam atividades em que predominam procedimentos algorítmicos, uso de regras e

fórmulas, entre outros.

Dominam atividades em que predominam questões

abertas, cuja solução depende da criação de estratégias de resolução

pelos alunos.

Referências à semi-realidade

Dominam atividades como, por exemplo, compras, vendas, cálculo de áreas a

serem pintadas, mas são situações artificiais. Os exercícios estão localizados

numa semi-realidade do aluno.

Atividades que enfatizam situações artificiais, porém propiciam o uso de diferentes

estratégias de resolução.

Referência à realidade

Atividades baseadas em situações vivenciadas pelos

alunos, tendo como finalidade o emprego de algoritmo e procedimentos

práticos.

Situações de aprendizagem que enfatizam experiências vivenciadas pelos alunos, objetivando a investigação na perspectiva de projetos.

Quadro 8. Descritores de opções metodológicas Presença Ausência O uso de diferentes estratégias para uma mesma atividade

Indica que os alunos têm acesso a diversas formas de

solucionar a questão e são estimulados a utilizar procedimentos próprios.

O professor não proporciona ao grupo a chance de usar

diversos raciocínios para resolver uma questão.

A presença de comentários dos alunos com linguagem e conhecimento próprio

Sinal de que o professor incentiva e valoriza a reflexão

e a autonomia.

Os alunos podem estar sendo levados a anotar apenas a fala do professor ou as anotações que ele faz

no quadro.

O professor como mediador da aprendizagem

O professor estabelece uma conversa com o estudante ao

comentar a estratégia utilizada, ou pedindo que

acrescente, justifique ou retome algum ponto.

O professor deixa de fazer observações dirigidas às necessidades de cada aluno,

usando o diálogo só nas situações de grupo.

Progressão de desafios

Se existe uma progressão nos desafios propostos, permitindo que o aluno use o

que aprendeu anteriormente para resolver problemas mais

complexos.

Os conteúdos são trabalhados de forma fragmentada e não há variação no grau de dificuldade nas situações

propostas.

Neste capítulo caracterizamos para o leitor a escola em que realizamos a pesquisa, descrevemos o cenário onde os dados foram coletados, o perfil da professora investigada, dos alunos. No capítulo seguinte iremos descrever o cenário em que a pesquisa foi realizada, no caso a sala de aula. Inicialmente faremos uma descrição da atividade, e a seguir faremos a descrição do desenvolvimento da atividade.

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APAPÍTÍTUULLOO

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DENTRO DA SALA DE AULA

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que- fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (Freire, 1996, p. 32)

Neste capítulo, iremos descrever o cenário em que a pesquisa foi realizada. Inicialmente, faremos uma descrição da atividade, apresentando ao leitor quais materiais foram utilizados pela professora, o modo como os dados foram coletados, organizados e analisados. A seguir faremos a descrição do desenvolvimento da atividade.

Para diferenciar a fala do professor em relação à fala dos alunos optamos por destacar todas as falas dos alunos em itálico.