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Da luta na terra da Liga Camponesa de Santo Anastácio à Gleba Santa Rita A luta pela e na terra na região do Pontal do Paranapanema é muito anterior à

GALOS, GALINHAS,

3.1 Da luta na terra da Liga Camponesa de Santo Anastácio à Gleba Santa Rita A luta pela e na terra na região do Pontal do Paranapanema é muito anterior à

organização dos movimentos camponeses contemporâneos. Como apontamos anteriormente, Leite (1998) evidencia que a região do tivera muitos conflitos causados pela posse da terra e pelo surgimento de grilos. Muitos destes conflitos terminavam em grandes conflitos e assassinatos tanto entre grandes proprietários quanto entre grandes e pequenos. A figura do “quebra-milho” foi considerada célebre neste processo conflituoso, pois tinha como principal atividade expulsar grileiros e posseiros através de métodos violentos (LEITE, 1998, p. 53). Predominantemente, suas ações resultavam em grandes pelejas e mortes. Contudo, apesar de comum na região, não motivou a consolidação e construção de um movimento socioterritorial organizado que lutava contra o violento processo expropriador, pois a luta centrava-se na problemática da resistência na terra contra o processo expropriador e da ilegitimidade da posse.

O surgimento da luta tem as suas origens com a emersão das ligas camponesas na década de 40. Segundo Welch (2009, p. 5) no Pontal do Paranapanema a liga camponesa se estabeleceu no município de Santo Anastácio em abril do ano de 1946 com o fito de defender os direitos dos trabalhadores que constantemente reclamavam de problemas trabalhistas. A liga de Santo Anastácio compreendeu o processo de surgimento de inúmeras ligas em todo o Brasil que nascera sobre forte influência do PCB – Partido Comunista do Brasil, cuja principal ação centrava-se no nordeste do país (ANDRADE, 1986). A atuação do Partido Comunista do Brasil tinha como objetivo alcançar a revolução comunista e como estratégia de organização dos trabalhadores rurais investiu em sindicatos rurais e ligas camponesas. É importante ressaltar como destaca Andrade (1986, p. 25) que o campesinato era visto em segundo plano quanto à atuação e realização da revolução comunista esperada. Welch aponta a contribuição das Ligas Camponesas para o PCB e para a projeção do próprio campesinato no cenário político:

Elas atuaram ainda como organizações de representação de classe, procurando ajudar seus quadros a endereçar petições ao governo em questões relacionadas aos custos da terra, à produção agrícola e à renda. O PCB enxergou nas ligas um meio de se fazer forte enquanto fortalecia trabalhadores rurais e pequenos agricultores, um segmento socioeconômico pouco representado e geralmente esquecido pelo estado brasileiro. As ligas também serviram como um grupo de pressão para ajudar o PCB e sua delegação a argumentar em favor da

José Sobreiro Filho

reforma agrária na Assembleia Constituinte de 1946 (WELCH, 2009, p. 4).

No Pontal do Paranapanema a Liga de Santo Anastácio foi a organização pioneira do campesinato por condições de trabalho e cumprimento de contratos. Segundo Welch (2009, p. 4-5) a liga agrupou e contou com a participação em sua fundação de “mais de 200 “camponeses, em sua maioria arrendatários sitiantes, meeiros e terceiros”” e objetivava “orientar a luta dos trabalhadores em busca de melhoria das condições de vida dos trabalhadores da terra”. Dentre as ações tomadas em seu curto período de existência destaca-se uma carta denunciando as péssimas condições que os camponeses da região enfrentavam como o alto preço do arrendamento das terras, problemas de contratos de parceria/arrendamento, o baixo preço de seus produtos no mercado, etc.

Contudo, o resultado da denuncia foi a repressão à Liga promovida pelo Estado. Deste modo, a liga foi fechada em junho de 1946 (WELCH, 2009, p. 7). Assim, a Liga Camponesa de Santo Anastácio que para o campesinato era vista como um movimento que visava a conquista de direitos e melhores condições de vida e trabalho e que representavam a classe trabalhadora também era vista pela como incomoda, insubordinada e ameaçadora pelos ruralistas, terminou por ser fechada e seus documentos apreendidos pela forte repressão policial. Mais tarde o PCB também foi posto na ilegalidade e as organizações foram proibidas e assim se manteve durante toda a década de 50, pois cada vez mais as ideias comunistas como o “perigo vermelho” e as organizações de trabalhadores representavam ameaças aos dominantes. Em pouco tempo houvera forte repressão ao PCB que coibiram as suas estratégias de articulação de trabalhadores, camponeses e o seu crescimento na região.

Depois da Liga Camponesa de Santo Anastácio ocorreram poucas experiências de movimentos camponeses no Pontal do Paranapanema. A problemática da grilagem e más condições de produções dos camponeses persistiram durante os anos. No transcorrer dos anos a maioria das conquistas, que por sinal não foram muitas, se deram em âmbito nacional. No entanto, o avanço e estabelecimento do capitalismo em no país também tiveram feições perversas no Pontal do Paranapanema com a intensificação do uso de tecnologias, a substituição do trabalhador por maquinas, a expropriação, o êxodo rural, a concentração da terra, o aumento da desigualdade social, o desmatamento.

José Sobreiro Filho Na década de 70 a luta voltou a ganhar atenção na região com o caso da luta pela Gleba Santa Rita. Esta foi uma longa luta que envolveu conflitos e repressão policial. O uso da violência das famílias que lutavam pela gleba se expressou na expulsão, queima de pertences, destruição da plantação, morte de animais de criação e envenenamento das nascentes (WELCH, 2009). Contudo, apesar da repressão que favorecia o estabelecimento e desenvolvimento da agricultura capitalista, as famílias permaneceram lutando. Em 1975 o caso da luta pela Gleba/Fazenda Santa Rita passou a chamar a atenção da imprensa local e o caso ganhou novamente representação na região. No entanto, o caso desta luta somente foi resolvido em 1986 com a realização da desapropriação da Gleba pelo Presidente José Sarney (WELCH, 2009). De fato, apesar de morosa e custosa, a desapropriação da Gleba Santa Rita simbolizou uma grande conquista para os camponeses na região.

Este período de emergência da luta na região se cruzou com a espacialização e fortalecimento do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no país, que seguia arregimentando em todo o país milhares de camponeses e demais trabalhadores rurais para realizar a luta pela terra e reivindicar a realização da reforma agrária. Não obstante, é importante ressaltar que apesar de a Liga Camponesa de Santo Anastácio ter sido uma breve experiência de organização e resistência dos camponeses foi pioneira em evidenciar as problemáticas da questão agrária, ou seja, as feições perversas causadas pelo desenvolvimento do capitalismo no campo e como os camponeses eram afetados por esse processo. Também foi importante referência por se constituir primeira referencia de movimento socioterritorial organizado na região e que sua curta existência expressou as estratégias repressivas da classe dominante. Deste modo, apesar de reprimida, a luta campesina retoma seu papel e importância décadas depois com o surgimento e consolidação do MST na região.

José Sobreiro Filho

3.2 A luta pela terra no Pontal do Paranapanema e os princípios da formação do