• Nenhum resultado encontrado

2 A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL NO MARANHÃO

2.3 A EXPANSÃO DO IFMA (FASE 1): TRAJETÓRIAS DA EXPANSÃO NO MARANHÃO

2.3.1 Caracterização dos Municípios e dos Campi objetos do estudo:

2.3.1.2 Campus Buriticupu

O Campus de Buriticupu está localizado na cidade de Buriticupu, Maranhão, obtendo sua autorização de funcionamento em 18 de dezembro de 2006.

32Dados retirados do

SUAP:https://suap.ifma.edu.br/edu/estatistica/?tab=total_curso&situacao_matricula_periodo=SITUAC AO_MATRICULADO&periodicidade=por_periodo_letivo&apartir_do_ano=7&estatistica_form=Agua rde...&uo_selecionada=29 ( Acesso em Dez/2016) e do Censo INEP.

33. Encontramos essa organização e estrutura para alunos com deficiência somente no Campus Açailândia. As professoras que atendem nesta sala fazem o acompanhamento de alunos com Síndrome de Down, baixa visão, deficiência visual total, deficientes auditivos e cadeirantes, e conta com uma boa estrutura de equipamentos para desenvolver seu trabalho: jogos, materiais diversos e livros adaptados.

O município de Buriticupu fica no Oeste maranhense (Latitute: 04º 20'45'' S; Longitude: 46º24'04''), Microrregião do Pindaré e conta com uma população de 65.237 habitantes e com população projetada para 2015 em 70.510 habitantes (IBGE,2010). Sua área é de 2.545km2 e possui o IDHM de 0,556.(PDI, IFMA; 2014-

2018)

A cidade desenvolveu-se com a exploração da madeira, a agricultura e, sequencialmente, a pecuária. Com o decorrer do tempo, o setor terciário expandiu-se e encontra-se, hoje, estruturado. Tem-se como principais atividades econômicas da região:

• Agricultura: milho, arroz, horticultura, mandiocultura, fruticultura (açaí, buriti, caju, cupuaçu e cajá);

• Pecuária: bovinocultura de leite e corte; • Avicultura de corte;

• Mineração: bauxita (Itinga);

• Serviços; Agroindústria: carnes e couro; • Indústria: ferro-gusa, móveis;

• Pesca artesanal (Itinga);

• Reflorestamento: integração lavoura-pecuária-floresta; • Comércio – varejista e atacadista;

Sobre a escolha do município para instalação do IFMA, levantamos que:

Entrevistadora: Como foi feita essa escolha do município de Buriticupu,

dentre tantos municípios aqui circunvizinhos? Que fatores definiram que o IFMA se instalasse aqui nesse município?

Entrevistado: Quando nós chegamos aqui, nós nos deparamos com

indicadores sociais preocupantes, alarmantes. Segundo algumas informações um dos motivos que levaram a escolha de Buriticupu foi o IDH, o município sempre apresentou um IDH abaixo do normal, tanto a nível de Brasil como a nível de Estado; é um dos municípios com menores Índices de Desenvolvimento Humano. Mas além de se levar em consideração esse critério, de que a educação realmente gera contribuição pra desenvolvimento, para crescimento do município de todos os aspectos, em todos os âmbitos, teve também a questão política, né? Alguns colegas colocaram que também a vinda pra Buriticupu se deu também através de uma influência política muito forte, mas se leva em consideração esses dois aspectos, o aspecto social; o aspecto de melhoria desse social, da situação

que o município vivia, porque é um município que vem de um processo de colonização e trabalhou com certos impactos ambientais; e o município ele estava finalizando um ciclo de exploração da madeira. Então existia uma preocupação de como garantir a permanência dos moradores, da população através de uma educação de qualidade, através de uma oportunidade para os jovens, para a população aqui de Buriticupu, mas, a priori, aquilo que a gente tem, presenciou no primeiro momento da chegada do campus do IFMA aqui em Buriticupu é que foram esses dois grandes motivos: o aspecto político e o aspecto social que motivaram a vinda do campus do IFMA para Buriticupu.(GC-2)

Observa-se que os critérios, além da escolha técnica em virtude das condições socioeconômicas do município e da necessidade de oferta desse nível de ensino, em decorrência da situação de precariedade da oferta do Ensino Médio, passam também pela indicação de políticos, fato este que na maioria das vezes se sobrepõe a questões estruturais e de logística que podem interferir na condução da política

A falta de estrutura para funcionamento do Campus chama a atenção dos servidores que chegam à cidade, como podemos observar no relato do DOC-2:

E nós funcionamos, a primeira vez, numa sala cedida pelo Estado, no Simar Pinto, que é uma escola daqui, que eram três salas que estavam isoladas há mais 3 anos, devido ao problema de poeira, e nós e outros, cerca de 12 servidores, colocamos para funcionar, aqui, em Buriticupu, a primeira vez, o Instituto Federal; sem sede, numa sala que tinha poeira, a gente tinha que sair com os alunos quando passavam os caminhões; passavam os caminhões perto da BR, era muito próxima a escola, então, vinha aquela poeira, naquelas três primeiras salas, sujava tudo, era um “Deus nos acuda!”, mas foi desbravador, foi muito interessante! E a gente sempre clamava pelo término da sede, sentíamo-nos órfãos, desnudados por não ter sede, não é? Nem respeitabilidade na cidade a gente tinha, porque como é que vem um Instituto para cá, funcionar dentro de uma escola? E a gente se fez presente, em vários momentos, em que houve tensões sociais aqui, como a briga dos madeireiros, a briga do tráfico de droga, que aumentou bastante no país todo, e aqui é uma zona de um entroncamento, na verdade, não é?

A extração ilegal de madeira ainda é causa de muitos conflitos armados entre madeireiros, indígenas34, pequenos agricultores, ambientalistas e posseiros da região,

principalmente na Reserva Biológica do Gurupi.35

Necessário se faz analisar os desafios demandados por essa realidade ainda tão pungente e atual, decorrentes de um capitalismo predatório, considerando a oferta de cursos da Unidade.

A oferta inicial dos cursos foi definida pela equipe técnica do antigo CEFET- MA, encabeçada pela Diretoria de Interiorização, a partir de conversas com a comunidade para o levantamento de necessidades:

Entrevistado (GC-2): (…) antes da chegada dos primeiros servidores teve

uma equipe que veio pela Reitoria conduzida pelo professor Ozelito, que era o diretor institucional na época, e eles vieram fazer uma avalição do arranjo produtivo local. Então, no início, o curso que foi levantado, que foi questionado, inclusive através de uma audiência36feita no município, foi um

curso relacionado à questão ambiental, foi um curso de Recursos Naturais. Então, esse curso ele foi escolhido visando a ajudar a orientar nessa questão do APL- Arranjo produtivo local.

Entrevistadora: E qual é o arranjo produtivo aqui de Buriticupu? Você falou da questão do ciclo da madeira, ele permanece?

Entrevistado: Então, ele permanece. Hoje os nossos cursos, a maioria dos nossos cursos, eles estão dentro desse APL , do Arranjo Produtivo Local. Nós já estivemos consultando a comunidade (empresários, escolas, igrejas); fizemos um questionário, ouvindo a comunidade como um todo, pra ver a necessidade da comunidade. Nós conseguimos através de um diagnóstico feito por colegas, feito por nós da gestão também (foi uma equipe que conduziu todo esse processo), nós conseguimos identificar alguns arranjos 34 O território de Buriticupu possui a reserva indígena Araribóia, habitada por 7329 indígenas da etnia Guajá; povos tradicionais daquela região, com 413.288ha. (Fonte: Site Funai: www.funai.gov.br. Acesso em 31/01/2018)

35 A Rebio (Reserva Biológica) do Gurupi existe desde 2008 e atualmente é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Protege uma das últimas porções da Amazônia maranhense, com amostra representativa da floresta úmida tropical, com sua fauna e flora. É uma das 10 reservas que mais sofre processo de desmatamento. Fonte: IcMBio(www.icmbio.gov.br) Acesso em nov.2017

36Não foram localizadas as atas das audiêncis públicas relatadas junto à Reitoria do IFMA- Diretoria de Interiorização.

produtivos locais, principalmente os arranjos relacionados à agricultura, porque se trata de um munícipio que vem de um processo de desmatamento e ele começou a sinalizar o aspecto agrícola, um arranjo produtivo muito forte e os nossos cursos acabaram sendo direcionados também para a questão agrícola e hoje a gente pensa assim de trabalhar um núcleo agrícola em Buriticupu e transformar esse Campus em um Campus misto, porque o APL focado na agricultura, é muito forte hoje. Então os cursos na área ambiental, na área agrícola foram todos pra atender o diagnóstico feito dentro do arranjo produtivo local.

Entrevistadora: Então esse já foi um segundo diagnóstico, digamos assim?

Entrevistado: Sim. Porque teve o primeiro, feito pela equipe da reitoria, e o segundo, uma outra consulta pra nós podermos ampliar a demanda de cursos, porque até então nós só tínhamos um curso, e hoje nós temos mais de 10 cursos técnicos, todos focando o APL.

A partir de um segundo levantamentos junto à comunidade, foram definidos os Cursos Técnicos nas formas Integrada e Subsequente e na modalidade EJA, e os Superiores, distribuídos em 5 (cinco) Eixos tecnológicos (Ambiente e Saúde, Gestão e Negócios, Recursos Naturais, Controle e Processos industriais, Produção Industrial). O Campus atendia em 2016 a 1027 alunos, sendo 481 nos cursos integrados.

Tabela 4 - Cursos Técnicos Campus Buriticupu- 2016

CURSO FORMA/MODALIDADE

Administração Integrada

Agroecologia Integrada

Agronegócio Integrada

Análises Químicas Integrada

Eletrotécnica Integrada

Informática Integrada

Administração Subsequente

Contabilidade Subsequente

Vendas Integrada- PROEJA

Serviços Públicos Integrada- PROEJA

Fonte: Sítio institucional e pesquisa de campo. Acesso em Dezembro 2017

Tabela 5 - Cursos Superiores Campus Buriticupu-2016

CURSO TIPO DE FORMAÇÃO

Gestão Ambiental Graduação Tecnológica

Gestão Pública Graduação Tecnológica

Biologia Licenciatura

Matemática Licenciatura

Fonte: Sítio institucional e pesquisa de campo. Acesso em Dezembro 2017

O Campus está instalado em uma área de 13.565 m2, com um área construída

de 4.143 m2 que comportam além da área administrativa bem estruturada, 19 salas

de aula, 9 laboratórios (informática, eletrotécnica, biologia, microbiologia, química, física, fisiologia do esforço); sala de professores, setor médico, setor pedagógico, setor de assistência ao educando, cantina, área de convivência, área de lazer com piscina, quadro poliesportiva coberta e vestiários. O prédio conta com adaptação para pessoas com deficiência e passou recentemente por uma reforma geral.

A biblioteca tem um ambiente agradável e acolhedor e dispõe de um acervo de 2.244 títulos distribuídos entre livros, dispositivos multimeios e obras de referência.

Causa espanto não existir dentre esse conjunto, obras literárias. A biblioteca não dispõe de computadores/notebooks/tablets para consulta dos usuários.

À época de uma de nossas visitas ao Campus, no primeiro semestre de 2016, pudemos conversar com os docentes e verificar que a grande maioria da equipe estava iniciando as atividades na Rede Federal naquele semestre. Essa mobilidade advinda dos processos de remoção interna dos docentes acarretou diversas consequências ao processo de implantação e à solidificação da Unidade, no que se refere à vida acadêmica e à gestão, as quais serão explanadas em nossa tese, nos capítulos que apresentam os resultados das pesquisas de campo.

A unidade conta com um quadro efetivo de 48 docentes na carreira EBTT (Ensino Básico, Técnico e Tecnológico), distribuídos nas diversas áreas do conhecimento, e 27 Técnicos administrativos em educação, com previsão de abertura de mais 17 vagas.

Com relação aos programas desenvolvidos pelo Governo Federal, o Campus atende aos seguintes: Bolsa Formação (PRONATEC)37, PRONERA38,E-Tec Brasil39,

37A Bolsa-Formação oferece vagas gratuitas de Educação Profissional e Tecnológica, nos cursos do PRONATEC, e refere-se à ajuda de custo dada ao aluno. Há duas modalidades: a Bolsa-Formação Trabalhador, que oferece cursos de qualificação profissional (cursos de curta duração, com 160 horas- aula ou mais) para beneficiários do seguro-desemprego e dos programas de inclusão produtiva do Governo Federal; e a Bolsa-Formação Estudante, que oferece cursos técnicos (de maior duração, pelo menos 800 horas-aula), concomitantes ou subsequentes. Os recursos recebidos pelas instituições ofertantes do Pronatec/Bolsa-Formação abrangem todas as despesas de custeio das vagas e o eventual custeio de transporte e alimentação ao beneficiário, vedada cobrança direta aos estudantes de taxas de matrícula, custeio de material didático ou qualquer outro valor pela prestação do serviço.Fonte: http://portal.mec.gov.br/pronatec/perguntas-frequentes/a-bolsa-formacao. Acesso em abril/18.

38Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária vinculado ao Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA) e executado pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em parceria com Ministério da Educação, entidades sociais, Universidades visa promover a educação dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, bem como formar educadores para as escolas do campo no sentido de contribuir para a consolidação da educação do campo, em favor da erradicação do analfabetismo e garantia do direito à educação. O programa busca garantir o respeito às peculiaridades da educação do campo, a oferta de educação de jovens e adultos integrando

qualificação social e profissional.

Fonte:http://portais.ufma.br/PortalProReitoria/proen/paginas/pagina_estatica.jsf?id=165 / www.portal.mec.gov.br/busca-geral/208noticias/591061196/16002-decreto-organiza-politicas-publicas- educacionais-no-campo. Acesso em abril/2018.

PARFOR40.