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3 DA LETRA FRIA DOS DOCUMENTOS OFICIAIS AO CHAO DA ESCOLA: ENTRE O IDEAL E O POSSÍVEL.

ZÉ DOCA

Análises Químicas Produção Industrial 3.840 2010

Biocombustíveis Produção Industrial 3.840 2010

Secretariado Escolar Desenv. Educacional e Social 2.800 2010

Nota: Tabela produzida pela autora a partir dos documentos enviados pelo IFMA

3.1.2.3 Os referenciais pedagógicos explicitados nos Planos de Curso

Segundo Sacristán (2013), analisar currículos concretos significa vê-los em seu contexto, no qual se configuram e através do que é expresso em praticas educativas e seus resultados. Nessa análise, não podemos perder de vista que os currículos manifestam a correlação de forças que agem sobre o sistema educativo, os interesses de grupos distintos refletidos nas escolhas dos conteúdos, nas metodologias de ensino e nas diversas práticas escolares.

Os documentos foram elaborados tendo como base legal a Resolução CNE/CEB nr. 04/1999, que definia as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Posteriormente, foi publicada a Resolução CNE/CEB 06/2012 e o Parecer no. 11/2012, que tratam das novas Diretrizes.

Com relação à legislação que orienta as práticas do Ensino Médio e que poderia ter sido utilizada como uma referencia importante temos as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Neste texto, as indicações metodológicas apontam, de maneira mais incisiva do que nas Diretrizes Curriculares para a Educação Profissional, para uma formação integrada, em que o ensino médio se configura como uma etapa importante

Observa-se que mesmo os Planos que têm sua atualização no ano de 2014, a alteração deu-se somente na matriz curricular, para adequação ao regime anual, mantidas as bases filosóficas em consonância com a legislação caduca.

O Plano do Curso de Manutenção de Máquinas Industriais, ofertado pelo Campus São Luís Centro Histórico e atualizado em 2017, traz a adequação à nova legislação, inclusive ao Projeto Pedagógico Institucional (PPI), que iremos detalhar mais adiante. Além disso, expressa a preocupação com a elevação da escolaridade da população a ser atendida, considerando que a unidade funciona em uma região do município de São Luís marcada por profundas desigualdades sociais, violência, pobreza, tendo se desenvolvido à margem do “progresso” promovido pelos grandes projetos industriais da Companhia Vale e da Alumar. Destaca-se também a preocupação em promover a formação técnica com fundamento nos princípios do trabalho, da ciência, da cidadania e em valores éticos e estéticos (IFMA, 2017a, p.8).

Chama-nos atenção o fato de que a estrutura curricular do plano de curso em referência, ainda esteja fundamentada explicitamente na “pedagogia das competências”, afirmando que esta “privilegia procedimentos centrados no sujeito que aprende, que dar (sic) valor ao docente no papel de facilitador e mediador da aprendizagem, visando formar alunos com autonomia, iniciativa e que sejam capazes de conduzir sua própria formação.” (IFMA, 2017a,p. 6).

Ramos (2011; 2012) nos adverte que a concepção acima foi amplamente difundida e reiterada para consolidar o discurso das competências como sendo aquele que superaria a prática da transmissão do conhecimento por meio da adoção de projetos didáticos, metodologia que já era muito bem recebida por pedagogos por buscar superar a fragmentação das disciplinas através da interdisciplinaridade, levando a uma visão integradora do currículo.

Entretanto, a pedagogia das competências, por concentrar-se na resolução de problemas, em um aprendizado voltado para a ação, não busca a apreensão do conhecimento, não aprofunda e não busca a compreensão da totalidade dos fenômenos, uma vez que os conteúdos escolhidos no currículo relacionam-se às habilidades a serem desenvolvidas pelos educandos. Essas competências, feitas para a adaptação do sujeito aos mais diversos cenários da produção, são transmutadas

para o discurso da autonomia, da criatividade, deixando obscurecidas as ações destinadas a adequar o sujeito ao mundo da produção.

Considerando que o Plano de Curso é o documento orientador das práticas e principalmente das concepções político-pedagógicas dos atores envolvidos na prática educativa desenvolvida na escola, podemos supor que estamos diante de documentos, tempos históricos, embates políticos que falam de culturas escolares bem distintas, que não refletem as mudanças, reflexões ocorridas no cenário da EPT no Brasil e na nova institucionalidade.

Os conteúdos dos planos estão estruturados da seguinte maneira: justificativa, objetivos, requisitos de acesso, perfil profissional de conclusão, organização curricular, sistemática de avaliação, critérios de aproveitamento de conhecimentos e experiências anteriores; instalações e equipamentos, pessoal docente e técnico, diploma.

Iremos analisar a justificativa, os objetivos e a organização curricular que podem nos ajudar a compreender a dinâmica dos cursos integrados no IFMA e a concepção que orienta sua prática.

Um quadro com a identificação legal da Unidade Escolar precede a justificativa que em geral traz uma apresentação sobre o município (dados geográficos, estatísticos e populacionais), e os motivos que fizeram com que a Instituição fosse implantada no lugar. Em geral, é citada uma pesquisa realizada pela Instituição sobre as atividades econômicas e sobre a escassez de mão-de obra para atender às demandas do processo produtivo da região, o que indica a necessidade da formação de mão de obra qualificada para atender a essas demandas. Segundo os diversos textos apreciados, essa qualificação deve estar assentada nas novas bases tecnológicas e científicas que o mercado requer, o que coloca o IFMA como prioritário para responder a esse desafio considerando possuir professores qualificados e boa estrutura de laboratórios e equipamentos.

Mesmo considerando que os Planos de Cursos estão balizados por uma legislação caduca, baseada em uma perspectiva que não vê o Ensino Médio, e mais

especificamente o Ensino Técnico, como uma etapa da Educação básica, é importante registrar que em geral a justificativa da implantação dos cursos nos municípios está voltada para a formação de mão-de-obra para determinada empresa e, consequentemente, para a empregabilidade. Em poucos documentos analisados percebemos uma preocupação com a valorização da elevação da escolaridade do jovem cidadão trabalhador, em um Estado da federação que até bem pouco tempo atrás ainda não tinha implantado o Ensino Médio na totalidade dos seus municípios.

A justificativa está assentada na prerrogativa de dar respostas às demandas locais do setor produtivo indicando o que Frigotto (2010,p.51) nos coloca sobre a redução do processo educativo (escolar ou não) à função de produzir um conjunto de habilidades intelectuais, desenvolver atitudes, transmitir determinados conhecimentos que funcionam como capacidade de trabalho e, consequentemente, de produção.

Ao mesmo tempo que vislumbramos a perspectiva acima, observamos também razões sociais que justificam a implantação de um determinado curso, como no caso do Curso de Técnico em Biocombustíveis, ofertado pelo Campus Zé Doca. Em sua justificativa de implantação, é registrada a preocupação em dar respostas, na forma de política pública, às demandas da agricultura familiar, sob o argumento de que a chegada do curso e sua popularização poderiam contribuir para o incremento da renda do homem do campo, e com medidas de proteção ao meio ambiente. Entretanto, essa intenção desaparece dos objetivos do Curso, o que do ponto de vista metodológico, impacta na consecução dos mesmos nos planos de ensino e no dia-a- dia das práticas escolares.

Em alguns planos, observa-se a preocupação em definir a organização curricular modularizada, organizada por disciplinas. A finalização desses módulos, pelo aluno, confere-lhe uma determinada certificação.

Na tabela abaixo, faremos o registro dos objetivos de alguns Planos escolhidos para análise52:

Tabela 13 - Objetivos dos Cursos53