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3 DA LETRA FRIA DOS DOCUMENTOS OFICIAIS AO CHAO DA ESCOLA: ENTRE O IDEAL E O POSSÍVEL.

3.1 INDICAÇÕES DA CONCEPÇÃO DA RELAÇÃO EDUCAÇÃO E TRABA LHO NO DISCURSO OFICIAL: ANÁLISE DOS DOCUMENTOS QUE EMBA-

3.1.1 Existe uma concepção de educação e trabalho nos Cursos Técnicos Integra dos do IFMA? Uma análise dos caminhos da formação profissional no IFMA

3.1.2.2 A construção de referenciais pedagógicos

O planejamento pedagógico caminhou de forma tímida e mais lenta, se comparado aos avanços e inovações implantados na gestão administrativa do IFMA.

Prova disso é que somente no ano de 2015 foi publicizado um manual com “Orientações para elaboração de Planos dos Cursos Técnicos do IFMA” (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MARANHÃO, 2015b, p.6,), tendo como referência o preconizado na Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ) e na Lei 11.892/2008 (Criação dos Institutos Federais), e no conjunto da base legal abaixo discriminada:

- Resolução CNE/CEB No. 06/2012- que define as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio;

- Parecer CNE/CEB no.11/2012 que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio;

-Resolução CNE/CEB No. 03/2008 que dispõe sobre a instituição e implantação

do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio, atualizado pela Resolução CNE/CEB no. 4/2012 e Resolução CNE/CEB no. 1/2014;

-Resolução CONSUP/IFMA no. 13/2014 que aprova as normas gerais da

-Resolução CONSUP/IFMA No. 86/2011 que aprova a sistemática de avaliação

do ensino nos Cursos Técnicos do IFMA.

O documento citado apresenta as indicações sobre a forma adequada de produção dos Planos de Curso, visando dar organicidade e unidade aos itens a serem descritos nesses Planos, e sanar alguns problemas decorrentes das multiplicidades de planos para Cursos Técnicos semelhantes; bem como adequá-los às novas exigências legais e sociais.

Neste sentido, chama atenção para o cumprimento da missão institucional na oferta de cursos técnicos, a qual deve

proporcionar aos discentes o desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva e social; atender às demandas de formação e conhecimento

técnico, científico e tecnológico, em consonância com os setores

produtivos e a realidade regional e local50; contribuir para a inserção e

reinserção dos trabalhadores no mundo do trabalho; promover a cidadania e inclusão social por meio da elevação da escolaridade dos trabalhadores (IFMA, 2015b, p.5).

É comum observar nos diversos documentos institucionais a preocupação primeira em atrelar a formação do trabalhador às demandas dos setores produtivos, em detrimento da elevação da escolaridade.

O conhecimento técnico, científico e tecnológico também são subjugados à realidade empírica. Logicamente, um país de imensas desigualdades e problemas sociais vê na ciência uma saída eficiente para suas mazelas. Entretanto, a produção da ciência e da tecnologia não pode estar limitada às vicissitudes e idiossincrasias de um sistema produtivo que concentra os resultados de suas pesquisas nas mãos de tão poucos. Ela faz parte de um processo de disputas, em que os elementos para sua apreensão geralmente estão sequestrados pela classe dominante. Dessa forma, o processo educativo deve possibilitar a retomada consciente e emancipatória desses elementos por aqueles que produzem, inicialmente através da consciência dos processos tecnológicos envolvidos no trabalho e, depois de forma mais abrangente, 50 Grifo nosso

na compreensão do uso da tecnologia nos processos gerais de dominação, tendo em vista sua emancipação e participação ativa nos processos decisórios da sociedade.

No que se refere à Organização Curricular, o documento indica que deve estar coerente com o Projeto Político Pedagógico do Campus e com o Projeto Pedagógico Institucional, e sua estrutura de acordo com o eixo tecnológico, observada a possibilidade de construção de itinerários formativos na perspectiva de verticalização.

Considerando essa indicação metodológica, verificamos que, das Unidades pesquisadas, apenas nos Campi Centro Histórico e Zé Doca encontramos um esboço do Projeto Político Pedagógico. As demais Unidades não o possuem, apesar de já terem iniciado discussões a respeito de sua elaboração.

Com relação à definição dos componentes curriculares, devem ser observadas as determinações legais postas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, além de não perder de vista os eixos norteadores essenciais colocados pelo Parecer CNE/CEB no. 11/2012, “o trabalho como princípio educativo e a pesquisa como princípio pedagógico”. (BRASIL, 2012c, p.31)

Nessa perspectiva, o documento reafirma a oferta dos cursos na forma Integrada ressaltando, conforme Ramos (2005), que esta exige que a relação entre conhecimentos gerais (Educação Básica) e específicos (Formação Profissional) seja construída continuamente ao longo da formação sob os eixos do trabalho, da ciência e da cultura, compreendendo a relação orgânica que se estabelece entre os conhecimentos básicos e profissionais, pois estes estão interligados, sendo pois necessária a reconexão desses saberes a partir do processo de ensino-aprendizagem

No documento, é apresentado um modelo de organização da matriz curricular disposta em disciplinas/componentes curriculares, organizadas por anos ou módulos, como também é definido um modelo de ementário, no qual existe o item “Objetivos ou competências”, com uma nota explicativa sobre a necessidade de serem

“explicitados conforme a organização curricular, seja por disciplina ou centrada em competências” (IFMA, 2015b, p. 14).

Observa-se que a indicação do currículo integrado não vem acompanhada de sugestões de como poderia se dar essa “integração”. Como sabemos, essa operacionalização é o grande gargalo dos currículos e do fazer pedagógico, pois ainda não está construída e consolidada a noção de uma formação ampla, que contemple os objetivos da educação básica.

Santomé (1998) considera que essa forma de organização dos conhecimentos escolares a partir de disciplinas reforça o caráter fragmentário, descontextualizado, que privilegia uma hierarquização do conhecimento. O domínio de cada matéria, visando à promoção no sistema e à mobilidade nas diversas etapas, passa a ser a principal meta educacional. Como em geral inexiste uma conexão dos saberes, ou unidades de conteúdo, a absorção dá-se por memorização. Essa fragmentação e hierarquização correspondem ao que acontece no mundo da produção, e orientam os objetivos do sistema educacional fazendo surgir o que o autor denomina de “conhecimento acadêmico”, embalsamado nos livros-texto com a intenção de fazer o corpo docente economizar trabalho, e “com uma pretensão de neutralidade ideológica” (SANTOMÉ, 1998, p. 104).

Nesse contexto, o conhecimento reproduzido na escola não conversa com o conhecimento socialmente produzido, e perde seu sentido, pois só atende ao objetivo de “passar de ano”. Esse conhecimento descontextualizado, abstrato, aparece como a-histórico e “só passa a valer a pena na medida em que for útil como gerador de aumento de renda; os compromissos éticos e democráticos passam para um lugar secundário, pois as dimensões mais tipicamente humanas perdem relevância, a menos que sejam consideradas indispensáveis para favorecer o mercado e a produção” (SANTOMÉ, 1998, p. 108).

Gramsci (2014) nos escreve sobre a necessidade da contextualização do conhecimento, em que se busque o nexo entre vida e escola, valorizando a cultura, que é produzida socialmente, e promovendo um modelo educativo que possibilite

uma compreensão humana mais alargada da realidade; que não desvincule instrução e educação; formação e educação.

É esse o ensino necessário à formação de um jovem com capacidade de pensar, de estudar, de estar em um posição de comando ou de controlar quem dirige, em condições de intervir socialmente na construção de uma nova hegemonia (GRAMSCI, 2014).

Essa concepção demarca uma postura política e de concepção de mundo, uma vez que chama a baila os objetivos de determinado tipo de estrutura educacional dirigida aos interesses de um determinado grupo social.

Diante do que explanamos, coloca-se a necessidade de conhecer e analisar os tipos de currículo e as formas de sua implementação, uma vez que a proposta curricular pode nos dar o direcionamento do ensino, seus conteúdos e práticas.

No quadro abaixo, registramos os Planos de Curso que foram disponibilizados pelos Campi.51 Para a análise de nossa amostragem vamos considerar dois projetos

por Campi, em eixos tecnológicos diferentes, um mais antigo e outro já atualizado. Vamos desenvolver também uma análise comparativa dos Cursos de nomenclaturas iguais, ofertadas por Campi diferentes.

Tabela 12 - Planos dos Cursos Técnicos Integrados disponibilizados pelos Campi

CURSO EIXO TECNOLÓGICO CARGA

HORÁRIA