• Nenhum resultado encontrado

6.3 PESQUISA DE CAMPO COM OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

6.3.3 Do CAOCRIMO e GCOC – MPE MG

O presente subitem procura explicar o trabalho que tem sido realizado pelo CAOCRIMO e pelo GCOC de Minas Gerais, em especial diferenciando-os do GISP, objetivando demonstrar que, na realidade, duas Forças-Tarefa distintas atuam concomitantemente (a Instituicionalizada pelo Governo Estadual e a do Ministério Público Estadual).

Durante os dias em que a mestranda esteve em Minas Gerais, acompanhou os trabalhos realizados pelo CAOCRIMO e pelo GCOC, onde pôde constatar a forma organizada como o Procurador de Justiça articulava, juntamente com Policiais (em especial os Militares) e funcionários de outros órgãos, estratégias de atuação conjunta nas diversas demandas que se apresentavam.

No local, existe um “guardião” cedido pela Receita Estadual que é utilizado pelo Ministério Público sem ingerências de outras instituições.

São vários os oficiais de diligências, secretários, estagiários e funcionários, cada um com tarefas bem definidas. Pôde-se observar suas atividades, bem como conversar com vários Policiais, funcionários e outros Promotores acerca do trabalho

70 Ver Anexo IV.

do GCOC e do GISP, o que permitiu à mestranda a aproximação com a realidade sobre a qual havia formulado a pergunta, quando do início da pesquisa.

A observação deu-se não somente por ocasião das entrevistas mas, principalmente, sobre tudo aquilo que não é dito, mas, de alguma forma, é demonstrado por atos, condutas, reações e que pode ser devidamente captado. O contato com os diversos atores, objetos da pesquisa, permitiu à mestranda uma importante interação, possibilitando construir um conhecimento empírico para a pesquisa social, conforme ensina Minayo (2007).

Constatou-se a preocupação dos Promotores em demonstrar para a Sociedade que está havendo uma “democratização da lei penal” isto é, que os criminosos do “colarinho branco” também estão sendo punidos. Na ocasião, manifestaram satisfação quanto aos trabalhos que vêm sendo realizados, inclusive, referindo que as operações das Forças-Tarefas têm mudado a mentalidade dos empresários mineiros e diminuído a sonegação fiscal, pois setores empresariais cada vez mais se preocupam em quitar seus débitos, para evitar procedimentos sonegatórios.

Feitas as observações quanto aos métodos adotados para elaborar a presente pesquisa, passa-se, agora, a tratar do ponto central dessa dissertação, qual seja a Força-Tarefa.

7 DA FORÇA-TAREFA

O ‘reunir o exército’ envolve não somente a própria mobilização, mas também a organização, equipamento e adestramento para a eficaz participação no combate e, finalmente, o ‘concentrar as forças’ trata daquela concentração estratégica que visa a atender ao início das operações, ainda fora do teatro.

Alberto Cardoso

Nos capítulos anteriores, apresentou-se uma ampla reflexão acerca dos fenômenos da criminalidade e da violência, bem como se demonstrou a ascensão da macrocriminalidade, especialmente pela falta de uma investigação eficaz. Essa realidade evidencia a fragilidade das agências de controle e repressão do crime. Procura-se no presente capítulo analisar parte do escasso material teórico existente no Brasil com relação à Força-Tarefa e a doutrina sobre a Task Force americana, em especial, quanto aos seus resultados nas investigações e combate ao crime organizado, procurando caminhos para responder às questões suscitadas nesse estudo.

O Estado reivindicou o monopólio do uso legítimo da violência física. Porém, como já se viu, na prática, a situação é bem diferente. O Estado não consegue se estabelecer como detentor do monopólio legítimo da violência, seja por excesso na sua utilização, ou pela fragilidade dessa capacidade para conter determinados crimes, em especial os chamados “organizados”, e que muitas vezes alcançam inclusive certa legitimidade social nas áreas em que atuam (ADORNO, 2002a)71.

71 Adorno (2002a) destaca que recente literatura tem questionado a pertinência de pensar o monopólio estatal da violência em nossa contemporaneidade nos termos propostos por Weber. Referindo-se à Wieviorka (1997), o autor salienta que o Estado se revela cada vez mais incapaz de controlar a economia, sendo forçado, por exemplo, a recuar diante de determinadas circunstâncias, como as atividades informais (mercado negro, trabalho clandestino, etc.). Citando Herbert (1999), que avaliou o controle do crime nos Estados Unidos, Adorno (2002a) destacou alguns argumentos que poderiam comprometer a legitimidade do Estado-nação contemporâneo: Externamente, os processos de globalização econômica e social (consumo e produção que reforçam o poder das grandes corporações e enfraquecem a capacidade do Estado de regulamentar o mercado de modo a evitar a potência abusiva dos mais fortes sobre os mais fracos) e também a rapidez das mudanças tecnológicas (que alteram no tempo e no espaço os fluxos das pessoas, mercadorias e capitais). Internamente, a legitimidade do Estado-nação estaria perdendo força em razão das políticas neo- liberais e das severas restrições ao Welfare State. Nesse contexto, essas restrições comprometeriam

Nesse sentido, pretende-se, em seguida, verificar a necessidade e eficácia da conjugação de esforços entre as diversas agências de controle e repressão do crime para a investigação e combate da macrocriminalidade, através do mecanismo que se convencionou denominar Força-Tarefa.

Analisando as organizações, Schein acredita que o clima organizacional vem se tornando cada vez mais cooperativo. Os indivíduos estão se dando conta de que a competição é virtualmente destrutiva. O Autor refere que:

Se essa tendência for universal, começaremos, também, a ter maior demonstração de colaboração interorganizacional, não por razões políticas, mas por razões de ordem prática face à necessidade tecnológica. Maiores níveis de coordenação só poderão ser alcançados por uma divulgação e descentralização mais ampla de informações, que permitirão um entrosamento entre as várias unidades, e não por um planejamento centralizado [...]. Todavia, para que essa coordenação auto-administrada ocorra, não apenas as informações devem estar amplamente disponíveis, mas todos os protagonistas do sistema devem ser capazes de saber qual é o seu papel (1996b, p. 70).

No Estado do Rio Grande do Sul, em 2002, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Narcotráfico, na Câmara dos Deputados, objetivando investigar a possibilidade de envolvimento de algum parlamentar com o esquema do narcotráfico no País. Por fim, acabou-se identificando uma megaquadrilha, com ramificações em, pelo menos, quatorze Estados da Federação, dentre eles o Estado do Rio Grande do Sul. Verificou-se uma conexão com um conjunto de outros crimes que passam pela questão do roubo de cargas, da lavagem de dinheiro, com a eficiência das agências encarregadas do controle repressivo da Ordem Pública, abrindo espaço para que o crime organizado passasse a competir com o Estado (no controle do território como espaço físico e social de realização da dominação). E, mais, ao se reportar à Garland (1996, 2001), Adorno (2002a) indica que está ocorrendo uma transferência de responsabilidades públicas e estatais de controle do crime, seja através da polícia comunitária (que, na realidade, enfraquece as tradicionais funções do poder público de executar policiamento preventivo e repressivo, bem como de investigar crimes), seja através da segurança privada (tendendo à erosão da autoridade estatal de controle do crime e da violência, pois igualmente transfere responsabilidade e garante a crença junto aos cidadãos de que o mercado é mais eficiente do que o Estado na prestação de serviços) e, por fim, através da internacionalização das atividades policiais (em razão da internacionalização do crime, com extensas e complexas operações bancárias, multiplicando em curto espaço de tempo atividades como fraudes, espionagem, tráfico de armas e drogas, terrorismos, etc.). Com isso, a repressão ao crime organizado acaba submetida à autoridade extrajudicial, o que se traduz em perda significativa do papel do Estado-Nação (como, por exemplo, tornando-se signatário de convenções internacionais, e de acordos bilaterais entre Estados-Nações). Por fim, Adorno (2000a) ressalta que Herbert muito bem contesta essas tendências, pois a segurança privada não compromete o monopólio estatal, muito menos a internacionalização das atividades policiais a enfraquece. Na realidade, trata-se apenas de uma cooperação que envolve trocas de informações, tornando as agências nacionais de controle do crime mais eficientes e operativas. Ao final, Adorno (2000a) conclui que as tarefas

incidência grande da presença e da ligação de agentes públicos das mais diferentes esferas com a atividade criminosa e delituosa no país.

Na ocasião, ressaltaram a importância do trabalho conjunto do Ministério Público Estadual, do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, da Secretaria de Estado da Justiça e da Segurança e de um conjunto de outras Instituições que atuariam de forma integrada, multiplicando e amplificando a capacidade de, ao final dos trabalhos, identificar essas conexões.

A CPI sugeriu, como um dos mecanismos de combate ao crime organizado, a criação de uma Força-Tarefa:

O maior mérito da CPI talvez tenha sido a criação da Força-Tarefa, onde se reuniram as várias Instituições, congregando-se forças e capacidades. O Estado, infelizmente, costuma atuar de forma estanque. As Instituições agem isoladamente, quando existem para uma finalidade comum: o bem da sociedade. Impõe-se, pois, modernizar a atuação do Estado, atuando os órgãos em sintonia, no objetivo maior, compartilhando informações, reunindo atividades, etc. Sugere-se, pois, a criação de uma força-tarefa (Interrompe a leitura) permanente (Retoma a leitura), mediante convênio ou outro instrumento legal, de abrangência multiinstitucional, com a participação de outros Estados da Federação, compartilhando-se banco de dados e informações, de forma a obter maior êxito no combate às organizações criminosas, preservando-se suas independências, mas congregando forças, como uma alavanca, no combate ao crime organizado. Deverá o Estado e a União, por si ou através da cooperação das Nações Unidas, aparelharem a Força-Tarefa, com a moderna tecnologia, de forma a torná-la organizada e preparada ao combate do crime organizado.72