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6.3 PESQUISA DE CAMPO COM OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

6.3.2 Do GISP

Não há como negar que a mestranda possuía uma idéia pré-concebida de que o GISP, conhecido como a Força-Tarefa institucionalizada em Minas Gerais, era exemplo da atuação e integração institucional no combate à macrocriminalidade (em especial pelo retorno positivo ocorrido nos primeiros anos do chamado “Choque de Gestão” do Governo mineiro, com relevante diminuição da criminalidade). Mas essa idéia pré-concebida (que se sabe prejudicial a qualquer pesquisa social) não influenciou a mestranda quando se deparou com a realidade do GISP em Minas Gerais.

A Coordenação do GISP coube à SEDS (Secretaria do Estado de Defesa Social), a quem compete a articulação de seus membros e a organização de suas atividades. A despesa decorreu de um convênio firmado com a União, bem como de recursos de dotações orçamentárias da Secretaria do Estado de Defesa Social (há, inclusive, previsão de investimentos até 2015). As ações elaboradas estão interligadas ao Plano Nacional de Segurança Pública, da SENASP, o que facilita a captação de recursos do Governo Federal.

Em que pese o decreto da criação do GISP ser datado de 2003, sua regulamentação se deu somente dois anos depois, através da Resolução Conjunta datada de 2005, acordada pelo Procurador-Geral de Justiça, Chefe da Polícia Civil do Estado e Comandante-Geral da Polícia Militar, dispondo sobre a estrutura e funcionamento do GISP.

Na ocasião, organizaram sua estruturação considerando o novo paradigma de “Gestão Integrada e Sistêmica da Segurança Pública”. Suas diretrizes eram basicamente, o incremento da integração entre os órgãos do Sistema de Justiça Criminal e a implantação do “Planejamento Estratégico” como ferramenta gerencial das ações empreendidas pelo Sistema de Justiça Criminal.

O GISP prevê um Conselho Gestor, competindo-lhe definir os crimes em que irá atuar, bem como propor medidas e decidir sobre os órgãos convidados. Deve reunir-se uma vez por mês e suas deliberações são colegiadas. Em caso de taxa ambiental, além de prejuízo ao meio-ambiente: correspondente a 45 mil campos de futebol). Fonte: Revista do Ministério Público de Minas: MPMG Institucional. Ano III, Edição 11, julho de 2007. 68 Anexo III.

dissenso, prevalece a maioria de votos. O Secretário Executivo possui voto de qualidade. Para se integrar ao GISP, o efetivo passa por um processo seletivo (verificação de antecedentes e habilidades). Os casos omissos são resolvidos pelo Secretário de Estado de Defesa Social mediante parecer do Conselho Gestor.

O GISP restou estruturado da seguinte forma: SEDS: Secretaria Executiva dividida em: A) Coordenadoria do Crime Organizado;

B) Coordenadoria de Inteligência de Segurança Pública e C) Coordenadoria de Proteção e Autoridades.

Impõe-se ressaltar que, quando da criação do GISP, a GCOC já existia e vinha atuando exitosamente. Trabalhavam, inclusive, com um “guardião” (Central de Comutação Digital, utilizado para interceptar ligações) cedido pela Secretaria da Fazenda. O Ministério Público aderiu ao GISP, mas não abriu mão do GCOC.

O GISP demorou a funcionar. Foi assinado um convênio entre todas as Instituições, em 2002, mas restou implementado somente em 2005. Porém, o Conselho Gestor apresentou-se inoperante, não realizava reuniões, não indicava demandas, etc. A idéia do Colegiado não rendeu. O decreto do GISP sequer indicava quais crimes seriam objetos de investigação, criando melindres entre as próprias instituições69.

Enquanto isso, o Ministério Público continuava atuando e ampliando seu leque de convênios com outras Instituições, como a Receita Estadual.

No prédio onde está situado o GISP, há poucos funcionários, muitos andares livres e pouquíssimas demandas. Em que pese toda essa estrutura, o GISP está sendo esquecido. O edifício encontra-se praticamente vazio, com vários locais ociosos. Sua localização, além de ser longe das demais instituições ou de policiamento efetivo, é perto de uma vila perigosa de traficantes, onde recentemente ocorreu uma grande chacina.

69 Algumas atividades foram desenvolvidas com êxito: Operação Recarga, Operação “ET”; Operação Ouro Negro; Operação Vertentes; Operação Câncer; Operação Loja de Doces, Operação Carga Explosiva; Operação Varella; Operação Casa de Oração; Operação Café; Operação Bocaiúva; Monitoramento das atividades do PCC no Estado; Busca de informações sobre roubo de cargas no Triângulo Mineiro; Informações sobre desvios de produtos químicos controlados/perigosos no norte de Minas, Mapeamento das atividades no interior dos shoppings populares, Auxílio ao Exército e ABIN; apoio à rede RENISP – Rede Integrada de Inteligência do Ministério da Justiça e Cumprimento de Pedidos de Busca da Coordenação-Geral de Segurança - COSEG, etc. Fonte: Gabinete de Ação Integrada do Sudoeste e Apoio à Assessoria de Consolidação de Informações de Inteligência do Sistema de Defesa Social de Minas Gerais.

Na mesa do Policial Militar havia apenas alguns envelopes pardos (dito pelo Policial Civil que se tratava de provas para corrigir). Na mesa do Policial Civil havia somente alguns documentos. O Aparelho de Interceptação telefônica encontrava-se estragado.

Os atores demonstraram desinteresse em compartilhar informações e suscitaram dúvidas quanto à confiabilidade dos parceiros oriundos das outras instituições. Em setembro de 2007, o Chefe de Polícia Marco Monteiro, determinou a criação de uma nova delegacia, subordinada ao DEOESP – Departamento de Operações Especiais - para intensificar ações de Inteligência e aumentar a integração com o Ministério Público e Polícias de outros Estados (o que já era objeto do GISP).

Pode-se constatar que há ainda vários aspectos e barreiras a serem superados, em especial, quanto à cultura organizacional, relação de poder, dificuldade de aceitação do próximo, problemas quanto à alegação de ingerência nas atribuições e falta de confiança.

Na maior parte das situações, observou-se que a Polícia Civil foi a Instituição que mais resistiu à integração de todos os órgãos. A Polícia Militar tem receio de que a Polícia Civil se torne mais forte e que seja anexada à ela (e, nesse caso, os bacharéis em direito teriam primazia, beneficiando os Delegados de Polícia). Por outro lado, há a eterna irresignação no sentido de que “a Polícia prende e o Judiciário solta, sem que o Ministério Público tome partido”. Já o Ministério Público entende que há casos em que a Polícia Civil não pode atuar sozinha, principalmente quando deve investigar pessoas poderosas, o próprio corpo policial e quando se trata de crime organizado, ante total falta de estrutura. Dessa forma, não há comunicação entre as Instituições, as informações não são compartilhadas, o Setor de Inteligência é privatizado, não há efetivo planejamento ou ação conjunta, enfim há relação totalmente desorganizada. Enquanto isso, o crime organizado vai se tornando cada vez mais poderoso.

Observou-se a carência de um efetivo controle, de uma conscientização no sentido da necessidade de união para combater o crime organizado de forma eficiente, compartilhando conhecimentos e informações. Não há o entendimento entre os Policiais no sentido de que a eventual coordenação do Ministério Público nas operações não caracterize superioridade ou necessidade de submissão, e sim, apenas otimização e racionalidade na gestão. Verificou-se, igualmente, carência de

tecnologia de cursos e formação conjuntas e convivência em espaços funcionais e sociais. Observou-se que um dos problemas essenciais, que dificultou a integração entre os Órgãos do Sistema de Segurança Pública e Justiça Criminal, foi a falta de prévia definição quanto aos limites de atuação de cada instituição. e, principalmente, desinteresse de mudança ou, ao menos, flexibilidade da cultura organizacional de cada Instituição, objetivando integrar-se com as demais.

Percebe-se que muitas das barreiras são antigas, construídas ao longo dos anos, num processo histórico, sem apoio governamental ou da sociedade civil para derrubá-las ou evitá-las. São elas que abalam, sobremaneira, a confiança entre as diversas instituições. Todos resistem a mudanças, em especial por medo da perda de poder e status .