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Procura-se no presente subitem comprovar a necessidade da realização de entrevistas semi-estruturadas e a forma como foi realizada, buscando demonstrar a importância dos depoimentos (informações e opiniões) dos entrevistados para a análise do referencial teórico e para a conclusão alcançada.

No presente trabalho foram realizadas entrevistas semi-estruturadas que combinam perguntas fechadas com abertas, tendo o entrevistado a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada. Como destaca Yin:

Dessa forma, você pode tanto indagar dos respondentes-chave tanto os fatos relacionados a um assunto quanto pedir opinião deles sobre determinados eventos. Em algumas situações, você pode até mesmo pedir que o respondente apresente suas próprias interpretações de certos acontecimentos e pode usar essas proposições como base para uma nova pesquisa (2005, p. 117).

As entrevistas foram realizadas em diferentes dias e locais (Porto Alegre e Minas Gerais). Nem todas foram gravadas. Os Policiais Civis e Militares de Minas Gerais solicitaram que não houvesse gravação e identificação de seus nomes, buscando o anonimato. Na ocasião, alegaram que se tratava de um tema polêmico, que envolvia outras Instituições da Polícia e da Justiça, o que, eventualmente, poderia comprometer a ética profissional. Sendo assim, procurou-se conservar o estilo informal da linguagem falada, retirando-se apenas expressões que pudessem adquirir conotações pejorativas ou ofensivas. A mestranda procurou anotar tudo com suas próprias palavras, tentando manter a fidedignidade ao sentido conferido pelo entrevistado. Não foram exigidas assinaturas em “Termos de Autorização e Consentimento”, visto que a maioria dos entrevistados alegou sua desnecessidade em razão do anonimato.

Durante as entrevistas informou-se o caráter confidencial das mesmas e a preocupação com o ponto de vista de cada um. Cientes do caráter reservado de suas manifestações, observou-se que os entrevistados falaram de forma mais espontânea sobre suas relações profissionais (problemas, angústias, temores, sucessos e dificuldades). A garantia do anonimato, nesse ponto, foi essencial.

A mestranda preocupou-se em informar que não se buscava criar constrangimentos entre os atores que compõem e operacionalizam as diversas instituições do Sistema de Segurança Pública e Justiça Criminal (objetos de pesquisa), e sim, apresentar suas diferentes percepções sobre o tema. Por certo que, nas perguntas feitas, buscou-se verificar a visão dos integrantes sobre as instituições às quais pertencem, bem como sobre as demais que com eles interagem (eventuais ingerências políticas, nas atribuições; compartilhamento de espaço, conflitos, vaidades institucionais, temor pela eventual perda do poder, cultura organizacional, desconfianças, identidade organizacional, etc.).

Houve, igualmente, a preocupação da mestranda em fazer uma explanação dos objetivos da pesquisa, da necessidade de depoimentos sinceros e dos motivos da escolha dos entrevistados (seja por indicação, pela experiência, pelo conhecimento prático, etc.).

Um dos motivos para que a escolha da pesquisa de campo recaísse sobre o Estado de Minas Gerais foi em função de um novo plano de ação implementado junto à Segurança Pública. Ela se deu num momento ímpar, quando as Instituições que integram a Força-Tarefa de Minas Gerais apresentavam-se desgostosas e desgastadas. O mesmo sentimento nutria o Assessor do Governador de Minas Gerais que, inclusive, no dia seguinte à entrevista, pediu demissão do cargo, alegando falta de apoio ao seu trabalho, que, diga-se de passagem, era essencial ao planejamento previamente realizado pelo Governo. Portanto, não só através das informações fornecidas, mas também de seus gestos, expressões e atos, os entrevistados exteriorizaram a realidade que estavam vivenciando, sem preocupação com futuras justificativas funcionais à Instituição de origem. Referida situação facilitou, sobremaneira, a percepção da realidade institucional e social dos envolvidos, o que muito ajudou para a compreensão do tema objeto da pesquisa.

Outro aspecto oportuno e favorável à mestranda, foi a intermediação havida entre o Procurador-Geral do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, bem como a mediação havida entre seu Orientador e o então Assessor do Governo. Tais situações facilitaram sobremaneira o trabalho, pois os entrevistados já a aguardavam, em Minas Gerais, e tinham conhecimento de seus interesses e objetivos naquele Estado.

Em Porto Alegre, não houve a necessidade dessa intermediação, pois os entrevistados eram amigos e colegas da mestranda, todos com alto nível intelectual e vasta experiência profissional.

No tocante à Força-Tarefa de Minas Gerais, a mestranda entrevistou um representante do Governo que participou, de forma efetiva, da implantação do GISP (Grupo Integrado de Segurança Pública), bem como alguns de seus atuais membros: um Delegado de Polícia e um Oficial da Polícia Militar. Junto ao CAOCRIMO e GCOC, foi entrevistado um Procurador de Justiça do Ministério Público Estadual que, igualmente, participou da criação do GISP, do CAOCRIMO e do GCOC/MG. Junto ao GISP, em Minas Gerais, a entrevista com o Policial Civil foi realizada quando o mesmo se encontrava sozinho em seu gabinete. A entrevista com o Policial Militar deu-se no dia seguinte e com a presença do Policial Civil (que trabalha na mesma sala). No final, quando à sós com o Policial Civil, o mesmo referiu à mestranda que nem todas as respostas dadas pelo Policial Militar correspondiam à verdade dos fatos. Além disso, destacou que, em que pese ser necessária a integração das Polícias, para um trabalho eficaz de investigação conjunta, era do seu conhecimento que o Policial Militar lhe ocultava provas e realizava uma investigação isolada.

Quanto à Força-Tarefa que atua junto ao Ministério Público Federal foi entrevistado um Procurador da República atuante nessa área.

Fez-se, igualmente, uma análise da Task Force, Força-Tarefa Americana, utilizando-se, em especial, materiais trazidos pelos membros do Ministério Público do Rio Grande do Sul que, no ano de 2006, participaram de uma visita aos Estados Unidos, buscando, entre outros objetivos, conhecer o trabalho da Força-Tarefa de Combate ao Crime Organizado. Aproveitou-se, igualmente, do referencial teórico existente sobre o tema.

Quanto ao Rio Grande do Sul, foram examinados diversos documentos, em especial os acordos celebrados e os motivos da formação do mecanismo denominado pelos Promotores como “Força-Tarefa” e entrevistado o então Coordenador da Promotoria Especializada Criminal do Rio Grande do Sul, um dos primeiros Promotores de Justiça a participar de sua criação. Também foram realizadas entrevistas com um Oficial da Brigada Militar (que é Policial Militar há cerca de 20 anos e que se encontra, atualmente, lotado na cúpula da Instituição) e

um Delegado da Polícia Civil (hoje Coordenador de um dos mais importantes Departamentos da Polícia Civil, que atua no combate ao Crime Organizado).

Por mais que se buscasse um recorte pequeno, visando uma comparação mais precisa e detalhada (como por exemplo, utilizando-se apenas como objetos de comparação e análise a Força-Tarefa do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais), a mestranda acabou por alargar o objeto de pesquisa utilizando a Força Tarefa americana mais como uma referência ilustrativa (vez que lá surgiram as primeiras formações e notícias de Força-Tarefa). Quanto ao Ministério Público Federal, a pretensão, que igualmente deveria ter sido ilustrativa (em notas de roda pé ou apenas breves referências no contexto das demais), deu-se de forma mais ampla, pois a mestranda preocupou-se em informar a existência de um trabalho mais atuante do Ministério Público Federal junto às Forças-Tarefas como importante mecanismo de combate à macrocriminalidade (principais objetos de investigação do Ministério Público Federal). Enfim, o recorte escolhido pode não ter sido o ideal, mas a intenção era repassar o maior número de informações possíveis (em especial aquelas colhidas recentemente como a entrevista com o Ministério Público Federal e a viagem realizada pelo Ministério Público aos Estados Unidos). Na realidade, a comparação efetivamente pretendida desde o início do trabalho limitava-se às Forças-Tarefas do Rio Grande do Sul (assim conhecidas como aquelas que atuam junto à Promotoria Especializada Criminal) e as Forças-Tarefas de Minas Gerais (seja a Institucionalizada - GISP, como a do CGCOC, do Ministério Público Estadual).