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C APÍTULO II E NQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1 O eLearning como novo desafio para a Educação

2.1.6 O potencial da Comunicação Mediada por Computador (CMC) na construção de comunidades de aprendizagem no elearning

2.1.6.1 Características da Comunicação Mediada por Computador

Decorrente das inovações tecnológicas que compõem a terceira geração da Educação a Distância descrita anteriormente, o conceito de Comunicação Mediada por

Computador (CMC) não pode deixar de ser considerado na abordagem que realizamos ao eLearning.

“Computer-mediated communication (CMC) is a generic term now commonly used for a variety of systems that enable people to communicate with other people by means of computers and networks. Well-known examples of such systems include computer conferencing, electronic mail, discussion lists, and bulletin boards. However, there are yet other possible applications of CMC, both in the work environment and in education and training.” (Romiszowski & Mason, 1996:1)

Como nos relatam Harasim et al. (1995), a génese deste meio de comunicação remonta à década de 60, no momento em que se desenvolve o correio electrónico em computadores de partilha temporizada (timesharing). Em 1970, Murray Turoff concebeu e implementou o primeiro sistema de conferência electrónica, a partir do qual era possível criar uma transcrição permanente da discussão entre vinte indivíduos dispersos pelos Estados Unidos, estabelecendo-se diferentes papéis, como por exemplo o de moderador ou líder. Em resultado desta experiência, surge o EMISARI (Emergency Management

Information System and Reference Index), um complexo suporte para a comunicação

electrónica que oferecia como funcionalidades a troca pessoal de mensagens, discussões em conferência e a realização de troca de mensagens em tempo real. No entanto, a aplicação destes sistemas de comunicação em contexto educativo ocorreu apenas no início dos anos 80, tendo sido utilizados em cursos de pequena duração e não acreditados, formação de executivos e ainda em cursos de ensino presencial de nível superior.

Reportando-nos ao que Romiszowsky & Mason (1996) nos adiantaram anteriormente, existem diversas tecnologias que suportam a Comunicação Mediada por Computador. Contudo, a tecnologia que melhor serve o conceito de colaboração entre indivíduos e grupos é a conferência electrónica, porquanto auxilia na coordenação e organização de materiais de uma forma apropriada aos objectivos da comunicação (Harasim et al., 1995). De acordo com as necessidades e interesses dos grupos, poder-se-ão estruturar diversos “espaços” que permitirão ao professor ajustar a natureza da matéria em discussão, delimitando-se áreas para qualquer outro tipo de debates que, eventualmente possam advir na interacção entre os indivíduos (Bates, 1995).

As motivações que conduzem ao estabelecimento de uma comunicação por computador podem ser de vária ordem:

ƒ Construção de um sentimento de coerência entre elementos de um grupo;

ƒ Partilha de informações;

ƒ Apresentação/ demonstração / partilha de ideias;

ƒ Monitorização;

ƒ Aperfeiçoamento de competências comunicativas;

Tal, leva-nos a constatar que, por detrás de uma comunicação online, muitas das vezes surge o intuito de criar ligações sociais e não apenas o simples objectivo de procurar e/ou partilhar conhecimento.

“It is the contention here that the computer-mediated communication tools create new opportunities for distance education courses and have the potential to facilitate increased instructional, as well as, social interactivity.” (Barab, Thomas & Merrill, 2001:110)

Com efeito, as potencialidades da Comunicação Mediada por Computador advêm do facto das tecnologias que a suportam oferecerem características únicas para a implementação de ambientes de aprendizagem. Na perspectiva de Romiszowsky & Mason (1996), as propriedades destes sistemas de comunicação que contribuem para a sua singularidade enquanto paradigma no contexto educativo reportam-se a:

ƒ Comunicação com alto nível de interactividade – devido ao complexo

sistema de comunicação subjacente, a capacidade de interacção entre os participantes e de accionar constantes feedbacks é praticamente ilimitada. A interacção entre elementos de um grupo é potenciada, na medida em que estes podem exprimir através de mensagens escritas os seus pontos de vista, interesses, experiências e opiniões sobre um determinado conteúdo ou, simplesmente, partilhar afectos e sentimentos.

ƒ Comunicação em múltiplas formas – os membros de um grupo podem

estabelecer conversações enviando e recebendo contribuições de todos os elementos. Num ambiente de aprendizagem, é desejável que a participação se concretize em múltiplas direcções, pois criam-se, assim, discussões intensas e significativas que enriquecem o processo de construção colaborativa do conhecimento de cada participante.

ƒ Comunicação síncrona e assíncrona – dependendo dos objectivos da

aprendizagem, poder-se-á optar por uma tecnologia de comunicação que estabeleça uma conversação entre os participantes em simultâneo, ou seja, uma comunicação síncrona. Pelo contrário, é possível que a comunicação seja efectuada em tempos diferentes e, neste caso, a conversação é suportada por uma tecnologia assíncrona. Quer uma quer outra modalidade de comunicação

revestem-se de importantes benefícios no contexto educativo, pois se a intenção consiste na resolução de um problema que exige brevidade, adequa-se uma tecnologia síncrona; se se considerar mais profícua uma troca prolongada no tempo, fomentando mais espaços de reflexão sobre o problema, a comunicação assíncrona é a que melhor se ajusta.

Observadas estas características, a Comunicação Mediada por Computador, nomeadamente na sua forma assíncrona, constitui uma abordagem inovadora pelos inúmeros benefícios que introduz na Educação. Para além da ubiquidade, da transmissão de informação, da conveniência para as pessoas, da formação de grupos de discussão e da interacção entre os elementos participantes, a comunicação assíncrona reúne importantes mais-valias para a construção de ambientes de aprendizagem no sentido em que:

“(It) is a useful way to extend class discussions beyond the time and place of class meetings. Though the WWW is more often thought of as a presentation medium rather than as a form of asynchronous communication, it can serve as a place for posting content, a library of resources that can serve as a foundation for ongoing discussions of important civic or historical issues, a forum for joint problem-solving and inquiry learning, a place where students can post their work-in-progress, and a place where instructors, peers and experts can provide critique and feedback to help students refine their products and performances.” (Sherry, 2000:26)

Wu & Hiltz (2004), ao realizarem uma investigação sobre a percepção que os alunos tinham relativamente ao papel que a comunicação assíncrona desempenhava na sua aprendizagem, constataram o reconhecimento por parte dos participantes de inúmeros benefícios deste sistema de comunicação ao longo dos cursos que frequentaram. Os resultados, obtidos a partir da administração de questionários a 116 alunos, sugerem que muitos estudantes reconheceram que as discussões online, não só se apresentaram benéficas para as suas capacidades de aprendizagem, como também promoveram a qualidade da sua aprendizagem, além de terem apreciado a flexibilidade deste tipo de discussões. Expressões como “interaction”, “convenience”, “ease of use”, “less pressure”, “provides more social interaction”, “flexibility of time and space”, “the dynamic nature of content and the sharing of experiences among peers” ou “clearly and openly express opinions without fear” (Wu & Hiltz, 2004:148) comprovam o impacto positivo que a implementação de cursos online suportados por tecnologias de comunicação assíncronas

revela nos alunos que os frequentam. Na mesma linha, Hammond (1999) menciona quatro pontos essenciais que valorizam a aprendizagem dos alunos através da comunicação assíncrona presente nos fóruns de discussão:

ƒ Oportunidade para articular ideias sobre um assunto e receber feedback da sua contribuição;

ƒ Oportunidade para reflectir sobre ideias e perspectivas de outros e em particular dos seus colegas;

ƒ Ajuda como e quando necessitar;

ƒ Ambiente social que promove a motivação e suporta a aprendizagem.

Contudo, os estudos desenvolvidos quer por Wu & Hiltz (2004) quer por Hammond (1999) reconhecem, igualmente, alguns constrangimentos na utilização da comunicação assíncrona em ambientes de aprendizagem. Em termos globais, os estudos de caso efectuados por estes autores apontam, essencialmente, para as seguintes limitações:

ƒ Tempo a despender para a realização das tarefas propostas que, muitas das vezes, ultrapassa a disponibilidade dos alunos;

ƒ Acesso às tecnologias e desenvolvimento de competências específicas para a sua utilização por parte dos alunos que em muitos casos necessitam de apoio técnico;

ƒ Atitudes e expectativas dos alunos que nem sempre têm consciência da importância da discussão para o desenvolvimento da sua aprendizagem;

ƒ Pedagogia, nomeadamente o papel do professor como moderador da discussão e orientador das aprendizagens;

ƒ A natureza do meio de comunicação que, muitas das vezes, leva a uma sobrecarga e desorganização de conteúdos e, consequentemente, a uma desmotivação dos alunos em continuar a participar nas discussões.

Por seu turno, alguns autores, como Berge & Collins (1993) e Sherry (2000), acrescentam a estes constrangimentos um outro elemento que minimiza as potencialidades da comunicação assíncrona: a falta de uma matriz social. De acordo com estes

investigadores, o facto de a comunicação assíncrona estar limitada ao texto escrito, leva à ausência de diversos indicadores da presença social que caracteriza a interacção face a face. Entre estes indícios, destacam-se a falta de expressões faciais, de linguagem corporal, do tom de voz, entre outros aspectos que, conforme argumentam Berge & Collins (1993:9) “foster a sense of impersonality and detachment”.

Neste sentido, é necessário estar consciente das circunstâncias que dificultam uma prática que eleve as potencialidades da comunicação assíncrona e, consequentemente, encontrar estratégias que estimulem a participação efectiva de alunos e professores com vista à construção de ambientes de aprendizagem online com qualidade e significativos. Ou seja, ambientes de aprendizagem que promovam a emergência de um sentimento de “comunidade” que una pessoas com os mesmos interesses, as mesmas competências e atitudes e que, acima de tudo, diminua a sensação de distância e solidão (Berge & Collins, 1993).

Em jeito de remate, gostaríamos de deixar presente a convicção de Tony Bates que, a respeito da Comunicação Mediada por Computador, defende que

“Computer conferencing has several strong instructional features. Its is a highly interactive medium, allowing for equal access and participation by all learners, and in particular allows mature learners to bring their own experience and expertise to the learning process. It is good for developing academic discourse, for collaborative learning, and for knowledge building. Its weaknesses are that without skilful moderation and design, students can be passive or non- participants and the quality of interaction can be poor.” (Bates, 1995:226)