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Características do usuário

CAPÍTULO 4: O COTIDIANO DOS ATENDIMENTOS

4.1. Sobre os atendimentos realizados

4.1.1. Características do usuário

Apresentaremos aqui informações referentes aos dados sociodemográficos (sexo, cor da pele / raça, faixa etária, inserção escolar) e outras informações gerais sobre o quadro apresentado, as quais caracterizam o usuário em ambos os serviços.

As informações sexo, cor e data de nascimento (idade completa no ato do primeiro atendimento) dizem respeito ao total dos adolescentes que realizaram o primeiro atendimento em ambos os serviços com questões relacionadas ao uso de drogas. Estes dados compõem a capa do prontuário e os dados são coletados pelo funcionário administrativo na recepção do serviço.

Gráfico 01: CAPS AD e CAPS IJ: sexo dos adolescentes envolvidos com uso de drogas atendidos no ano de 2016 33% 67% 29% 71% 0% 50% 100% 150% Feminino Masculino CAPS AD CAPS IJ

Gráfico 02: CAPS AD e CAPS IJ: Raça / cor da pele dos adolescentes envolvidos com o uso de drogas atendidos do ano de 2016.

Gráfico 03: CAPS AD e CAPS IJ: idade dos adolescentes com queixas relacionadas ao uso de drogas no primeiro atendimento , no ano de 2016.

O perfil geral dos adolescentes que recorreram, no ano de 2016, aos dois serviços devido o uso de drogas foi caracterizado como majoritariamente do sexo masculino, raça/cor da pele parda / preta e com a idade de maior incidência da queixa aos 16 anos.

Tais informações são importantes para problematizar a situação e para atentar para os motivos deste perfil ser o de maior incidência e estruturar ações nos serviços que dialoguem com as demandas desta população, levando em consideração as singularidades de suas demandas. 30% 70% 0% 0% 20% 64% 2% 13% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Branca Parda / preta Amarela Não informado CAPS AD CAPS IJ 4% 0% 15% 30% 33% 19% 0% 0% 7% 20% 18% 22% 22% 11% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%

12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos 18 anos CAPS AD CAPS IJ

Também entendemos que este dado contribui para a construção de estratégias de cuidado, baseadas na clínica psicossocial que leva em consideração as características e demandas desta população, bem como os aspectos territóriais.

Apresentamos também uma sistematização das queixas recebidas no primeiro atendimento de todos os adolescentes que recorreram aos serviços. Faz-se importante destacar que, ao construirmos esta sistematização, tivemos como norteador que um adolescente pode preencher mais de uma queixa / prejuízo apresentada na figura abaixo. Por exemplo: um usuário no primeiro atendimento pode trazer como queixa o uso de drogas e ideação / tentativa de suicídio.

No CAPS AD, ao sistematizarmos as queixas registradas no primeiro atendimento, observamos que a queixa “Uso de Drogas” foi a demanda majoritariamente maior dos atendimentos realizados e, ao sistematizarmos todas as queixas descritas no primeiro atendimento esta informação fica categorizada na seguinte forma:

Gráfico 04 - CAPS AD: Queixas apresentadas no primeiro atendimento à adolescentes no ano de 2016.

Como já dito, o CAPS IJ é referência para o atendimento de crianças e adolescentes com sofrimento psíquico grave e persistente.

Desta forma são atendidas diferentes queixas, que foram categorizadas conforme a figura abaixo:

79% 18% 3% 0% 20% 40% 60% 80% 100% Uso de drogas Dificuldades na socialização Ideação / tentativa de suicídio

Gráfico 05 - CAPS IJ: Queixas apresentadas no primeiro atendimento aos adolescentes no ano de 2016.

Do total de todas as queixas levantadas, que foram registradas no primeiro atendimento do adolescente no CAPS IJ, a queixa “uso de drogas” representa 7% do total de todas as queixas categorizadas.

Especificamente, em relação às demandas apresentadas no CAPS IJ, observa- se que, do total dos adolescentes que recorreram ao serviço, a queixa relacionada ao uso de drogas corresponde a 15% dos atendimentos do total dos 310 adolescentes que realizaram o primeiro atendimento no ano de 2016.

22% 14% 11% 10% 7% 7% 6% 5% 4% 4% 4% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 0% 5% 10% 15% 20% 25%

Queixa escolar (aprendizagem e comportamento) Tristeza, desmotivação, desinteresse, choros e

isolamento

Agressividade e baixa tolerância à frustração Conflitos familiares Uso de dogas Desorganização psiquica / sintomas psicóticos Automotilação / autoagressão Ansiedade, agitação, tremores, taquicardia e estresse. Violência (diversas modalidades) Síndromes, Deficiência intelectual e questões

neurológicas

Ideação / tentativa de suicídio Alteração do sono Alimentação / peso Uso de Metilfenidato / TDAH Comportamento compulsivos Autismo Orientação sexual e conflitos

Gráfico 06 - CAPS IJ: Perfil geral dos adolescentes que foram atendidos no ano de 2016.

No CAPS IJ, observamos que a demanda principal apresentada, pelo adolescente ou o responsável no acolhimento, como uso / abuso de drogas corresponde a 15% dos atendimentos de adolescentes realizados no ano de 2016.

Neste contexto observamos que no CAPS AD, a demanda relacionada ao uso de drogas fica mais evidente no total dos adolescentes que recorrem ao serviço, entretanto no CAPS IJ é possível observar que ao registrar esta queixa há também descrito outras dificuldades apresentadas pelo adolescente, tais como as questões relacionadas ao contexto escolar. Neste cenário podemos hipotetizar que o CAPS IJ teve uma compreensão mais ampliada do espaço que a droga ocupa no desenvolvimento psicossocial do adolescente.

O próximo dado a ser apresentado diz respeito às hipóteses diagnósticas, segundo a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, em sua 10ª edição (CID 10), que os adolescentes receberam no acompanhamento no CAPS IJ. Para melhor análise, classificamos em duas categorias: queixas de uso ou abuso de álcool e outras drogas e outras queixas.

Quanto à hipótese diagnóstica levantada no acolhimento, temos algumas considerações que necessitam ser apontadas:

 O adolescente atendido pode ter mais de um CID; 83% 15%

2%

 A hipótese diagnóstica pode ser levantada por todos os profissionais que compõem a equipe multiprofissional no decorrer dos atendimentos realizados.

Entretanto observamos que este recurso não é utilizado na construção do cuidado do adolescente no serviço. Do total das 310 fichas de acolhimentos e folhas do PTS analisadas, 80% não possuíam o CID. Dos 31% que tinham o CID estes estavam classificados da seguinte forma:

Gráfico 07 - CAPS IJ: Hipótese diagnóstica dos adolescentes acolhidos no ano de 2016.

Dentre os adolescentes que realizaram o atendimento devido ao uso de drogas, as hipóteses diagnósticas mais presentes foram as categorias F20-F29 - Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes e o F30-F39 - Transtornos do humor [afetivos], segundo CID 10.

Tais diagnósticos indicam a hipótese de que antes do adolescente estabelecer alguma relação com a droga, ele já apresentava algum sofrimento psíquico, entretanto, não

36% 36% 27% 18% 9% 9% 23% 14% 8% 22% 15% 1% 24% 9% 3% 1% 3% 0% 50% 100%

F30-F39 Transtornos do humor [afetivos] F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e

transtornos delirantes

F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância psicoativa

F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos

relacionados com o “stress” e transtornos … F90-F98 Transtornos do comportamento e transtornos

emocionais que aparecem habitualmente durante a … F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a

disfunções fisiológicas e a fatores físicos F70-F79 Retardo mental F80-F89 Transtornos do desenvolvimento psicológico G 40 Epilepsia e síndromes epilépticas idiopáticas definidas por sua localização (focal) (parcial) com …

Z 13.4 Exame especial de rastreamento de alguns transtornos do desenvolvimento na infância

Alteração do precessamento auditivo

acessava a política pública de saúde. Parece que, no contexto da vida destes adolescentes, foi apenas após estabelecer uma relação com as drogas que foi possível identificar que precisavam de uma ajuda nesse âmbito.

Neste contexto, apontamos que a demanda apresentada de uso de drogas (F10 – F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância psicoativa) não se configura como a maior demanda do atendimento. A hipótese que levantamos é que, por parte da sociedade em geral, há uma banalização do uso de drogas nesta população e que quando o adolescente ou familiar procuram ajuda no serviço é porque há presença de outros prejuízos que impactam negativamente no desenvolvimento do adolescente.

No CAPS AD, a informação da hipótese diagnóstica não estava descrita no prontuário, o que impossibilitou a análise desta informação. Levantamos a hipótese de que esta informação, perante a organização do serviço e também da compreensão do fenômeno do uso de drogas entre adolescentes, não é prioritária na construção de um cuidado, daí a ausência deste dado.

Gráfico 08 - CAPS IJ: Inserção escolar dos adolescentes acolhidos no ano de 2016.

Em relação à inserção escolar, observamos que nas duas categorias, outras queixas e queixas relacionadas ao uso de drogas, o dado não foi registrado em respectivamente 8% e 7%. Apontamos que esta informação é de grande relevância para uma avaliação psicossocial do adolescente. A ausência desta informação traz o

8% 84% 8% 43% 44% 7% 2% 4% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 140% Não frequentes Frequentes Não registrado Frequência irregular Fundação Casa

questionamento sobre qual a percepção da importância desta informação para a avaliação pela equipe do adolescente que solicita o atendimento.

Outro dado importante é que 43% dos adolescentes acolhidos com questões relacionadas ao uso de drogas não estão frequentando a escola, proporção consideravelmente maior do que a dos adolescentes com outras queixas.

Neste contexto é possível afirmar que o abondono escolar é uma importante característica dos adolescentes que estão em uso / abuso de álcool e outras drogas. Um dos questionamentos que podem ser levantados é sobre o que acontece primeiro: evasão escolar ou a aproximação do adolescente com o circuito das drogas? Podemos problematizar a qualidade do ensino público oferecido a esta população residente em uma importante área periférica do município de São Paulo que, de uma forma geral, é caracterizada por salas super lotadas, professores sobrecarregados e corpo escolar desfalcado. São aspectos que devem ser considerados na medida em que completam o quadro de vulnerabilidade a que o adolescente pode estar exposto.

Por outro lado, a partir de nossa prática, observamos as dificuldades que o corpo escolar tem em acolher as peculiaridades de um adolescente que está inserido no circuito das drogas, devido a suas singularidades no manejo e sustentação de um contrato esperado pela escola. Também destacamos a dificuldade da instituição escolar reconhecer esta demanda, presente no processo de desenvolvimento do adolescente, como uma responsabilidade também sua.

Durante a coleta de dados, observamos que no formulário de acolhimento não era solicitada a informação do ano escolar em que se encontra o usuário; tal informação, consequentemente não era solicitada pela equipe, independentemente da queixa levantada.

No CAPS AD não observamos registro desta informação, o que leva a questionar se há o reconhecimento da relação do adolescente com a escola como um possível e importante norteador dos prejuízos sofridos pelo adolescente, bem como, uma referência para a construção do cuidado que se pretende oferecer.

No próximo gráfico apresentamos os dados referente à droga consumida pelos adolescentes, registrada no primeiro atendimento no serviço. Faz-se importante destacar que esta informação pode ser proveniente da declaração do adolescente, do cuidador que está acompanhando o adolescente (rede de apoio familiar ou afetiva) ou do serviço da rede que está acompanhando o adolescente no acolhimento (a instiuição em que o adolescente está cumprindo medida socioeducativa, por exemplo).

Gráfico 9 - CAPS IJ e CAPS AD: Drogas consumidas por adolescentes, registrada no primeiro atendimento do ano de 2016.

Destacamos que a maconha se apresenta como a droga mais consumida entre os usuários, tendo maior destaque até quando comparada ao álcool e ao tabaco, que são as drogas legalizadas, mas proibidas para consumo para menores de 18 anos. Uma questão que podemos levantar é se no acolhimento, quando questionado sobre as drogas consumidas, o usuário reconhece o tabaco e álcool como drogas. O cotidiano da prática profissional aponta uma naturalização em relação a estas substâncias por parte dos adolescentes, que só as reconhecem como drogas quando há um apontamento direto do profissional que está conduzindo o acolhimento.

Dentre as drogas consumidas, a categoria múltiplas drogas foi preenchida quando o usuário trazia em seu discurso o consumo de todas as drogas citadas no gráfico (álcool, cocaína, tabaco, crack, maconha e inalantes) e esta alternativa só foi observada no formulário do CAPS IJ.

É importante destacar que, assim como em relação à informação sobre frequência escolar, o CAPS IJ possui um formulário de acolhimento que tem este campo para preencher, incluindo a alternativa “múltiplas drogas” e o mesmo não ocorre com o CAPS AD, que não possuí este item no formulário.

14% 29% 10% 11% 13% 20% 3% 26% 40% 2% 2% 19% 11% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Inalantes Maconha Crack Tabaco Cocaina Álcool Multiplas Drogas CAPS IJ CAPS AD

4.1.2 – Características gerais dos casos atendidos