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Síntese dos atendimentos realizados CAPS IJ e CAPS AD

CAPÍTULO 4: O COTIDIANO DOS ATENDIMENTOS

4.1. Sobre os atendimentos realizados

4.1.5. Síntese dos atendimentos realizados CAPS IJ e CAPS AD

No decorrer da análise dos acompanhamentos realizados em ambos os serviços, identificamos diversas características importantes quanto ao perfil do adolescente, o cuidado ofertado e as articulações da rede. Também evidenciamos os questionamentos quanto aos desafios que permeiam o acompanhamento de adolescentes envolvidos com o uso / abuso de drogas.

Observamos uma diversidade de histórias que atravessam a relação drogas e adolescentes, como estas histórias parecem trazer informações que aparentam não serem levadas em consideração, uma vez que, diante da diversidade de situações, as respostas parecem ser as mesmas, talvez, até padronizadas.

Tal cenário reafirma a necessidade de uma escuta crítica frente à demanda apresentada, levando em consideração os históricos de vida e suas singularidades frente às características da família, território e rede, para a avaliação e construção do PTS, assim como, também a sua efetividade ou não.

Outro apontamento é a dificuldade de adesão desta população ao serviço, denunciando a necessidade de haver, constantemente, uma reavaliação do acolhimento ofertado ao adolescente e família frente à demanda trazida. A construção de uma oferta de atendimento com que o adolescente se sinta identificado pelas discussões construídas. A elaboração de iniciativas que despertem no adolescente o reconhecimento de que os serviços podem ser um espaço que trazem condições para a ampliação de uma vivência que esteja mais próxima de suas expectativas e sua realidade. Compreendemos tais aspectos a são importantes e precisam ser garantidos.

Apontamos também a necessidade de construção de iniciativas que promovam uma busca ativa mais efetiva e dentro de um tempo da necessidade do usuário e não da disponibilidade do serviço. Tal aspecto ainda se apresenta como um importante desafio para a vinculação do adolescente aos serviços, pois ambos se deparam com esta dificuldade.

Ainda sobre o tempo de respostas frente às demandas levantadas pelo usuário do serviço, o tempo da instituição parece não funcionar no mesmo ritmo do usuário, fazendo com que possibilidades de construção de vínculos e combinados se percam devido a não continuidade de ações estratégicas de cuidado.

As demandas apresentadas aos serviços reiteram a necessidade de fortalecer estratégias de uma construção coletiva de cuidado, permeando não só o usuário e seus familiares, mas também os diferentes serviços da rede intersetorial (saúde, educação, assistência social, esporte, cultura e lazer). Faz-se necessário acolher e problematizar as dificuldades de manejo da rede com o adolescente e família, para o enfrentamento desta demanda e para a ampliação dos itinerários terapêuticos na perspectiva da Redução de Danos.

Neste sentido observamos que o fato do CAPS IJ já estar inserido na rede da infância e adolescência, devido à diversidade das demandas que atende, contribui de uma forma potente para que o cuidado do adolescente seja construído, levando em consideração estes serviços. Uma rede que se constrói, fortalece e encontra os desafios, a partir do cotidiano do trabalho e que, a todo o momento, vai se reinventando.

Observamos também no CAPS IJ uma considerável variedade de grupos destinados à família e ao adolescente, algo potente para os manejos terapêuticos, entretanto observamos que os PTS construídos são centrados no leque de possibilidades CAPS, invertendo a lógica de atender as singularidades e demandas do usuário e familiares. Além disso, não há experiências de cuidados compartilhados de forma mais intensa com a UBS,

seja para o adolescente ou para os familiares, e há poucas experiências em que o serviço convoca a participação da rede intersetorial para a construção de um cuidado.

A peculiaridade observada no CAPS AD está na forma como o serviço está organizado, frequentado pela população adulta, na grande maioria, o que torna o serviço mais adaptado para as demandas dessa população, que tem especificidades diferentes do público “adolescente”, e este aspecto influenciará diretamente no cuidado ofertado. Tal característica se faz presente também ao observar a forma como a busca ativa estava apresentada, a inserção dos adolescentes nos espaços terapêuticos, grupos, e as articulações de rede realizadas ou não.

O dispositivo do cuidado ofertado pelo CAPS IJ por intermédio da acolhida diurna se apresentou como um importante recurso terapêutico utilizado pela equipe na tentativa de construir com o adolescente e familiar uma circulação no território diferente da busca pela droga. Possibilita ao CAPS um cenário mais intenso de vinculação e uma importante estratégia de Redução de Danos.

Quanto às descrições das reuniões de discussão dos acompanhamentos em equipe nos prontuários, levando em consideração que a equipe não está completa em todos os momentos de discussão e a sua alta demanda do trabalho, evidenciamos a necessidade de explicitar nas reuniões e, consequentemente, nas descrições dos prontuários, de forma clara e precisa as seguintes informações:

 Quais são os objetivos que se propõe ao cuidado do adolescente? Qual o sentido do cuidado?

 Qual o projeto terapêutico singular adotado, levando em consideração estratégias de curto, médio e longo prazo?

 Qual será a relação de cuidado estabelecida com a rede afetiva do adolescente (família) e as intervenções terapêuticas construídas para esta rede?

 Quais as articulações de rede que devem ser realizadas?

Entendemos que a clareza destas informações impacta diretamente na forma como o cuidado é construído, no manejo e nos combinados com o usuário e família, nas

articulações realizadas com a rede e na continuidade dos acordos institucionais referentes ao cuidado ofertado.

Também retomamos a discussão de quais as expectativas que são levantadas do CAPS para com a UBS, quando se encaminham os adolescentes para ali darem continuidade ao acompanhamento. Tal questionamento surge frente às demandas da Atenção Básica comparadas ao reconhecimento de que é também sua responsabilidade o manejo da saúde mental e, especificamente, o atendimento de uso / abuso de drogas.

O fato de a Atenção Básica estar mais próxima dos territórios de seus usuários e o fato de que a construção de um cuidado ao adolescente com questões relacionadas ao uso de drogas perpassa por uma linha muito tênue das disputas entre o Estado e o tráfico de drogas, colocam questões delicadas. O que demanda das equipes da ESF e NASF um manejo cuidadoso no sentido, por exemplo, de não colocarem em situações de risco o trabalhador e outros agentes envolvidos na situação.

Quanto às relações estabelecidas entre os usuários, Clínica de Recuperação / Comunidades Terapêuticas, família e CAPS, observamos também a necessidade de uma discussão mais ampliada sobre qual a expectativa de cuidado ofertada versus o serviço oferecido por estas instituições, a legalidade do cuidado e de como seguirá a vida após a alta. Entendemos que também é da responsabilidade do CAPS provocar discussões nos atendimentos aos usuários e familiares sobre os impactos da decisão/escolha pelo “cuidado” por intermédio da internação nestas instituições. E mesmo que a família faça a escolha pela internação, ainda há espaços para o CAPS, que pode seguir na retaguarda do cuidado, seja por visitas ao local da internação, seja fortalecendo a família e rede para sua alta, entendendo que o adolescente irá retornar para o seu território.

Quanto aos atendimentos realizados a adolescentes que estão em medida de privação de liberdade na Fundação Casa, observamos que o CAPS tem um potente espaço terapêutico, entretanto, as dificuldades institucionais da Fundação Casa em sustentar uma continuidade dos acompanhamentos impactam negativamente a tentativa de cuidado ofertado.

É necessário, paralelamente ao cuidado exercido para o adolescente que está na Fundação Casa, o contato com a família do adolescente, entendendo que esta rede é um importante agente para a continuidade do cuidado do adolescente após a saída da medida de internação. O CAPS deve compor a rede de serviços que tem como objetivo fortalecer a família no exercício da sua responsabilidade, contribuir com o desenvolvimento do adolescente em questão.

O caso apresentado a seguir trará mais informações a respeito dos apontamentos até agora levantados, assim como também trará aspectos novos que embasarão a complexidade do fenômeno que estamos propondo discutir.