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Consumo de drogas por adolescentes

CAPÍTULO 1: ADOLESCÊNCIA E O CONSUMO DE DROGAS

1.3. Consumo de drogas por adolescentes

Pensando especificamente no adolescente brasileiro, o contexto histórico e as formas com que as relações sociais são estabelecidas, observamos que o fenômeno adolescência e consumo de drogas requer uma discussão que problematize esta relação.

6O Braços Abertos, implantado em 2014 pela gestão do prefeito Hadadd na região da Luz, é um programa que trabalha na

ressocialização de indivíduos em uso abusivo de drogas à partir da Redução de Danos com oferta de cuidado em saúde, moradia e trabalho. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/08/1808800-2-em-3-reduziram-o-uso-de-crack-apos-passar-em-acao-de-haddad- diz-estudo.shtml

Entendemos que para esta discussão devem ser consideradas as características que produzem possíveis impactos no processo de vida e no desenvolvimento do adolescente envolvido. Entretanto, além disso, deve ser considerado, também que existe socialmente uma percepção de que o público adolescente / jovem é um potencial consumidor de curto, médio e longo prazo destas substâncias. Vide por exemplo as campanhas publicitárias de consumo de bebida alcoólica que, na grande maioria, são destinadas ao público jovem, em que é transmitida uma mensagem de felicidade e ostentação.

O consumo de drogas, seja das lícitas como das ilícitas, é de fácil acesso ao público adolescente. É comum observar nos estabelecimentos comerciais a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, mesmo com uma legislação que proíbe essa venda (BRASIL, 2015). Também observamos que o mercado clandestino, que ganhou papel fundamental com o posicionamento proibicionista do Estado, também realiza a venda para este público, quando não o recruta para o trabalho de comércio em diferentes funções; e tal cenário é identificado em diversas regiões e classes sociais de todo o Brasil.

Muitas pesquisas têm se debruçado para a discussão do adolescente e o uso de drogas, entre elas iremos considerar algumas pontuações como, por exemplo, das justificativas para o consumo de drogas:

 O uso de drogas se dá pela busca do prazer, relaxamento, diversão, sociabilidade entre os pares, descontração e outros fatores socioculturais (UFMG, 2014).

 O uso de drogas pode ser justificado, por exemplo, como uma forma de lidar com situações muito adversas (situações diversas de violência, frustrações pessoais, entre outros motivos) (BRASIL, 2003).

Tomando a questão de maneira mais particular pelo viés da saúde, percebe-se que uma das maneiras de lidar com o uso de drogas é associar a alguma patologia ou mesmo considerar o uso como uma patologia. É importante destacar que nem todo uso de drogas por adolescentes é sinal da existência de patologias. Existem diferentes relações de indivíduos com as drogas. Por isso cada caso deve ser problematizado na sua singularidade. Reduzir a causa de qualquer uso de substância a uma doença responde aos aspectos de controle social, patologização, medicalização e internação social (BITTENCOURT, 2009).

Os documentos do Ministério da Saúde apontam também que a relação estabelecida com o adolescente em situação de uso / abuso de drogas deve ser permeada de acolhimento, escuta e vinculação para melhor compreender o fenômeno e construir um cuidado mais adequados às situações de vida (BRASIL, 2014).

Sobre a perspectiva da prevenção, Niel e Silveira (2008) concluem também que:

“...a prevenção entre os jovens é toda ação que tem como objetivo o desenvolvimento integral do adolescente em que estimule sua criatividade e seu potencial para que consiga conviver com as adversidades, sem ter que usar a droga como anestésico, como “alimento” ou como substituto de lacunas na sua esfera emocional. Trata-se de criar perspectivas, alimentar sonhos e projetos A serem realizados, auxiliando-os a encontrar sentido em suas vidas. Por isso é importante desenvolver competências para que estes indivíduos saibam tomar decisões.”(2008, pág. 8) O Ministério da Saúde (BRASIL, 2003) descreve que, como consequência do uso / abuso de drogas, o adolescente fica vulnerável as seguinte situações: abandono escolar, rompimento de laços sociais e afetivos, agravos à saúde, acidentes de trânsito, envolvimento em situação de violência, transtornos mentais, comportamento de risco no âmbito sexual e transmissão do HIV pelo uso de drogas injetáveis e outros problemas de saúde decorrentes dos componentes da substância ingerida e das vias de administração.

Também deparamos com pesquisas que problematizam adolescência e uso de drogas. Uma delas publicada em junho de 2002 vem de uma parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, junto a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, compreendendo uma amostra de 632 crianças e adolescentes entre 10 e 23 anos. O estudo mostra que as drogas mais utilizadas por este público eram: álcool 66,7%, maconha 65,1%, cola 41,7%, cocaína 19,6%, crack 13,13% e droga injetável 6,5%.

No estudo realizado pelo SENAD/CEBRID/ V Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras (SENAD/CEBRID2004) destacamos as seguintes conclusões:

 O uso de drogas não é exclusividade de determinada classe socioeconômica, distribuindo-se regularmente por todas elas. Portanto, as campanhas preventivas não precisam se preocupar com determinados segmentos populacionais.

Assim como em vários estudos anteriores, o uso na vida de certas drogas foi maior para o gênero masculino, para: maconha, cocaína, energéticos e esteroides anabolizantes. Para o gênero feminino, tradicionalmente o maior uso na vida é de medicamentos: anfetamínicos e ansiolíticos.

A comparação de cinco levantamentos mostrou que o uso na vida de drogas diminuiu tanto para o gênero masculino quanto para o feminino, em cinco capitais.

Na faixa etária de 10 a 12 anos de idade já se observou uso na vida de drogas para 12,7% dos estudantes, sendo a Região Sudeste a que apresentou a maior porcentagem: 15,1%. Mais um aspecto fundamental para os programas de prevenção.

O uso frequente de álcool, para o conjunto das 27 capitais, foi feito por 11,7% dos estudantes, sendo Porto Alegre a capital que apresentou a maior porcentagem: 14,8%. O uso pesado de álcool foi feito por 6,7% dos estudantes, sendo Salvador a capital com maior porcentagem: 8,8% dos estudantes (definido como uso da substância 20 vezes, ou mais, no mês que precedeu à pesquisa).

O uso pesado de drogas (definido como sendo de 20 vezes ou mais no mês que precedeu à pesquisa) atingiu 2,0% dos estudantes das 27 capitais, sendo constatados 3,6% para a faixa etária superior a 18 anos de idade. (SENAD/CEBRID, 2005).

Diante dos apontamos realizados, desde os documentos do Ministério da Saúde e a demais pesquisas que se debruçam sobre o tema, identificamos aspectos que devem ser levados em consideração, em uma perspectiva que caminhe em direção a uma análise cuidadosa, contextualizada e singular do sujeito e das relações que estabelece com a substância utilizada.

Também reforçamos a necessidade de enfrentar o desafio de promover o desenvolvimento saudável da população adolescente com a elaboração e fortalecimento de políticas sociais intersetoriais, capazes de promover a atenção à saúde em todos os níveis de complexidade, promoção, prevenção e cuidado, com a participação de todos os setores de sociedade.