Para caracterizar o setor de serviços de TI me apoio na taxonomia proposta por Roselino (2006), que divide a indústria brasileira de software em quatro grupos, de acordo com as fontes predominantes na composição da receita: (1) serviços de informática não- intensivos em software, (2) serviços em software de baixo valor agregado, (3) serviços em software de alto valor agregado e (4) desenvolvimento e comercialização de software-produto ou pacote (Quadro A-1). Nesta pesquisa me concentro em serviços de alto valor agregado.
A cada uma das categorias presentes no Quadro A-1 pode ser associado um modelo de empresa e as principais características que estão a ele associadas, como apresentado por Stefanuto et al. em seu estudo sobre a indústria de software no Brasil (SOFTEX, 2002). As principais características dos modelos de negócios para empresas de serviços de TI são apresentadas no Quadro A-2.
Desenvolvimento (OCDE) com o objetivo e orientar e padronizar conceitos, metodologias e construção de estatísticas e indicadores sobre inovação em empresas comerciais (OCDE, 1997). O objetivo da PINTEC é construir indicadores setoriais, nacionais e regionais das atividades de inovação em empresas do setor industrial e indicadores nacionais de atividades de inovação em empresas de serviços selecionados. A primeira edição da PINTEC – PINTEC 2000 – abordou o período de 1998 a 2000, posteriormente foram realizadas as edições 2003, 2005, 2008 e 2011. Importante destacar que desde 2005, a PINTEC apresenta dados sobre setores intensivos em conhecimento como telecomunicações, informática e serviços relacionados, e a partir de 2008 os resultados passaram a ser divulgados segundo a CNAE 2.0, tendo como universo de pesquisa as atividades das indústrias extrativas e de transformação, serviços selecionados e Pesquisa e Desenvolvimento (IBGE, 2010).
42 A Relação Anual de Informações Sociais foi a fonte primária utilizada para compreender as empresas que
atuam neste setor. Esta base de dados é administrada pelo Ministério do Trabalho e Emprego e consolida informações sobre vínculos empregatícios formais, que são utilizadas, por exemplo, para identificar beneficiários do Abono Salarial, gerar estatísticas sobre o mercado de trabalho formal e auxiliar na elaboração, monitoramento e implementação de políticas públicas de trabalho (MTE, 2015).
Quadro A-1 Categorias da indústria brasileira de software
Categoria Descrição da Categoria Atividades Principais das
Empresas Categoria 1: Serviços de
informática
Desenvolvimento de atividades de informática com menor conteúdo em desenvolvimento de software
Consultoria em hardware, serviços de manutenção e reparação e outras atividades relacionadas à informática
Categoria 2: Serviços de baixo valor agregado
Desenvolvimento de funções menos complexas, com atividades normalmente caracterizadas por rotinas repetitivas ou funções que não dependem de conhecimento específicos significativos.
Serviços ligados à Internet (exceto provedores de acesso), criação e
manutenção de bancos de dados, processamento de dados para terceiros, suporte e terceirização.
Categoria 3: Serviços de alto valor agregado
Desenvolvimento de funções mais complexas no desenvolvimento de soluções de software, com
atividades que demandam
conhecimentos mais abrangentes e de maior intensidade tecnológica
Desenvolvimento de software sob medida, desenvolvimento de projetos e modelagens de bancos de dados Categoria 4: Desenvolvimento e comercialização de software-produto Desenvolvimento de software comercializado como mercadoria, envolvendo geralmente menor interação entre empresa e o conjunto mais ou menos homogêneo de clientes. Estas empresas apresentam normalmente custos marginais insignificantes e rendimentos crescentes à escala em produtos
Desenvolvimento, produção, comercialização,
licenciamento e locação de software pronto para uso
Fonte: Adaptado de Roselino (2006)
Quadro A-2 Modelos de negócios em serviços de TI
Serviço de baixo valor Serviço de alto valor
Custo marginal + de 1 venda Virtualmente constante Virtualmente constante Estrutura de mercado Local, muito fragmentada Alguma regional, mais global
Relação com cliente Um para um Um para um
Modelo venda Direto Direto
Objeto de venda Projeto ou recurso Projeto
Variável chave Custo Utilização de capacidade
Especificação do trabalho Cliente Cliente, partilha
Capacidade crítica Processo Processo, relação cliente
Barreira à entrada Competição (baixo custo) Reputação
Exemplo Desenvolvimento de SW por homem/hora, outsourcing, gestão de infraestrutura Desenvolvimento de SW sob medida, P&D por contrato Fonte: Adaptado de (SOFTEX, 2002)
A estrutura econômica das empresas de serviços, sejam elas de alto ou baixo valor agregado, apresenta custos marginais virtualmente constantes, com custos de desenvolvimento vinculados ao custo da mão-de-obra (ROSELINO, 2006).
As empresas de serviços de baixo valor agregado são intensivas em mão-de-obra de média qualificação. A especificação do trabalho a ser realizado é feita pelo cliente, deixando a execução do serviço a cargo da empresa, sendo a eficiência na gestão do processo um elemento crítico na gestão das empresas. Esses serviços são caracterizados por poucas restrições tecnológicas e conteúdo pouco intensivo em conhecimentos específicos, restringindo as possibilidades de diferenciação e levando a uma competição baseada em preço. O custo da mão-de-obra é determinante da competitividade. A sinalização de requisitos mínimos de qualidade do processo é feita pelo histórico da empresa ou por meio de certificações dos processos (SOFTEX, 2002; ROSELINO, 2006). A estrutura de mercado é local e fragmentada, especialmente para os serviços que requerem forte interação com os clientes (SOFTEX, 2002), sendo também atrativo para micro, pequenas e médias empresas que atuam através de contratos de subcontratação para empresas de maior porte (BRITTO & STALLIVIERI, 2010).
Os serviços de alto valor agregado envolvem atividades mais complexas e domínio de processos de maior intensidade tecnológica. Esses serviços envolvem maiores níveis de incerteza, aumentando o risco para os clientes, dificultando a avaliação da capacidade do fornecedor e fazendo com que aspectos como reputação, certificação e imagem de confiabilidade tornem-se relevantes. A complexidade das atividades realizadas exige estreita interação entre as empresas cliente e prestadora de serviços e o domínio sobre conhecimentos específicos a cada nicho de negócio. As especificidades de cada cliente e projeto limitam as possibilidades de ganho de escala, que se restringem às competências e experiência adquirida pela empresa e por seus colaboradores em cada um dos projetos e a possibilidades de criação de componentes e de reuso de módulos ou partes da solução, colaborando na redução de custos e prazo no desenvolvimento das soluções. Esse mercado é dominado por grandes empresas multinacionais, mas apresenta também oportunidades a empresas locais que oferecem serviços a empresas de menor porte (SOFTEX, 2002; ROSELINO, 2006).
É esperado que as características dos serviços de TI apresentadas acima, bem como o modo como este setor evoluiu no Brasil tenham influência sobre o tipo de inovação realizada pelas empresas, a natureza e fontes do conhecimento explorado, bem como a organização dos processos de inovação dentro das organizações.