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CAPÍTULO 4: CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASOS Neste capítulo, apresenta-se a descrição do contexto histórico, das

4.2. ESTUDO DE CASO 02: CIDADE DE AFUÁ: A VENEZA MARAJOARA

4.2.1. Caracterização: Aspectos gerais

O Município de Afuá está localizado no arquipélago do Marajó, pertencente ao Estado do Pará, localizado na foz do Rio Amazonas. O Município faz fronteira com o Estado do Amapá, sendo separado da capital do Estado de Macapá, apenas pelo canal do Norte (CIDADE DE AFUÁ, 2006), (Figura 49).

Figura 49- Mapa de localização do Município de Afuá

Fonte: FILHO; RODRIGUES, 2003; DIAS, 2011; Adaptado pela própria autora, 2014.

A palavra Afuá é topônimo indígena, mas até hoje não se sabe a verdadeira origem do nome da cidade. Para Lomba e Nobre-Junior (2013) a história de Afuá remonta o período das políticas de colonização na Amazônia traçada no período Imperial cujo objetivo era o domínio territorial assegurando a posse de uma área estratégica (o estuário do rio Amazonas), permitindo o fortalecimento de atividades econômicas importantes, como a exploração das drogas do sertão e a extração da borracha. Assim, cabe explicar que foi em 1890, com a proclamação da República que, sua condição de freguesia passou para vila, com o Decreto nº 170, de 2 de agosto. Neste mesmo dia, outro Decreto-Lei nº 171, elevou-se à categoria de Município e, seis anos mais tarde, 1896, a vila foi elevada à condição de cidade (Figura 50).

De acordo com o IBGE (2014) o município possui uma área total 8.372,795 km², sendo 1,7km² de área urbana (Figura 50). Sua população equivale a 37.004 habitantes, destes, 73% vivem em pequenos vilarejos ribeirinhos.

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Figura 50- Mapa de localização da Cidade de Afuá

IBGE, 2010; CIDADE DE AFUÁ, 2006, Google Earth, 2014; Adaptado pela própria autora, 2014.

O acesso à cidade de Afuá pode ser feito por barcos ou por aeronaves particulares fretadas. Para quem vem à Afuá de barco a partir da capital paraense, Belém, a viagem dura aproximadamente 36 horas (254 km). Já para quem sai da cidade de Macapá a travessia dura entre 4 a 5 horas (100 km). As viagens de barcos tanto para chegada quanto para partida da cidade dependem da dinâmica do rio. Embora sejam diárias é a maré, quando cheia, que determina os horários das viagens.

Afuá é uma das cidades amazônicas que está assentada numa área de várzea, sujeita a alagamento nos períodos de maré lançante e, a cada três anos a cidade fica imersa nas águas dos rios (Figura 51).

Figura 51- Praça principal da Orla da Cidade em época de seca e alagada no período de cheia dos rios

Fonte: Própria autora, 2013; Prefeitura de Afuá, [201-].

Em função disso, as casas de palafitas e as ruas são soerguidas, em média 1 metro acima do solo. Os acessos palafitados estão presentes

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em toda cidade e interligam-se aos dois bairros existentes: Central e o Capimarinho (LOMBA; NOBRE-JUNIOR, 2013). Estes dois bairros estão divididos fisicamente através da Pista de pouso do Aeroporto Municipal de Afuá, que além de ser um marco visual do limite dos bairros é um ponto de lazer para práticas de esportes pela população quando o terreno está seco (Figura 52).

Figura 52- Vista Aérea da Cidade de Afuá

Fonte: SAITO, [20..]; Adaptado pela própria autora, 2013.

Segundo O Plano Diretor Participativo de Afuá (CIDADE DE AFUÁ, 2006, p. 120) a cidade não possui nenhum tipo de saneamento básico de esgoto sanitário, sendo depositados os detritos e afluentes nas várzeas, margens e nos igarapés, o que contamina a água do rio que serve de captação para a cidade. Neste mesmo documento, a Prefeitura coloca que este tipo de problema não se justifica mais sem solução, visto que, existem diversas soluções ecologicamente viáveis que podem ser implantadas para o tratamento do esgoto.

De acordo com Julião (2013), o prefeito de Afuá Odimar Wanderley Salomão, explica que por ser uma cidade baixa em relação ao nível do mar (até 8 metros), dificulta a instalação de um sistema de esgotos. Mazinho Salomão, como é conhecido, fala ainda que está em estudo a implantação de um sistema semelhante ao usado em algumas cidades europeias com topografia parecida, mas não sabe dizer quando Afuá terá uma solução para o caso.

Quanto à água consumida pela população, a cidade possui uma rede de distribuição realizada por uma concessionária local, mas o fornecimento é precário e o processo de tratamento não é confiável, pois utilizam a água do próprio rio, visto que é comum a água recebida nas residências apresentarem coloração marrom-barrenta (DIAS e SILVA, 2011; LOMBA e NOBRE-JUNIOR, 2013).

Outro agravante na cidade que contribui com a contaminação das águas identificada pela Prefeitura é o Cemitério Municipal, por sua

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localização estar próxima a um sistema de captação das águas que abastece a cidade.

Neste caso, como forma cultural os defuntos são enterrados e o processo de decomposição e contaminação pelo necrochorume23 é acelerado devido às condições do terreno de várzea, sobretudo, quando alagados pelas cheias da maré. Tal condição faz com que algumas pessoas brinquem com a situação, segundo palavras de alguns moradores: “os falecidos aqui morrem duas vezes: uma de morte morrida e, a outra, afogados pela maré”.

Quanto ao lixo, muito do que não chega ao lixão para nos rios. Como em Afuá rio e lar se confundem, é comum ver latas e embalagens de plástico, entre outros produtos, boiando nas ruas durante a maré-cheia (JULIÃO, 2013). Para diminuir este problema, em 2007, a Prefeitura de Afuá criou o projeto “De olho no lixo” que prevê a compra deste produto (lixo) de uma forma diferente.

Desta forma, o lixo que é levado até a usina de tratamento é pesado e em troca é dado ao munícipe um vale compras no valor do produto que ele entregou. Este vale é aceito em 90% das lojas da cidade que, mais tarde, a Prefeitura repassa os valores aos lojistas. O kilo (Kg) do lixo custa para a administração R$ 0,40 centavos. Este projeto é uma maneira de gerar renda, movimentar o comércio local e principalmente, manter a cidade limpa (PREFEITURA DE AFUÁ, 2014). Segundo o Vice- prefeito de Afuá, a Prefeitura faz também um mutirão para realizar a limpeza do lixo que fica em baixo das casas e das passarelas.

Dentre suas particularidades, Afuá possui um grande potencial turístico voltado ao turismo ecológico e de pesca que são advindos de sua riqueza natural diversificada que podem ser observadas nas suas ilhas, praias, rios e igarapés.

Além disso, desde 1982, a cidade promove uma festa chamada de “Festival do Camarão”, nome dado devido ao forte valor cultural do crustáceo para o município. É uma festa considerada tradicional, já que em 2014 completou-se sua 32ª edição, e acontece no final do mês de julho com quatro dias de eventos musicais, desfiles, disputas de apresentações e iguarias com camarão. Só em 2013, compareceram aproximadamente 35 mil visitantes advindos de várias ilhas vizinhas, de outros estados e de outros países a esta festa.

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Líquido eliminado pelos corpos no primeiro ano de sepultamento. Este líquido possui substancias tóxicas, em um meio ideal, que podem proliferar substâncias responsáveis pela transmissão de doenças infectocontagiosas, entre elas a hepatite e a poliomielite.

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Durante o festival as embarcações aumentam e movimenta a economia tanto dos barqueiros quanto da cidade. Segundo alguns moradores a população dobra (quase 17 mil pessoas moram na área urbana) e as ruas ficam tomadas e quase intrafegáveis (SANTOS, 2013).