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Espaços Públicos: Unidade Municipal de Saúde da Ilha do Combu

CAPÍTULO 4: CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASOS Neste capítulo, apresenta-se a descrição do contexto histórico, das

5.2. ANÁLISE DE ACESSIBILIDADE NA ILHA DO COMBU

5.2.1. Espaços Públicos: Unidade Municipal de Saúde da Ilha do Combu

Em quase 30 anos que vive na Ilha, a líder comunitária mais conhecida como Dona Nena, relembra que antigamente as calçadas eram compostas por estirpe de Buriti ou de açaí (árvores típicas da região) colocadas sobre o solo de várzea para as pessoas não se sujarem de lama (Figura 66). No decorrer do tempo, está circulação foi substituída pelas calçadas suspensas de madeiras que, para a Dona Nena são mais reforçadas, tem maior durabilidade, mas não são planejadas.

Figura 66- Estirpe de Buriti. Material utilizado pelos combuense como forma de acesso às residências

Fonte: FANELLI, 2004.

Dona Nena afirma que como as calçadas são construídas pelos moradores, muitas vezes apresentam-se inadequadas pelo desconhecimento técnico, pelo pouco recurso financeiro disponível, além do gosto do proprietário. Ela acredita que dificilmente isso irá mudar, até porque não se têm exemplos positivos advindos da gestão pública de Belém aos trapiches e as calçadas públicas da Ilha. Dentre os exemplos estão, principalmente, os acessos do Posto de Saúde e a escola do Combu (Figura 67).

A Unidade municipal de Saúde da Ilha do Combu foi inaugurada em 15 de junho de 1999 junto ao trapiche e a calçada de madeira. Desta

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data até os dias atuais, o trapiche que pertencia ao posto foi desativado devido sua precariedade (Figura 68).

Atualmente, os ribeirinhos utilizam o trapiche da Capela (Centro Comunitário) para fazer o embarque e desembarque para o acesso ao posto. Segundo uma das técnicas de enfermagem do Posto, foi preciso construír de forma improvisada uma circulação que ligasse este trapiche à calçada do Posto de saúde para resolver o problema de acesso (Figura 69).

Figura 67- Trapiches da Escola Municipal do Combu e do Posto de Saúde

Fonte: Própria autora, 2014.

Figura 68- Trapiche do Posto desativado

Figura 69- Calçadas que se interligam para o acesso ao Posto

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Das preocupações existentes com relação às calçadas, tanto a líder comunitária quanto os funcionários da Unidade de saúde reclamam das condições precárias do trapiche e das circulações para o acesso ao Posto. Segundo uma técnica de enfermagem que trabalha há 12 anos na Unidade, as calçadas são perigosas para todos que precisam trafegar por elas, por ser escorregadia, por não haver segurança e pelos buracos existentes no decorrer do percurso. Ainda completa que, médicos e outros funcionários já se acidentaram nestas circulações (Figura 70).

Figura 70- Calçadas que dá acesso ao Posto de Saúde

Fonte: Própria autora, 2013.

A funcionária do Posto conta que já mandaram relatórios, fotos e reclamações para a Prefeitura de Belém na tentativa de melhorias deste espaço. Tais reivindicações resultaram, há alguns anos atrás, na vinda de um técnico que verificou o local e propôs, aos funcionários, um projeto das calçadas construídas em concreto. Desde então, como o projeto não foi executado, as soluções encontradas pelos funcionários junto à população são ações de “tapa buracos” das circulações, ou seja, as tábuas quebradas e apodrecidas são substituídas por novas, mas de forma gradual e sem maiores reformas.

Neste caso, é importante salientar que as fotos das calçadas de estivas foram feitas em fevereiro de 2013. Em abril do mesmo ano, professores e alunos de medicina da Universidade Federal do Pará juntaram-se aos combuenses e realizaram uma pequena reforma na calçado do posto. De acordo com a funcionária esta circulação não recebia nenhum benefício desde 2005.

Em uma matéria de jornal local, as calçadas aparecem já com as intervenções realizadas pela comunidade. O mais interessante aqui é observar que, logo após a reforma, o atual prefeito de Belém aparece acompanhado do Ministro da saúde e seus representantes em uma visita a Unidade de Saúde do Combu (Figura 71). Infelizmente, a situação

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retrata um momento extraordinário. De acordo com a líder comunitária é muito difícil uma conversa direta com o poder público em se tratando de melhorias à Ilha.

Figura 71- O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, visita a Unidade de Saúde da Família na ilha do Combu

Fonte: Jornal agência Pará, 2013.

No entanto, embora tenha ocorrido à operação tapa buraco, as condições de acessibilidade nestas circulações são inexistentes e problemáticas, sobretudo, para atender a função de uma Unidade de Saúde.

O Posto atende apenas algumas especialidades destinadas a mulher e pediatria, mas por ser o único na região, é para ele que a população recorre quando acontece qualquer problema de saúde. Neste sentido, o posto recebe muitas pessoas debilitadas, grande demanda de idosos e gestantes que enfrentam dificuldades no acesso desde a descida do barco para o trapiche e no caminhar pelas calçadas até a entrada do posto.

O trapiche utilizado para o acesso ao posto possui apenas uma escada de madeira que permite a transferência das pessoas do barco para o trapiche. A escada com 85 centímetros de largura é estreita para a demanda de pessoas que a utilizam, apresenta apenas um corrimão lateral e por ser muito íngreme torna o deslocamento perigoso (Figura 72). Neste processo, as dificuldades enfrentadas para a transferência das pessoas são vencidas através de muita precaução e da ajuda de terceiros, pois um pequeno descuido pode acarretar em leves ou graves acidentes (Figura 73).

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Figura 72- Desenho do Trapiche da Unidade de Saúde da Família na ilha do Combu

Fonte: Própria autora, 2013.

Para idosos, crianças e gestantes a atenção e o cuidado é redobrado ao utilizar este espaço. A funcionária do Posto conta que a solidariedade da comunidade é muito importante, pois muitas vezes, as pessoas precisam ser carregadas e precisam de mais sujeitos ajudando. Acrescenta também, que quando o quadro é mais grave a solução é deslocar os convalescentes suspensos por redes tanto para o Posto quanto para outros lugares (Figura 74).

Figura 73- Desembarque e embarque perigoso

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Figura 74- Solução para deslocamento das pessoas convalescentes

Fonte: FLORENCE, 2007.

Outro problema que afeta diretamente a população e a estrutura física destes espaços é a ausência de uma cobertura para a proteção do sol e da chuva. Para a estrutura, este fator acelera o apodrecimento e a degradação da madeira, concentra limo e folhas da vegetação que torna o caminho escorregadio e perigoso para passagem dos pacientes. É relevante lembrar que as pessoas já estão vulneráveis, ou seja, esta exposição direta às intempéries induzem maiores problemas de saúde, desconforto e insegurança aos combuenses.

As explanações acercas dos problemas encontrados são essenciais para conhecer as principais dificuldades da população para se deslocar os espaços públicos. Destaca-se que as condições presentes estabelecem um ambiente que aumenta a vulnerabilidade das pessoas.

Desta forma, o conhecimento adquirido desta experiência ajuda, principalmente a compor soluções mais adequadas de acessibilidade espacial que devem ser estendidas a todos os espaços públicos presentes na ilha, uma vez que prover ambientes acessíveis é respeitar a dignidade das pessoas e difundir sua cidadania.

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