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CAPÍTULO 4: CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASOS Neste capítulo, apresenta-se a descrição do contexto histórico, das

5.1. DESCRIÇÃO DA APLICAÇÃO PRÁTICA DOS MÉTODOS DE

5.1.1. Ilha do Combu

A ilha do Combu, por estar localizada cerca de 20 minutos de Belém, foi a primeira a receber visitas que ocorreram no final de janeiro e em fevereiro de 2013. Para o acesso à Ilha do Combu, as saídas ocorreram pelo Porto da Palha, em Belém.

Foi a primeira vez que a pesquisadora teve contato com o Porto, fato importante para se observar, presenciar e experimentar o lugar, bem como o comportamento das pessoas diante às dificuldades enfrentadas e a capacidade de adaptação a uma situação precária e complexa.

Durante toda pesquisa, ocorreram algumas dificuldades ao acessar a ilha como a falta de barcos com um itinerário frequente e horários fixos ao Combu. Os moradores e a pesquisadora necessitaram

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da ajuda de algum barqueiro ou combuense que saia de Belém para chegar até a Ilha.

O ponto positivo é que durante a longa espera, puderam-se fazer as observações, o levantamento físico do espaço e algumas entrevistas em forma de conversas informais com os usuários. Os instrumentos utilizados foram: a máquina fotográfica para os registros observados; uma trena para as medições; um bloco de notas que serviam tanto para os rascunhos da planta baixa do porto quanto para as anotações de fatos importantes que aconteciam ao redor.

Uma das experiências interessantes no porto foi a dificuldade de se aproximar e embarcar no pequeno barco. A insegurança, o medo de cair, de escorregar nas escadas, a falta de equilíbrio e a necessidade da ajuda de terceiro, fez refletir sobre como estes obstáculos afetam a vida das pessoas em todas as atividades realizadas neste espaço.

Ao chegar à ilha, a primeira atitude foi conversar com a Líder Comunitária, conhecida como Dona Nena, para conseguir autorização e apoio para aplicar os instrumentos de pesquisa desejados. Além disso, sua experiência e conhecimento sobre o local, sobretudo, sobre o tema abordado trouxeram grandes contribuições ao trabalho.

Neste primeiro contato, Dona Nena mostrou-se solícita e interessada pelo assunto. Na ocasião, estava ocorrendo uma pequena mobilização promovida por um professor e alguns alunos de medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA) para fazer as trocas das tábuas apodrecidas nas calçadas de estivas que dão acesso ao Posto de Saúde da Ilha do Combu, cujas condições precárias inviabilizavam o caminhar com segurança e colocavam as pessoas em risco.

Diante disso, o momento foi muito oportuno, pois pôde ser discutida a possibilidade deste projeto de pesquisa em contribuir com soluções viáveis para circulações, a partir do nível de interesse e a probabilidade de aplicação futura.

Vale ressaltar que, na ocasião, ficou claro que a reforma nas calçadas do Posto de Saúde seria apenas de cunho imediatista, mas que havia interesse na avaliação de acessibilidade junto às soluções como um ponto positivo para a Comunidade levar à Prefeitura de Belém e reivindicar seus direitos com uma justificativa mais concreta.

A partir dessa oportunidade, pôde ser realizada a coleta de dados por meio dos métodos de pesquisas de campo. Assim, pôde-se conhecer melhor a realidade do lugar e das pessoas, observar e entender quais as maiores dificuldades encontradas relacionadas à orientação, ao deslocamento, uso e comunicação tanto para os moradores quanto para

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os visitantes. Tais observações ocorreram desde a chegada aos trapiches até o acesso pelas calçadas de estivas.

A partir desta fase, as visitas exploratórias foram frequentes e intensas. Foi definido o recorte da área de estudo, com o início dos levantamentos métricos, no qual foi utilizado uma trena e blocos de anotações para os esboços dos desenhos da planta baixa, cortes, elevações e da localização dos trapiches e das calçadas. Junto a estes, também foi realizado o registro fotográfico que ilustra os pontos positivos e críticos para o desenvolvimento das análises de acessibilidade espacial destes acessos.

Para a análise inicial montou-se uma tabela (Tabela 1) com os principais elementos que configuram os trapiches e as calçadas de estiva. Nos trapiches foram analisadas as áreas de embarque e desembarque, o piso, o guarda-corpo, as rampas e escadas. A coluna que denominada “indicadores” refere-se às condições físicas existentes. Já a coluna “avaliação” indica se a situação é positiva (+) ou negativa (-).

Tabela 1- Tabela inicial para as análises de Acessibilidade dos Acessos: Trapiches

Tabela: Própria autora, 2013.

Esta mesma tabela foi utilizada para as análises de acessibilidade dos acessos nas calçadas de estivas, em que os elementos centrais foram as condições do piso e do guarda-corpo (Tabela 2).

Tabela 2-Tabela inicial para as análises de Acessibilidade dos Acessos: Calçadas em estivas

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Cabe informar, que estas tabelas foram utilizadas como base inicial para o preenchimento dos dados que foram observados na

pesquisa de campo. Sendo mais tarde adaptada e melhor organizada

para serem utilizadas como tabelas sínteses das avaliações de acessibilidade espacial realizadas nas duas ilhas, disponível no final deste capítulo.

Neste processo, as entrevistas realizadas foram valiosas para o estudo, pois por meio delas foram verificadas informações a respeito das calçadas em estivas pouco difundidas em estudos científicos.

A princípio, a pesquisadora fez algumas perguntas estruturadas mais objetivas, mas percebeu que as pessoas ficavam receosas e intimidadas para responder diante as anotações. Elas queriam ser ouvidas, contar suas histórias.

Diante disso, decidiu-se utilizar perguntas abertas, informais, que permitissem identificar o que as pessoas pensam e desejam para estes espaços. Como as conversas sempre eram longas os instrumentos utilizados foram o gravador, bloco para anotações e máquina fotográfica para registros dos entrevistados. Assim, as entrevistas envolveram a líder comunitária, funcionários do posto de saúde da Ilha e outros moradores que vivem ali desde a infância.

Desta forma, inicialmente para a Ilha do Combu, utilizou-se um diagrama esquemático (Figura 63) sobre como foi realizado o processo metodológico para se alcançar as informações necessárias e obter os resultados desta pesquisa.

Figura 63- Diagrama esquemático do processo metodológico para a Ilha do Combu

Fonte: Própria autora, 2013.

Após o processo de Qualificação desta pesquisa, ocorrido em 01 de outubro de 2013, houve a necessidade de se fazer mais algumas

visitas exploratórias, observações e entrevistas para averiguar algumas

informações tanto métricas quanto as relacionadas aos elementos naturais que também influenciam diretamente no trabalho, bem como o

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período de maré cheia que pôde ser analisada durante o mês de fevereiro e meados de março de 2014.

A partir destas novas observações, precisou-se corrigir, complementar e concluir algumas informações verificadas neste período de cheias. Quanto à entrevista, esta foi realizada apenas com a Dona Nena, como complemento das informações e dúvidas que ainda perduravam sobre algumas questões da Ilha.

Também neste período foi realizada uma entrevista com um antigo trabalhador do Porto da Palha que, atualmente, cuida dos interesses dos barqueiros e membros dos portos, chamado João Lima. Na ocasião, João esclareceu sobre algumas dúvidas e informações interessantes sobre o Porto da Palha, bem como suas regras e a organização funcional e física estabelecidas pelos que vivenciam e usufruem destes espaços.