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CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para uma melhor compreensão do tema referente a acessibilidade

2.8. DEFICIÊNCIAS E RESTRIÇÕES ESPACIAIS

Historicamente, as pessoas com deficiências eram consideradas incapazes ou fora dos padrões aceitáveis para sociedade. Por muito tempo, buscava-se uma sociedade perfeita, onde se cultuava a beleza, a força e a perfeição do corpo. Porém, todas as pessoas com qualquer vestígio de algo diferente de cunho fisiológico eram vistas como objeto de pena, justificados como castigo de Deus, ou um meio de diversão para os cidadãos “normais” aceitos pela sociedade.

Ao longo do tempo, o pensamento estigmatizado sobre as pessoas com deficiência vem sendo minimizado a partir dos avanços dos Direitos Humanos e das lutas das pessoas com deficiências na conquista de seus direitos como cidadãos. Atualmente, a sociedade está em um processo de evolução ao compreender e reconhecer, por meio de leis internacionais e nacionais, a relevância de sua efetiva participação e inclusão nas mais diversas esferas sociais. A construção da consciência se dá na sensibilização e na capacidade de perceber e sentir na pele o que está acontecendo ao nosso redor [...] Nossa reação já será a manifestação de cidadania (SOUZA, 2004, p.51).

No entanto, ainda há muitas lutas pela frente, sobretudo, devido à ineficácia dos sistemas jurídicos e das políticas públicas universais no que tange à garantia dos Direitos Humanos das pessoas com deficiências. Assim, foi a partir dessas dificuldades que, em 2006, a ONU colocou em prática um novo tratado de Direitos Humanos, conhecido como “Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”.

Trata-se de uma convenção internacional geral e integral para promover e proteger os direitos e a dignidade das PcD, que prestará uma significativa contribuição para corrigir suas profundas desvantagens sociais e para promover sua participação na vida econômica, social e cultural, em igualdade de oportunidades (MISSAGLIA, 2013, p.1017).

O termo deficiência ainda é um tema complexo, visto que para muitos ela ainda é tratada como uma incapacidade, enquanto que para outros autores, ela tem uma relação direta com o ambiente. Diante disto, a WHO (2012) pontua que a incapacidade é um termo amplo que considera as limitações existentes para se participar e se realizar certas atividades. Neste sentido, a incapacidade pode ser melhor compreendida a partir da interação negativa entre um indivíduo com uma determinada condição de saúde e os seus fatores contextuais (fatores ambientais e pessoais).

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A CIF (OMS, 2004) define que: as Deficiências são tratadas como problemas nas funções ou nas estruturas do corpo, tais como, um desvio importante ou uma perda. Já as Restrições na participação são problemas que um indivíduo pode enfrentar quando está envolvido em situações da vida real por meio dos Fatores ambientais, dos quais constituem o ambiente físico, social e atitudinal em que as pessoas vivem e conduzem sua vida.

Uma das mentes mais brilhantes do mundo, Stephen W. Hawking, em seu texto introdutório para o Relatório Mundial (WHO, 2012) sobre a Deficiência, expõe um ponto de vista a partir de sua experiência sobre a deficiência. Ele destaca que a deficiência é um assunto que vai além do físico quando transcende as dificuldades às realizações pessoais:

A deficiência não precisa ser um obstáculo para o sucesso [...] Mas sei que sou muito sortudo, em muitos aspectos. Meu sucesso em física teórica me assegura apoio para viver uma vida que vale a pena. É claro que a maioria das pessoas com deficiência no mundo tem extrema dificuldade até mesmo para sobreviver a cada dia, quanto mais para ter uma vida produtiva e de realização pessoal (WHO, 2012, p.ix).

Sobre isso, Fresteiro (2010) destaca que ninguém melhor que os próprios deficientes para mostra-lhes suas dificuldades. As pessoas com deficiência devem ser encaradas não só quanto à sua diferença, mas, principalmente, quanto a suas possibilidades e desejos (FRESTEIRO, 2010, p.239).

De acordo com o Decreto 6.949/2009, documento que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência no Brasil, a deficiência é um conceito em evolução. Este Decreto entende que a deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

Entretanto, o contexto legal brasileiro precisa se ater às atualizações e significados mais coerentes do termo deficiência, pois em seu escopo aparece associado à incapacidade, o que submete a uma interpretação dúbia e incoerente ao considerar o conhecimento atual. Tal

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observação pode ser encontrada na definição dada pela ABNT em sua norma da NBR 9050/2004, ao definir o termo de deficiência como:

O termo deficiência refere-se à redução, limitação ou inexistência das condições de mobilidade, de percepção das características do ambiente e de utilização das edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente (ABNT, 2004, p.3).

Segundo Oliveira (2006) nas definições da ABNT, este termo é utilizado para designar o problema específico de uma disfunção no nível fisiológico do indivíduo, sendo normalmente associado à noção de incapacidade, o que nem sempre ocorre. Um exemplo dado por esta autora refere-se quando, uma pessoa com baixa visão consegue ajustar suas dificuldades, a partir do auxílio de lentes especiais. Para Oliveira, a palavra deficiência ainda gera preconceito na sociedade.

Sobre a importância deste assunto, Missaglia (2013, p.1018) acredita que o problema para mover-se do âmbito individual para o social, está na medida em que se passa a assumir a deficiência como algo que diz respeito a todos, pois a deficiência está na sociedade, não nos atributos dos cidadãos.

De acordo com Bins Ely e Silva (2009) “uma pessoa com deficiência é julgada "não eficiente" por não ser igual às pessoas "comuns". Essa atitude de desigualdade dificulta sua participação nas mais diferentes funções, como trabalho e lazer”. Além disso, “qualquer pessoa pode em algum momento ser incapaz de realizar uma atividade devido a fatores ambientais, culturais, ou socioeconômicos” (DISCHINGER; BINS ELY; PIARDI, 2012, p.16).

No Brasil, as estatísticas apontam que há um aumento no número de pessoas com deficiência decorrente de fatores sociais dependentes de políticas públicas e serviços. Entre os fatores sociais causadores de deficiências, destacam-se a violência urbana, a desnutrição e a insuficiência no atendimento e na prevenção de saúde voltados às mulheres em idade fértil (KAUCHAKJE, 2012, p.55).

Segundo os dados Censitários do IBGE de 2010, mais de 45,6 milhões de brasileiros declararam ter alguma deficiência. No Estado do Pará, a sua população total é de aproximadamente 7.581.051 de habitantes. Deste número, 1.790.289 são paraenses que se declararam ter alguma deficiência, ou seja, mais de 23% da população paraense.

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No caso da Ilha do Combu, no Pará, não há informações sobre a quantidade de pessoas com deficiência nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o que implica deduzir que o número de pessoas com alguma deficiência no Estado deva ser maior, pois ainda existe um vácuo acerca destas informações, ao levar em conta todos os lugares aonde o Censo não alcançou. Já na Cidade de Afuá, a população total apenas da área urbana é de aproximadamente 9.478 habitantes, sendo 2.640 afuaenses com alguma deficiência, ou seja, é um número considerável para se refletir sobre as condições da qualidade de vida destas pessoas à questão de inclusão.

Conforme o Decreto Nº 5.296, de 2004, a deficiência é classificado a partir de cinco categorias: Deficiência física, auditiva, visual, mental e múltipla.

1. Deficiência física: alteração completa