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CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para uma melhor compreensão do tema referente a acessibilidade

5. Deficiência múltipla: associação de duas ou mais deficiências.

2.9. LEIS E NORMAS DE ACESSIBILIDADE NAS ZONAS RIBEIRINHAS

2.9.1. Das leis federais às municipais

O Brasil é um dos países que mais possui dispositivos legais de assistência às pessoas com deficiência e com sua mobilidade reduzida. A Constituição Federal brasileira de 1988 foi um marco importante no avanço e, também, um referencial de proteção por parte do Estado dos Direitos Humanos dessas pessoas. No período de debates da Constituinte, os grupos de pessoas com deficiência tiveram um protagonismo notável, conseguindo que seus direitos fossem garantidos em várias áreas da existência humana: da educação, à saúde, ao transporte, e aos espaços arquitetônicos (LANNA JÚNIOR, 2010).

A Carta Magna assegura aos seus cidadãos o direito à livre locomoção em todo território nacional e a realização efetiva das suas atividades diárias por meio do acesso universal, ou seja, àquele realizado por Todos, independente da sua limitação física, com independência,

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segurança e conforto em toda estrutura urbana de uma cidade. Isso inclui as vias, as calçadas, o mobiliário urbano, e os equipamentos públicos de uso coletivo.

Assim, a Lei Federal nº. 10.098/2000 regulamentada por meio do Decreto nº 5.296/2004 tornou obrigatório à promoção da acessibilidade em todos os espaços públicos, onde afirmam que:

O poder público tem a obrigação de promover a acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência, ou com mobilidade reduzida, às vias públicas, aos parques e demais espaços de uso público (BRASIL, 2000c).

Da mesma forma, o Decreto nº 5.296 ao regulamentar a Lei Federal 10.098/00, também estabelece requisitos relevantes em seu texto para a promoção da acessibilidade:

Regulamenta as Leis nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências (BRASIL, 2004a).

Estas leis tornam obrigatório, sobretudo, no desenho arquitetônico, a aplicabilidade da acessibilidade partir das premissas do desenho universal nos espaços públicos e de uso coletivo, onde estão dispostas nas normas técnicas da ABNT.

No entanto, embora as leis existam, seu cumprimento efetivo ainda é fonte de muitas indagações em várias cidades brasileiras. Isso deve-se à uma linha tênue entre a estrutura legal e o seu cumprimento na prática, visto que desde sua promulgação, a realidade de muitas cidades brasileiras está longe de ser acessível a Todos.

Cabe ressaltar que a Constituição Federal deixa claro no seu Artigo 30, inciso VIII, que compete aos municípios promover o adequado ordenamento territorial, o que implica dizer que as políticas urbanas praticadas pelos entes federativos devem ser previstas por meio das diversas garantias constitucionais que asseguram o bem- estar de seus habitantes.

Neste sentido, Gomes (2014) explica que, empiricamente, as leis municipais acabam tendo grande eficácia quando da imposição de seu

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cumprimento pelos órgãos integrantes da esfera municipal. Sendo cobrados, normalmente, na aprovação de projetos de edificações e urbanização nas cidades mais desenvolvidas, por meio de uma série de leis e decretos a serem obedecidos como os códigos de posturas, códigos de obras, leis de edificações e as leis de uso e ocupação do solo.

O Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001, trouxe ao meio jurídico inovações no campo urbanístico no Brasil por meio de diretrizes e novos instrumentos legais, econômicos e processuais para o planejamento urbano (DUARTE, 2012, p.87), nos quais são essenciais à aplicação da acessibilidade na prática.

Este estatuto regula (1

º paragráfo)

“o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”. Todavia, para isso determina no seu art. 40, o plano diretor como parte integrante do processo de planejamento municipal, ou seja, é a partir do plano diretor que se devem atender aos requisitos de acessibilidade, e assim, estará tornando igual e acessível às oportunidades a todos os seus habitantes (GOMES, 2014).

Portanto, o plano diretor é obrigatório em cidades com mais de 20 mil habitantes e também para municípios em áreas de especial interesse turístico e sob influência de empreeendimentos ou atividades com impacto ambiental de âmbito regional ou nacional (DUARTE, 2012).

Para dar maior suporte às cidades, o Governo Federal criou a Lei Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, que institui diretrizes que fomentem a Política Nacional de Mobilidade Urbana. De acordo com o Ministério das Cidades a Política Nacional de Mobilidade Urbana coloca como prioridades e objetivos, o direito à cidade, a consolidação da democracia, a promoção da cidadania e da inclusão social, bem como a modernização regulatória e desenvolvimento institucional e o fortalecimento do poder local.

No que diz respeito à legislação do Município de Belém no que tange a questão da acessibilidade nos espaços públicos e de uso coletivo, tem-se o Plano Diretor, instituído na Lei nº 8.655, de 30 de julho de 2008. Este Plano Diretor, sendo um instrumento básico da política urbana tem a acessibilidade como um dos seus objetivos a se alcançar, no qual visa, no capítulo III, IX:

Garantir a acessibilidade universal, entendida como a possibilidade de acesso de todos os cidadãos a qualquer ponto do território, por meio

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da rede viária, hidroviária e do sistema de transporte público (PARÁ, 2008).

Além disso, a acessibilidade aparece ao longo do seu texto em diversos aspectos a serem trabalhados, como na Mobilidade Urbana do município, ao dispor que, Art. 41:

Art. 41 A Política Municipal de Mobilidade Urbana tem como objetivo contribuir para o acesso amplo e democrático à cidade, por meio do planejamento e gestão do Sistema de Mobilidade Urbana (PARÁ, 2008).

Já na sua Sessão III, art. 50, dispõe que a acessibilidade deve ser garantida, pelo Poder Público Municipal, a toda população com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários, edificações e equipamentos urbanos públicos, dos serviços de transporte públicos e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação. Do mesmo modo, expõe também a relevância das diferenças urbanas e das suas informações para as pessoas com deficiência e/ou com sua mobilidade reduzida:

§1°. A garantia dos princípios da segurança e da autonomia deverá respeitar as diferenças urbanas de uso do tempo e espaço da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

§2°. Os códigos, os sinais, os materiais e outros meios de comunicação, informação e visualização urbana devem se adaptar às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida (PARÁ, 2008).

Este Plano Diretor também apresenta, a relevância da acessibilidade e mobilidade nas ilhas existentes em seu município a partir da melhoria dos diversos modos de circulação. Neste caso, a Ilha do Combu está assistida e delegada não apenas à acessibilidade, mas à questão do saneamento básico e da moradia digna à população. Descritas da seguinte forma:

VI - requalificar as áreas de urbanização precária, com prioridade para a melhoria do saneamento básico, das condições de moradia e das condições de acessibilidade e mobilidade (PARÁ, 2008, Art. 92, VI).

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XVII - ampliar a acessibilidade interna nas ilhas por meio da melhoria de circulação viária e do ordenamento dos diversos modos de circulação (PARÁ, 2008, Art. 42, XVII).

Além deste, o Plano Diretor (PARÁ, 2008) também manifesta a importância dos portos públicos no processo de inclusão quando determina, no Inciso IV, que se deve “melhorar a infraestrutura e a acessibilidade, promovendo a integração da malha viária e infraestruturação dos portos públicos”.

Ressalta-se que Belém possui também em seu escopo jurídico a Lei Municipal de Acessibilidade, Lei Nº 8068/01, de 28 de maio de 2001. Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação no Município de Belém.

De acordo com Gomes (2014) esta Lei é uma cópia com mínimas adaptações da Lei Federal nº. 10.098/2000. Este autor explica que as mudanças ocorridas nesta lei, referem-se apenas em atribuir ao ente municipal, àquilo que era da lei federal atribuição do ente federativo. Tal mudança deu ao município um poderoso instrumento para assegurar o direito à mobilidade, sem distinção, dos seus habitantes.

Ampliando a força legislativa da acessibilidade no Estado do Pará, tem-se o Plano Diretor da Cidade de Afuá, sob a Lei complementar nº 001/2006, de 20/09/2006, intitulado de “Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano”. As principais diretrizes gerais da política urbana, influenciadas pelo Estatuto da Cidade, contemplam a garantia do pleno cumprimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. Neste documento, a acessibilidade aparece centrada no Desenho Universal das vias e dos espaços públicos a fim de garantir, conforme o Art. 4, inciso II:

A acessibilidade e a mobilidade sustentável de todos os cidadãos por meio do desenho dos espaços públicos e do sistema viário básico (CIDADE DE AFUÁ, 2006).

A Cidade de Afuá possui todas as suas vias concebidas para a circulação apenas de pedestre e de ciclistas, já que a bicicleta é o

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transporte utilizado. Portanto, no seu Plano Diretor existe um capítulo destinado a atender as diretrizes setoriais para a infraestrutura, onde na Seção I, está descrito os critérios utilizados para o desenvolvimento do Sistema Viário, de Mobilidade e de Acessibilidade, os quais são:

I. Priorizar a acessibilidade cidadão- pedestres, ciclistas, pessoas com necessidades especiais e mobilidade reduzida, sobre o transporte motorizado;

II. Estruturar áreas de uso preferencial ou exclusivo para pedestre e ciclistas, através de um estudo de viabilidade que possibilite a implantação de ciclovias e ciclofaixas; III. Reduzir a necessidade de deslocamento; IV. Melhorar a fluidez do trânsito, mantendo-se os

níveis de segurança definidos pela comunidade técnica;

V. Articular o sistema de mobilidade municipal com o regional e o estadual, existente e planejado;

VI. Apresentar proposta de identificação de logradouros no município;

VII. Implantar, estruturar e promover, através da Secretaria de Infraestrutura, alterações para atender a necessidade de acessibilidade, em prédios existentes, bem como em prédios novos;

VIII. Implantar através da secretaria de Infraestrutura, padrão de placa de identificação para logradouros em geral; IX. Implantar através da Secretaria de

Infraestrutura, padrão de placa de identificação para imóveis em geral;

X. Promover melhoria nas vias públicas construídas em concreto armado e que apresentam imperfeições;

Nestas diretrizes fica evidente, a conscientização do poder municipal quanto à questão da acessibilidade na cidade. Os quesitos de orientação espacial destacam-se pela necessidade de placas de sinalizações para a identificação das ruas, logradouros e prédios e para a solução de problemas de correspondência que nunca chega corretamente a seus destinos.

A necessidade de se ter faixas de ciclovias são justificadas para diminuir os acidentes causados por imprudência de ciclistas e deixa

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clara a relevância do conhecimento técnico para a realização das soluções adequadas à cidade. Assim, o Plano Diretor da Cidade de Afuá justifica que a acessibilidade é essencial para eliminar as várias formas de exclusão de todas as pessoas, independente se forem deficientes ou não.

No plano diretor de Afuá destaca-se que embora suas diretrizes estejam comprometidas com a acessibilidade, em nenhum momento, o documento faz referência às normas da NBR 9050/2004 (ABNT, 2004) para a construção prática de projetos urbanos, como ocorre no Plano diretor de Belém. Neste caso, o que se tem é um breve critério, presente no Art. 18, para os equipamentos públicos em abrangência regional. Neste artigo apenas se estipula a relevância de instituir norma específica com parâmetros de localização e dimensionamento em consonância com as políticas setoriais.

Diante todas essas informações, cabe explicar até que ponto esse aporte legal sai da projeção do papel e vai de encontro à realidade prática nas cidades, em especial nas ribeirinhas.

Para o cumprimento das leis, existem instrumentos normativos desenvolvidos pela ABNT. Essa Associação desempenha o papel de mediadora da aplicabilidade dessas leis ao definir critérios técnicos para serem empregados no contexto real. Porém, quando se fala das normas referentes à acessibilidade arquitetônica e urbanística, vem à pergunta: até aonde estas leis junto às normas técnicas andam de mãos dadas para se obter a acessibilidade, considerando todas distintas realidades do contexto nacional? Esta resposta será discutida a partir da NBR 9050/2004, logo a seguir.

2.10. UMA ABORDAGEM SOBRE A NBR 9050/2004 PARA