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Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional do Estado de São Paulo segundo

8. INSERÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO NO

8.2 Caracterização das atribuições do psicólogo no sistema prisional do Estado de São

8.2.3 Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional do Estado de São Paulo segundo

Em 2004, o Ministério da Justiça, por meio do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), iniciou o diálogo com os Estados e conselhos de classes profissionais, buscando discutir a “formação dos profissionais que atuam no sistema prisional, com o objetivo de construir uma proposta nacional” 185.

Esse diálogo, levou o Conselho Federal de Psicologia, considerando as deliberações do V Congresso Nacional de Psicologia, a promover a discussão junto à categoria sobre “o papel da Psicologia nas prisões, a atuação dos profissionais e as demandas de formação existentes” 186.

Observa-se que a Psicologia no sistema prisional é foco de atenção, discussão e reflexão dos Conselhos Federal e Regional de Psicologia187 e, do Ministério da Justiça - Departamento Penitenciário (Depen), através de ações conjuntas iniciadas a partir de 2004 e desenvolvidas no decorrer de 2005. Como os eventos realizados nas oito subsedes do Conselho Regional do Estado de São Paulo (CRP) e a Oficina - “A Psicologia no Sistema Prisional: reflexões sobre a atuação profissional” 188, eventos preparatórios para a realização do Seminário Nacional – “Atuação da Psicologia no Sistema Prisional” 189.

Focalizaremos os resultados apresentados na oficina acima mencionada190, trata-se de oficina de âmbito estadual, que foi desenvolvida com o objetivo de “mapear a situação

185 Conselho Federal de Psicologia. Relatório do Seminário- Atuação da Psicologia no Sistema Prisional. 2006. 186 Ibid.

187 Conselho Regional de Psicologia - da 6ª Região - São Paulo, região correspondente à área geográfica limite de estudo a que se propõe este trabalho.

188 Oficina Estadual, promovida pelo Conselho Regional de Psicologia -6ª Região – São Paulo, realizada em 01/10/2005.

189 Realizado em Brasília nos dias 10 e 11 de novembro de 2005.

190 Oficina Estadual, promovida pelo Conselho Regional de Psicologia -6ª Região – São Paulo, realizada em 01/10/2005.

atual da atuação dos psicólogos que trabalham no sistema prisional no Estado de São Paulo e de construir referências para a atuação profissional qualificada, com vistas à integração social e não à segregação” 191, propósito que vem ao encontro do objetivo deste estudo, dando a

conhecer a prática do psicólogo no sistema prisional, tendo o Estado de São Paulo como limite geográfico e referência para análise.

A citada Oficina, de âmbito estadual, promoveu a socialização e compilação das discussões e reflexões realizadas nas subsedes do CRP 6ª Região - SP, nos meses de agosto e setembro de 2005, buscando aprofundar e construir propostas encaminhadas ao Seminário Nacional - Atuação da Psicologia no Sistema Prisional. Construção que contou com a participação e colaboração de psicólogos que atuam no sistema prisional paulista, divididos em três Grupos de Trabalho, denominados: Gestão da Prisão, Atuação do Psicólogo, Formação Profissional e Formação Continuada, sendo os apontamentos indicados, sistematizados, consolidados e apresentados em relatório192. Abaixo destacamos, na íntegra, os apontamentos apresentados no GT – Atuação do Psicólogo, a saber:

Atuação do Psicólogo a partir das alterações da LEP193

- Quanto às entrevistas padronizadas para todo o Estado (entrevistas de inclusão) cujos dados são lançados em formulários informatizados, intranet, há falhas nas perguntas e nas colocações, que podem ser melhoradas e utilizadas como ferramentas adaptadas a cada unidade;

- Acesso às informações pertinentes sobre tais dados das entrevistas, pois os técnicos não têm acesso aos dados estatísticos da unidade em que trabalham, mas somente aos dados individuais, o que dificulta a elaboração de um perfil geral da população atendida;

191 Conselho Regional da 6ª Região – SP, Relatório Oficina – A psicologia no Sistema Prisional: Reflexões Sobre a Atuação Profissional. 2006.

192 Conselho Regional da 6ª Região – SP, Relatório Oficina – A psicologia no Sistema Prisional: Reflexões Sobre a Atuação Profissional. 2006.

- Condições básicas, materiais e técnicas dos psicólogos; falta de local apropriado para o atendimento psicológico, inclusive comprometendo a qualidade e a ética do mesmo;

- Falta de acesso a cursos (Escola da Administração Penitenciária privilegia cursos para Agentes de Segurança Penitenciária - ASP). Não há política de formação permanente;

- Penas alternativas e intervenção junto aos egressos: há falta de informação e falta de projetos que promovam a inserção social de egressos;

- Faz-se necessária a divulgação dos trabalhos dentro do sistema prisional (tanto para internos quanto para egressos), junto ao judiciário, profissionais e população a fim de desmistificar o estigma da “delinqüência” e proporcionar melhores condições de inserção social;

- A importância de criar uma associação específica dos técnicos que atuam no sistema prisional;

- Criar rede de informação on-line de divulgação de eventos, cursos, mobilizações, projetos, entre outros.

- Tem-se percebido certa revitalização da equipe multidisciplinar, o que aponta para a importância da integração dos profissionais dentro das unidades;

- Quanto à Individualização da Pena, faz-se necessária a implantação de novos projetos;

- Suporte técnico (supervisão / convênios) para o psicólogo do sistema prisional;

- A importância da sensibilização da família / sentenciado / funcionário, em benefício da reintegração.

Observamos que os dados apresentados fazem referências pontuais às atribuições do psicólogo no sistema prisional paulista, sendo apontadas as críticas referentes às condições de trabalho, identificado ou proposto ainda, ações na perspectiva de melhorias das condições desse trabalho.

Conforme referências às práticas profissionais citadas, registramos: - “entrevista de inclusão”;

- “inserção social” (projetos);

- “sensibilização da família, da pessoa presa e do funcionário, em benefício da reintegração”;

- atuação junto à Central de Penas Alternativas e a egressos do sistema prisional na promoção da inserção social.194

Dando continuidade aos trabalhos, nos anos de 2006 e 2007, o Conselho Regional de Psicologia 6ª Região – SP, realiza o levantamento da realidade dos psicólogos no sistema prisional paulista a partir das reuniões que acontecem nas subsedes do CRP - SP em 2006. Levantamento esse relativo à formação; às atribuições; às condições de trabalho; à saúde no sistema prisional; às críticas ao sistema prisional; à parceria-público-privado; sobre o “Portal da Administração Penitenciária” (prontuário da pessoa presa informatizado); sobre a avaliação psicológica (exame criminológico) e sobre os projetos de reintegração social, sendo os apontamentos dessas reuniões encaminhados ao I Encontro Estadual da Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional – I Mostra de Práticas de Psicologia no Sistema Prisional195, sendo os trabalhos do referido Encontro organizado pelos eixos temáticos, a saber:

- Atribuições do psicólogo no sistema prisional;

- Formação do psicólogo para atuar no sistema prisional;

- A ética profissional e os Direitos Humanos no sistema prisional; - Saúde mental do trabalhador das unidades prisionais;

- Trabalho com egressos do sistema prisional.

194 A Central de Penas Alternativas e o Núcleo de Atendimento ao Egresso, ambos vinculados à Secretaria de Administração Penitenciária – Departamento de Reintegração Social Penitenciário.

195 Organizado pelo Grupo de Trabalho Sistema Prisional- CRP SP e realizado em 10/03/2007 na Subsede do Grande ABC – Santo André – SP.

Os apontamentos/teses elaborados, no I Encontro Estadual, foram encaminhados ao VI Congresso Regional de Psicologia da 6ª Região196 e o resultado dos trabalhos desse, posteriormente encaminhado ao VI Congresso Nacional de Psicologia – Do discurso do compromisso social à produção de referências para a prática: construindo o projeto coletivo da produção197, com o objetivo de aprovar as diretrizes básicas para a ação dos Conselhos de Psicologia.

A seguir apresentamos as teses elaboradas no I Encontro Estadual e encaminhadas ao VI Congresso Regional sendo que a sistematização do trabalho organizado e desenvolvido, deu-se a partir dos três eixos de orientação dos trabalhos nos Congressos Regional e Nacional, ou seja: Aperfeiçoamento democrático do sistema de conselhos; Diálogos para construção dos projetos coletivos da profissão; e intervenção dos psicólogos nos sistemas institucionais, a saber:

Tabela 14 - Teses elaboradas no I Encontro Estadual da Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional

VI Congresso Regional da Psicologia da 6ª Região - VI CNP Eixos

Aperfeiçoamento

Democrático do Sistema Conselhos

Diálogos para construção dos

projetos coletivos da profissão sistemas institucionaisIntervenção dos psicólogos nos Tema das Teses

Campanha contra o encarceramento

Visitas orientadas e/ou fiscalização às unidades prisionais

Avaliação Psicológica (exame criminológico)

Condições de trabalho dos psicólogos

Atuação profissional

Atribuição profissional Ações relacionadas à saúde no sistema prisional

Portal - prontuário informatizado Projetos de Reintegração Social Exame criminológico

Atuação da Comissão de Orientação e Fiscalização e da Comissão de Direitos Humanos do CRP

Intervenção psicológica junto aos trabalhadores do sistema prisional – saúde do trabalhador

Formação/qualificação profissional

196 Realizado em São Paulo-SP, no período de 04 a 06/05/07. 197 Realizado em Brasília-DF, no período de 14 a 17/06/07.

Atuação para a prática preventiva em situações de risco – saúde do trabalhador

Supervisão da atuação dos técnicos do sistema prisional – saúde do trabalhador

Qualificação profissional

Mapeamento no sistema prisional (Redes parcerias)

Críticas ao Sistema Prisional Criação de canais de interlocução

Fonte: Conselho Regional de Psicologia – 6ª Região – São Paulo, 2007.

Na análise da tabela 17198 identificamos cinco referências às atribuições do psicólogo no sistema prisional paulista, as quais descrevemos: prontuário informatizado, exame criminológico, projetos de reintegração social, intervenção psicológica junto aos trabalhadores do sistema prisional e ações relacionadas à saúde no sistema prisional. Indicado ainda, as dificuldades e desafios a serem superados quanto ao desenvolvimento destas atribuições, conforme descrito a seguir:

1. Prontuário Informatizado, denominado também prontuário virtual, faz referência direta a uma das atribuições do psicólogo no sistema prisional paulista, a entrevista de inclusão. Essa entrevista deve ser realizada com a pessoa presa quando de sua entrada na unidade prisional; trata-se de uma investigação psicossocial, buscando conhecer o período da infância e da vida adulta (educação formal, trabalho e família) da pessoa e os motivos da prisão, entre outros199.

As entrevistas de inclusão são lançadas num prontuário virtual, o qual integra o programa informatizado de banco de dados da Secretaria de Administração

198 I Encontro Estadual Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional e I Mostra de Práticas de Psicologia no Sistema Prisional, Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região SP, São Paulo, 2007, Teses Elaboradas para o VI Congresso Regional da Psicologia da 6ª Região- VI CNP.

199 Instrumental padronizado conforme a especificidade do regime (provisório e fechado), composto por 80 itens, dos quais 67 são questões (28 específicas da área de Psicologia e 39 específicas da área de Serviço Social) e os 13 itens restantes referem-se à análise e considerações técnicas.

Penitenciária (denominado Gerenciamento Penitenciário – Gepen), sendo o instrumental e a de digitalização das entrevistas “alvo de críticas pelos psicólogos, tanto em relação às questões inconsistentes quanto à falta de acesso às informações gerais (estatística da unidade); os psicólogos desconhecem o objetivo de tal atividade e procuram romper com a característica “mecânica” e “restrita” dessas entrevistas.” 200

2. O exame criminológico, conforme destacado em capítulo anterior, realizado pela Comissão Técnica de Classificação com o objetivo de obter dados indicativos referentes à pessoa presa para classificação e individualização da execução da pena, bem como, e de propor à autoridade judicial a mudança de regime penal, cabendo ao psicólogo o exame da personalidade e o diagnóstico psicológico. Em relação ao exame criminológico, destacamos o apontamento realizado pelo

Grupo de Trabalho do Encontro Estadual em questão, o qual destaca a “ausência de qualidade na realização de exame criminológico, esbarrando em questões éticas que incompatibilizam um mesmo profissional de realizar diferentes procedimentos dentro da unidade com os mesmos sujeitos”.201

Como diretriz para encaminhamento dessa questão é sugerida a criação de centros de referência para avaliação criminológica e “preparo profissional”.

200 I Encontro Estadual Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional e I Mostra de Práticas de Psicologia no Sistema Prisional, Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região SP, São Paulo, 2007, Teses Elaboradas para o VI Congresso Regional da Psicologia da 6ª Região- VI CNP.

3. Projetos de Reintegração Social, os apontamentos indicam a falta de condições para realização ou continuidade dos referidos projetos, desde os recursos materiais até a dinâmica institucional.

4. Intervenção psicológica junto aos trabalhadores que atuam no sistema prisional - saúde do trabalhador. Cabe destacar, que em outra tese, denominada “Atuação para a prática preventiva em situações de risco - saúde do trabalhador”, há referência ao grupo de acolhimento, o qual realiza atendimento psicológico (em caráter emergencial) aos funcionários que passam por situações de risco (rebeliões, ameaças, etc.).

5. No tema da tese, ações relacionadas à saúde no sistema prisional, destacamos o atendimento psicológico como atribuição do psicólogo, considerando que os apontamentos indicam a “falta de assistência à saúde dos presos/detentos”, tanto na parte clínica quanto na saúde mental” 202, fazendo referência, ao número defasado de psicólogos no sistema prisional.

6. Encontramos uma referência direta ao atendimento psicológico como atribuição do psicólogo no sistema prisional, na tese “Condições de trabalho dos psicólogos”, quando há indicação no que diz respeito à falta de salas para atendimento.

202 I Encontro Estadual Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional e I Mostra de Práticas de Psicologia no Sistema Prisional, Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região SP, São Paulo, 2007, Teses Elaboradas para o VI Congresso Regional da Psicologia da 6ª Região- VI CNP.

Com referência ao tema da tese “Condições de trabalho dos psicólogos”, citada anteriormente, há apontamentos que indicam “a falta de condições para o trabalho”, numa alusão à falta de recursos humanos e materiais, e à ausência de espaços físicos adequados para atendimento individual ou grupal.

Quanto às teses elaboradas em relação ao eixo – “Aperfeiçoamento democrático do sistema conselhos”, destacamos a indicação da importância da articulação, interlocução e atuação do sistema conselhos junto aos órgãos federais e estaduais, principalmente a Secretaria da Administração Penitenciária, entidades afins, Sindicato dos Psicólogos e sociedade.

9. CARACTERIZAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO NO SISTEMA