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Durante o curto espaço de tempo dedicado a esta pesquisa, período de 2005 a 2007, pudemos conhecer e compartilhar com diferentes profissionais e instituições afins, os diversos questionamentos e reflexões que permeiam a prática do psicólogo no sistema prisional.

Indagações e reflexões essas em relação às atribuições profissionais, o papel da psicologia nas prisões, a formação do psicólogo para atuar no sistema prisional, a ética profissional, entre outras, na busca de referências profissionais para superar os desafios que se colocam frente à realidade do nosso sistema prisional.

Neste trilho, constatamos a construção paulatina, contínua e desafiadora da prática do psicólogo no sistema prisional, influenciada e protagonizada pelos diversos atores envolvidos na construção e referência das atribuições profissionais.

Com base nos dados apresentados, podemos concluir que a prática do psicólogo no sistema prisional do Estado de São Paulo é traduzida por diversas atribuições, objetivos e diferentes sujeitos de atenção por parte dele, psicólogo, no sistema prisional e judiciário, a saber: atendimento e acompanhamento psicológico à pessoa presa; entrevista de inclusão ao sistema prisional; atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema prisional; avaliação psicológica (perícia oficial); atendimento e acompanhamento à família da pessoa presa; desenvolvimento de projetos voltados à reintegração social e trabalhos em grupos; discussão de casos e reunião de equipe interdisciplinar; e a inserção (digitalização) de dados em prontuário virtual.

Observando o exposto e a conclusão deste trabalho, apresentamos as considerações, a seguir:

1. Excetuando-se o atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema prisional, as atribuições do psicólogo no sistema prisional são estruturadas em atendimento aos diferentes momentos do cumprimento da pena de privação de liberdade (entrada, permanência, progressão de regime e saída), desencadeando a atenção pontual sobre os problemas cruciais e específicos de cada fase, conforme as atribuições supracitadas. Não observamos o desenvolvimento de ações encadeadas, contínuas e progressiva, características de um programa de intervenção e individualização da pena;

2. Em suas diferentes atribuições, os psicólogos têm como alvo de atenção diversos sujeitos, “esbarrando em questões éticas que incompatibilizam um mesmo profissional de realizar diferentes procedimentos dentro da unidade com os mesmos sujeitos” 212, o que pressupõe a necessidade de priorizar ações, objetivos e sujeitos; 3. Consideramos oportuna a crítica apresentada à “falta de acesso às informações gerais (estatística da unidade)” 213 em relação ao banco de dados informatizado do sistema prisional. Os dados e estatísticas podem e devem subsidiar a equipe de trabalho na construção coletiva de um plano de intervenção, possibilitando o alinhamento conceitual e operacional, tendo como parâmetro as bases conceituais apresentadas por Sá (2005) 214, das quais destacamos a interdisciplinaridade;

4. Em diversas oportunidades e registros, foram apontadas pelos profissionais, as difíceis condições do desenvolvimento do trabalho frente: a uma instituição orientada à segregação, controle e segurança; a realidade da superlotação prisional; aos

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Tese elaborada no I Encontro Estadual Atuação do psicólogo no sistema prisional. Eixo: Diálogos para construção dos projetos coletivos da profissão. Tema da tese: exame criminológico.

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Tese elaborada no I Encontro Estadual Atuação do psicólogo no sistema prisional. Eixo: Diálogos para construção dos projetos coletivos da profissão. Tema da tese: Portal – prontuário informatizado. Assunto tratado no Capítulo 8, subtítulo 8.2.3, deste trabalho.

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limitados recursos materiais e humanos, sendo este último em todas as áreas, comprometendo a formação e atuação de uma equipe interdisciplinar;

5. Durante a pesquisa não identificamos referências quanto à participação dos psicólogos e sistema conselhos de classe na discussão e construção de referências legais às atribuições profissionais. Destacamos como exemplo: os períodos anterior e posterior à aprovação da Lei 10.792/03; o período de vigência da referida lei, 2003 a 2006; e o julgamento, em 2006, da inconstitucionalidade das alterações dos artigos 6º e 112 da LEP215;

6. Registramos a dificuldade de realização desta pesquisa em função da exígua participação dos psicólogos que atuam no sistema prisional. Desta feita, ponderamos que tal dificuldade seja devida à peculiaridade e contexto institucional onde esses profissionais estão inseridos, uma instituição total216. Ponderação análoga cabe em relação a todos os profissionais de diferentes áreas do conhecimento, departamentos e setores, que atuam em instituições totais. Assim, presumimos ser este trabalho uma considerável experiência para registrar a dificuldade de pesquisa junto aos profissionais que trabalham em instituições totais e, quem sabe, para promover também, a reflexão quanto às possibilidades de acesso e métodos possíveis;

Conhecermos a prática profissional do psicólogo no sistema prisional e os questionamentos atuais sobre esta prática, nos possibilita desvelar e refletir sobre a contribuição da Psicologia, na construção e execução de políticas públicas destinadas à pessoa

215 Destacamos a iniciativa, em abril de 2007, do Conselho Regional de Psicologia São Paulo/6ª Região, Subsede de Ribeirão Preto, Comissão Gestora, para a composição de um Grupo de Trabalho para o acompanhamento de projetos de lei em andamento que podem ter reflexos na atuação do psicólogo no sistema prisional.

presa, num contexto social e econômico desigual e excludente, marcado por um sistema seletivo de segurança, justiça e punição.

Considerando o referencial teórico deste trabalho, podemos considerar que a prática profissional no sistema prisional são políticas pontuais e reparativas de intervenção no efeito, buscando restabelecer a relação da pessoa presa para a sociedade, portanto, acreditamos, que a Psicologia deve se debruçar e buscar construir referências profissionais de intervenção políticas nos fatores e no processo.

Para tanto, exigi-se pensar o envolvimento da sociedade com a questão prisional numa perspectiva de ampliarmos, com o apoio da Psicologia Social, a investigação e compreensão da inter-relação entre o “funcionamento psicológico humano e os processos e acontecimentos sociais em larga escala, que influenciam este funcionamento e são influenciados por ele”.217

[...] não creio que as ‘explicações’ dos conflitos e injustiças sociais se encontrem, principal ou fundamentalmente, a nível psicológico. Ao mesmo tempo, considero possível uma modesta contribuição [...] e de que é possível e necessário, por outro lado, na nossa função de psicólogos sociais,

tentar compreender a integração das interacções individuais nos seus

contextos sociais globais. (Tajfel, 1982, p. 17 e 18)

Numa perspectiva eleita por nós, dentre inúmeras possíveis, esta pesquisa joga luz sobre um tema pouco explorado nos últimos dezessete anos, e nos traz mais indagações do que respostas para a compreensão da prática profissional em questão, portanto, esperamos que ampliem-se os estudos voltadas à compreensão dessa temática.

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