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Fundamentação teórico-empírica

1.3.2 Caracterização da aprendizagem de adultos

Jarvis (1987, p. 2) aponta que a maior parte das teorias de aprendizagem de adultos se utiliza, predominantemente, de uma perspectiva psicológica, mais preocupada em refletir uma abordagem psicológico-cognitiva da aprendizagem. O autor, no entanto, preocupa-se mais em examinar o processo de aprendizagem sob uma perspectiva social. A partir de uma revisão de literatura, o autor defende a existência de algumas peculiaridades da aprendizagem na fase adulta, mas reforça que esta é mais uma questão de status social do que biológica, e exemplifica com o fato de, em alguns países, a condição de adulto ser alcançada por jovens de menor idade que em outros. Isso demonstra, segundo Jarvis, a significância de se reconhecer que a aprendizagem não ocorre em um isolamento social e que, como foi dito, a ocorrência de diferentes formas de aprendizagem pode ser antes resultado de pressões culturais e sociais que apenas de questões biológicas.

Algumas diferenças entre a aprendizagem na fase adulta e na infância podem ser entendidas a partir do que aponta a orientação construtivista da aprendizagem. Segundo essa abordagem, uma pessoa passa, ao longo da vida, por experiências e vai criando significados e construindo um arcabouço de conhecimento. À medida que as experiências vão se dando, vai sendo alimentada uma espécie de estoque de modelos interpretativos ou perspectivas (MEZIROW, 1991). Essas interpretações (que são culturalmente transmitidas e lingüisticamente organizadas), ao serem reforçadas, vão sendo tomadas como garantidas, tornando-se pressupostos inquestionáveis e práticas sociais.

Mezirow (1991, p.1) mostra que é comumente na fase da infância que esse tipo de significado é criado. Nos primeiros anos da vida de uma pessoa, ela começa a ter acesso às normas sociais que devem ser seguidas e a cultura à qual ela é submetida vai ajudando a moldar o tipo de ser humano que se tornará. Essa aprendizagem, que se convencionou chamar de formadora, se dá, basicamente, de duas formas: por meio da socialização, ou seja, de um modo informal e tácito (que ocorre no contato com os pais, amigos, professores, etc.), e/ou por meio de sua educação formal.

Com o passar do tempo, e já como adultos, os aprendizes se tornam “reféns” de sua própria história. Na opinião de Mezirow (1991, p. 2), por mais que se consiga dar sentido às experiências vivenciadas, está-se sujeito às influências da rede de significados que foi construída ao longo da aprendizagem anterior. Pois, “nós nunca poderemos estar completamente livres de nosso passado” (MEZIROW, 1991, p. 2).

Acontece que as pessoas, na sociedade atual, deparam-se com momentos nos quais o que lhes é exigido não pode ser suprido pela aprendizagem formadora da socialização e da educação formal. É nesse momento, na fase adulta, que as pessoas precisam adquirir novas perspectivas, ganhar uma forma mais completa de entendimento sobre os fenômenos, libertar- se um pouco de seus pressupostos anteriores e tomar um maior controle de suas vidas.

É a partir do ponto em que se alcança uma capacidade de se tornar criticamente reflexivo e que se pode diminuir o poder de pré-julgamentos que se atinge uma aprendizagem transformadora (MEZIROW, 1991, p. 3).

Sendo a aprendizagem, como já foi visto, um processo de construção de significados, a aprendizagem transformadora requer um mecanismo de negociação desses significados. Esse mecanismo deve permitir a re-elaboração de conceitos a partir da validação do entendimento que se teve de uma experiência em comum vivenciada por outras pessoas. A negociação e a validação ficam por conta do diálogo ou de outra ação comunicativa escrita ou oral entre essas

pessoas com o intuito de se alcançar um entendimento sobre o significado da experiência em comum (MEZIROW, 1991).

Mezirow (1991, p. 167) afirma, ainda, que existem duas dimensões para a aprendizagem transformadora. A primeira delas trata, apenas, da transformação de esquemas de significados. Isto significa que algumas crenças, atitudes e reações emocionais passam por uma transformação a partir da reflexão e da alteração de algumas interpretações.

Por outro lado, a segunda dimensão fala de uma transformação de perspectivas de significados. Para que isso ocorra, é necessário que haja uma reflexão crítica não apenas com relação às suas crenças, mas principalmente quanto às suposições culturais que governam e determinam o seu modo de interpretar. Esse tipo de transformação é bem mais raro e pode ser doloroso por ameaçar pressupostos antigos e enraizados podendo ocorrer mediante fatos marcantes na vida da pessoa (MEZIROW, 1981).

A experiência desempenha uma importante função na diferenciação da aprendizagem de adultos e crianças. Abordando essa questão, Merriam e Caffarella (1999) fazem um paralelo entre a aprendizagem na fase adulta e na infância e demonstram haver diferenças em três dimensões: o aprendiz, o contexto e o processo. Ao considerar o aprendiz, as autoras verificam que os adultos possuem um conjunto mais amplo de experiência de vida, o que, certamente, influencia no seu modo de interpretar o mundo ao seu redor.

As autoras apontam diferenças nos dois contextos de aprendizagem. A vida de uma criança é marcada pela sua presença em casa e na escola, e nesses dois ambientes o seu currículo de aprendizagem é basicamente definido por outros. Segundo as autoras, as crianças são preparadas para se tornarem adultos (MERRIAM; CAFFARELLA, 1999, p. 393). Já o contexto dos adultos é marcado por sua participação no trabalho, na família e na comunidade, e a sua aprendizagem nasce desse contexto que eles vivenciam em tempo integral. Uma outra diferença fundamental é que a aprendizagem dos adultos é caracterizada por sua imediata

aplicação no desempenho de seus papéis de marido, parceiro, pai, cidadão, entre outros (p. 394).

No que se refere aos processos, dois fatores em particular afetam a aprendizagem na fase adulta. O primeiro deles é a velocidade. À medida que uma pessoa envelhece, sua habilidade em examinar e responder a um problema vai diminuindo, e as limitações de tempo e as pressões do ambiente têm um efeito negativo na performance do aprendiz. O segundo fator está ligado ao significado da aprendizagem. Sobre esse aspecto, as autoras argumentam que talvez, pelo fato de a aprendizagem dos adultos estar tão intimamente relacionada com a sua situação de vida, os mesmos geralmente só estão inclinados a aprender aquilo que é significativo para eles.

Nesta etapa da revisão de literatura, abordou-se o tema da aprendizagem de adultos. Viu-se que a aprendizagem nessa fase da vida está fortemente ligada às suas experiências e é diferenciada pelas características do aprendiz, do contexto e do processo. Na próxima seção, será discutida a aprendizagem de gerentes em seus ambientes de trabalho.