• Nenhum resultado encontrado

Fornecer aos gerentes modelos e referenciais a serem seguidos.

Fundamentação teórico-empírica

1.14 Qual o papel dos relacionamentos interpessoais para a aprendizagem dos gerentes gerais?

1.14.2 Fornecer aos gerentes modelos e referenciais a serem seguidos.

Ao se relacionarem com outras pessoas, os gerentes desenvolveram por algumas delas um senso de admiração que fez com que essas pessoas passassem a servir como modelos de conduta a serem seguidos. Ao observarem, entre outras coisas, suas atitudes, os gerentes tiraram ensinamentos e buscaram replicar em seus comportamentos aquilo que aprenderam. Marcus Campos Filho, por exemplo, diz que “você tem que observar para poder tirar das pessoas a melhor lição possível, os melhores ensinamentos, o melhor exemplo”. Conforme ele mesmo indica em outro momento de sua entrevista, essa foi uma técnica que ele usou algumas vezes:

Eu tentei buscar atitudes de todos [...] Pessoas diversas em quem eu tentei buscar as melhores práticas, as melhores condutas. Tentei, de pessoas excelentes, tirar a melhor maneira de encarar as coisas, e descartar algumas coisas, porque eu acho, também, que ninguém tem a perfeição de conduta [...] eu sempre procurei filtrar as melhores atitudes.

Synthia, por sua vez, desenvolveu uma admiração por uma pessoa com quem, além de se relacionar no âmbito profissional, também tinha um relacionamento pessoal. O seu marido também é gerente geral da Caixa (Denílson Valença – também participante desta pesquisa) e ela afirma ter aprendido muito com os exemplos dele:

Ele contribuiu mais comigo com o exemplo de como ele lidava com as situações. Eu trabalhei com Denílson três vezes na Caixa, em três momentos diferentes de minha vida, e eu sempre observava como é que ele lidava com as situações, então com isso eu fui aprendendo.

O próprio Denílson também diz achar importante buscar seguir os passos daqueles a quem se admira. Para ele, isso funciona como um estímulo à melhoria contínua. Em suas palavras:

A importância de você ter alguém como referência, é como se você estabelecesse degraus a serem subidos, ou transpostos numa busca pelo ideal [...] Então ter alguém como referência é estar em busca da perfeição, é como estar em busca da melhoria contínua. É fundamental, se você não tiver, você estagna, você pára, você não vai buscar a melhoria da sua vida ou da sua condição profissional.

Mas os exemplos ensinam não apenas quando são positivos. Também foi possível observar que alguns gerentes aprenderam o que não deveria ser feito a partir do comportamento de outras pessoas. “Também aprendi com outras pessoas através de exemplos negativos, de como não agir em determinadas situações. Aprendi com os erros dos outros”, afirma Jorge Marques. A própria Synthia também teve a mesma experiência e diz: “para mim os relacionamentos foram muito importantes nesse crescimento, nesse desenvolvimento, nos exemplos que eu encontrei na minha vida. E eu tive exemplos ruins também. Eu tive gerentes que eu dizia assim: ah, esse aí eu não quero, não quero ser assim não”.

Ainda no que se refere à questão de modelos e exemplos a serem seguidos, foi possível perceber a existência de mentores como tendo uma grande participação no processo de aprendizagem desses gerentes. Denílson Valença aponta que esta função foi desenvolvida por diferentes pessoas de acordo com o estágio de sua carreira: “eu tive, sim, diversas pessoas as quais eu persegui. Eu me espelhei nelas. Algumas delas sequer sabem que foram, em um dado momento de minha vida, referência para mim”. Exemplificando, ele comenta: “uma delas foi no início de minha carreira é o Carlos Feitosa [...] eu tentava copiar ele [...] eu me identificava com ele porque eu entendia que ele falava uma linguagem muito parecida com a minha. Só que ele estava adiante nesta empresa e eu buscava ele como espelho”. Mais na frente da entrevista ele fala que ainda hoje têm alguém a quem vê como um mentor e confessa a admiração pelo atual chefe, o superintendente do escritório de negócios do Recife:

De alguma forma eu busco me espelhar nele reconhecendo que ele está trazendo às unidades que são vinculadas a ele uma realização, um sucesso. Então isso faz com que ele tenha – com muito respeito ao ser humano, que ele tem – atingido os objetivos da empresa, juntando as duas coisas ele consegue que eu olhe pra ele como espelho.

Sandro também destaca que em sua carreira houve pessoas que foram importantes, a quem ele considerava mentores e que marcaram sua vida profissional: “eu acho que em minha carreira, houve duas pessoas que eu vi como um mentor. Num primeiro momento houve uma, especificamente, durante os primeiros anos da minha carreira. E depois, do meio pra agora eu

acho que teve outra que ficou bem marcante e bem identificada”. Para ele, a importância de ter um mentor está diretamente relacionada à existência de alguém admirado e em quem se possa espelhar: “eu acho, tenho certeza da importância que houve e acho que é muito importante você ter uma pessoa que tenha as condições para que você possa se espelhar e passar a seguir, vamos dizer assim, os caminhos dela”. Na atualidade, assim como acontece com Denílson, é o superintendente quem cumpre essa função: “eu tenho hoje uma pessoa que eu me espelho muito nela e procuro seguir, que é o nosso superintendente, o nosso gestor maior. Eu vejo nele uma pessoa extremamente ética, extremamente profissional e eu procuro, dentro do possível, seguir os passos dele. Acho que ele é um profissional que merece ser copiado”.

Myrna Souto, além de dizer que teve uma mentora a quem admirou e com quem aprendeu muito, ainda ressalta que a mesma sempre apresentou uma preocupação com sua carreira, buscando dar oportunidades de crescimento para ela. Ela diz que sua ex-gerente “foi um marco. Eu aprendi muito [...] de alguma forma, eu procurei ser como ela para outras pessoas [...] eu me espelho muito nessa gerente que me deu oportunidade, ela já se aposentou da Caixa, ela pediu antecipado aposentadoria, e eu me espelho muito nela”. Alberto Moura, a exemplo de Denílson, menciona que o início de sua carreira teve a valiosa participação de profissionais, os quais admirou e de quem tomou emprestados alguns exemplos:

Quando você está começando sua carreira profissional, alguns líderes exercem um papel muito importante. Ao longo de minha carreira, eu tive dois líderes que eu não digo que tentei imitar, mas que à medida que você admira uma pessoa você vê nela grandes qualidades e começa a valorizar essas qualidades como qualidades importantes pra você.

O que Alberto chama de líder, Guilherme resolve classificar como ícones. Para ele, também foi relevante à sua aprendizagem o fato de poder ter-se relacionado e aprendido com pessoas de reconhecida competência e ter tido oportunidade de, além de admirar, tomar como exemplo as suas atitudes. Guilherme comenta que “sobre aprendizagem gerencial na Caixa eu tive alguns ícones, algumas pessoas com quem eu tive relacionamento e que foram moldadas

pra mim como ídolos, como marcos de atuação. Eu acho que o relacionamento que tive com essas pessoas, a convivência, me fez aprender muito”. A seguir, o mesmo gerente conclui dando um exemplo:

Então você olha e fica percebendo como aquela pessoa conseguiu se sair, como ela conseguiu dar um desfecho e que às vezes foi tão simples e tão bem sucedido [...] A forma com que ele tratava de questões muito pesadas me fez aprender a lidar com essas situações antagônicas, situações adversas e saber que a gente tem muito a contribuir com a regra maior de todas que eu acho que é o bom senso.

Um antigo gerente geral também marcou a carreira de Synthia. A identificação dela com seu ex-gerente fez com que as atitudes dele fossem vistas com admiração pela entrevistada, o que, de alguma forma, teve reflexos na profissional que ela é na atualidade: “Eu lembro que eu tive um gerente geral, meu primeiro gerente geral aqui na Caixa, que marcou a minha vida. Hoje eu sou uma profissional ao espelho do que ele foi. Eu valorizo coisas que ele valorizava quando era meu gerente geral. Eu o admirei naquele papel”.