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Fundamentação teórico-empírica

1.7 Delineamento do estudo

Dando prosseguimento ao capítulo de metodologia, esta seção apresentará o delineamento da pesquisa realizada. De acordo com Merriam (1998, p. 3), antes de começar um projeto de pesquisa, existem aspectos a serem pensados sobre sua orientação filosófica. “O que você [pesquisador] acredita sobre a natureza da realidade, sobre o conhecimento e sobre a produção de conhecimento” (MERRIAM, 1998, p. 03), ou seja, é importante que seja explicitado qual o posicionamento filosófico do pesquisador no que se refere à ontologia, à epistemologia e à metodologia.

Morgan e Smircich (1980, p. 429) apresentam uma visão geral sobre as relações entre ontologia, natureza humana, epistemologia e metodologia na ciência social contemporânea. Os autores trabalham com a idéia de um contínuo que vai desde as abordagens mais objetivas às que têm um cunho mais subjetivo. Nos extremos deste contínuo, estariam os paradigmas funcionalista (objetivo) e interpretativista (subjetivo).

Orientando-se por pressupostos mais condizentes com as abordagens subjetivistas, uma visão da realidade como uma construção social conduz os estudiosos que seguem uma orientação construtivista a encarar o mundo social como um processo contínuo. Para esses pesquisadores, esse mundo social seria recriado a cada encontro do cotidiano, enquanto os indivíduos se impõem sobre seus mundos para estabelecer um domínio de definições que tenham significado. Eles fazem isso por intermédio de linguagem, rótulos, ações e rotinas que representam um modelo simbólico de “ser” no mundo (MORGAN; SMIRCICH, 1980, p. 494). Dessa forma, a realidade social é incrustada na natureza e no uso desses modelos de ação simbólica e o domínio das relações simbólicas não possui qualquer status concreto. O uso dos símbolos pode desaguar em uma realidade compartilhada, mas, ainda assim, múltipla, passageira e confinada aos momentos em que são ativamente construídas e sustentadas (MORGAN; SMIRCICH, 1980, p. 494).

Sobre a natureza humana, o construtivismo defende que o ser humano cria sua realidade do modo mais fundamental, como uma tentativa de tornar seu mundo inteligível para si próprio e para os outros. Ele não é apenas um ator interpretando sua situação. Para o ser humano, não existe situação outra que não aquela que ele traz à tona mediante sua própria atividade criativa. Nada impede que indivíduos trabalhem em conjunto para criar uma realidade compartilhada, no entanto, essa realidade continuará sendo uma construção subjetiva (MORGAN; SMIRCICH, 1980, p. 494).

Dito isto, é importante afirmar, na opinião de Glasersfeld (1996, p. 82), que o construtivismo não nega a realidade, o que faz é defender que não se pode conhecer uma realidade independente. Portanto, os construtivistas não formulam declarações ontológicas, não dizem como é o mundo, apenas sugerem uma maneira de pensá-lo e fornecem uma análise de operações que gera uma realidade a partir da experiência (GLASERSFELD, 1996, p. 82).

Feita uma explanação geral sobre o pensamento por traz da abordagem construtivista, é importante tornar explícito que esta pesquisa seguiu seus pressupostos filosófica. Registra- se, ainda, que se optou por seguir uma orientação qualitativa de pesquisa por acreditar que essa seria a mais adequada em função da natureza do fenômeno investigado.

Existem várias razões que podem validar a escolha de uma abordagem qualitativa para a realização de uma pesquisa. O que se argumenta, aqui, é que o intuito desta pesquisa é compreender algumas facetas do processo de aprendizagem profissional de gerentes sob a ótica deles mesmos, buscando um entendimento do significado e da natureza de suas experiências. Assim sendo, os métodos qualitativos se fazem mais adequados por poderem ser, de acordo com Strauss e Corbin (1998, p. 11), utilizados para se obterem detalhes obscuros sobre fenômenos, como sentimentos, processos de pensamento e emoções que

dificilmente seriam compreendidos utilizando-se outros meios mais convencionais de pesquisa.

O termo pesquisa qualitativa representa um conceito guarda-chuva que cobre “algumas formas de investigação que nos ajuda a entender e explicar o significado do fenômeno social com a menor quebra possível do ambiente natural” (MERRIAM, 1998, p. 179). Ao contrário de pesquisas quantitativas, as quais separam o fenômeno em partes para entender o seu funcionamento, as qualitativas buscam entender como as partes trabalham em conjunto e por inteiro. Assume-se que os significados estão incrustados nas experiências das pessoas e são mediados pela percepção do investigador (MERRIAM, 1998, p. 6). Dessa forma, a pesquisa qualitativa busca entender as pessoas por intermédio de suas próprias estruturas de referência e o pesquisador tem que estar atento aos efeitos que provoca nas pessoas sob investigação nos momentos de interação (TAYLOR; BOGDAN, 1984, p. 6).

A pesquisa qualitativa engloba várias orientações de pesquisa, das quais Merriam destaca cinco: pesquisa qualitativa básica, estudo de caso, estudo etnográfico, fenomenologia e grounded theory (para maiores detalhes, ver MERRIAM, 1998, p. 10-20). Por suas características e seus objetivos, esta pesquisa foi classificada como um estudo de caso, termo definido por Yin (2001, p.32) como “uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.

Os estudos de caso, tipicamente, combinam métodos de coleta de dados, tais como: arquivos, entrevistas, questionários e observação (EISENHARDT, 1989, p.534) e podem ser usados para alcançar diferentes objetivos: prover descrição, testar teoria ou gerar teoria (EISENHARDT, 1989, p.535).

Essa orientação de pesquisa foi adotada neste estudo, por ser indicada aos casos em que o pesquisador está interessado na compreensão de processos (MERRIAM, 1998, p. 33) e

por tornar-se uma estratégia adequada quando se sabe pouco sobre o fenômeno estudado e/ou quando as perspectivas atuais parecem impróprias por disporem de poucas evidências empíricas (EISENHARDT, 1989, p.548). Defende-se, ainda, que o estudo de caso se mostrou apropriado, uma vez que o objetivo desta pesquisa é obter um entendimento da situação em questão e do seu significado para os envolvidos. Nessa orientação de pesquisa, o interesse está no processo, antes que nos resultados; no contexto, antes que em uma variável específica; em uma descoberta, antes que em uma confirmação (MERRIAM, 1998, p. 19).

Argumenta-se também que o estudo de caso tenha sido uma adequada opção de orientação metodológica em virtude de os respondentes estarem dentro das fronteiras de uma mesma empresa e estarem sujeitos à mesma lógica organizacional, ao mesmo sistema de recompensas, à mesma cultura organizacional, aos mesmos mecanismos de treinamento, etc. Acredita-se que, por estarem expostos a esses mesmos fatores, existem características que os aproximam entre si e que os diferenciam dos profissionais que atuam em outros bancos. É o que Smith (1978, APUD MERRIAM, 1998) diz ao comentar que o diferencial dos estudos de caso em relação a outros tipos de pesquisa qualitativa reside no fato de estes serem descrições e análises intensivas de unidades simples ou de sistemas delimitados, como indivíduos, programas, eventos, intervenções ou comunidades.