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Fundamentação teórico-empírica

1.14 Qual o papel dos relacionamentos interpessoais para a aprendizagem dos gerentes gerais?

1.14.1 Permitir a troca de experiências

Um dos importantes papéis dos relacionamentos interpessoais para a aprendizagem diz respeito às oportunidades de troca de experiências que se abrem para as pessoas por intermédio dos seus relacionamentos. Apesar de estar classificado como troca de experiências, nesta categoria os gerentes também se referiram à troca de conhecimentos, opiniões, visões e perspectivas. Atuando como gerentes gerais, e ao longo de sua carreira como um todo, esses profissionais têm acesso a uma grande diversidade de pessoas com experiências as mais variadas. Um gerente geral tem, na sua escala hierárquica direta, contato com o superintendente, com gerentes de mercado, gerentes gerais de outras agências, gerentes de nível intermediário em sua agência e em outras, os seus funcionários, clientes, entre outros.

Diante de toda essa rede de contatos, as possibilidades para trocar conhecimento se abrem. Reconhecendo bem essas possibilidades de aprendizagem, Marcus declarou:

Eu acredito que, com todas as pessoas que já trabalharam comigo, eu tive uma lição e aprendi muito com elas. Aprendi com o vigilante, a telefonista, o estagiário, o prestador, o superintendente, colegas do caixa, todos me trouxeram grandes lições tanto positivas, quanto negativas.

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Alberto afirma que se relacionar com outras pessoas é sempre importante, qualquer que seja a circunstância. O gerente concorda que não importa o nível hierárquico da pessoa e defende que, havendo um processo de troca entre as pessoas, todos aprendem e saem ganhando. Ao falar de sua aprendizagem, Aberto declara: “Eu acho que cada um pode, de alguma maneira, contribuir pra evolução pessoal”. Ele conclui dizendo: “Quando a gente tem essa visão de que ouvir é fundamental pra o processo de aprendizagem, a troca é fundamental. Se a gente não tiver essa visão de que cada um tem como contribuir para o grupo todo, aí a gente não obterá nenhum sucesso”.

Raymundo também é da opinião de que compartilhar conhecimento é um importante meio de aprendizagem, mesmo acreditando que a iniciativa deve partir de cada um:

Aprender é uma decisão sua, mas compartilhar é importante porque se eu somar o conhecimento de todo mundo eu vou ter mais conhecimento do que eu sozinho. O

relacionamento tem essa importância, você junta as experiências de todos, o somatório disso realmente é maior do que a sua.

Em outro ponto da entrevista Raymundo mostra a importância que essa troca teve para a sua aprendizagem: “Eu fazia parte de um treinamento e aprendia com a experiência dessas pessoas, com a experiência do grupo”.

No que se refere à troca de experiências, alguns gerentes apontaram que, em diferentes momentos de suas carreiras, outras pessoas contribuíram para a aprendizagem, dando conselhos, como é o caso de Jorge Marques que, ao falar de um importante gerente que teve no início de sua carreira, afirma que “sua maior contribuição foi a de ter acreditado na minha capacidade e ter me dado alguns conselhos que utilizo até hoje”. Myrna também teve essa experiência e acredita ser muito válida, tanto que, mesmo nas vezes em que as pessoas não lhe dizem nada, ela vai atrás de ouvir a opinião das pessoas: “tem uma pessoa que trabalhou comigo e que, de vez em quando, me dá também uns puxões de orelha ou alguns elogios. Eu ouço muito, porque são pessoas que querem o meu bem. Eu sei que gostam de mim e estão querendo que eu cresça, então eu ouço muito e peço [opiniões]”.

Synthia Loreto enfatiza em sua entrevista a importância das dicas que recebia de sua chefia e diz que o relacionamento com outras pessoas foi importante para sua formação e que aprendeu muito com seus superiores hierárquicos, Synthia afirma, ainda, que não encontrou dificuldades para estabelecer esses relacionamentos:

A maior parte do que você tem de conhecimento é o que as pessoas têm para lhe ensinar [...] A minha chefia sempre estava muito aberta a me ensinar: ‘olhe Synthia, faça assim. Preste atenção, para você crescer na Caixa você tem de tomar esse tipo de atitude’. Os relacionamentos na Caixa são muito fáceis.

Em meio às entrevistas e aos comentários sobre a troca de experiências e da importância que tem para o processo de aprendizagem, um tema que se mostrou recorrente foi o feedback. Vários foram os gerentes que demonstraram ter sido esta uma ferramenta importante por possibilitar-lhes conhecer um pouco da opinião e da perspectiva dos outros. Segundo esses gerentes, eles aprenderam por compartilhar opiniões por intermédio do uso de

técnicas de feedback. Denílson Valença, por exemplo, falou que “a forma de você redirecionar, de você corrigir falhas, de você aprimorar habilidades e desenvolver técnicas é através de feedback mesmo”. Fazendo uma relação disso com a sua atuação e seu desempenho como gerente, ele completou: “Eu diria a você que conduzir processos, na verdade, é conduzir pessoas. Os processos estão nas mãos das pessoas. Se eu não tiver a visão das pessoas em relação a como está sendo conduzido eu vou errar muito mais”. Com uma opinião muito parecida, Sandro acredita que as trocas permitidas pelo feedback são muito importantes, inclusive, para compensar possíveis falhas de interpretação de questões diversas. Em sua entrevista ele afirma que “feedback é fundamental no crescimento de qualquer pessoa e de qualquer profissional [...] O feedback é muito valioso, porque às vezes, o dia-a-dia lhe consome de uma forma que você não consegue enxergar os pontos que aquelas pessoas que estão de fora vêem”.

Ao falar do papel que o feedback desempenhou em sua carreira, Marcus lembra da importância de haver sinceridade e transparência em qualquer conversa que vise ao crescimento do outro:

É fundamental [...] O bate papo, a conversa aberta, a conversa sincera. Você chama o colega e fala com o coração, sem perder o norte da razão, sem desrespeitá-lo, sem atingi-lo pessoalmente. Sempre com o foco no crescimento das pessoas. Foram muito importantes todos esses retornos que eu recebi [...] você tenta colocar sempre o que você pode agregar para o seu melhoramento como pessoa, como profissional.

Alberto, por sua vez, comenta que essa ferramenta esteve presente várias vezes ao longo de sua carreira, mas ressalta que no início dela foi de uma relevância especial, uma vez que o fez rever alguns de seus comportamentos. “Ao longo de minha carreira sempre recebi muito feedback. Até porque no início de minha carreira eu era muito mais operacional e era muito rigoroso e às vezes eu extrapolava um pouco, era muito perfeccionista, muito detalhista e eu precisei de muito feedback e aos poucos eu fui aprendendo. Foi muito importante ter recebido das pessoas a orientação adequada”.

1.14.2 Fornecer aos gerentes modelos e referenciais a serem