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3- A SAÚDE MENTAL E A COMUNIDADE LOCAL

3.2 CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS II)

3.2.1 Caracterização da População Pesquisada no CAPS II

Para caracterizar a população pesquisada utilizo os dados obtidos na pesquisa de mestrado de 2013 e por isso aparece nas citações o termo paciente e não o de usuário como no restante desta pesquisa. Considero o termo usuário mais adequado posto que associado aos direitos das pessoas.

Nos vinte e um (21) pacientes entrevistados em relação ao gênero, os dados obtidos mostram que dezessete deles com transtorno mental (81%) são do gênero masculino e quatro (19%) são do gênero feminino. Dados comparativamente proporcionais aos encontrados por Durão (2004) em sua pesquisa com onze (11) entrevistados: oito (73%) são do gênero masculino e três (27%) são do gênero feminino. Na mesma pesquisa, a autora destaca que a esquizofrenia nas mulheres está associada a um melhor prognóstico: doses menores de medicação, menos hospitalizações, menos recaídas e melhor funcionamento social.

Em relação à idade dos pacientes foram observados os seguintes dados

Tabela 1 - Classificação dos pacientes em relação à idade no CAPS II, Ijuí/RS - 2013

Idade Paciente Percentual

20 a 30 anos Um paciente 5%

30 a 40 anos Quatro pacientes 19%

40 a 50 anos Oito pacientes 38%

50 a 60 anos Sete pacientes 33%

> 60 anos Um paciente 5%

Total 21 pacientes 100%

Fonte; Amaral (2013)

Kaplan & Sadock (2016) enfatizam que o início da “doença” antes dos 10 anos ou após os 50 anos é extremamente raro. Cerca de 90% dos “pacientes” com esquizofrenia têm

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entre 15 e 55 anos. Considerando-se a entrada na 3ª idade aos 60 anos, de acordo com o Plano Nacional do Idoso (PNI), encontra-se na atual pesquisa que apenas 5% da amostra pode ser considerada no período de menor inserção no mercado de trabalho.

Os dados acima nos permitem verificar que 95% de nossa população estudada estão em condições de se sentirem produtivas nos critérios de trabalho, em nossa sociedade. Na produção criativa, portanto associada a uma melhor qualidade de vida, deve-se incluir toda a nossa população, inclusive as pessoas com mais de 60 anos de idade.

Com relação à escolaridade dos pacientes, foram encontrados os seguintes resultados:

Tabela 2 - Classificação dos pacientes em relação à escolaridade no CAPS II, Ijuí/RS- 2013

Grau Usuário Percentual

1º Grau incompleto Dezesseis pacientes 76%

1º Grau completo Dois pacientes 9%

2º Grau incompleto Dois pacientes 10%

2º Grau completo Um paciente 5%

Total 21 pacientes 100%

Fonte; Amaral (2013)

Pelo início precoce da “doença”, geralmente na adolescência, questiono como a baixa escolaridade pode estar relacionada a este fato e agravar as repercussões na capacidade cognitiva da pessoa com esquizofrenia. Associo também a um processo de exclusão sócio- familiar do ambiente escolar, relacionado como causa ou como consequência da doença mental. Ambos os fatores podem ser abordados em um processo educativo pelo “grupo operativo-terapêutico”.

Durante um período significativo (três semestres), após as reuniões do “grupo operativo-terapêutico” foram oferecidas aulas de reforço aos usuários, incluindo o próprio “processo de alfabetização” para alguns. Este processo foi interrompido pelas dificuldades burocráticas que envolveram a Secretaria de Saúde e a Secretaria de Educação do município, mas também pela interrupção do apoio ao programa pelo Governo Federal.

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Na tabela relativa ao estado civil dos pacientes, os dados são os seguinte:

Como 85% de nossos pacientes são solteiros ou separados, isso nos permite inferir que existe uma relação direta entre a “doença’ esquizofrenia e um dos seus principais sintomas: o isolamento, o que repercute direta e intensamente na capacidade dessas pessoas terem relacionamentos, especialmente fora da família de origem”. Assim sendo, permite-se pensar a esquizofrenia como uma “doença” vincular, isto é, relacionada à capacidade de formar vínculos (BION, 2004, p. 103).

A tabela a seguir registra a renda declarada dos pacientes:

Tabela 4 - Classificação dos pacientes em relação à renda declarada no CAPS II, Ijuí/RS-2013

Renda Usuário Percentual

Um salário mínimo (aux. Doença) Sete pacientes 33%

Um salário mínimo (pensão) Dois pacientes 9%

Um salário mínimo (aposentado) Seis pacientes 29%

Dois salários mínimos (aposentado) Um paciente 5%

Dois salários mínimos (ocupação) Um paciente 5%

Um salário mínimo (ocupação) Um paciente 5%

Sem renda Três pacientes 14%

Total 21 pacientes 100%

Fonte; Amaral (2013)

Tabela 3-Classificação dos pacientes em relação ao estado civil no CAPS II, Ijuí/RS-2013

Estado Civil Usuário Percentual

Solteiro Quinze pacientes 71%

Separado Três pacientes 14%

Casado Dois pacientes 10%

Viúvo Um paciente 5%

Total 21 pacientes 100%

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Com relação à renda dos pacientes, os dados permitem questionar por que a grande ou absoluta maioria dos usuários está fora do mercado formal de trabalho. Questiono o quanto para estas pessoas as fontes de renda: auxílio doença, pensão, aposentadoria tornam-se um importante limitante ao trabalho pelo medo de perder o benefício. Além disso, esta limitação associa-se á baixa escolaridade e ao limitado preparo profissional.

Não pode ser desconsiderado que há uma efetiva discriminação no mercado de trabalho às pessoas com “doenças mentais”, fazendo com que estas busquem essas rendas- benefício, inclusive por processos de interdição judicial, para assim auxiliarem no seu sustento mínimo ou ser complemento indispensável na renda familiar e para alívio financeiro da mesma.

A tabela seguinte registra o tempo de participação dos pacientes no grupo

Tabela 5 - Tempo de participação dos pacientes no grupo no CAPS II, Ijuí/RS- 2013

Tempo de grupo Usuário Percentual

0 - 2 anos Seis pacientes 28,57%

2 - 4 anos Oito pacientes 38,10%

4 - 6 anos Dois pacientes 9,52%

6 - 8 anos Dois pacientes 9,52%

8 - 10 anos Três pacientes 14,29%

Total 21 pacientes 100%

Fonte; Amaral (2013)

Verificou-se que 71,43% da população entrevistada estão nos grupos em um período igual ou superior a dois (2) anos. Questiono o quanto estas pessoas possam ter este local como um referencial importante em suas vidas. E esta regularidade aos grupos é por si um fator educativo na construção e manutenção de seus vínculos.

As pessoas com este tipo de sofrimento mental crônico (esquizofrenia) antes de participarem das atividades junto ao CAPS II, especialmente junto aos grupos, viviam em um intenso isolamento em seu meio familiar. Portanto, tal modificação se constitui por si só em um intenso processo educativo na construção e/ou manutenção de vínculos sociais.

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