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o cAmPo De PesQUisA: As escolAs investiGADAs

2.1 caracterização das escolas

Para os fins deste livro, as escolas serão nomeadas de agora em dian- te como Escola 1 e Escola 2. Mesmo utilizando essa referência, ressalta- se que, em seus respectivos nomes, essas escolas são denominadas por “colégios”, devido à origem privada e confessional de ambas7.

Foram selecionadas duas escolas privadas confessionais com tradi- ção na área educacional na cidade de Belo Horizonte, ambas apresentam estruturas físicas de grande porte e atendem a um segmento social privi- legiado econômica e socialmente.

As duas escolas privadas confessionais estão localizadas na região centro-sul da cidade, assim denominada pela Prefeitura de Belo Hori- zonte por ser considerada área nobre, apesar da presença de grandes aglomerados. Encontramos nessa região pessoas de classe média e alta, portanto essas escolas concentram alunos dessas respectivas camadas sociais, salvo quando não são alunos denominados como “bolsistas” sociais. O perfil profissional dos pais dos alunos dessas escolas é bem variado – profissionais liberais, funcionários públicos (de médio e alto escalão), empresários e funcionários de instituições de pequeno, médio e grande porte, funcionários de indústrias, atletas, etc.

No caso da Escola 2, além dos estudantes com bolsas de estudos, como resultado da aplicação da legislação que rege o setor (Lei nº

7 Senra (2007, p. 3), ao tratar da diferenciação entre escola e colégio, cita Moura (2000, p. 28) ao

afirmar que, para os jesuítas, a escola limita-se ao aprendizado de habilidades básicas: ler, escrever e contar. Por outro lado, o título de colégio foi, desde cedo, reservado para designar uma instituição devidamente fundada do ponto de vista monetário e dotada de uma abrangência mais vasta do ponto de vista educacional.

12.101/09, conhecida como Lei da Filantropia), existem, ainda, alunos caracterizados como bolsistas provenientes do “Programa Bom Aluno”, ligado ao Instituto Bom Aluno do Brasil (IBAB). A parceria é estabelecida entre a escola e o IBAB, que tem por objetivo apoiar e ajudar jovens de baixa renda e identificá-los como bons alunos (bom desempenho escolar e comprometidos com o futuro) para seguirem seu processo de escolari- zação em instituições educacionais, conveniadas ao programa, nas quais não teriam condições financeiras de frequentar. O programa oferece ca- pacitação educacional e técnico-profissional aos estudantes selecionados na 5ª série da rede pública de ensino; uma vez admitidos, os estudantes do 6º e 7º ano participam de atividades no contraturno de formação complementar como: cursos de inglês, matemática e português, hábito de estudos, desenvolvimento pessoal, entre outros.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, as escolas são classificadas em duas categorias: privada e públi- ca, sendo que, na categoria privada, as escolas apresentam-se como parti- culares, comunitárias, confessionais e filantrópicas. Conforme os critérios da legislação do ensino, a escola católica é classificada em duas modalida- des: privada e confessional, sendo, em sua maioria, filantrópica.

O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social. As ins- tituições educacionais confessionais são reconhecidas e identificadas como entidades filantrópicas, oferecendo serviços sem fins lucrativos. O certificado garante a isenção de contribuições previdenciárias patronais, além de outros benefícios. Os recursos são aplicados em educação e as- sistência social8.

Ao receberem a certificação como entidade filantrópica, cabem-lhes seguir a legislação que rege essas entidades, inclusive com prestação de contas por meio de relatórios anuais ao Conselho Nacional de Assistên- cia Social. Com relação à sua organização, cada escola privada confes- sional é parte integrante de uma Congregação religiosa, como Francisca- nos, Salesianos, Combonianos, Claretianos, Jesuítas, Maristas, etc.

8 Conselho Nacional de Assistência Social (Lei nº 12.101/09) que dispõe sobre a certificação das

entidades beneficentes de assistência social e regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social.

Sendo entidade privada, sua constituição jurídica se faz por meio de uma mantenedora, isto é, instância responsável pela organização fi- nanceira, legal e administrativa. Essas escolas/colégios são mantidas e administradas por suas respectivas mantenedoras.

As duas escolas investigadas se estruturam por meio de suas res- pectivas Províncias, isto é, agrupamentos dentro de uma mesma ordem religiosa instalados em regiões geográficas ou em países. A Escola 19

é mantida por uma congregação religiosa presente em sessenta países que reúne cerca de 1.500 unidades de ensino. Estruturada por meio de

províncias, a escola é parte integrante de uma delas, que tem atuação em

Belo Horizonte e possui, também, uma instituição de ensino superior, um centro de cultura e fé, duas propriedades destinadas a encontros de formação e sensibilização na atenção ao meio ambiente.

A Escola 2 é mantida por uma congregação religiosa presente em 79 países, em cinco continentes, e atende mais de 500.000 crianças e jo- vens. No Brasil, sua estrutura dispõe de quatro unidades administrativas (províncias), sendo cada uma responsável por regiões específicas do País. A Província a qual a Escola 2 pertence atua em dezesseis estados e no Distrito Federal e possui dezessete colégios, 34 unidades sociais, duas instituições de ensino superior, um museu, teatros, uma casa de espetá- culo multifuncional e quatro centros de hospedagem e lazer.

A Escola 1 ocupa uma área de 21.000m2 e sua estrutura física cor-

responde aos seguintes espaços: 44 salas de aula com computadores e ventiladores; uma biblioteca com espaço multiúso, constando compu- tadores, conjuntos de mesa e cadeira; três laboratórios de Biologia, Quí- mica e Física; espaços de lazer, parque e pátios; quatro quadras (uma coberta e três abertas); conta também com cantina, restaurante, espaço de Artes, salas de música, salas de arte, miniauditório, teatro, salas de monitoria e capela.

A construção da Escola 1 data da década de 1940 e ocupa terreno cedido pelo então prefeito de Belo Horizonte Juscelino Kubitschek. O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH) deliberou pela proteção ao conjunto urbano do

9 Informações no site da Escola 1. Para garantir o anonimato da escola pesquisada, o site não será

bairro em que essa escola está localizada. Sendo assim, foi indicada para ser tombada como patrimônio histórico, fato este que se deve à origina- lidade de seu edifício, quando da época de sua construção.

A Escola 2 foi fundada na década de 1950 em um terreno adquirido pela congregação religiosa a que pertence e ocupa uma área de 22.000m2,

com cerca de 36.000m2 construídos para atender da Educação Infantil

até a 2ª série do Ensino Médio e mais um prédio exclusivo para a 3ª série do Ensino Médio com oito salas. Possui, também, estacionamen- to com 300 vagas e plataforma de embarque e desembarque de alunos; sistema de segurança com catracas eletrônicas, circuito interno de TV e uma equipe de segurança interna e externa; centro de produção de TV e vídeo; uma biblioteca com 35 mil títulos; duas piscinas aquecidas (uma semiolímpica e uma infantil); nove quadras poliesportivas, sendo quatro cobertas; quatro laboratórios de Informática; laboratório de Robótica; laboratórios de Física, Biologia e Química; laboratório do pequeno cien- tista; sala de dança; três salas de música, sendo uma da Banda Marcial; sala de videoconferência; dois anfiteatros; dois auditórios; duas cantinas terceirizadas; dois restaurantes para funcionários e alunos, sendo um ex- clusivo para o período integral; uma cozinha experimental; e uma brin- quedoteca10. Ressalta-se que as salas de aula são amplas, todas possuem

ventiladores e equipamento de projeção (data show), sendo que uma delas tem todas as carteiras contendo tablet e outra com lousa digital.

A Escola 2 possui um prédio anexo de quatro andares, no qual fun- cionava a área administrativa da instituição, que foi transferida para outro estado. Atualmente, funcionam nesse espaço uma biblioteca, um museu com obras que retratam o percurso histórico da entidade e um se- tor pastoral dedicado ao trabalho com a juventude. As duas escolas ado- tam o modelo de ciclos de ensino em substituição à antiga organização da escola seriada, esse modelo repensa a relação entre tempo e espaço de aprendizagem com vistas à melhoria na qualidade de ensino.

A Escola 1 conta com três instâncias de conselho que objetivam avaliar e projetar o trabalho fundamentado no cumprimento da sua

10 Informações no site da Escola 2. Para garantir o anonimato da escola pesquisada, o site não será

missão: Conselho de Identidade e Missão, composto por três membros da direção da escola e por três religiosos; Conselho Diretor Ampliado, composto por três coordenadores pedagógicos de segmento e o Dire- tor de Formação Cristã que discutem as políticas internas da escola e a integração entre as áreas; Conselho de Professores, composto por três representantes eleitos de cada segmento (Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio), que refletem sobre questões mais abrangentes do traba- lho acadêmico.

A Escola 1 atende a cerca de 2.450 alunos, do Ensino Infantil ao En- sino Médio, assim distribuídos: O Segmento I corresponde do 1º ano ao 5º ano, com turmas pela manhã e tarde; o Segmento II corresponde do 6º ano ao 9º ano, sendo este último com turma pela manhã e as demais sé- ries à tarde; e o Segmento III corresponde da 1ª série à 3ª série do Ensino Médio, com aulas regulares no período da manhã e outras atividades no período da tarde, como realização de provas, atividades no laboratório, participação em seminários e aulas específicas. A Escola 1 conta com um quadro de 345 funcionários.

A Escola 2 atende a cerca de 2.400 alunos; no período da manhã, funcionam a Educação Infantil do maternal I ao III e 1º e 2º ano, o Ensi- no Fundamental I do 1º ano ao 5º ano e o Ensino Fundamental II do 6º ao 9º ano e, ainda, o Ensino Médio do 1º ao 3º ano; no período da tarde, a Educação Infantil, o Ensino Fundamental I e II, exceto o 9º ano.

O organograma da Escola 1 apresenta a seguinte distribuição de car- gos e funções: Reitor e Diretoria-Geral assumem o trabalho da gestão e colaboram em outras diretorias; Diretoria Acadêmica assume o trabalho com os assessores pedagógicos, coordenadores pedagógicos de segmen- to e de séries; Diretoria de Formação Cristã assume o trabalho que dá a sustentação do carisma e da missão institucional, e Diretoria Admi- nistrativa. Essa escola apresenta uma estrutura específica, pois tem os assessores de área que dão suporte técnico aos coordenadores pedagó- gicos por segmento que, por sua vez, acompanham o trabalho dos coor- denadores pedagógicos de série, isto é, cada série tem um coordenador que medeia os processos pedagógicos, os conteúdos, as atividades, as práticas educativas com os professores.

O organograma da Escola 2 apresenta-se de forma mais simplificada do que a Escola 1, estando os cargos e as funções assim distribuídos: a diretoria assume o trabalho acadêmico de gestão, não há vice-diretor, e sim vice-diretoria administrativa; quatro supervisões pedagógicas, refe- rentes a cada ciclo, que realizam o trabalho mais próximo aos alunos e às famílias; quatro coordenações pedagógicas que trabalham diretamente com os professores no campo da formação: questões curriculares, con- teúdos desenvolvidos, entre outros. Por fim, o assistente pedagógico por série, responsável pela dimensão operacional e suporte aos alunos e aos professores. Ao todo, a Escola 2 conta com um quadro de 306 funcioná- rios distribuídos nos turnos da manhã e da tarde.