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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

CAPÍTULO 4 PLANO DE PESQUISA

4.4 Caracterização das escolas frequentadas pelos participantes

Ambas as escolas estão situadas na periferia da região Sul da cidade de São Paulo, próximas à Represa Billings, no distrito da Cidade Dutra. De modo geral, os participantes residem em locais próximos, o que confere a ambas as escolas a característica de serem “escolas de bairro”, que atendem a população local. Os fatos de essas escolas distarem 1,3 quilômetros uma da outra, de terem processos de fundação muito parecidos, além dos valores da mensalidade serem muito próximos (R$965,00 na Escola A e R$884 na Escola B) nos conferem razoável controle sobre a similaridade de perfil dos alunos que frequentam cada uma delas, sendo essas escolas concorrentes na região.

A Escola A foi fundada em 1982. A fim de suprir a demanda da comunidade local, uma professora da rede pública estadual, que lecionava em diversas escolas na periferia da Zona Sul de São Paulo, passou a receber alunos para aulas de reforço em sua casa. Com o aumento da demanda, em 1986, a professora fundou oficialmente uma escola de Educação Infantil e reforço em uma casa de chão de terra batido com dois cômodos. A escola estava situada em um bairro periférico da Zona Sul de São Paulo, em uma região formada por invasão de propriedades, com difícil acesso e altos índices de violência e pobreza.

Com o passar do tempo, a comunidade passou a pressionar para que houvesse a ampliação dos níveis de ensino, visto que as escolas particulares da região eram muito caras e inacessíveis para a população, e a rede pública começava a dar indícios de degradação. Assim, a escola tinha uma mensalidade muito acessível, já que a comunidade do entorno era

22 A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) define a classe média brasileira como o grupo composto por famílias com renda per capita entre R$ 300 e R$ 1 mil. Atualmente, esse universo representa 54% da população do país.

23 A caracterização das escolas foi feita a partir das informações coletadas por meio de uma entrevista com as diretoras de ambas as escolas, além da coleta de dados feita nas suas secretarias.

muito carente.

Nesse contexto, em 1990, a família fez um investimento para adquirir o terreno vizinho à escola e construir o que seria o prédio do Ensino Fundamental. Com a construção da Ponte Nova (ponte sob o Rio Jurubatuba, que faz o acesso entre os distritos de Interlagos e Cidade Dutra), o acesso e a infraestrutura do bairro foram melhorando, fazendo com que a escola ficasse conhecida nos bairros vizinhos. Contudo, as escolas do entorno tinham muito preconceito, diziam que ela era uma escola de “favelado”.

A família enfrentou muitas dificuldades financeiras para poder investir na ampliação da escola. Seu crescimento ocorreu no início do Plano Real, momento em que a população mais pobre teve um expressivo aumento de poder aquisitivo, ao mesmo tempo em que a qualidade do ensino público foi muito defasada. Com a crescente demanda de alunos e a inauguração do Ensino Médio, a família adquiriu as pequenas casas situadas ao redor da escola, até o ano de 1995, quando contrataram uma equipe de engenheiros e arquitetos para projetar o complexo de edifícios atual, que foi construído aos poucos, até o ano de 2011, quando foi concluído.

O crescimento da escola foi rápido, de modo que passou de 1.200 alunos em 1995 para 2.500, em 2011. Com a crise econômica, que afetou particularmente a classe C, há 4 anos a escola tem perdido alunos, além de contar com uma taxa de inadimplência em torno de 15%. De todo modo, a direção escolar considera que a escola é muito reconhecida na região, tendo procura de alunos de bairros vizinhos.

Nos últimos anos, houve uma mudança na gestão, provocada pelo fato de a segunda geração da família assumir a escola em todas as instâncias, inclusive a pedagógica. Contudo, muitos princípios se mantêm, sobretudo aqueles ligados à pedagogia tradicional, ainda que a implantação de práticas sócio-interativas tenha ocorrido como proposta da nova direção, sobretudo na Educação Infantil. Nesse sentido, a direção crê que a inserção da disciplina Orientação Profissional e Ética (OPE) no Ensino Médio é um ganho para toda a comunidade escolar, pois tem impactado as perspectivas que os alunos têm para o futuro. Sobre isso, a diretora revelou que antes os alunos não tinham perspectiva, arrumavam um emprego qualquer e que esse era um ponto muito negativo na formação que a escola proporcionava.

A Escola B também foi fundada no ano de 1986, por duas mulheres da comunidade local, sendo uma administradora com pós-graduação em Educação e a outra assistente social. Localizada em uma pequena casa no mesmo bairro da Escola A, a Escola B funcionava inicialmente como um berçário e logo se tornou uma escola de Educação Infantil que promovia uma formação baseada no princípio do cuidado com os alunos.

Com o passar do tempo, a comunidade escolar começou a solicitar a expansão para os outros níveis de ensino, de forma que a escola foi implantando, conforme a turma mais velha ascendia a um novo ano escolar, o Ensino Fundamental e, por fim, o Ensino Médio.

No início da década de 1990, passou a ocupar o atual edifício, contando com 300 estudantes. Para essa expansão, as fundadoras convidaram dois investidores para comprar o terreno vizinho e estabelecer uma sociedade, sendo que, atualmente, eles ocupam os cargos de diretoria do departamento financeiro e comercial.

Para a diretora, a escola foi se consolidando na comunidade com a proposta de ser menos tradicional, mais democrática e participativa, acreditando ser esse um diferencial entre as escolas na região. Além disso, apostou na criação de condições para receber alunos com necessidades especiais, recebendo diversos estudantes com diferentes condições de deficiência física e intelectual.

A Escola B é associada à UNESCO, de modo que precisa apresentar ações de mudança efetiva na comunidade onde está inserida, todos os anos. Por essa razão, há diversos projetos feitos em parceria com a comunidade, como, por exemplo, o mapeamento dos percursos dos estudantes até a escola, no intuito de promover caronas entre os estudantes, e a implantação de um biodigestor em um asilo próximo, a fim de que os idosos pudessem gerir a produção e o consumo de energia do asilo.

A parceria com a comunidade é considerada pela diretora uma marca da escola, que chega a trocar serviços prestados pelos pais dos alunos, – como a troca de janelas e portas, manutenção das cadeiras e serviços de pintura e conservação – pela mensalidade de seus filhos. Atendendo a um público que se enquadra na classe média, a taxa de inadimplência é muito alta, chegando, em determinadas épocas do ano, a 60%.

Atualmente a escola conta com aproximadamente 1.200 alunos e está construindo sua abordagem pedagógica, verificando tendências e demandas, embora suas práticas estejam voltadas para o ensino das competências e habilidades exigidas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), com adoção do sistema de ensino UNO.