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DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS MODELOS ORGANIZADORES DO PENSAMENTO SOBRE OS PROJETOS DE VIDA

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS MODELOS ORGANIZADORES DO PENSAMENTO SOBRE OS PROJETOS DE VIDA

Neste capítulo, nos dedicaremos a descrever e analisar os Modelos Organizadores do Pensamento dos participantes dessa pesquisa sobre seus projetos de vida. Mas, antes de iniciarmos, faremos algumas observações relativas aos procedimentos de análise e sistematização dos resultados.

A primeira delas é relativa ao procedimento de extração dos modelos. Ao optarmos pela análise multidimensional (ARANTES, 2013), em que as respostas das questões são analisadas conjuntamente, visando a não fragmentação do modelo organizador, nos deparamos com um grande desafio, relativo à extensão do instrumento de pesquisa. Composto por 20 questões dissertativas, necessárias para que pudéssemos apreender as regularidades e as singularidades do pensamento de cada participante, era de se esperar que uma grande quantidade de elementos fosse abstraída por cada um deles. Contudo, se considerarmos que nosso intuito é investigar modos de organização do pensamento que são regulares em nossa população, não poderíamos levar todos eles em consideração. Por essa razão, optamos, em um primeiro momento, por destacar os elementos que consideramos centrais para a dinâmica de cada participante.

A centralidade dos elementos foi avaliada de acordo com os seguintes critérios:

a) Os elementos centrais são aqueles que são abstraídos em mais de uma dimensão do instrumento de pesquisa, a citar: a vida cotidiana, o projeto de vida, a felicidade e a ética. Esse critério nos permitiu verificar a importância concedida aos elementos, considerando que, quanto mais mobilizados para organizar respostas às perguntas de diferentes dimensões, maior sua centralidade no pensamento;

b) Aos elementos centrais são atribuídos significados afetivos e cognitivos, razão essa que os torna importantes na dinâmica do pensamento, por conferirem sentido aos elementos. Sobre isso, devemos destacar que há dinâmicas cujos elementos centrais são abstraídos com significação enfraquecida ou ausente, sendo esse um traço que acompanha toda a organização do pensamento. Nesses casos, a centralidade dos elementos é considerada apenas por meio do critério anterior.

c) Os elementos centrais estabelecem relações/implicações entre si. O estabelecimento de relações/implicações torna os elementos mais estáveis dentro da dinâmica do pensamento, sendo esse um importante critério de centralidade. Uma vez mais, há modelos em que não são estabelecidas relações/implicações entre os elementos e seus significados. Nesses casos, foram usados os critérios anteriores.

Em um segundo momento, analisando os elementos centrais, seus significados e suas relações/implicações, pudemos identificar as regularidades presentes no pensamento dos 103 participantes que compõem a nossa população, e assim, sistematizá-las nos modelos organizadores do pensamento.

Em consequência do procedimento de extração dos modelos, que se detém nas regularidades compartilhadas entre os participantes, alguns elementos, significados e relações não foram explorados na descrição dos modelos, posto que são particulares de alguns sujeitos e expressam a idiossincrasia do pensamento.

Nossa terceira observação se refere ao procedimento de sistematização dos resultados. Para dinamizar a análise, apresentaremos, para cada modelo, uma tabela com sua descrição sumária. Nessa tabela, constam os elementos centrais de cada modelo, seus significados afetivos, seus significados cognitivos e as relações/implicações que estabelecem entre si. Tal tabela deve ser interpretada levando em consideração dois aspectos:

1. É consenso entre diversos estudiosos da Psicologia (PIAGET, 1962; MORENO; SASTRE, 1999; ARANTES, 2013; DAMÁSIO, 2018) que o afeto e a cognição são dimensões indissociáveis na mente humana. E, apesar de situarmos nossa investigação nesse paradigma científico, para lograr um maior refinamento em nossa análise, optamos por separar os significados afetivos dos significados cognitivos. Com isso, almejamos compreender o que os sentimentos (significados afetivos) aportam à organização dos modelos. Com o intuito de minimizar os efeitos desse seccionamento, apresentamos os significados afetivos e cognitivos de cada elemento, e não os sentimentos abstraídos na dinâmica como um todo, como fizemos em pesquisa anterior (DANZA, 2014).

2. Ainda que os elementos centrais dispostos nessas tabelas sejam unânimes entre os participantes, os significados ali presentes nem sempre o são. Isso ocorre devido ao fato de que o processo de significação dos elementos é muito diverso, e, por essa

razão, consideramos importante evidenciar aqueles que são mais mencionados pelos participantes.

3. A última coluna da tabela apresenta as relações e/ou implicações dos modelos. Para tornar esse aspecto mais didático, acrescentamos, além da descrição sobre como se estabelecem tais relações e/ou implicações, colchetes que têm a finalidade de explicitar a relação entre diferentes elementos e seus significados.

Nossa última observação se refere ao fato de explorarmos, na descrição de cada modelo, as questões referentes às mudanças que os jovens gostariam que ocorressem no mundo, que compõem a dimensão ética de nosso instrumento. Aqui cabe-nos uma ressalva: todos os modelos, com exceção do Modelo 5, não abstraem esse conteúdo com centralidade. Pelo contrário, esse conteúdo comparece de modo totalmente isolado na dinâmica. Contudo, considerando nosso destacado interesse pelos componentes morais dos projetos de vida, optamos por apresentá-los para que, no capítulo dedicado às considerações finais, façamos as devidas observações a respeito do que esse isolamento significa na dinâmica do pensamento dos nossos participantes.

Tendo feito essas observações, fundamentais para a compreensão de nossos resultados, passamos para a descrição e análise dos seis modelos organizadores do pensamento encontrados em nossa população.

5.1 Modelo 1 – Projeções Normativas

O modelo 1 é uma forma de organização do pensamento que, segundo nosso referencial teórico, não pode ser considerada um projeto de vida25, por não apresentar sua principal característica, que é organizar a vida do sujeito, mobilizando-o para ações concretas, estruturadas por meio de um planejamento que envolva o presente e o futuro.

Por essa razão, ele é um tipo de organização que denominamos projeção, que são representações mentais que o sujeito cria para seu futuro, pautando-se em desejos que não se conectam, pela via do planejamento, nem com o presente, nem com o futuro.

Para qualificar o tipo de projeção observada nessa organização, atribuímos-lhe o adjetivo normativa, com o intuito de conceder visibilidade para o fato de que, pela maneira

25 Para que um modelo de organização do pensamento seja considerado um projeto de vida ele deverá atender aos critérios propostos por Damon (2009) e Bundick (2009), mencionados no capítulo 1.

como os participantes as descrevem, tais projeções parecem atender a uma normatização do futuro, como se fossem aquilo que toda pessoa deve realizar. Nesse sentido, sua falta de complexidade e elaboração parece derivar do fato de que elas não foram construídas como fruto de suas reflexões pessoais, já que esses jovens quase não atribuíram significados a essas projeções.

Tais observações são corroboradas pela análise feita a partir da Teoria dos Modelos Organizadores do Pensamento, por meio da qual analisamos os elementos mencionados pelos participantes, seus significados afetivos e cognitivos e suas relações/implicações. A seguir apresentamos um quadro com uma descrição sumária desse modelo.

Tabela 5.1 – Descrição sumária do Modelo 1 – Projeções Normativas.

Os participantes que aplicaram o Modelo 1, abstraíram de 2 a 4 elementos centrais para organizar seu pensamento ao responder as questões de nosso protocolo. Nossa análise nos permitiu considerar que os elementos centrais desse modelo são a família, o estudo e o trabalho – esse último não foi abstraído por um único participante. Entre os elementos não