• Nenhum resultado encontrado

1 Deficiência e estigmatização

1.2 Caracterização do estigma

No item 1.1 foi visto que no final do século XIX e início do século XX, surge uma corrente de estudos conhecida como eugenia e paralelamente se desenvolve a teoria do desvio cuja finalidade seria categorizar os indivíduos que fugiam aos padrões sociais de normalidade no contexto do binômio normal-patológico. Durkheim (2007) foi um dos primeiros pensadores sociais que propõe o estudo do desvio do ponto de vista sociológico. Vagabundos, prostitutas, criminosos etc. poderiam ser enquadrados neste caso. (MISKOLCI, 2005).

Segundo Miskolci (2005) os estudos sobre o desvio tiveram continuidade e foram aprofundados a partir da Escola de Chicago, desde a década de 1920, principalmente com a análise sobre o crime na sociedade. Na década de 1950, os estudos sobre desvio envolvendo a criminalidade perderam espaço e predominaram, na Escola de Chicago, estudos sobre profissões e outras formas de interação. Para

Miskolci (2005), ―É neste contexto que surgem pesquisas tão originais com relação a diversas formas de desvio social que alguns passariam a unificá-las como constituindo uma nova tradição, a Segunda Escola de Chicago.‖ (Idem: 17). Dentro dessa perspectiva, duas obras marcaram os estudos a respeito de normalidade e desvio: Asylums publicada em 1961 por Erving Goffman e Outsiders publicada em 1963 por Howard Becker, os dois teóricos mais conhecidos dessa linha de estudos, (MISKOLCI, 2005).

A partir da consideração de que o desvio é criado e definido socialmente, os estudos interacionistas privilegiam a análise de ―como‖ esses rótulos foram criados e quais as suas consequências individuais (LIMA, 2001). Howard Becker foi o principal autor que se preocupou com a questão dos rótulos sociais, desenvolvendo a teoria das rotulações, ou teoria da etiquetação Labeling Theory na qual estuda a questão dos desvios. Mais precisamente Becker (2008), entende ―[...] desvio como o produto de uma transação que tem lugar entre algum grupo social e alguém que é visto por esse grupo como infrator de uma regra.‖ (Idem: 25). Especifica que seu interesse recai menos ―[...] características pessoas e sociais dos desviantes do que pelo processo através do qual estes são considerados ‗outsiders‘4 e suas reações a esse

julgamento.‖ (Idem: 25). Conforme o autor, ―Desvio não é uma qualidade que reside no próprio comportamento, mas na interação entre as pessoas que cometem um ato e aqueles que reagem a eles.‖ (Idem: 27).

Com relação à questão da deficiência, a proposta de análise de Becker aponta para o fato de que o binômio desvio-normalidade está expresso no próprio corpo do individuo com deficiência. Segundo Amaral (1998), seja por ―[...] falta ou excesso de alguma coisa.‖ (Idem: 12)

Assim o desvio se faz presente no tocante à deficiência diante da anormalidade que o corpo deficiente representa conforme os padrões estabelecidos, como indica Amaral (1998), ―[...] o fato é que (seja da ótica de quem vive, seja da ótica de quem vê) a deficiência, do ponto de vista psicológico, jamais passa em brancas nuvens. Muito pelo contrário: ameaça, desorganiza, mobiliza. Representa aquilo que foge ao esperado, ao simétrico, ao belo, ao eficiente, ao perfeito... e,

4 Becker (2008) utiliza o termo ―[...] ‗outsiders‘ para designar aquelas pessoas que são consideradas desviantes por outras situando-se por isso fora do círculo dos membros ‗normais‘ do grupo. Mas o termo contém um segundo significado, cuja análise leva a um outro importante conjunto de problemas sociais: ‗outsiders‘, do ponto de vista da pessoa rotulada de desviante, podem ser aquelas que fazem as regras de cuja violação ela foi considerada culpada.‖ (p. 27).

assim como quase tudo que se refere à diferença, provoca a hegemonia do emocional sobre o racional.‖ (Idem: p. 60), abrindo campo para o preconceito.

Na mesma linha de compressão, a deficiência pode ser entendida como desvio a partir do discurso empresarial, também presente na fala das representantes s dos programas responsáveis pela inserção das pessoas com deficiência no Sistema FIEP, quando reforçam a ideia corrente da necessidade de qualificação das pessoas com deficiência o que as coloca na condição de desqualificadas para o exercício de certas práticas de trabalho. Portanto, seriam desviantes conforme a norma definida para qualificação e inserção nas empresas, tendo em vista às exigências de produtividade. Isto está incurso naquilo que coloca Goffman (2008): ―A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias. Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontrados.‖ (Idem: 11).

A questão do desvio e da rotulação, também se aplicaria às situações em que pessoas com deficiência e tendo sentimentos de não aceitação na sociedade se envolveriam com o consumo frequente de bebidas alcoólica ou de outros tipos de drogas.

Miskolci (2005) entende que Becker (2008) e Goffman (2008) propõem em vez de estudos sobre desvio, estudos das diferenças que abrangem a compreensão da diversidade social e cultural. Estudos dessa natureza emergem após a Segunda Guerra Mundial, quando o paradigma biológico entrava em declínio, na esteira dos questionamentos desenvolvidos pelos movimentos sociais e das críticas às atrocidades cometidas durante o conflito mundial. Miskolci (2005) complementa: ―Surgia, assim, um impulso para o desenvolvimento de um novo paradigma de compreensão da diversidade social em seus aspectos étnico-raciais, culturais e até mesmo da sexualidade.‖ (Idem: 29).

Na composição por uma sociologia das diferenças, os estudos voltados para a explicação do estigma nas relações sociais ganharam notoriedade e dentre estes, as principais obras foram ―Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada‖, publicada em 1963 por Erving Goffman e ―Estabelecidos e Outsiders”, publicada em 1965 por Norbert Elias e John L. Scotson.

Goffman (2008) propõe uma saída do foco do estudo do desvio para uma abordagem centrada no estudo dos ―[...] normais e as regras de normalidade

socialmente prescritas. Além de provar que o desvio na verdade se tratava de diferença com relação às normas sociais, ele [Goffman] definiu a identidade daquele que era considerado absolutamente normal.‖ (Idem: 30).

Para Goffman (2008), o sujeito absolutamente normal, que não tinha nada do que se envergonhar, nos Estados Unidos e no momento histórico que estava estudando, se caracterizava por ser: ―[...] um homem jovem, casado, pai de família, branco, urbano, do Norte, heterossexual, protestante, de educação universitária, bem empregado, de bom aspecto, bom peso, boa altura e com um sucesso recente nos esportes.‖ (Idem: 139). Segundo Miskolci (2005) ―Qualquer desvio desse modelo resultaria em diferenças que seriam socialmente avaliadas como desvios.‖ (Idem: 30).

Elias e Scotson, por sua vez, ao estudarem as relações existentes entre dois grupos em uma determinada localidade, em que um desses grupos se sentia superior em relação ao outro, demonstraram como as ―[...] diferenças são construções sociais que resultam de uma repartição desigual do poder.‖ (MISKOLCI, 2005, p. 31).

A partir do exposto compreende-se que a marca que destaca e diferencia um indivíduo ou um grupo de pessoas, considerada dentro de uma tradição sociológica é compreendida como um processo que por ser social irá depender dos contextos históricos e culturais em que os indivíduos estão inseridos. Neste sentido, e seguindo a tradição de Goffman, entende-se que o estigma não é uma expressão do indivíduo ou de suas atitudes, mas nasce em razão de uma experiência vivida ou sofrida e de uma carreira moral, nos compromissos sentidos em um mundo local, no qual a vida diária se desenvolve, tal como um local de trabalho, um bairro, onde algo está em jogo, a se ganhar ou perder como: status, dinheiro, chances na vida, saúde, trabalho, reconhecimento ou um relacionamento. Como entendem Yang et al.(2007), é a experiência moral que se refere ao registro da vida cotidiana e o envolvimento prático que define aquilo que terá mais importância para os homens e para as mulheres.

Goffman (2008) expõe que com o advento da Era Cristã, foram acrescentados dois níveis de metáforas ao termo estigma: ―[...] o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina e tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão média a essa menção religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbio físico. Atualmente o termo é amplamente [e continua a ser] usado de

maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal.‖ (Idem: 11).

Goffman (2008), quando trata do controle da informação e identidade pessoal, faz referência às formas de identificação dos escravos norte-americanos, descritas na obra American Notes de Dickens. Dentre os signos de identificação desses indivíduos, ―em primeiro lugar há características relativamente estáveis do corpo que, no contexto podem, consequentemente, fornecer uma identificação positiva parcial ou completa: idade, sexo e cicatrizes (resultantes de ferimentos a bala ou a faca, de acidentes de açoite). Também se dá o nome reconhecido pelo escravo, embora geralmente, é claro, só o primeiro nome. Por fim, são frequentemente citados símbolos de estigma notadamente as iniciativas gravas a fogo e a falta de orelhas. Esses símbolos comunicam a identidade social do escravo mas, ao contrário dos grilhões de ferro em torno do pescoço ou da perna, comunicam, também, algo mais que isso, ou seja, a posse por um senhor em especial. As autoridade têm então, duas preocupações em relação a um negro aprendido: saber se ele era ou não um escravo fugido e, se o fosse, saber a quem pertencia.‖ (Idem: 56).

Na visão de Crocker, Major e Steele (1998), no século XX o ―estigma‖ foi apresentando por Goffman para se referir a um atributo de uma pessoa que está profundamente desacreditada ou reduzida, quando coloca que em nossas mentes ―[...] deixamos de considerá-lo [a pessoa] como criatura comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída.‖ (GOFFMAN, 2008, p.12). Segundo Goffman (2008), ―[...] tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande – algumas vezes ele também é considerado um defeito, uma fraqueza, uma desvantagem – e constitui uma discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade social real.‖ (Idem: 12). A identidade social virtual para Goffman (2008), diz respeito àquelas exigências que fazemos em relação a uma determinada pessoa, mais adequadamente denominadas de demandas efetivamente realizadas no que concerne a um indivíduo. É o caráter imputado, uma expectativa, ou como ele afirma ―[...] um retrospecto em potencial, uma caracterização ‗efetiva.‖ (Idem: 12). Por outro lado, a identidade social real, diz respeito aos atributos e características reais, à categoria que o indivíduo prova possuir.

É importante esclarecer que para Goffman (2008) o termo estigma se refere a um atributo profundamente depreciativo. Alerta, porém, que um atributo que pode ser depreciativo em um caso poderá confirmar a normalidade em outro caso, não se constituindo em si mesmo nem honroso e nem desonroso. ―Um estigma é, então, na realidade, um tipo especial de relação entre atributo e estereótipo, embora eu proponha a modificação desse conceito, em parte porque há importantes atributos que em quase toda a nossa sociedade levam ao descrédito.‖ (Idem: 13).

Ribas (1986) compreende o estigma como uma pré-noção que estabelece que uma pessoa que traz no corpo uma determinada limitação, ou uma marca que a distingue pejorativamente das demais pessoas, sofrerá a estigmatização. ―Na realidade, é importante perceber que o estigma não está na pessoa ou, neste caso, na deficiência que ela possa apresentar. Em sentido inverso, são os valores culturais estabelecidos que permitem identificar quais pessoas são estigmatizadas.‖ (Idem: 16). A explicação de Ribas (1986) é importante para esclarecer que os estigmas são valores culturais criados pelos grupos sociais e que variam em uma mesma sociedade, de acordo com seu período histórico, e de uma sociedade para outra; a obesidade é um exemplo a ser considerado.

Relacionando estigma e identidade social, Crocker, Major e Steele (1998), entendem que uma pessoa estigmatizada é aquela cuja identidade social, ou participação em alguma categoria social, põe em causa a sua plena humanidade – esta pessoa é desvalorizada, estragada, defeituosa, incompleta aos olhos dos outros e principalmente daqueles que a estigmatizam. Estes autores compreendem a marca que distingue a partir de uma condição situacional, na mesma linha de Goffman (2008), isto é, a estigmatização é considerada como sendo primariamente uma ameaça situacional, a contrariedade de se estar em uma situação onde a marca de uma pessoa pode influenciar a forma como se é tratado e julgado. A não internalização do estereótipo estigmatizante é necessária para esta contrariedade influenciar a experiência da pessoa.

O estigma social é uma função de se ter um atributo que transmite uma depreciação da identidade social em particular. Em outras palavras, a posse de uma determinada característica pode levar a pessoa a ser estigmatizada em um contexto, mas não em outro. O problema do estigma não reside no atributo estigmatizado, ou na pessoa que possui tal característica, mas na circunstância infeliz de possuir uma qualidade que, em um determinado contexto social, leva à desvalorização. Em

função disto, quando os cientistas sociais discutem sobre um determinado sinal, o da deficiência física, por exemplo, localizam-no em um determinado contexto social (Brasil, século XX, ou de 2000 a 2010). Isto poderá não estar explicitamente declarado (CROCKER, MAJOR E STEELE, 1998).

Mclaughlin, Bell e Stringer (2004) esclarecem que em todas as definições explicitas ou implícitas do estigma está presente a ideia de desvio que é percebido, em relação às características de um indivíduo, daquilo que é considerado como norma em um determinado contexto. Nesse sentido o estigma, geralmente, é definido como uma discrenpancia negativa entre os atributos reais ou inferidos de um indivíduo, contrapondo-se às expectativas sociais para o que se considera típico, ou normal para os indivíduos em um dado contexto, quando o indivíduo analisado é percebido como aberrante ou atípico. ―Nós definimos o estigma que está associado com deficiência em termos de percepção dos atributos negativos ou consequências da deficiência (por exemplo, no que diz respeito à saúde, aparência, ou capacidades). Estes atributos percebidos como negativos ou consequências são implicitamente desviantes da norma, ou expectativas de colegas sem deficiência. Embora não possa haver alguma sobreposição de estigma com estereótipo, podemos distinguir entre as duas construções em que os estereótipos podem ser interpretados como favoráveis ou desfavoráveis (por exemplo, trabalhador, preguiçoso), enquanto que o estigma é sempre desfavorável.‖ (MCLAUGHLIN; BELL; STRINGER, 2004, p.304).

Apesar de todos os estigmas sociais conferirem aos seus possuidores uma identidade social desvalorizada, eles variam muito em suas reais especificidades e implicações para a experiência do indivíduo estigmatizado, em seu cotidiano. Em consequência disto, como um dos seus objetivos, os pesquisadores particularmente interessados em estigma, em geral, têm buscado ao invés de uma identidade particular que foi estigmatizada, organizar as marcas sociais em tipos significativos de categorias que busca capturar razoavelmente bem os pontos importantes em que as condições estigmatizantes diferem uma da outra. (Idem).

Sob tal perspectiva, Goffman (2008) propõe uma tipologia de estigma baseada em duas dimensões, ou uma dupla perspectiva: ―Assume o estigmatizado que a sua característica distintiva já é conhecida ou é imediatamente evidente ou então que ela não é nem conhecida pelos presentes e nem imediatamente perceptível por eles? No primeiro caso, está-se lidando com a condição do

desacreditado, no segundo caso com a do desacreditável.‖ (Idem: 14). A primeira situação remete a uma condição em que o atributo depreciativo é visível pelos demais e o indivíduo terá de aprender a lidar com tal situação, no processo de interação com os demais. No segundo caso, apenas a pessoa que possui o atributo depreciativo tem conhecimento disso, portanto ele é invisível aos demais e conduzirá ao controle da informação que poderá se tornar em um problema entre revelar ou não revelar essa característica.

De acordo com Goffman (2008), existem três tipos de estigmas nitidamente diferentes: as abominações do corpo – referem-se às várias deformações físicas;

as culpas de caráter individual – dizem respeito à força de vontade fraca, paixões muito fortes ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, tais como, ―[...] distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualismo, desemprego. Tentativas de suicídio e comportamento político radical‖; e os estigmas tribais de

raça, nação e religião – relacionados àqueles ―[...] que podem ser transmitidos por meio da linhagem e contaminar igualmente todos os membros de uma família.‖ (Idem: 14).

Com relação aos indivíduos que se relacionam com esses tipos de estigma, Goffman (2008) divide-os em três categorias: o estigmatizado – aquele ―[...] que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus.‖ (Idem: 14), é o indivíduo que traz consigo um determinado atributo que poderá desencadear um estigma; os

normais – ―Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em questão [...]. (Idem: 14), seriam aqueles indivíduos que não carregam as marcas ou os atributos que poderiam desencadear um estigma; os

informados – ―[...] que são normais mas cuja situação especial levou a privar intimamente da vida secreta do indivíduo estigmatizado e a simpatizar com ela, e que gozam, ao mesmo tempo, de uma certa aceitação, uma certa pertinência cortes ao clã. [...] são os homens marginais diante dos quais o indivíduo que tem um defeito não precisa se envergonhar nem se autocontrolar, porque sabe que será considerado como uma pessoa comum.‖ (Idem: 37). Dentre os informados podem estar aqueles que trabalham com os que tem um sinal em particular, bem como, aqueles que se relacionam com o indivíduo estigmatizado por força da estrutura social (uma relação de parentesco por exemplo). Tanto em uma, quanto em outra

situação, o informado poderá, ser vítima de estigma por ter relação com os estigmatizados.

No entender de Crocker, Major e Steele (1998), a tipologia apresentada por Goffman (2008) é falha no sentido que algumas condições estigmatizantes poderiam ser incluídas em dois ou mais tipos. Citam, por exemplo, as pessoas que estão acima do peso, consideradas como tendo abominações do corpo e um defeito de caráter individual.

Falk (2001), ao apresentar a sua classificação de tipos de estigma, esclarece que toda sociedade humana estabelece limites entre aqueles que estão nela incluídos e aqueles que por ela estão excluídos marcados por meio dos estigmas ou rótulos. Explica que nos Estados Unidos, atualmente, o uso da palavra ―estigma‖, ou do ―processo de estigma‖ tem uma conotação ou indica um sinal de desaprovação invisível que permite aos integrantes de um determinado grupo desenhar as linhas de fronteira entre si e os que estão fora, com a finalidade de demarcarem os limites da sua inclusão num grupo. Este tipo de demarcação permite aos de dentro do grupo entenderem quem pertence e quem não pertence a ele, e permite que mantenha sua solidariedade, demonstrando o que acontece com aqueles que se desviam das normas de conduta aceitas.

Falk (2001) propõe sua tipologia de estigma baseada em duas categorias: ―existencial‖ – na qual estão incluídos aqueles que não contribuíram, não desenvolveram fatores de causa para o estigma que lhes é imputado e, portanto, ele independe da sua vontade e controle – os homossexuais, os doentes mentais, as pessoas com deficiência mental, as pessoas extremamente obesas, os idosos, as mulheres sozinhas e povos indígenas, se encontrariam nessa situação; também poderiam ser incluídas nesta categoria todas as pessoas com deficiência e as pessoas surdas; ―conquistado (ou adquirido)‖ – são incluídos nessa forma de estigma aquelas pessoas que adquiriram uma marca por sua conduta ou contribuíram muito para atingi-la, denominado de ―alcançar o estigma‖ – as prostitutas, os sem tetos, os viciados de vários tipos e os criminosos são relacionados pelo autor nesta categoria. Além desses, os imigrantes são incluídos nesta categoria em razão do esforço que fazem para entrar nos Estados Unidos, muitas vezes ilegalmente, o que gera certa antipatia dos residentes; a realização profissional de nível elevado, também se enquadra na condição de um sinal conquistado, e que está presente em todos os segmentos da vida americana,

dirigido àqueles que trabalham duro para a autorrealização profissional, o que é surpreendente em uma sociedade que tem o individualismo como valor. Incluí-se, ainda, a marca que muitas vezes se faz presente na comunidade científica, por ocasião de uma nova descoberta, de uma inovação, ou uma nova proposta teórica, que podem levar anos para serem reconhecidas e aceitas.

Crocker, Major e Steele (1998), na sua consideração sobre o estigma, expõem as dimensões que determinam diferentes condições estigmatizantes: ―ocultabilidade‖ - quando uma condição estigmatizante pode ser escondida dos outros; ―curso‖ - a maneira como a condição muda ao longo do tempo e o seu