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Visões do Pessoal de Tutoria (colegas de equipe)

3) O convívio entre pessoas com deficiência, pessoas surdas,

4.1.3 Visões do Pessoal de Tutoria (colegas de equipe)

A visão do pessoal de tutoria tem duplo aspecto. Representa o olhar daqueles que desempenham o papel de tutores junto às pessoas com deficiência ou surdas no processo de inserção interna do Sistema FIEP e representa o olhar de pessoas que estão na condição de colegas de trabalho, pois antes de se constituírem como tutores, desempenham esse papel nas relações que travam diariamente com as pessoas com deficiência ou surdas.

Segundo Mariana, uma das tutoras de implantação do Programa Aprendendo com a Diversidade no Sistema FIEP, uma das prioridades seria facilitar a inserção das pessoas deficientes ou surdas, na rotina de trabalho do Sistema FIEP. As pessoas escolhidas para atuarem nessa função receberam um treinamento para aprender a lidar com as situações advindas do processo de inserção. Nesse treinamento, estava incluído um curso de LIBRAS ministrado por um professor surdo, o que, de início, suscitou certa desconfiança a respeito do aprendizado. Mariana a esse respeito se manifesta: O professor que nos deu aulas era deficiente,

ele era surdo mudo, não falava... de não falar nada. Só em LIBRAS. E eu pensei, nossa! Como a gente vai aprender com ele se a gente não entende nada de LIBRAS e como é que ele vai conseguir passar isso? Se a gente nunca tinha visto LIBRAS na vida e se ele não falava uma palavra? Nossa! Foi a melhor experiência que eu tive! Por que eu vi que era muito fácil... Logo no primeiro dia eu já saí de lá sabendo o nome dele, como que ele ficou surdo, tudo... Não só em LIBRAS, até com sinais... eu vi que não era difícil se comunicar. Quando você não conhece uma coisa você acha que não pode, que não consegue, quando você é leigo no assunto. Você tem um preconceito.56

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1) Deficiência, pessoas com deficiência e pessoas surdas

Nesse depoimento, Mariana mostra, na verdade, uma desconfiança na possibilidade de uma pessoa surda assumir alguma tarefa, além de chamar a atenção sobre os temas utilizados para se referir às pessoas surdas. Na maioria dos casos de surdez, a mudez ocorre por conta da pessoa não ouvir e, dessa forma, não repetir os sons por meio da fala. Mas o aparelho fonador é perfeito, tanto que as pessoas surdas emitem sons e, alguns quando oralizados, falam. Além disso, uma contradição em sua fala fica evidente ao se referir que o surdo-mudo não falava, de não falar nada. Ora, se é mudo, como vai falar? Mariana está expressando o desespero que passou ao ter o ―choque‖ de se deparar com a surdez e tentar se comunicar com ele pela primeira vez.

Outro ponto na fala de Mariana diz respeito à comunicação por sinais. LIBRAS já é uma língua baseada em sinais, está em sua definição, apesar de ter um alfabeto (também sinalizado). Possivelmente, a entrevistada estivesse se referindo aos gestos estudados ou espontâneos, que complementam a comunicação em LIBRAS, a comunicação gestual. Merece destaque, ainda, que o ser humano desconhece suas capacidades, principalmente, quando submetido às situações adversas. Nesses momentos se supera, como aconteceu com essa tutora.

Mariana comenta sobre a inserção de sua tutelada na equipe de trabalho. No início teve receio por se tratar de um grupo de pessoas muito sisudas. Ela comentou: Como será que eu vou inserir uma pessoa dessas naquele lugar? Onde o

pessoal é mais centrado em outras coisas? Lá, inclusive, as salas são todas separadas. Cada um tem uma sala para atender as pessoas. E eu pensei: Não vou conversar com eles. A coordenadora também achou que lá seria o lugar mais difícil por causa do nível das pessoas [...].57

Cabe ao tutor preparar a equipe para a inserção da pessoa com deficiência ou surda que estarão recebendo, servindo de interlocutor entre a equipe, a pessoa em inserção e, a coordenação do programa para desenvolverem os ajustes necessários como mudança de equipe se a pessoa deficiente ou surda não se

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adaptar. O temor demonstrado por Mariana está ligado à aceitação ou não pelos colegas, da pessoa diferente.

O cenário, o local em que a equipe atua descrito pela tutora, ligado à formalidade nas relações decorrente das atividades desenvolvidas pela equipe, em que estão presentes diversas representações e fachadas que fazem parte do processo de interação. Goffman (2009) denomina de representações, ―Toda atividade de um indivíduo que se passa num período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo particular de observadores e que tem sobre estes alguma influência.‖ (Idem: 29). Fachada se refere a todo ―[...] equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou inconscientemente empregado pelo indivíduo durante sua representação.‖ (Idem: 29). A fachada é composta de partes padronizadas, como o cenário que compreende a ―[...] a mobília, a decoração, a disposição física e outros elementos do pano de fundo que vão constituir o cenário e os suportes do palco para o desenrolar da ação humana executada diante, dentro ou acima dele.‖ (Idem: 29). O cenário é estático e precisa sempre estar adequado para garantir a representação pelos atores que dele se utilizam. Em outro momento, indicando o cenário como algo que se refere às partes cênicas do equipamento expressivo, usa o termo fachada pessoal para se referir aos outros itens que compõem o expressivo e que estão mais intimamente ligados, mais próximos ao ator e que são levados aonde este vai. ―Entre as partes da fachada podemos incluir os distintivos de função ou da categoria, vestuário, sexo, idade e características raciais, altura e aparência, atitude, padrões de linguagem, expressões faciais, gestos corporais e coisas semelhantes.‖ (Idem: 31). Numa empresa, em decorrência da profissão (administradores, advogados, analistas de sistemas) e dos níveis de hierarquia, diversas são as fachadas que servem como identificadores dos indivíduos em relação às equipes que pertencem.

Assim na situação em análise, o ambiente formal é composto por um cenário que procura transmitir o clima ―fechado‖, formal, onde as pessoas devem ser tratadas com o designativo relativo ao cargo. O vestuário, de caráter social e, portanto formal, procuram demonstrar o respeito que se deve ter para com aqueles que trabalham naquele setor.

De tal forma, esses aspectos apontados por Goffman (2009) são importantes e criam uma aura de respeito, neste caso em específico, que a tutora questiona-se se ―essa pessoa‖ poderia se enquadrar naquele local. Se os membros daquele

grupo a aceitariam, em razão da sua deficiência. Nota-se, nessa preocupação o temor do preconceito que a outra pessoa poderia sofrer, e que está presente nas relações cotidianas de trabalho.

Comentando sobre o processo de comunicação, considerando que eles estavam se preparando para receber uma pessoa surda, Mariana destaca as dificuldades no aprendizado da nova língua: Na LIBRAS, o que me ajudou bastante

é que tinha uma apostila com os desenhos das mãozinhas indicando os sinais que veio lá do Depto. Nacional. Então, antes de eu ir para aula eu dei uma olhada naquele material. Qualquer coisa assim de sinal que ele [professor] fazia que eu pegava, eu ia lá conferir. É, realmente, é como você estar em um país estranho, com um dicionariozinho na mão, não é?58

O que fica evidente nas palavras de Mariana é que a pessoa com deficiência, ou surda, causa estranheza no local em que se insere. O problema maior fica por conta da comunicação quando envolvem surdos ou surdas ou pessoas com elevado grau de perda auditiva. Em tais situações, as pessoas que tentarem se comunicar com os surdos ou surdas, sem um preparo adequado, enfrentarão muitas dificuldades. Mesmo com aqueles que tenham grau avançado de perda auditiva, e se comuniquem sem a necessidade de LIBRAS, a comunicação também será difícil, exigindo muita paciência por parte do ouvinte. É justamente o segundo caso que Mariana recebeu para sua tutoria, sobre a qual esclarece: [...] ela não é totalmente

surda. Ela começou a falar bem tarde. Então ela falava bem pouco, mas hoje em dia ela desenvolveu muito, nossa! Não digo 100%, mas até esqueço que ela faz parte do pessoal de inclusão. A mãe dela é a grande heroína dessa história. Porque não deixou ser tratada como deficiente mental. Toda vez colocou ela com em escola com pessoas normais, que não tinham deficiência, entendeu? Ela incluiu a menina, ela socializou.59

O olhar em relação ao outro demonstra a forma como consideramos e tratamos aqueles com os quais nos relacionamos. Como diz Ribas (2000), ―Por sermos humanos, temos preconceito (isto é, um conceito ou opinião formado antecipadamente, sem ponderação ou conhecimento dos fatos). É ideia preconcebida. O problema não é ter preconceito, mas aprender a lidar com ele para que não se transforme em julgamento sem levar em conta o fato que o conteste. É

58 Idem. 59 Idem.

preciso evitar que se transforme em prejuízo definitivo contra o outro.‖ (Idem: 91). No seu discurso a tutora demonstra como ela vê as pessoas com deficiência, dos quais procura separar a sua tutelada. Mas e se tivesse contatos diretos e próximos com as demais pessoas deficientes, sua opinião não poderia sofrer alterações?

Em sua fala, evidencia-se o preconceito com relação às escolas especiais e as pessoas com deficiência que frequentam escolas especiais. Passa uma noção de que escolas especiais são direcionadas para pessoas com deficiência intelectual, quando existiam escolas para cegos e para surdos. Atualmente, muitas crianças com deficiência intelectual, as cegas e as surdas estão sendo inseridas no ambiente escolar de qualquer escola com o intuito de desenvolver uma educação inclusiva e não mais segregativa. Apesar de todas as dificuldades e críticas que essa prática tem possibilitado, alguns avanços estão se concretizando. A pessoa citada pela tutora é um exemplo disso. Estudar na escola ―dos normais‖ possibilitou-lhe desenvolver a fala. Caso estivesse estudado em uma escola para pessoas surdas, teria desenvolvido a LIBRAS. Ela domina, hoje, as duas línguas – o português e a LIBRAS.

Mariana, observando o comportamento das pessoas com deficiência e pessoas surdas apresenta sua visão sobre eles. Diz ela: Eu acho o pessoal que tem

Síndrome de Down super alegre, com a autoestima lá em cima. Entretanto, as que têm deficiência auditiva estão assim, sempre em depressão. Tem uma que está sempre reclamando... Elas têm isso. Eu fico pensando, talvez porque elas se sintam discriminadas. Porque elas não têm nenhum problema mental. Elas são como eu, como você e as pessoas não as olham como uma pessoa igual a mim. Entendeu?60

Os estereótipos sobre os diferentes tipos de deficiência se fazem presentes nesse fragmento de discurso. Martins (2002) a esse respeito aponta que o comportamento das crianças com Síndrome de Down (SD) origina um estereótipo que não tem ligação com o real, pois a sua forma de comportamento é única e tem diferenças de personalidade e temperamento como qualquer outro pessoa. No entanto as ideias pré concebidas do comportamento infantil que remetem à doçura, afetividade, calma e alegria pouco se relaciona com as crianças com essa e outras síndromes. As mesmas observações aparecem em Schwartzman et al. (2003) e Rodriguez (2004), que chamam a atenção para o fato das crianças com SD

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apresentar um comportamento semelhante às demais crianças da mesma faixa etária. Com relação ao comportamento das pessoas surdas ou com deficiência auditiva, há de se olhar com cautela, pois existe todo um processo de discriminação social, em muitas situações com origem na própria família. A carga emocional é bastante elevada diante de sentir-se rejeitado desde o núcleo familiar. O desafio da convivência está na dificuldade de tratar as pessoas na sua singularidade e não pela sua deficiência, como pode ocorre com as pessoas com deficiência ou surdas no emprego.

2) O emprego atribuído às pessoas com deficiência e pessoas surdas

Antes do processo de inserção se efetivar no Sistema FIEP, cada equipe e pessoal de tutoria destinados a receber uma pessoa com deficiência ou surda, foram treinados. O pessoal do Programa Aprendendo com a Diversidade explicou para essas equipes e tutores como o programa seria desenvolvido. Entretanto, as resistências e descrédito sempre aparecem nas relações sociais entre os integrantes de uma equipe. É o que revela Mariana: [...] nós tínhamos necessidade dessa

inclusão, até para servir como exemplo para as demais unidades. Dar o chute inicial. Para demonstrar que é possível, apesar das pessoas falarem que não dava, que era difícil, que a pessoa não ia se sentir inserida, se sentiria humilhada. E eles iam se sentir inseguros em dar um trabalho para aquela pessoa executar.61

O preconceito, relativo à capacidade das pessoas com deficiência e das surdas e as visões negativas sobre a deficiência se revela mais uma vez. As pessoas são medidas por comparação e em termos de seu potencial e capacidade, diante das limitações. Essa desconfiança fica mais clara em outro trecho desse depoimento. Relata Mariana: Todos têm preconceito, não adianta falar que não tem

porque seria hipocrisia. Todos têm. Se você tem duas meninas, uma que é deficiente e outra que é normal, você sempre vai confiar na que não tem deficiência.62

O estigma está por trás dessa desconfiança. Aponta Ribas (2000), que o estigma ―[...] é uma marca infame, uma mancha na reputação um desdouro, uma desonra decorrente de uma opinião sem maior ponderação ou conhecimento dos

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Idem.

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fatos. É ainda a etiqueta que aparece primeiro aos nossos olhos e nos faz desconsiderar todos os elementos da identidade pessoal e social.‖ (Idem: 117).

As pessoas com deficiência ou surdas, na visão da tutora Mariana, não tem seu potencial explorado como deveriam ter, em algumas equipes, isto é, [...] não é

feito muita coisa para a pessoa evoluir. Ficam limitados. Se vai fazer aquilo, vai fazer para o resto da vida. Não exploram a capacidade da pessoa, o que pode ser feito como com qualquer um.63

E confessa que, inicialmente, tinha receio de atribuir a sua tutelada, determinadas tarefas para a execução externa. Mas ponderou que as pessoas com deficiência ou surdas se deslocam, muitas vezes, de regiões muito distantes do local de trabalho, portanto, devem viver com autonomia. Assim, estava tendo um excesso de zelo ao não permitir que assumisse certas atividades que, mais tarde, passou a executar com primor.

Mariana, também, destaca que a inserção dessa pessoa na sua equipe serviu para ―quebrar o gelo‖, quando todos aceitaram o desafio. A partir daí a equipe ficou mais unida e passaram a enxergar a pessoa deficiente de forma bem diferente, com admiração e respeito.

Dentre as pessoas com deficiências, as com limitações múltiplas ou limitações de ordem intelectual são as que sofrem maior discriminação. Na maioria das vezes, as que apresentam limitação intelectual são vistas como ―idiotas‖, ―imbecis‖. Outrora, eram chamados de ―retardados‖, ou a sua limitação era confundida com doença mental, considerados como loucos. Tudo concorre para deixá-los à margem do processo de inserção no emprego, provavelmente segregados em uma instituição voltada ao atendimento de crianças ―especiais‖, rótulo que recebem diante dos desafios familiares a serem enfrentados na sua condição de filhos. Em geral o preconceito se manifesta num sentimento de pena quando uma família recebe um filho com limitação intelectual. As diferentes formas dessa limitação podem afetar uma pessoa e muitos não dão crédito às potencialidades individuais e, assim, são estigmatizados. Essa situação remete à questão: em que medida o domínio e execução de tarefas rotineiras seria preciso o uso pleno de capacidades intelectuais e físicas? Teria Henry Ford razão?

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Contudo, isso é não compreender as diferentes formas de limitação intelectual que podem afetar uma pessoa, bem como, não dar crédito às potencialidades desses indivíduos, e assim se passa a estigmatizá-los. A situação apresentada remete a uma questão: para dominar determinadas tarefas rotineiras o indivíduo não precisaria estar no uso pleno de suas condições intelectuais e físicas – Ford teria razão?

3) O convívio na equipe com as pessoas deficientes e com as pessoas surdas

Conta uma das tutoras do programa que nas reuniões de confraternização, além da rotina estabelecida no emprego, é importante inserir as pessoas com deficiência, e as surdas, por meio de caronas ou auxiliando a ida dessas pessoas até o local da reunião, seja conduzindo-as até onde irão pegar o ônibus para suas casas. Comenta que em uma das reuniões, após o supervisor da equipe ter agradecido a todos pelo zelo e dedicação com que fizeram suas tarefas, uma pessoa com deficiência pediu a palavra para expressar seus sentimentos de participar de uma equipe no emprego. Conforme a referida tutora, as suas palavras foram muito comoventes para todos ao declarar: Eu quero agradecer a vocês por me

aceitarem... A coisa mais importante que me aconteceu em todos esses anos, desde que eu nasci, em relação a tudo – minha mãe, minha família que eu amo muito, minhas filhas que agora já estão ficando mocinhas, eles não conseguem me tratar por igual. Eles não conseguem... Por que eu não posso ir sozinha a algum lugar, minha mãe tem que estar junto comigo, com minhas filhas também é assim, pois já vieram com essa ideia da minha família que me trata desse jeito. Puro excesso de zelo, não que eles não me amem... Mas aqui é o lugar que eu me sinto mais igual, eu me sinto igual aqui porque vocês me fizeram isso.64

Na avaliação dessa tutora, a equipe recebeu mais com a presença de uma pessoa com deficiência do que ela teria recebido deles. Passaram a ver o mundo de outra forma, ao verificarem que se pode realizar muito mais coisas, ao enxergar a pessoa e não apenas ―a muda‖, ―a deficiente‖, com todas as suas implicações negativas, atitude protetora da família, dos colegas de equipe e demais membros de outros grupos sociais. No processo de inserção no emprego, esse depoimento

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destaca o papel da tutoria que apoia as pessoas com deficiência, orientando sobre o vocabulário a ser usado, o comportamento dispensado aos demais, à chefia e aos colegas.

Essa experiência permite-lhe analisar a vida por outro prisma, comparando as pessoas com e sem deficiência e, descobrindo que todos, de uma forma ou de outra, tem problemas, em muitos casos, mais sérios do que uma limitação física, sensorial ou intelectual. Comenta Mariana: por exemplo, tem um monte de gente que trabalha

junto comigo e toma remédio controlado [...]. Tem pessoa que é dependente do remédio, se não vai ao médico e fica sem, começa a passar mal, não consegue nem trabalhar.65

Kátia, outra tutora, explica que nunca teve problemas com situações que envolvem diferentes tipos de deficiência ou surdez. Os limites relacionados com as pessoas com deficiência são enfrentados por ela comparando com outras situações, que segundo ela com relação a quem [...] baba, ou usa fralda. Eu acho tão pequeno

isso, essas atitudes, porque essa é uma questão externa, de higiene, de não sei o que. Por que, meu Deus! Um dia a gente vai ficar tudo igual, não é? Todo mundo vai ter odor, é ou não é? Às vezes em vida mesmo acontece isso de sofrer algo e ficar em situação difícil.66

Essas observações sobre o convívio com pessoas com deficiência se complementam demonstrando a visão sobre a deficiência e sobre as pessoas com deficiência.

Conviver com pessoas com limitações físicas, surdez ou limites intelectuais não significa mudar radicalmente de vida, mas implica a aceitação da diferença, respeitando suas peculiaridades compreendendo que cada um, ao seu modo, tem algo a contribuir. Infelizmente, não é sempre assim na vida cotidiana, quando se permitiria às pessoas com deficiência desenvolver todas suas capacidades. No jargão popular, ―sempre se está com um pé atrás‖ esperando o deslize, o erro, a falta, o não cumprimento das metas ou alcance dos objetivos. No primeiro discurso, no de Mariana, surge mais uma faceta de estereótipo relacionado à deficiência. Estereótipo que se expressa tanto pelos deficientes quanto pelos não deficientes: o de que todos apresentam algum tipo de deficiência. Isso é uma forma de minorar, ou

65

Idem.

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tornar a visão sobre o estigma da deficiência mais aceitável, mais próximo dos não deficientes.

A visão de que uma pessoa com limitação física é ―normal‖, é uma visão que tenta justificar e reordenar os próprios valores a respeito da deficiência. De tal forma, que se passa a duvidar, ou pensar sobre a vida, além dos limites impostos pela