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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Luiz Fernando Lara

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Luiz Fernando Lara

Estigma social da deficiência e da surdez no emprego: um estudo

sobre a experiência do Sistema Federação das Indústrias do

Paraná

Sistema FIEP.

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

SÃO PAULO

(2)

Luiz Fernando Lara

Estigma social da deficiência e da surdez no emprego: um estudo

sobre a experiência do Sistema Federação das Indústrias do

Paraná

Sistema FIEP.

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais sob a orientação da Professora Doutora Leila Maria da Silva Blass.

SÃO PAULO

(3)

Ficha Catalográfica Elaborada pelo Setor Tratamento da Informação BICEN/UEPG

Lara, Fernando Luiz

L318e Estigma social da deficiência e da surdez no emprego : um estudo sobre a experiência do Sistema Federação das Indústrias do Paraná – Sistema FIEP / Luiz Fernando Lara. São Paulo, 2012.

202 f.

Tese (Doutorado em Ciências Sociais), Pontífica Universidade Católica de São Paulo.

Orientadora: Profa. Dra. Leila Maria da Silva Blass.

1. Deficiência. 2. Surdez. 3. Inserção no emprego. 4. Estigmas. 5. Desigualdades. I. Blass, Leila Maria da Silva . II. Pontífica

Universidade Católica de São Paulo. Doutorado em Ciências Sociais III. T.

CDD : 305.800.87

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Banca Examinadora

________________________

________________________

________________________

________________________

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Atitude

a mais difícil tratar diferentes sem indiferença

Flávio Machado.1

Alegre

a moça amputou a perna na infância haveria necessidade de tamanha violência para conter o câncer ?

não lembro de vê-la beijada por nenhum de nós não lembro de um sorriso

não lembro do nome da moça

resistia ao envolvimento mais próximo distanciava – se na perplexidade

enquanto escondia a beleza ingênua

existem cotas para contratar pessoas com deficiências

não existem cotas para demonstração de afeto.

Flávio Machado.2

1

Poema publicado em 26 de dezembro de 2011. Disponível em:

http://www.ibdd.org.br/noticias/noticias-informe-90%20dois%20poemas.asp 2

(6)

Consegue compreender com maior profundidade o que é o estigma, e o que é ser estigmatizado, aquele que já o vivenciou e que já sentiu seu

látego a ferir intensa e

profundamente como ferro em brasas, deixando marcas, não na sua carne, mas na sua alma. Tais

marcas são produzidas nas

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DEDICATÓRIA

Dedico esta tese à minha esposa Eliana Lara, companheira, amiga, fortaleza, rocha e pilar de sustentação nos momentos mais difíceis.

Ao meu lado esteve ao longo destes anos, muitas vezes com a cumplicidade de um olhar, ajudando-me a avançar, a me desenvolver, a construir algo que, em alguns momentos, julguei não ser capaz.

Esta tese é também dedicada a todas as pessoas com deficiência ou surdas, que vem sofrendo ao longo de suas vidas com os mais diferentes tipos de discriminações. Em especial àquelas mulheres que com suas histórias de vida, e

entrevistas, me permitiram vislumbrar o mundo dos “interditos” e me possibilitaram

(8)

Em razão da minha fé e de minha escolha religiosa, apesar desta tese não tratar de religião, quero agradecer a Deus, pois que acredito em sua existência; pela inspiração e pelas pessoas que estiveram ao meu lado ao longo da construção deste trabalho, bem como, pela força que senti ao encarar o tema de que trato e que me acompanha ao longo de toda a minha vida, podendo finalmente abordar sobre ele sem constrangimentos.

À Profª. Drª. Leila Maria da Silva Blass, coautora deste trabalho, pela orientação firme e segura, mas antes de tudo pelo apoio, por ter acreditado em mim e por ter desvendado o tema aos meus olhos, ao longo das suas valiosas orientações, encorajando-me e, ao mesmo tempo sem saber, desafiando-me a explorá-lo sob a ótica da deficiência.

À Comissão de Apoio e Pesquisa do Ensino Superior (CAPES), pela bolsa de estudos concedida a partir de março de 2011, me auxiliando a finalizar o doutorado.

Ao corpo docente do Doutorado em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo pelas contribuições ao meu aprendizado.

À Profa. Dra. Silvia Maria de Araújo que conheci no Doutorado em Sociologia da Universidade Federal do Paraná pelos ensinamentos e contribuições às minhas reflexões.

Aos professores que compuseram a banca de qualificação, Dra. Maria Helena Vilas Boas Concone e Dr. Silvio Cesar Silva, pelas valiosas recomendações e indicações que me permitiram avançar no texto da tese.

Ao Sistema da Federação das Indústrias do Estado do Paraná – Sistema FIEP pela autorização em desenvolver a pesquisa com o pessoal com deficiência e com as pessoas surdas, inseridos no emprego por meio do Programa Aprendendo com a Diversidade.

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força do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, não poderei enunciar.

Porém, uma dessas merece agradecimento especial, pois foi quem possibilitou o desenvolvimento da pesquisa, me acolhendo, orientando, encaminhando, indicando as pessoas, preparando o local para as entrevistas, me passando uma série de informações e esclarecimentos. Sou-lhe profundamente grato e eternamente devedor.

À Daniele Gotardo Veloso, pelo excelente e profissional trabalho de intérprete de LIBRAS nas entrevistas filmadas com as pessoas surdas e na posterior transcrição de LIBRAS para o português, a partir da análise dos filmes.

À minha esposa, Eliana Lara pelo trabalho brutal e minucioso de transcrição das gravações das entrevistas.

Aos meus amigos e amigas, professores e professoras do Departamento de Administração da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná – Campus Irati, por terem suportado a carga extra de trabalho e dessa forma possibilitar meu afastamento para o desenvolvimento do doutorado.

Quero agradecer à Adriane Madureira Padilha Bernardim, professora de português e inglês, pelas correções efetuadas nos textos de qualificação e de parte da tese; à Regina Vinky, professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Campus Irati pela correção em parte do texto da tese.

Às amigas, Ângela Maria Oliveira e Eunice Silva Novais da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa pelo carinho no atendimento de minhas solicitações, na busca incansável por materiais que pudessem me auxiliar e pela correção das referências bibliográficas.

Ao Flávio Machado por ter autorizado a utilização de dois de seus poemas que são bem elucidativos quanto à questão da deficiência.

Aos amigos do Centro Espírita União e Humildade que em muitos momentos me substituíram nas atividades sob minha responsabilidade, sempre demonstrando boa vontade e entusiasmo no trabalho a ser desenvolvido.

(10)

Esta tese trata dos estigmas no emprego relativos às pessoas com deficiência e pessoas surdas que em decorrência da promulgação da Lei Federal n° 8.213, de 24 de julho de 1991, começaram a participar do quadro de funcionários do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Sistema FIEP), no ano de 2007. Um dos seus principais objetivos seria mostrar que os estigmas sociais e as discriminações norteiam e se reproduzem nas relações entre colegas, com seus chefes e demais representantes da hierarquia empresarial. Além dos depoimentos orais das pessoas com deficiência inseridas no Sistema FIEP, foram consultados

documentos escritos e foram, na medida do possível, observadas “in situ” algumas

práticas de trabalho desenvolvidas por essas pessoas. Um dos resultados mais importantes deste estudo diz respeito ao reconhecimento por parte das próprias pessoas com deficiência e das surdas, de empresários, de colegas e da chefia, dos aspectos negativos relacionados às limitações física, sensorial ou intelectual, enviesadas pela visão focada na produtividade. No entanto, os estigmas sociais da deficiência e da surdez recriam desigualdades no processo de inserção no emprego pelas empresas.

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This thesis deals with the stigma in employment for disabled and deaf people due to the enactment of the Federal Law No. 8,213 of July 24, 1991, that joined the staff of the Federation of Industries of the State of Paraná (FIEP System) in 2007. One of its main goals would be to show that the social stigmas and discrimination guide and reproduce the relations between colleagues, with their chiefs and other representatives of the corporate hierarchy. In addition to the oral testimony of persons with disabilities that entered into the FIEP System, some written documents were consulted and, as far as possible, some working practices developed by these people were observed "in situ". One of the most important results of this study concerns to the recognition by the people with disabilities and deaf themselves, entrepreneurs, colleagues and managers, the negative aspects related to the physical, sensory or intellectual limitations, skewed vision by focusing on productivity. However, the social stigma of disability and deafness recreate inequalities in the process of integration in employment by businesses.

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AACD Associação de Assistência à Criança Defeituosa

AADF Associação de Assistência ao Deficiente Físico

ABBR Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRADEF Associação Brasileira de Deficientes Físicos

ADEVA Associação de Deficientes Visuais e Amigos,

ADFERJ Associação dos Deficientes Físicos do Estado do Rio de Janeiro

AFR Associação Fluminense de Reabilitação

AIDE Associação de Integração do Deficiente

AIPD Ano Internacional da Pessoa Deficiente

ANC Assembleia Nacional Constituinte

ANDE Associação Nacional do Desporto para Deficientes

APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

C2i Centro Internacional de Inovação

CBEC Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos

CBM Christoffel-Blindenmission

CID-10 Classificação Internacional de Doenças

CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNI Confederação Nacional das Indústrias

CORDE Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência

CPSP Clube dos Paraplégicos de São Paulo

CVI-Brasil Conselho Nacional dos Centros de Vida Independente do Brasil

CVI-RIO Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro

DPI Disabled Peoples’ International

FAMEC Faculdade Metropolitana de Curitiba

FCD-BR Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência do Brasil

FEBEC Federação Brasileira dos Cegos

FEBEC Federação Brasileira de e para Cegos

FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

FIEP Federação das Indústrias do Estado do Paraná.

HI Handicap International

IBC Instituto Benjamin Constant

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBR Instituto Baiano de Reabilitação

ICF International Classification of Functioning, Disability and Health

ICIDH International Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps

IEL – PR Instituto Euvaldo Lodi – Superintendência do Estado do Paraná

INES Instituto Nacional de Educação de Surdos

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MORHAN Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseniase

MTE Ministério do Trabalho e do Emprego

OEA Convenção da Organização dos Estados Americanos

OMS Organização Mundial da Saúde

ONCB Organização Nacional dos Cegos do Brasil

ONEDEF Organização Nacional das Entidades de Deficientes Físicos

ONU Organização das Nações Unidas

PcD Pessoa com Deficiência

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI PR Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Superintendência do Estado do Paraná

SESI PR Serviço Social da Indústria – Superintendência do Estado do Paraná

SISTEMA FIEP Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná

SODEVIBRA Sociedade dos Deficientes Visuais do Brasil

UBEC União Brasileira de Cegos

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

UNINDUS Universidade da Indústria do Estado do Paraná

WBU World Blind Union

WFD World Federation of the Deaf

WHA World Health Assembly

WHO World Health Organization

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Introdução... 15

1 Deficiência e estigmatização... 37

1.1 Diferentes visões da deficiência... 37

1.2 Caracterização do estigma... 45

1.3 Construção do estigma social da deficiência... 66

2 As mobilizações em torno da questão da deficiência no Brasil... 79

2.1 Formação de associações de pessoas com deficiência... 79

2.3 Alguns aspectos das mobilizações das pessoas com deficiência... 85

2.4 A Constituição Federal de 1988... 91

3 Gestão empresarial e inserção de pessoas com deficiência... 98

3.1 A questão da diversidade... 98

3.2 Ações afirmativas no Brasil... 101

3.3 Diversidade como prática de gestão... 104

3.3.1 O Programa Aprendendo com a Diversidade do Sistema FIEP... 108

3.3.2 O Programa Gestão da Diversidade (ênfase na pessoa com deficiência – PcD) do Sistema FIEP ... 111

3.4 Construção do conceito de deficiência no Brasil para a inserção no emprego... 112

4 Processo de estigmatização e produção de desigualdades no Sistema FIEP... 124

4.1 Processo de estigmatização... 124

4.1.1 Visões das pessoas com deficiência e pessoas surdas... 125

1) Deficiência, pessoas com deficiência e pessoas surdas... 125

2) O convívio com colegas e chefias... 131

3) Orgulho de ter emprego... 138

4.1.2 Visões do pessoal de gestão... 140

1) Deficiência, pessoas com deficiência e pessoas surdas... 140

2) O que fazem as pessoas com deficiência?... 147

3) O convívio entre pessoas com deficiência, pessoas surdas, colegas e chefias... 149

4.1.3 Visões do Pessoal de Tutoria (colegas de equipe)... 153

(15)

4.2 Desigualdades na inserção de pessoas deficientes e pessoas surdas

no emprego... 163

Considerações finais... 178

Referências bibliográficas... 183

(16)

Introdução

A presente tese de doutoramento aborda a questão do estigma relacionado às pessoas com deficiência e pessoas surdas, e seu processo de inserção por meio do emprego no Sistema Federação das Indústrias do Paraná.

A aproximação com esse tema se deu a partir de minhas reflexões a respeito do preconceito e da discriminação que sofrem as pessoas com deficiência, analisando as características espaciais, quanto à acessibilidade, nos locais de trabalho. A instituição de ensino superior em que leciono, está instalada em um antigo prédio, cujas instalações são totalmente inacessíveis às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. O acesso aos três andares desse prédio, por exemplo, depende de escadas que estão fora dos padrões de acessibilidade.

O sofrimento das pessoas com a acessibilidade e, particularmente de um dos alunos cadeirantes, que motivou a alocação da turma de estudantes para as salas do andar térreo, além da construção de rampas de acesso ao andar térreo, e do alargamento das calçadas para o estacionamento de veículos de pessoas com cadeira de rodas, facilitando-lhes a mobilidade, chamou a minha atenção para a questão das pessoas com deficiência na sociedade. A partir daí, passei a discutir com meus alunos sobre as dificuldades do cumprimento da lei de cotas pelas empresas; da qualificação das pessoas com deficiência, e até da dificuldade dos professores com a presença de alunos surdos ou cegos nos cursos de administração.

(17)

Os conteúdos apresentados nos cursos de administração de recursos humanos, bem como as discussões decorrentes, não garantem que os alunos possam vir a atuar profissionalmente com uma visão voltada para a promoção de uma efetiva inserção das pessoas com deficiência e as surdas, nas empresas. Porém servem como um alerta, no sentido de visualizarem a necessidade de se preparem para o enfrentamento da questão.

O meu despertar para essa questão foi além desse ponto, foi mais profundo, conduzindo-me ao desafio de conhecer como se realiza o processo de inserção dessas pessoas no emprego e, ainda, descobrir os nexos entre estigmas e deficiência. Entretanto, descobri que discorrer sobre estigmas era para mim, ao mesmo tempo, um grande desafio e uma facilidade. Um grande desafio porque teria que enfrentar rescaldos dos estigmas que, por um longo tempo da minha vida, me acompanharam. Tornava-se uma facilidade a partir do momento que decidido a encará-los, neles mergulhei. Os anos de doutorado me ajudaram a amadurecer a ideia e minha orientadora desempenhou papel fundamental, ao me incentivar a escrever sobre esse tema. Falar sobre estigma, quem passa por ele, ou sofre com ele, é doloroso, mas extremamente construtivo.

Nessa trajetória, busquei encontrar as caracterizações do estigma, bem como, verificar como eles são construídos socialmente. Parti do pressuposto que o estigma resulta de relações sociais onde um atributo ou marca, próprio e inerente a um indivíduo, combina-se com um estereótipo que, enquanto uma criação cultural justifica um preconceito. A fim de melhor entender esse processo, utilizei-me de autores como Mclaughlin, Bell e Stringer (2004), Crocker, Major e Steele (1998), Elias e Scotson (2000), Goffman (2008, 2009, 2011), Ribas (1986), Simmel (1977, 1983, 2006), Falk (2001), Link e Phelan (2001), entre outros.

O caminho de pesquisa seguiu o do mestrado, quando analisei os efeitos da reestruturação produtiva em uma metalúrgica valorizando a ótica dos trabalhadores. No caso do doutoramento, tentei explorar a ótica das pessoas com deficiência que estão sendo inseridas no mercado de emprego. Para entender esse processo de inserção, vali-me do aparato legal, tomando como base a legislação federal constituída por Leis e Decretos que tratam dos direitos sociais das pessoas com deficiência

(18)

Segundo esse artigo, a empresa que tiver a partir de cem empregados, estará obrigada a preencher seus cargos com beneficiários, reabilitados, ou pessoas com deficiência, habilitadas, seguindo a seguinte proporção: de 100 até 200 empregados, 2%; de 201 a 500 empregados, 3%; de 501 a 1000 empregados, 4%; de 1001 em diante, 5%.

Assim, de uma forma geral e restrita a tese de doutoramento aborda sobre o tema da inserção das pessoas com deficiência no emprego. Geral por que analisa a situação em termos de país, restrita porque aborda a inserção de pessoas com deficiência no emprego da indústria, com base no caso Sistema da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). Contudo, mais precisamente, se direciona para uma tentativa de demonstrar que a inserção no emprego, reafirma os estigmas relativos às deficiências e a surdez, apresentando características próprias.

Este estudo toma como referência o Sistema Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), formado por um conjunto de entidades que atuam em prol do desenvolvimento da indústria no estado do Paraná, compreendendo a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), o Centro das Indústrias do Estado do Paraná (CIEP), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/PR), o Serviço Social da Indústria do Paraná (SESI/PR), o Instituto Euvaldo Lodi (IEL/PR) (FIEP, 2010). Também fazem parte do Sistema FIEP a Universidade da Indústria (UNINDUS) lançada em 2005 com o objetivo de oferecer produtos de vanguarda para lideranças empresariais e servir de base para a formação de executivos e lideres; o Centro Internacional de Inovação (C2i) lançado em 2009 com o objetivo de se transformar em uma concessionárias de inovação e articular produtos de inovação no SESI/PR, SENAI/PR, IEL/PR e demais parceiros da FIEP, bem como, oferecer educaçao direcionada à gestão de empresas com foco na inovação ou que gostariam de inovar por intermédio da UNINDUS. A Faculdade Metropolitana de Curitiba (FAMEC) que passou a integrar o Sistema FIEP, no ano de 2010. O Sistema FIEP conta, ainda em sua composição, com mais 107 sindicatos filiados representantes de diversas atividades industriais paranaenses. (SISTEMA FIEP, 2011).

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criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) criada no início da década de 1940, e com o surgimento dos setores siderúrgico e petrolífero no país. Nesse período o Brasil passava por sua ―revolução industrial‖, além de grande

concentração urbana e início do crescimento do mercado interno. No Paraná, a industrialização se encontrava em fase inicial, um momento em que o estado contava com 1.200.000 habitantes e pequenas empresas atuando de forma isolada. Desde a sua instituição a FIEP passou a estimular o associativismo e atuar firmemente na defesa dos interesses das indústrias e dos empresários locais. A expansão da FIEP no Paraná teve início na década de 1960 com a criação da primeira unidade do interior, localizada na cidade de Londrina. (SISTEMA FIEP, 2009).

Com 21 coordenadorias situadas em outras cidades do estado e 15 conselhos temáticos, responde por um setor que corresponde a 1/3 do PIB paranaense, atuando politicamente para estimular o desenvolvimento, a modernização, e ampliar a produtividade e competitividade do paque industrial instalado. Com os 107 sindicatos empresariais a ela filiados, são mais de 42.000 empresas que geram aproximadamente 750 mil postos de trabalho. (SISTEMA FIEP, 2011).

No ano de 2010 o Sistema FIEP contou com 2.944 funcionários e destes, somente 25 eram pessoas com deficiência, o que representa 0,85% do quadro. De acordo com o Art. 93 da Lei n° 8.213/91 e com o Art. 36 do Decreto n° 3.298/99, as empresas com mais de mil empregados devem preencher seu quadro de funcionários, pelo menos, com 5% de pessoas com deficiência, o que representaria 147 pessoas nessas condições, no caso do Sistema FIEP, colocando-a bem abaixo do necessário para atender à exigência legal. A contratação de pessoas com deficiência no Sistema FIEP conta com a colaboração do Programa Aprendendo com a Diversidade, o qual prioriza, atualmente, a contratação de jovens com deficiência intelectual na condição de aprendizes e, após receberem formação profissional, passam a fazer parte do quadro de funcionários da instituição. (SISTEMA FIEP, 2010).

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da deficiência ou da surdez, que se expressam na sociedade, alcançam um caráter diferenciado e peculiar, construídos a partir das relações diárias com seus iguais e com seus superiores imediatos.

Embora o acesso ao emprego seja um caminho para que uma pessoa com deficiência seja vista e reconhecida como produtiva, do ponto de vista econômico, no contexto da sociedade capitalista, ela continua sendo estigmatizada ao desempenhar funções que estariam aquém da sua capacidade cognitiva. Essa situação pode, até contribuir, para reafirmar o próprio processo de estigmatização, mostrando que estigmas convivem com diferentes formas de emprego. O estigma da deficiência, enquanto um processo de construção sociocultural, conforme aponta Ribas (1986), adquire características próprias, no mercado de emprego, diferenciando-os, em certa medida, do que se observa na sociedade. Assim, o mesmo estigma ganha diferentes contornos na sociedade cujos aspectos se inter-relacionam e interpenetram como, por exemplo: na família, no emprego, na escola, religião etc. Na presente tese de doutoramento pretendo identificar algumas características de estigma social da deficiência no emprego, a partir do processo de inserção de pessoas com deficiência ou surdas no Sistema FIEP, bem como, considerando que as pessoas com deficiência ou surdas convivem com estimas que lhes são imputados em diferentes momentos de sua trajetória de vida, verificar em que medida a condição de trabalhadores assalariados contribuiria para enfrentar o estigma da deficiência na sociedade.

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pessoas que perderam a audição por conta de um acidente ou de alguma doença fazem uso do termo pessoa com deficiência auditiva. Geralmente, os primeiros são usuários da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), não aceitam serem chamados de deficientes auditivos, se mobilizam na defesa da LIBRAS, da cultura e da comunidade surda, fazem uso dos meios e recursos de comunicação e orientação disponíveis para os surdos, utilizam-se de imagens na interpretação e comunicação, participam nas associações de surdos. Os deficientes auditivos não são usuários de LIBRAS, mobilizam-se na busca por aparelhos auditivos e estão mais próximos dos ouvintes. Sentem-se confortáveis na comunicação oral-auditiva, não estão engajados nos movimentos sociais dos surdos e não aceitam serem chamados de surdos. No entanto o termo ―surdo-mudo‖ está em desuso porque não existem pessoas surdas-mudas, os surdos não falam por não ouvirem, mas muitos podem vir a falar, como qualquer ouvinte, se aprenderem o uso da técnica da leitura labial, em escolas apropriadas sob a supervisão de fonoaudiólogos (as) especializados (as).1

Nos Censos demográficos de 2000 e de 2010, e na legislação federal, essas categorias de deficiências são compreendidas como deficiência auditiva e aqueles que as apresentam são pessoas com deficiência auditiva.

No tocante à inserção de pessoas com deficiência no mercado de emprego, a proposta jurídica é mais ampla do que a praticada nas empresas, no que se refere principalmente à acessibilidade espacial e à comunicação, conforme a Lei n° 10.098/2000 regulamentada pelo Decreto n° 5.296/2004, e a Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ABNT NBR 9050:2004, que tratam do assunto. As empresas, ao deixarem de atender a esses requisitos, acabam por reforçar as situações de estigmatização social, dificultando o exercício de atividades e tarefas por parte das pessoas deficientes e pessoas surdas.

Nos últimos anos, o discurso da inclusão social das minorias, se tornou bastante recorrente nos meios de comunicação social. Prega-se a inserção de parcelas da população que são deixadas de lado na dinâmica da sociedade capitalista, na escola, na saúde, no trabalho, na seguridade social, nos espaços urbanos. Pluralidade, diversidade, respeito às diferenças são palavras que aparecem frequentemente, com grande destaque, nas organizações empresariais no

1

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início deste século. Nesse contexto, a ideia da inclusão de pessoas deficientes no mercado de emprego ganha destaque e se generaliza. Entretanto, a inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho assalariado é o resultado de um longo processo de lutas das pessoas deficientes e das surdas para verem consagrados na legislação, direitos que lhes possibilitem exercerem de forma mais plena a sua cidadania.

As lutas travadas foram principalmente contra as mais diferentes formas de preconceitos, discriminação e segregação que ocorreram na história da civilização ocidental. Após um lento processo, parece que esse quadro começa a mudar em razão das conquistas alcançadas através do que se denomina ―discriminação positiva‖.

Conforme Carvalho (2009), a partir da década de 1960, as pessoas com deficiência, ao demonstrem sua capacidade para o trabalho e diante da necessidade de trabalhar para prover seu sustento, iniciam suas lutas objetivando garantir direitos e igualdade de oportunidades. As suas conquistas foram sendo constituídas e construídas ao longo dos anos.

Apesar do primeiro passo no sentido de reconhecimento de direitos à igualdade desse grupo de pessoas ser a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro de 1948, tal declaração não permitiu vislumbrar que as pessoas com deficiência tivessem as mesmas garantias de direitos expressos nessa carta. Deve-se destacar que a ONU, durante as décadas de 1940 e 1950 desenvolvia uma política de cunho assistencialista no tocante aos deficientes. Como explica Bittencourt (2009) a mobilização destes, a partir da década de 1960 fez com que as políticas a eles destinadas sejam reavaliadas com vistas a garantir a participação plena dos cidadãos com deficiência na sociedade.

Fruto de muita luta empreendida pelos movimentos sociais ligados às pessoas com deficiência, de acordo com Ribeiro (2002), surgiu a Declaração do Direito das Pessoas Deficientes, como resolução elaborada pela ONU aprovada em sua Assembleia Geral em 09 de dezembro de 1975. Essa declaração ganhou bastante destaque durante o ano de 1981 consagrado com o Ano Internacional da

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Mesmo com esses documentos explicitando direitos às pessoas com deficiência, segundo Paim (2006) foi somente em 1993, com a Declaração de Viena, por intermédio do item 63, que se confirmou a inclusão das pessoas com deficiência no âmbito da proteção proporcionada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

No Brasil os direitos das pessoas com deficiência passaram a ser assegurados na Constituição Federal de 1988 na qual se elegeu a dignidade humana como ponto capital, um reflexo das preocupações da sociedade brasileira. Neste sentido indicou a cidadania como expressão da igualdade de todos os indivíduos em termos de direitos. Um desses direitos ficou patente na defesa e valorização do trabalho como um dos pilares fundamentais de sustentação, não somente à ordem econômica, mas principalmente à dignidade dos seres humanos.

Resultado de um esforço coletivo e articulado das pessoas envolvidas com as questões das pessoas com deficiência de todo o Brasil foram inseridos, de acordo com Dias (2000), dispositivos constitucionais que procuraram assegurar às pessoas deficientes as condições mínimas de participação, por meio de linhas básicas do processo de integração desses à sociedade e ao mercado de trabalho assalariado, expressos na legislação federal que trata sobre o assunto.

Assim, José Sarney, quando Presidente da República, sancionou a Lei nº 7.853 de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre integração social e o apoio das pessoas portadoras de deficiência, criando a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE). Além disso, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas; disciplina a atuação do Ministério Público e define crimes.

No dia 24 de julho de 1991, foi sancionada, pelo então Presidente da República, Fernando Affonso Collor de Mello a Lei nº 8.213 que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências, prevendo às empresas com 100 ou mais funcionários, cotas de emprego para pessoas com deficiência. O Decreto nº 914 de 06 de setembro de 1993, assinado por Itamar Franco, então Presidente da República, institui a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência.

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Portadora de Deficiência; consolida as normas de proteção. No artigo 34 trata sobre o acesso ao trabalho. Em seu artigo 36 reafirma as quotas estabelecidas na Lei no

8.213//91.

Por meio da Lei no 10.048, de 08 de novembro de 2000, assinada pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso foi atribuído prioridade de atendimento às pessoas que especifica. Pela Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, sob assinatura do Presidente Henrique Cardoso, foram estabelecidas normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Em 02 de dezembro de 2004, assinado pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o Decreto n° 5.296 de 02 de dezembro de 2004 regulamentou as Leis n°s 10.048/00 e 10.098/00.

Em termos de direitos das pessoas com deficiência, a mais atual é a Resolução A/RES/61/106 de 24 de janeiro de 2007, adotada pela Assembleia Geral da ONU, que trata da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. No Brasil, esta convenção e seu respectivo Protocolo Facultativo foram ratificados pelo Congresso Nacional em 09/07/2008 pelo decreto legislativo nº 186/2008 e todos os seus artigos são de aplicação imediata. Presentemente se encontra no Senado Federal aguardando votação o Estatuto da Pessoa com Deficiência, proposta pelo Senador Paulo Paim em 2006.

Não obstante a existência desses dispositivos legais de discriminação positiva para os deficientes permanece uma discriminação de caráter invisível. Está implícita no estigma social em relação à deficiência que é velado nas práticas sociais e relações quotidianas. Por exemplo, é necessário, muitas vezes, um mandado judicial para ter intérprete de libras e conteúdos em braile na salas de aula, quando isso já está previsto em lei para garantir acesso de forma igualitária à educação, respeitando-se as diferenças. Também está presente quando não existe sinalização horizontal e vertical, bem como dispositivos luminosos de orientação, que facilitem a mobilidade dos deficientes visuais e surdos, respectivamente, nas cidades e edificações; na falta de acesso das pessoas com deficiência e surdas à saúde pública, à previdência social, ao transporte etc.

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em termos de carreira, desenvolvimento e distribuição de salários nas empresas; falta de adaptabilidade ergonômica dos móveis e equipamentos de trabalho; de equipamentos de informática com teclados em braile e programas de interação auditiva para os deficientes visuais, ou programa Sign Writing que possa facilitar a comunicação dos surdos; a discriminação de alguns tipos de deficiência em detrimento de outras para as vagas de emprego; a política das empresas de contratação de deficientes apenas para cumprir com as quotas; não existência de embalagens e rótulos em braile ou livros sem uma edição fonada; no total despreparo das pessoas que trabalham nas mais diversas organizações e atendem pessoas com deficiência ou surdas. Enfim, pode-se verificar a discriminação invisível quando os próprios dispositivos legais explicitam possíveis situações discriminatórias na sociedade, propondo o encaminhamento e sanções a sua transgressão.

No tocante à população de pessoas com deficiência no Brasil, inclusive as pessoas surdas, o Censo demográfico do ano de 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) indica que são 45.606.048 milhões de pessoas que indicaram ter alguma das deficiências investigadas pelo IBGE, aproximadamente 23,9% da população brasileira. Se for considerado por tipo de deficiência, têm-se no Brasil 61.368.844 milhões de deficiências, tabela 1.

Tabela 1 - Tipos de Deficiências X Pessoas com Deficiências Censo Demográfico 2010

DESCRIÇÃO TOTAIS

Tipos de Deficiências (A) 61.368.844

Pessoas com Deficiência (B) 45.606.048

Deficiências Múltiplas (A-B) 15.762.796

Fonte: Adaptado do Censo Demográfico 2010 – IBGE.

A discrepância entre o número de pessoas que declararam ter algum tipo de deficiência (45.606.048 milhões de pessoas) e o número de deficiências declaradas (61.368.844 milhões) corresponde às deficiências múltiplas conforme apresentado na tabela 1, que representam aproximadamente 25,7% dos tipos de deficiência investigadas.

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Organização Mundial da Saúde (OMS) que possibilitaram ultrapassar os levantamentos anteriores indicativos de um contingente inferior a 2% da população. (NERI, 2003).

Os resultados da situação por tipos de deficiência no Brasil, segundo o Censo demográfico do ano de 2010 do IBGE estão apresentados na tabela 2.

Tabela 2 – Tipos de Deficiência no Brasil - Censo Demográfico 2010

TIPOS DE DEFICIÊNCIA Dificuldade Total Grande dificuldade Alguma dificuldade TOTAL

Auditiva 344.206 1.798.967 7.574.145 9.717.318

Motora 734.421 3.698.929 8.832.249 13.265.599

Visual 506.377 6.056.533 29.211.482 35.774.392

Mental/Intelectual 2.611.536

Totais 61.368.845

Fonte: Adaptado do Censo Demográfico 2010 – IBGE.

Nesse último censo, o IBGE buscou coletar informações relacionadas ao quadro de deficiências no Brasil, investigando por categorias de deficiência, auditiva, motora, visual, mental ou intelectual, os graus de deficiência, dividindo-as em: não conseguem de modo algum (que neste estudo está entendida como dificuldade total); que apresentam grande dificuldade; e que apresentam alguma dificuldade. Em função dos elevados números de pessoas com deficiência, contados desde o Censo demográfico de 2000, e novamente presentes no Censo demográfico de 2010, o discurso da inclusão ganha força, influenciando a sua regulamentação por lei. A distribuição do Censo demográfico de 2010 por tipos de deficiência e por pessoas com deficiência mostra mais mulheres tanto em uma, quanto em outra condição, incluindo-se as deficiências múltiplas, tabela 3.

Tabela 3 - Tipos de Deficiências X Pessoas com Deficiências Base 2010

Descrição

Sexo

Totais

%

Homem Mulher % H-M %

Homem Mulher H-M

Tipos de Deficiências (A) 26.217.512 35.151.332 61.368.844 -8.933.820 42,7 57,3 -14,6

Pessoas com Deficiência (B) 19.805.367 25.800.681 45.606.048 -5.995.314 43,4 56,6 -13,1 Deficiências Múltiplas (A-B) 6.412.145 9.350.651 15.762.796 -2.938.506 40,7 59,3 -18,6

1 O censo indica um número maior de deficiências do que de deficientes, uma vez que ―as pessoas incluídas em mais de um tipo de deficiência foram contadas apenas uma vez.‖ (Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000, nota 1), portanto o número de pessoas que apresentam mais de uma deficiência é de quase 16 milhões.

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Portanto é possível verificar que em relação aos tipos de deficiência as mulheres com 57,3% estão à frente dos homens que representam 42,7%. Nos dados das pessoas com deficiência novamente as mulheres se destacam com 56,6% e os homens vem em seguida com 43,4%. Em termos de diferenças percentuais, existem 14,6 mais mulheres por tipos de deficiência e 13,1% mais mulheres com deficiência, do que homens.

Ao serem analisados separadamente, por tipos de deficiências, os dados do Censo demográfico de 2010 apontam a situação apresentada na tabela 4.

Tabela 4 Tipos de Deficiência no Brasil - Censo Demográfico 2010

Tipos de Deficiência Homem (A) Mulher (B) Total Diferença (A-B) % Homem

(A)

% Mulher

(B)

Diferença % (A-B)

Auditiva 4.908.612 4.808.707 9.717.319 99.905 50,5 49,5 1,0 Mental/Intelectual 1.409.597 1.201.938 2.611.535 207.659 54,0 46,0 8,0 Motora 4.979.617 8.285.981 13.265.598 -3.306.364 37,5 62,5 -24,9 Visual 14.919.686 20.854.706 35.774.392 -5.935.020 41,7 58,3 -16,6 TOTAL 26.217.512 35.151.332 61.368.844 -8.933.820 42,7 57,3 -14,6

Fonte: Adaptado do Censo Demográfico 2010 – IBGE.

Considerando por tipos de deficiências, os homens ultrapassam as mulheres nas deficiências auditiva (1%) e mental/intelectual (8%). As mulheres ultrapassam os homens nas deficiências motora (24,9%), visual (16,6%) e múltipla (14,6%).

Decorrente desta nova metodologia a deficiência visual (que não considera somente a cegueira total) é a mais presente entre as deficiências levantadas, com aproximadamente 58%, mais da metade das indicadas. Em segundo lugar surgem as deficiências motoras (incluídas ai as físicas) que somadas chegam a aproximadamente 21,6%. Em seguida aparece a deficiência auditiva com 15,8%, sob a qual estão considerados os diferentes níveis de perda auditiva (da surdez leve até anacusia). Por último está classificada a deficiência mental/intelectual2, com aproximadamente 4,3% do total das deficiências indicadas.

Do total de pessoas com deficiência, 12.777.207 milhões declararam ter pelo menos uma deficiência severa, representando 6,7% da população brasileira. Estas

2 O IBGE no Censo Demográfico de 2010 usa as designações ―deficiência mental/intelectual‖. O

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estão localizadas nas opções, ―grande dificuldade‖ ou ―não consegue de modo algum‖ agrupadas nos tipos de deficiência visual, auditiva, motora e aqueles que

declararam ter deficiência mental. Dessas, a deficiência visual severa foi a que mais incidiu sobre a população, pois no Censo demográfico de 2010, 3,5% das pessoas declararam ter grande dificuldade ou nenhuma capacidade de enxergar. A deficiência motora severa vem em seguida, atingindo a 2,3% das pessoas. A deficiência auditiva severa atinge a 1,1% das pessoas; o percentual dos que declararam ter deficiência mental foi de 1,4%. (IBGE, 2011). De forma geral, a situação divulgada pelo IBGE até o presente é a que está apresentada na tabela 5.

Tabela 5 Situação das Deficiências Investigadas pelo IBGE no Censo Demográfico de 2010

DESCRIÇÃO VALORES PERCENTUAL

Pelo menos uma das deficiências investigadas 45.606.048 23,9

Nenhuma dessas deficiências 145.084.976 76,1

Não responderam à essas questões 64.775 0,02

Total da População 190.755.799 100

Fonte: Adaptado do Censo Demográfico 2010 – IBGE.

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Dentre as preocupações de se garantir condições básicas de sobrevivência digna e inclusiva na sociedade às pessoas com deficiência estão: o acesso a uma vida saudável, a educação e ao trabalho (na sua condição de emprego). Esses aspectos aliados à diversidade dos grupos que abrangem adultos, jovens e idosos, mostra a importância de se definir o conteúdo e a amplitude das políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência com a finalidade de inseri-las de forma efetiva e forma qualificada, no processo de desenvolvimento do país, respeitando-se as suas diferenças. (BRASIL, 2007).

Todavia, apesar dos esforços no sentido da inclusão das pessoas com deficiência no mercado de emprego no Brasil, a grande maioria está fora desse mercado. Com base nos dados do Censo demográfico de 2010, divulgados pelo IBGE, as pessoas com deficiência que se encontram na faixa etária entre 10 a 80 anos, que declararam alguma ocupação na semana de coleta dos dados, somam 20.365.963 milhões de pessoas, contra 23.707.414 milhões sem ocupação, para um total de 44.073.377 milhões de pessoas no intervalo considerado. Importante

esclarecer que ―ter ocupação‖ para o IBGE não significa somente estar empregado,

mas várias atividades que possibilitem alguma renda.

Se for considerada somente a faixa etária entre 15 a 64 anos, que teoricamente estaria no mercado de emprego (idade de entrada e idade próxima a aposentaria, respectivamente) e que representa 32.609.023 milhões de pessoas com deficiência, nota-se que existem 12.243.060 milhões de pessoas deficientes desocupadas. Esses números demonstram o quanto se está distante, no Brasil, de incluir de forma efetiva as pessoas no emprego.

Embora seja mencionada a questão da inclusão no emprego, importa esclarecer que se trata, ao longo deste texto, de um processo de inserção no emprego do Sistema FIEP.

Afora o longo debate sociológico que atravessou os anos de 1990 a respeito da exclusão e da inclusão, Martins (1997), Veras (2002), Wanderley (2002), a inserção social à qual me refiro diz respeito àquela que envolve a integração e a inclusão social defendida, principalmente pelos autores da área da educação.

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possível o acesso de pessoas com deficiência à educação, ao lazer, ao trabalho etc. Os reais e efetivos movimentos para integração das pessoas deficientes surgiram pela primeira vez nos países nórdicos, quando os movimentos em favor da integração das crianças com deficiência questionaram as práticas sociais e escolares de segregação, bem como o posicionamento da sociedade em relação às pessoas com deficiência intelectual.

A integração corresponde às práticas condicionais de inserção; a responsabilidade recai mais sobre o individuo e sua capacidade de adaptação ao ambiente e à estrutura na qual está sendo inserido, praticamente não se questiona o que está sendo realizado para que este realmente se sinta inserido (MANTOAN, 1997).

Conforme Mantoan (1997), o ponto de partida da ideia de inclusão seria o questionamento das políticas, do preparo e aparato institucional e organizacional. A inclusão, nesse caso, seria incompatível com a integração porque institui a inserção de forma radical, completa e sistemática. Integração seria inserir aqueles que não estão contemplados em uma determinada atividade ou direito. Referindo-se à vida social e suas relações, a perspectiva da inclusão trabalha coma possibilidade de inserção de todos os considerados diferentes, respeitando-se as suas diferenças, preparando-se as organizações para recebê-los em um contexto de diversidade, garantindo-lhes os direitos as suas diferenças. A inclusão, para ocorrer, exige a mudança de mentalidade na aceitação do outro e supõe a abolição completa de tudo aquilo que o segregue.

Assim, sob uma perspectiva inclusionista, a inserção ocorrerá incondicionalmente por trabalhar com a possibilidade de inserir todos, indistintamente, incondicionalmente, mas não de maneira igualitária. A responsabilidade de adaptação não recai apenas na pessoa com deficiência, mas envolve todos aqueles que fazem parte do processo de inserção. Está em jogo outra visão de mundo que exige aceitação de convivência com o diverso.

Coleta e análise dos dados

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realidade, se caracterizou, em sua fase inicial de execução, segundo a classificação de Santos (2002), como pesquisa exploratória. Para o autor citado, esse tipo de pesquisa diz respeito aos levantamentos bibliográficos, entrevistas necessárias, levantamentos na internet, que visam à conscientização do pesquisador com relação ao estágio em que se encontram as informações disponíveis sobre aquele assunto.

Ao mesmo tempo, se constitui em uma pesquisa documental no dizer de Gil (2000), em razão de terem sido trabalhados dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), disponibilizados em meio eletrônico.

Considerando o problema de pesquisa e objetivo propostos, a pesquisa qualitativa em ciências sociais se tornou, no ponto de vista deste pesquisador, o melhor caminho em razão de permitir aos sujeitos da pesquisa, voz ativa relatando os impactos pelos quais passaram a partir de suas trajetórias após participarem do Programa Aprendendo com a Diversidade, por meio do qual foram inseridos no Sistema FIEP.

A propósito da pesquisa qualitativa Oliveira (2005) explica que ―A pesquisa

qualitativa pode ser caracterizada como sendo um estudo detalhado de um determinado fato, objeto, grupo de pessoas ou ator social e fenômenos da realidade. Esse procedimento visa buscar informações fidedignas para se explicar em profundidade o significado e as características de cada contexto, em que encontra o objeto de pesquisa. Os dados podem ser obtidos através de uma pesquisa bibliográfica, entrevistas, questionário, planilhas e todo instrumento (técnica) que se faz necessário para obtenção de informações.‖ (Idem: 68).

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descrição da experiência humana, exatamente como ela é vivenciada e definida pelos seus próprios autores.

Além disso, Concone (1998) lembra que as técnicas de coleta de dados, no vão revelar a ancoragem teórica e às propostas de cada investigação em particular, pois na sua forma de entender, cada técnica de investigação escolhida ―[...] exprime

opções teóricas bem explicitadas.‖ (Idem: 126), ou como explica Bernardo (1998),

―[...] o arcabouço teórico determina as técnicas que devem ser utilizadas.‖ (Idem: 137). Contudo, explica Concone (1998, p. 136): ―As teorias não devem funcionar

como modelos ou camisas-de-força da realidade. Há que se encontrar caminhos e compatibilizações entre propostas teóricas, evitando dois perigos: o do ecletismos ingênuo e o da ortodoxia paralisada.‖ (Idem: 136).

Em razão de não se ficar preso a uma teoria, ou a uma ortodoxia, a pesquisa se aproximou da sociologia do quotidiano que permite esse fluir teórico, próximo do que Pais (2005) coloca ao analisar a vida de jovens em relação ao trabalho e ao

futuro, ou seja, ―[...] consiste na descoberta dos ‗mundos de vida.‖ (Idem: 15). Para o presente caso, de pessoas com deficiência que procuram por meio do emprego uma forma de inserção e reconhecimento na sociedade.

Importante explicar que Mundos de vida, segundo Pais (2005) é um conceito tomado junto a Husserl que recuperou essa expressão de Heráclito e que significa

―[...] as vidas fluídas por onde transitam as opiniões (doxas) da vida corrente.

Mundos de vida tomados, pois, como horizontes de vivências espontâneas,

simbólicas e significativas.‖ (Idem: 15), ou seja, aquilo que segundo Schutz, citado por Pais (2005) denomina de realidades múltiplas as quais exigem uma interconectividade que se referem a diferentes ―[...] âmbitos da realidade finita.‖

(Idem: 78), isto é, que não se restringe ou se realiza, no dizer de Pais (2005) ―[...]

entre o aqui e o agora, ou entre o ali e o outrora, [...] este conceito de Schutz é fundamental, na medida em que acentua a descontinuidade da realidade social, ao fragmentá-la em realidades discretas e finitas.‖ (Idem: 78), o que remete ao conceito de interconectividade.

Conforme Pais (2005), o conceito de Schutz sobre interconectividade ―[...] é

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denominada por ele de saltos de descontinuidade (leaps) de uma para outra realidade. Tais saltos de vida são muito frequentes e presentes no quotidiano das pessoas com deficiência, alguns deles por demais traumáticos, tais como a negação da família, a discriminação da sociedade, a descoberta da deficiência. Assim a interconectividade permite visualizar as diferentes realidades nas quais se inserem os indivíduos. No presente caso, trabalhador(a) pessoa com deficiência, esposo(a) pessoa com deficiência, mãe ou pai pessoa com deficiência, cidadão ou cidadã pessoa com deficiência. Além disto, que outras atividades podem, além destas, estarem desempenhando? O que se esconde nessas entrelinhas de interconexão de diferentes realidades vivenciadas por um mesmo individuo?

A proposta da sociologia do quotidiano permite verificar e analisar, entrecruzar e pensar em tais detalhes como um mosaico, a partir do qual se monta o possível quebra-cabeças da pesquisa, interligando as diferentes realidades dos indivíduos pesquisados (algumas extremamente duras) para compreender a inserção desses indivíduos no mundo de suas relações e interações, sob as perspectivas das sociologias de Goffman, Simmel, Elias e Scotson.

Portanto, essa é uma proposta sociológica não linear, ou melhor, é pós-linear, que segundo Pais (2005) está baseada em duas valências de análise interpretativa decorrentes de uma terceira característica própria desta proposta sociológica: a decomposição. Para Pais (2005) esta última característica deve ―[...] ser tomada no

sentido cinematográfico, jogando permanentemente com a digressão, isto é, com o desvio de rumo que nos é dado por uma pretensa linearidade de curso de vida.‖

(Idem: 83). Assim, interpretar um relato de vida, uma entrevista, transcende o sentido da linearidade, pois exige apreciar a pluralidade da qual se constitui a vida,

como diz Pais (2005): ―[...] é contrapor uma galáxia de significantes – que se pretende salvaguardada – a uma estrutura de significados que tende a imobilizar-se

quando os signos ‗sendo‘ transformados em signos ‗ficados‘. Tão importantes são os

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Dessa forma, como explica Pais (2005), ao se trabalhar com métodos

pós-lineares é possível dar conta das rupturas de vida, vivenciadas ou relatadas por

aqueles que são pesquisados, que aparecem plenamente em sua fragmentatividade. Esses fragmentos surgem desprendidos do todo ao qual pertencem, e então tem-se que em um esforço metodológico ir por partes, para se remontar a um todo, pois que

o par ―partes/todo‖ caminham juntos, sem poder existir a explicação de um sem a explicação do outro, em razão de que mantém suas relações de ―[...] reciprocidade,

implicação, pressuposição, dependência. O desafio que se coloca é o de saber como se interconectar [...] o desafio da analise interpretativa, o de trabalhar os fragmentos de sentido, interconectando-os revirando-lhes os sentidos.‖ (Idem: 86).

Utilizando-se da análise de Sallum Jr. (2005), pode-se dizer que o que se pretende em termos de pesquisa está ligado aos níveis micro e meso sociológicos no campo organizacional. Em relação ao primeiro, por trabalhar com os agentes individuais e os processos de interação e relações com a sociedade. Quanto ao segundo, por se tratar de um grupo que está inserido em uma organização formal (local de trabalho) no qual ocorrem relações de trabalho decorrentes. Por isso a opção por uma pesquisa de cunho qualitativo, a qual permitiu analisar aspectos pontuais relacionados a esses níveis sociológicos.

A entrevista utilizada como técnica de coleta de dados, em ciências sociais, constitui-se de suma importância, na perspectiva de Haguette (1997), pois se trata de um ―[...] processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado.‖ (Idem: 86). Como técnica para coleta de dados, a entrevista se constitui como a ferramenta mais utilizada no trabalho de campo dos cientistas sociais, por meio da qual se busca obter dados, principalmente subjetivos que para Boni e Quaresma (2005) dizem respeito aos ―[...]valores, às atitudes e às opiniões

dos sujeitos entrevistados.‖ (Idem: 5).

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distância e um uso táctil, mais próximo, que favorece o contato face a face.” (Idem:

29).

Como forma inicial e depois complementar de coleta de dados, utilizou-se a entrevista por email, com a representante do programa Aprendendo com a Diversidade e com o responsável pelo setor de Gestão em Saúde e Segurança do Trabalho do Sistema FIEP.

A pesquisa efetivamente realizada no período de junho a agosto de 2010, tomou como base para a coleta de dados, um grupo constituído por pessoas com deficiência física ou auditiva que trabalha no Sistema da Federação das Indústrias do Paraná (Sistema FIEP). Além desses, foram incluídos na coleta de dados duas representantes dos programas de inserção do Sistema FIEP e mais duas tutoras, colegas de trabalho das pessoas deficientes ou surdas.

Mais precisamente os sujeitos participantes da pesquisa são oriundos do projeto piloto de qualificação de pessoas com deficiência para o mercado de emprego desenvolvido pelo SESI/PR em parceria com o SENAI/PR, que se caracterizou como um curso para formação de auxiliares administrativos para trabalharem nas empresas afiliadas à Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), mas que acabaram sendo contratados para exercerem funções auxiliares no Sistema FIEP. Inicialmente o curso de formação contou com onze alunos, contudo um deles optou por uma oportunidade na área de produção da Volvo, empresa montadora de caminhões localizada na cidade de Curitiba-PR, após ter participado em um curso de formação de mão de obra oferecido pela empresa citada. Na época da pesquisa, duas pessoas com deficiência física estavam afastadas do trabalho por licença médica.

O estudo de um grupo, suas relações, representações coletivas, encontra respaldo em Simmel (2006, p.11) que ao abordar sobre a sociedade como conceito

abstrato, expõe que ―[...] cada um dos incontáveis agrupamentos e configurações englobados em tal conceito é um objeto a ser investigado e digno de ser pesquisado, e de maneira alguma podem ser constituídos pela particularidade das

formas individuais da existência‖.

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da Diversidade com Ênfase na Pessoa com Deficiência – PcD – voltado à inserção das pessoas com deficiência nas empresas parceiras do Sistema FIEP); de seis pessoas deficientes inseridas no Sistema FIEP por meio do Programa Aprendendo com a Diversidade; de duas tutoras de pessoas inseridas.

O objetivo de entrevistar as duas representantes s dos programas, foi o de conhecer todo o processo de inserção das pessoas com deficiência no Sistema FIEP. As duas entrevistadas estão na faixa etária dos 40 anos, tem curso superior e especialização, ambas são casadas. Neste estudo, as entrevistadas serão

designadas como ―pessoal de gestão‖.

A entrevista com as pessoas deficientes e surdas objetivou diagnosticar qual a sua visão a respeito da própria condição de deficiência e surdez e como vivenciam o processo de inserção pelo qual estão passando e, se enfrentam condições de estigma no local de trabalho. De acordo com informações colhidas junto ao setor de Gestão em Saúde e Segurança do Trabalho do Sistema FIEP, com base no Decreto n° 3.298/99 e no Decreto n° 5.296/04, as entrevistadas se constituem de: duas pessoas com deficiência auditiva bilateral total; duas pessoas com deficiência auditiva bilateral parcial; duas pessoas com deficiência física. Para se referir às duas pessoas com deficiência auditiva bilateral total serão utilizados neste trabalho as

designações ―surdo, surda, surdos, surdas‖, em razão dessas duas pessoas se

declararem surdas e assumirem sua. Para as demais será utilizada a designação

―pessoas com deficiência‖. Dados iniciais da coleta de dados revelam que a faixa

etária das entrevistadas está entre 32 e 42 anos; todas tem o segundo grau completo e uma delas está cursando o curso técnico de secretariado. Com relação ao estado civil, três são solteiras, uma é viúva e duas são casadas.

As entrevistas com as pessoas deficientes e com as pessoas surdas seguiram um roteiro estruturado. As gravações em áudio foram realizadas por meio de gravador digital e, no caso das pessoas surdas, foi realizada filmagem com o acompanhamento de uma intérprete de LIBRAS como forma de respeitar a cultura surda, bem como, facilitar a comunicação. As transcrições das filmagens, de LIBRAS para o português foram realizadas pela mesma intérprete.

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outra, curso superior completo, com especialização. Uma delas é casada e a outra é solteira. Todas as entrevistadas receberam nomes fictícios e seus dados são apresentados no Anexo I.

Procurando responder à principal questão que motivou o desenvolver este trabalho, bem como o objetivo dele decorrente, a tese está estruturada da seguinte forma: no primeiro capítulo procuro abordar a respeito das diferentes visões da deficiência, que se construíram em diferentes períodos a partir do século XVIII na cultura ocidental. Conjuntamente, desenvolvo uma caracterização do estigma e abordo sobre a construção do estigma social da deficiência.

No segundo capítulo, com o objetivo de compreender o desenvolvimento da legislação nacional dos direitos das pessoas com deficiência, faço um resgate da luta das pessoas com deficiência, enfatizando-a desde a década de 1950, passando pela década de 1980, período importantíssimo para o movimento das pessoas com deficiência no sentido de reivindicações, a partir do qual as pessoas com deficiência conseguiram ser reconhecidas como cidadãs, e verem inseridas na Constituição de 1988, muitas das reivindicações propostas ao longo da Assembleia Nacional Constituinte (ANC).

No 3º capítulo discuto a respeito da deficiência no contexto da diversidade nas organizações, mais precisamente da gestão da diversidade nas empresas, passando pelo debate das ações afirmativas como políticas de inserção, versus a meritocracia, base dos programas de gestão da diversidade com dissolução das diferenças. Nesse capítulo, ainda, apresento os conceitos de deficiências presentes na legislação federal brasileira, e que norteiam as categorizações dos indivíduos, mediante as quais são inseridos no emprego das empresas.

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1 DEFICIÊNCIA E ESTIGMATIZAÇÃO

Os diferentes tipos de deficiência e a surdez, sempre causaram espanto, mal estar e reações negativas ou positivas àqueles que com ela se deparam. Além disso, suscitam a construção de estigmas sociais como forma de marcar pessoas deficientes ou surdas, geralmente para delimitar-lhes fronteiras no processo de interação social e afiliação grupal. Isso não é diferente nas empresas em que as pessoas desses grupos são empregadas.

Com a finalidade de tornar mais clara a compreensão das relações entre deficiência e estigma social da deficiência no emprego, no presente capítulo discutido as diferentes visões da deficiência como um processo histórico e social, que foi se constituindo ao longo da história da civilização ocidental, mas centralizo a minha análise a partir do século XVIII, tendo em vista que os avanços mais significativos e importantes, relacionados às visões da deficiência e surdez aconteceram a partir desse período.

Como a deficiência era vista e foi considerada desde então, e como se constrói o estigma social da deficiência a partir das relações entre grupos de pessoas com e sem deficiência é o que me proponho a apresentar neste capítulo. Acredito que tal sumarização se faz importante para se compreender a perspectiva empresarial a respeito da deficiência, bem como a caracterização do estigma social da deficiência no emprego, quando se estiver abordando sobre esse assunto mais especificamente.

Tomando como referencia a tipologia usada por Goffman (2008) para designar aqueles que se relacionam com o estigma, estarei adotando a designação

de ―normais‖para me referir às pessoas sem deficiência e ―pessoas com deficiência ou surdas‖, com algumas variações, para distinguir aquelas que estão marcadas

socialmente em razão da limitação física, intelectual, ou auditiva que apresentam.

1.1 DIFERENTES VISÕES DA DEFICIÊNCIA

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constrói sua realidade em um processo histórico. Nesse sentido haveria muitos caminhos históricos possíveis. Cada realidade cultural só pode ser compreendida dentro de seus parâmetros, ou da sua própria lógica.‖ (Idem: 285).

O binômio ―deficiência e eficiência‖ só poderia ser compreendido do ponto de

vista sociocultural a partir do conjunto de valores que orientam as relações sociais de um determinado grupo. O mesmo pode ser aplicado no tocante à vida, à morte, à velhice, à saúde e à doença. Tudo aquilo que causa estranheza ou movimento no

chamado ―equilíbrio‖ na vida em sociedade, passa a ser visto como estranho,

diferente ou perigoso, levando até ao processo de estigmatização. Os valores culturais, interiorizados pelos membros de uma sociedade, orientam as concepções e representações individuais sobre o coletivo, apesar dos discursos individuais permitirem também, a percepção das várias visões de cada um; assim explica

Concone (2003), ―[...] não se pode esquecer que as subjetividades são elas também possibilidades do universo sociocultural, são construídas no e a partir desse universo. A cultura não é algo que está fora dos indivíduos. Está fora e dentro, se posso falar assim. Está na sociedade, mas fornece a matéria prima que permite a

formação das individualidades. Como diria Geertz, são orientações ‗de‘ e ‗para‘ o

mundo humano.‖ (Idem:78).

Seguindo esta perspectiva, Franco e Dias (2005) mostram que a história da pessoa com deficiência varia de cultura para cultura e reflete crenças, valores e ideologias que, materializadas em práticas sociais, estabelecem modos diferenciados de relacionamentos entre esta e outras pessoas, com ou sem deficiências. Segundo Ferreira e Guimarães (2003), esses relacionamentos demonstram que mesmo o homem convivendo com a diferença, ele demorou séculos para compreender e explicar cientificamente algumas dentre tantas deficiências até chegar a entendê-las. Foram as mais diferentes e variadas explicações, mas sempre distantes da importância de se considerar a deficiência como uma efetiva realidade humana. Conforme lembra Carmo (1994), as ações sempre foram no sentido da discriminação e perseguições impostas àqueles que pertenciam a esse grupo.

Conforme aponta Miranda (2004)3, o período que vai do século XVIII até meados do século XIX, traz a institucionalização das relações da sociedade com as

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Tabela 1 - Tipos de Deficiências X Pessoas com Deficiências  –  Censo Demográfico 2010
Tabela 3 - Tipos de Deficiências X Pessoas com Deficiências  –  Base 2010  Descrição  Sexo  Totais     %  Homem  %  Mulher   %   H-M Homem Mulher H-M
Tabela 4  –  Tipos de Deficiência no Brasil - Censo Demográfico 2010  Tipos de Deficiência  Homem (A)  Mulher (B)  Total  Diferença  (A-B)
Tabela 5  –  Situação das Deficiências Investigadas pelo IBGE no Censo Demográfico de 2010
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Referências

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