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um contrato de confiança (BOURDIEU, 1999).

3.5 SOBRE OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE E SUAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SI MESMO

3.5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

Do total de 119 participantes, o percentual de agentes comunitários de saúde do sexo feminino é de 90.3%, e do masculino, 9,7% (Em contrapartida, a diretoria da AACS-JP é predominantemente formada por homens, que também constituíam a maioria entre os membros da diretoria do SINDACS-PB). Este quadro essencialmente feminino deve-se à própria característica do trabalho, que envolve o cuidar e o educar. Sobre estes aspectos já apontamos que a enfermagem e a docência, historicamente, demandam atributos tidos como essencialmente femininos. E, embora não estejamos desenvolvendo uma pesquisa com enfermeiras ou professoras, permitimo-nos compará-las ao agente comunitário de saúde no que se refere às atividades voltadas para o cuidar e o educar.

Brito e Domingos Sobrinho (2001) avaliam que o agente comunitário de saúde é um educador, tanto porque assim é descrito pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1997c), como porque possuem uma visão ampla de educação, adotando sua concepção como prática social que ultrapassa os limites da instituição escolar. Igualmente porque o próprio trabalho, enquanto relação social fundamental, se constitui num princípio educativo (GÓMEZ, 1995). Argumentam ainda Brito e Domingos Sobrinho (2001) que o agente comunitário de saúde é um cuidador porque o seu papel assemelha-se ao do auxiliar de enfermagem. Como avaliam Leite da Silva e Erdmann (1995), a essência ou foco central na enfermagem é o cuidado, e nela, o cuidado torna-se profissão que auxilia na recuperação e na assistência a outrem. A relação entre o educar e o cuidar igualmente é feita por Soares (2002), para quem não nos cabe estabelecer o limite do cuidado de si, uma vez que o cuidar que promove a saúde vai além da relação individual/material, transcendendo o espaço e o tempo. O limite do cuidado de si encontra-se, segundo

a autora, no mundo subjetivo das relações, fazendo, no cotidiano, um pacto com a interdisciplinaridade e educando o ser humano para a construção e o reconhecimento da alteridade. Com ela concordamos, para defender o argumento de ser o agente comunitário de saúde um educador e um cuidador, portanto, um profissional inserido no campo da saúde e da educação. Além desses posicionamentos, apesar de ainda não termos exposto os dados relativos às representações sociais que são construídas pelos ACSs, acerca de si e da

educação em saúde, aqui se faz apropriado destacar que tais representações nos

levam a comentar sobre o cuidado como uma dimensão humana, pois “Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro” (BOFF, 1999, p. 33, grifos do autor).

Ainda sobre a larga presença feminina na profissão do agente comunitário de saúde, esta é igualmente registrada no município paraibano de Campina Grande (BRITO; MEDEIROS, 2002; 2003). Da mesma forma o é no município de São Paulo (SILVA; DALMASO, 2002). Porém, quando houve, em 2003, a contratação de 400 novos ACSs, no município de João Pessoa, o número de ACSs do sexo masculino aumentou. Mudança que chegou a ser ressaltada no registro do Diário de Campo, datado de 30 de janeiro de 2004, relativo à última reunião observada. Ou seja, presenciamos uma maior inserção de agentes comunitários de saúde do sexo masculino no PSF. O que ao nosso ver exprime ter se constituído esta profissão numa oportunidade de ingresso dos homens no mercado de trabalho, ampliada devido à falta de exigência de experiência. Mas parece demonstrar a ruptura com uma tendência anterior de feminilização da profissão.

A idade dos agentes comunitários de saúde do sexo feminino variou de 22 a 53 anos, com média de 33,7 anos (d.p. = 7), enquanto a média de idade do sexo masculino correspondeu a 29 anos, variando de 22 a 40 anos (d.p. = 5,02). Sem considerar as diferenças de sexo, a média de idade equivale a 33,4 anos (d.p. = 6,98).

Quanto à escolaridade, temos um grupo notoriamente heterogêneo. Pois 56,9% possuem o ensino fundamental completo e 14% cursam o referido ensino. Um percentual de ACSs equivalente a 15% concluiu o ensino médio, enquanto 9,1% o estão cursando, havendo inclusive matriculados na primeira fase deste grau de ensino. Matrículas no ensino fundamental significam dizer que o município de João Pessoa tem agentes comunitários de saúde que, embora atendam ao critério mínimo de escolarização requerido anteriormente pelo Ministério da Saúde, precisam concluí-lo para atender às atuais exigências. Não obstante, numa freqüência menor, há profissionais com o ensino superior completo e outros os cursando. Ressaltamos que 40,6% dos ACS freqüentam o curso de auxiliar de enfermagem. O equivalente a 38% deles já concluiu o referido curso e cerca de 25% pretendem cursá-lo. Sobre o interesse por este curso técnico, assim como o debate concernente à relação entre o auxiliar de enfermagem e o agente comunitário de saúde, ainda será necessário discutir.

Almeida (1996) avalia haver entre os profissionais das categorias auxiliares em saúde atuantes no setor, uma expressiva participação de pessoal sem qualificação formal e com precária escolarização. Sobre a escolarização dos agentes comunitários de saúde do presente estudo, não podemos argumentar que a situação seja diferente, uma vez que constatamos a presença de profissionais cuja escolaridade é inferior à primeira fase do ensino fundamental. Entretanto, não

podemos deixar de destacar a larga existência de ACS com o ensino médio completo, além dos concluintes do ensino superior e dos que cursam este nível. No que diz respeito à qualificação formal, destacamos os cursos oferecidos pela Secretaria de Saúde, tais como: Atenção Integral às Doenças Prevalentes na Infância (AIDIPI), Tuberculose, DSTs, Hanseníase, entre outros29.

A situação conjugal é a seguinte: 57,8% dos agentes comunitários de saúde vivem com um(a) companheiro(a). Um percentual de ACSs equivalente a 68,8% tem filhos, registrando-se uma média de dois filhos.

No que se refere à religião, 55,2% são católicos; 16,38% evangélicos; 4,3% outras religiões (espiritismo e testemunha de Jeová) e 19,8% não informaram. Um único agente comunitário de saúde afirmou não ter religião, enquanto quatro (3,4%) declararam ser sua religião, Deus.

Quanto ao tempo de exercício profissional, existe uma variação de dois a oito anos e uma média equivalente há quatro anos e seis meses. Com relação às informações referentes ao tempo de serviço, chama a atenção que enquanto alguns lembram dia, mês e ano da contratação, outros apenas recordam que faz muito tempo e chegam a contar anos, sem, no entanto, dizer quantos. Para fins de cálculos, estes dados foram desprezados, sem, contudo, deixarmos de considerar que eles engrossam as informações sobre o exercício da profissão vir sendo desenvolvido pelos participantes da pesquisa por um período que os aproxima dos objetos representacionais por nós investigados.

A vinculação à AACS-JP foi referida por 85,9% dos respondentes, enquanto 5,1% afirmaram não serem associados. O percentual de 9% não forneceu informação sobre sua condição de associado ou não. Ora porque não foi

29 Estas considerações se aplicam a todos os respondentes. Atualmente, o Ministério da Saúde exige

questionado, ora porque preferiu não responder.

Diante da importância do associativismo para os agentes comunitários de saúde do município de João Pessoa, traçamos um breve percurso histórico do mesmo. Conjeturamos que sua apresentação descreve-os enquanto grupo.

3.5.2 O MOVIMENTO ASSOCIATIVO COMO ESPAÇO DE LUTA E