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um contrato de confiança (BOURDIEU, 1999).

3.4 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos questionários incluiu um tratamento estatístico descritivo27. A quantificação desses dados visou ordenar a sua exploração e classificação.

Realizamos, com relação às associações-livres, uma análise categorial que permitiu classificá-las e agrupá-las por semelhança semântica. O trabalho de classificação iniciou-se pela busca de sinônimos ou palavras próximas no nível semântico. Em seguida, prosseguimos com a classificação em unidades de significação e a conseqüente categorização. Para este processo, porém, consideramos as justificativas dadas para as evocações. Embasamo-nos no posicionamento de Guimelli (1994), para quem o sujeito é o único perito de sua própria produção.

Desta forma, pudemos categorizar adequadamente evocações cujo sentido se distanciava da semântica, como por exemplo: “Educação para a saúde vem na mente Autocontrole”. Evocação para a qual foi dada a seguinte justificativa: “Autocontrole é uma coisa assim... Orienta autocontrole, no sentido de prevenção. Autocontrole para usar a camisinha: Não deu tempo, não me controlei” (FH64).

Após a categorização das associações-livres, combinamos os critérios propostos por Vergès (1992; 1994): freqüência de evocação e ordem média de evocação. Este exame tomou como base os procedimentos descritos por Sá (1996)

27 As correlações, possíveis tanto para os dados sócio-demográficos (correlações entre homens e

mulheres, escolaridade, tempo de serviço e vinculação ao PSF ou PACS), como para os próprios dados referentes às representações, deixaram de ser realizadas.

e Tura (1998) para a construção dos quadrantes de definição dos diferentes graus de centralidade dos conteúdos das representações sociais. Trata-se do mesmo procedimento adotado por nós em pesquisa desenvolvida junto a agentes comunitários de saúde do município de Campina Grande, acerca de suas representações sobre a educação em saúde (BRITO; MEDEIROS, 2002). Com os dados do referido estudo pudemos fazer um contraste com o nosso.

Além da combinação da ordem de evocação com sua freqüência, e para que não se confiasse exclusivamente na ordem imediata de evocação como um definidor da palavra ou expressão mais importante para o sujeito, realizamos uma validação experimental através da hierarquização dos elementos realizada pelo próprio sujeito. Porém, em moldes distintos da forma sugerida por Vergès (1992; 1994), que consiste em pedir aos sujeitos para sublinhar as duas evocações que lhes parecem mais importantes. Tomamos como procedimento solicitar que fosse dada a ordem de importância dos elementos evocados por cada sujeito. A partir desta ordem hierárquica, criamos uma lista com as 10 evocações apontadas como mais importantes.

Efetivamos uma validação experimental da hipótese de centralidade, através do teste de refutação (ou teste de dupla negação), o qual consiste em questionar os sujeitos se é possível pensar no objeto mediante a ausência dos elementos identificados como centrais. De acordo com Moliner (1994), a saliência dos elementos não assegura serem estes de fato centrais, por isso, este teste pode ser usado como relevante indicador da centralidade. Sua lógica, segundo Silva, Tura e Madeira (2003), é enfatizar o trabalho cognitivo, o qual implica reconhecer os elementos não negociáveis da representação.

centrais da representação social de agente comunitário de saúde e de educação

em saúde. A título de exemplo, questionamos: (a) É possível pensar em agente

comunitário de saúde sem pensar em orientador? (b) É possível pensar em agente comunitário de saúde sem pensar em amigo? etc (c) É possível pensar em

educação em saúde sem pensar em prevenção? (d) É possível pensar em

educação em saúde sem pensar em higiene? E assim por diante, conforme os

elementos identificados no sistema central da representação social destes objetos. Para o tratamento das entrevistas, utilizamos a técnica da análise temática de conteúdo, conforme proposta por Bardin (1978). Também com apoio em Vala (1986), segundo quem o pesquisador, ao proceder a análise de uma entrevista, formulará uma série de questões: sobre a freqüência e importância da ocorrência; sobre as características ou atributos associados aos diferentes objetos; sobre as associações ou dissociações entre objetos. Esta foi uma análise parcialmente realizada, uma vez que optamos por examinar apenas as conexões, com base num fundamento teórico-metodológico, tal como descrito por Sá (1996). De acordo com este autor, além da saliência, a grande quantidade de conexões que um elemento mantém com outros elementos da representação é freqüentemente considerada como um segundo indicador de sua provável participação no núcleo central.

Para Moliner (1994), uma das características dos elementos centrais de uma representação é a sua maior conexidade em relação com os elementos periféricos. Ainda segundo ele, na caracterização dos elementos centrais devem ser buscados seu valor simbólico, sua saliência, sua associatividade e sua conexidade. Deste modo, parece aqui cabível explicitar que não realizamos a tradicional análise de similitude. Não por desconsiderarmos sua importância. Reconhecemos inclusive que a mesma possibilita mais rapidamente a interpretação de dados, além de enriquecer

as análises. Avaliamos ser um método de detecção de conexidade amplamente utilizado, como demonstram os estudos de Tura (1998); Madeira, Tura e Gaze (2003) e Magalhães e Barbosa (2003). Porém, uma vez que caracterizamos o presente estudo como por excelência qualitativo, havendo outras formas de identificação28 da mesma, como constituição de pares de palavras, comparação pareada e constituição de conjuntos de palavras, optamos por utilizar a seguinte forma: listar conexões a partir das justificativas feitas pelos agentes comunitários de saúde para as evocações por eles feitas. Convém destacar que este procedimento não foi planejado, mas sim identificado, por ocasião da análise.

Quanto à forma de categorização dos dados, a mesma foi manual, com consenso de três juizes experientes no processo. Diante deste procedimento, parece-nos necessário explicar porque não elegemos o uso da análise através do EVOC, tratamento estatístico de uso já consagrado nos estudos sobre a perspectiva estrutural das representações sociais. Tomamos como base o já comentado sobre o cuidado com a confiança excessiva no poder de análise dos instrumentos estatísticos. Encontramos apoio também em Kronberger e Wagner (2002), quando avaliam que repostas abertas e de associação de palavras podem ser feitas tanto através de análise de conteúdo manual como de procedimentos estatísticos automatizados. Assim, optamos pelo uso da categorização manual para dar conta de evocações combinadas (“Confiança e solidariedade” FH21 / “Mais informação e

comunicação” FH38), de evocações cujo sentido se distancia da semântica (“Autocontrole” FH64) e de evocações longas (“É passar tudo que aprendi para outro” FH74 / “Pessoas que não têm medo de enfrentar dificuldades dentro de sua

28 Para detalhamento destas técnicas, Cf SÁ, C. P. da. Núcleo Central das Representações

profissão” FH90). Ainda, a opção em não usar o EVOC não impediu que combinássemos a freqüência e a ordem média de evocação e subseqüentemente identificássemos a configuração estrutural da representação social de agente

comunitário de saúde e de educação em saúde.

Posto que, segundo a Teoria do Núcleo Central, a configuração estrutural de uma representação social se constitui de seu provável sistema central e periférico, mesmo tendo sido por nós seguida a orientação de trabalhar com uma pluralidade de instrumentos para dar conta da complexidade do constructo das representações, uma vez que deixamos de utilizar o EVOC e a análise de similitude, achamos ser necessário aplicar o teste de refutação conforme descrito por Moliner (1994).

No que se refere à análise dos dados das observações participantes, estas subsidiaram a redefinição dos instrumentos de coleta de dados, principalmente as referentes à relação da comunidade com os agentes comunitários de saúde. É que uma vez que tivemos o cuidado de trabalhar com o TCLE, a viabilização do seu uso junto a grupos como crianças, adolescentes, idosos, requeria a autorização de seus responsáveis. Além do que principalmente as mulheres tinham receio de assinar um documento sem combinar com seus companheiros. Como nosso estudo trata da identidade social, que já afirmamos, se relaciona com a identidade atribuída pelos outros a um determinado grupo, a representação daqueles para quem se volta a atuação dos agentes comunitários de saúde: as famílias / a comunidade, precisou ser inferida através de observações e conversas que foram tidas por ocasião das participações nas reuniões, nas salas de espera das unidades de saúde etc.

Comentar mais sobre o termo de compromisso seria necessário, para poder se dar conta da complexidade envolvida com o seu uso. Mas preferimos apenas destacar sua importância nesta pesquisa e o compromisso dos pesquisadores com

todos os termos, principalmente com a devolução dos dados. Tal compromisso parece-nos ensejar um capítulo à parte, porém a ser escrito posteriormente. Inferimos que não somente com os agentes comunitários de saúde, mas essencialmente com eles, o debate será enriquecedor e contínua fonte de coleta de dados. Por ora, cabe-nos apresentar os resultados já obtidos.

3.5 SOBRE OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE E SUAS