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um contrato de confiança (BOURDIEU, 1999).

3.1 POPULAÇÃO E CAMPO DE OBSERVAÇÃO

Livrai-nos dos cães de guarda metodológicos (BOURDIEU).

Conforme já demonstramos, o campo da saúde é o espaço sobre o qual investimos nosso olhar como pesquisadores. Focalizamos especificamente o PACS e o PSF do município de João Pessoa. No primeiro, transitam agentes comunitários de saúde e enfermeiras. O segundo é um espaço no qual circulam, além destes profissionais, auxiliares de enfermagem, médicos, odontólogos e auxiliares de gabinete odontológico. Apresentamos esta ordem de enumeração dos profissionais propositalmente. Ela traduz, ao nosso ver, a relação de maior proximidade com o ACS via atribuições de cada um destes profissionais. Relações que se alteram, dependendo das características de algumas equipes e de sua clientela. Contudo, embora nosso estudo se inscreva no campo da saúde, de acordo com o já comentado anteriormente, ele se articula com o campo da educação.

Falar sobre a população do presente estudo implica, além de contextualizar o PACS/PSF do município de João Pessoa, conforme o fizemos no capítulo anterior, apontar números. Ou, mais especificamente, indicar quantos eram os ACSs, na época da coleta de dados: 197. Deste número, 161 estavam distribuídos nas 52 equipes do PSF e 36 eram vinculados ao PACS (informação verbal)18. Destacamos

18 Informações prestadas pela Coordenação do PACS/PSF, por ocasião de um dos contatos feitos na

estas informações porque foi com base nelas que traçamos nosso percurso metodológico, levando em consideração que estes profissionais estão distribuídos em cinco Distritos Sanitários. Situamos estes números no tempo porque, enquanto desenvolvíamos a pesquisa, acompanhamos uma ampliação do PSF que resultou na totalização de 660 ACSs atuando no município, no início de 2004, ao término da coleta de dados. Com os recém-contratados, apenas tivemos breves interações que ocorreram casualmente. Porém, em duas das observações sistemáticas, pudemos observar o grupo depois de sua ampliação.

Para compreender qual a hetero-representação social do agente comunitário de saúde, ou seja, qual a identidade a ele atribuída pelos outros, não pudemos nos eximir de coletar dados junto aos demais profissionais das equipes do PACS e do PSF. Também junto à direção de um dos Distritos Sanitários e a profissionais das coordenações dos programas. Quanto à identidade que lhe é instituída pelo Ministério da Saúde, analisamos documentos e discursos oficiais. Entre os documentos, os manuais de implantação e relatórios de avaliação dos programas, as portarias que os instituíram e a portaria que reconheceu a profissão do agente comunitário de saúde. Os discursos: um de um representante da Secretaria de Saúde do Município e outro de um representante do Ministério da Saúde.

Como campo de observação, temos: (1) as micro-áreas de atuação dos agentes comunitários de saúde, (2) as Unidades de Saúde da Família, (3) a Associação dos Agentes Comunitários de Saúde (AACS-JP) e (4) o Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde do Estado da Paraíba (SINDACS-PB).

Não delimitamos, a priori, o número de participantes do estudo, nem compusemos uma amostra representativa da população. Nossa opção teórico- metodológica, entretanto, nos fez planejar um número de sujeitos que, após a

análise das evocações, permitisse identificar a configuração estrutural da representação social de agente comunitário de saúde e de educação em saúde. Tivemos, ainda, o cuidado de trabalhar com profissionais dos distintos Distritos Sanitários e de abranger uma maior diversidade de Unidades de Saúde da Família, além de ACSs e da instrutora/supervisora do PACS. Optamos por não coletar dados junto a agentes comunitários de saúde recém-contratados. Com base nestes critérios, da seguinte forma se distribuem os participantes da pesquisa:

(a) 11919 agentes comunitários de saúde de ambos os sexos, dos quais 82% do PSF e 18% do PACS. A grande maioria de profissionais do PSF decorre da amplitude do mesmo em detrimento do PACS. Nestes termos, trabalhamos com 55,5% do total de profissionais do PACS e com 61,5% do PSF.

(b) a enfermeira do PACS

(c) 63 profissionais da ESF e da coordenação PACS/PSF, de ambos os sexos, assim distribuídos: 16 enfermeiras, 16 auxiliares de enfermagem, 12 médicos, nove odontólogos, seis auxiliares de gabinete odontológico, quatro coordenadores, um psicólogo20 e uma recepcionista21.

Devemos, no entanto ressaltar que essa delimitação numérica refere-se especificamente aos respondentes dos instrumentos. Na prática, o número de participantes foi maior, uma vez que, em decorrência das observações, a pesquisa envolveu outros agentes comunitários de saúde, inclusive de outros municípios, sobre os quais também são comuns os registros no Diário de Campo. Contamos

19O leitor poderá questionar porque este número, e não 120, que inclusive correspondeu ao total de

respondentes. Ocorreu que uma das ACSs, após o processo de coleta de dados, desistiu de participar da pesquisa.

20Apenas uma equipe contava com um profissional de Psicologia trabalhando à sua disposição, sem,

no entanto ser um membro efetivo da equipe.

também com dados de agentes comunitários de saúde e enfermeiras que foram acompanhados em visitas domiciliares e/ou nas USF.

Alguns dos agentes comunitários de saúde observados nestas situações, além de outros cujas interações se deram exclusivamente na sede da AACS- JP/SINDACS-PB, entre os quais alguns recém-contratados, participaram do teste de refutação, de acordo com a descrição que fazemos posteriormente.