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Caraterísticas do mediador onde incluímos um con junto de competências, ou simplesmente caraterísticas

MEDIAÇãO, RE-AlIANÇA E cUltURA DE PAz

5) Caraterísticas do mediador onde incluímos um con junto de competências, ou simplesmente caraterísticas

pessoais que foram consideradas, por fontes muito diver- sas, relevantes param o exercício do papel do mediador, tais como: Imparcialidade, Formação, Firmeza, Credibili- dade, Simpatia, Atitude Conciliadora, Compreensão pelos interesses de ambos, Controle de expressões hostis entre as partes, Criação de um clima confiança, Capacidade su- gerir, Exercício da pressão e Esclarecimento de assuntos importantes.

Finalmente, os resultadosdamediação ou o sucesso da mes-

ma, marca dentro do modelo, o ponto sobre o qual gravitam todas as variáveis consideradas. O sucesso da mediação inclui certamente diversos aspetos e a perceção final do resultado está provavelmente condicionada não só pelo grau de cum- primento do acordo, mas também por outros fatores como a satisfação sentida e a eficácia percebida, etc.

Embora se trate do ponto final do processo de mediação, os resultados, o êxito e a eficácia atribuída à mesma é o aspecto

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Construir a Paz: VISõES INtERDISCIPLINARES E INtERNACIONAIS SObRE CONhECImENtOS E PRátICAS

que nos permite ordenar os diversos fatores concorrentes do modelo. Ou seja, perguntar pelo resultado - bem-sucedido ou não - no processo de mediação, leva-nos a indagar as razões do mesmo e a ir, portanto, decidindo da importância de cada fator em função da sua relação, importância ou “contribuição” para uma solução positiva.

uma aBordagem emPíriCa

Os resultados ora apresentados inserem-se numa investigação mais ampla, cujos resultados estão em fase de análise. No en- tanto avançam-se algumas conclusões desse estudo.

O objectivo central do estudo foi o de investigar a coerência do modelo proposto e as suas consequências, ou seja, estabe- lecer as variáveis relevantes do processo de mediação, as rela- ções entre elas e a sua relação final para o sucesso ou fracasso da mediação.

O trabalho consistiu na administração de um questionário preparado pelos autores para uma amostra de 274 sujeitos, que previamente recorreram ao Gabinete de mediação Fami- liar (GmF), de Lisboa, solicitando a mediação de disputas re- lacionadas com a sua separação e/ou divórcio.

O questionário era composto por um conjunto de questões sobre uma vasta gama de aspetos da rutura e/ou separação. tendo em consideração que a investigação não está totalmen- te concluída, iremos referir sinteticamente alguns resultados extraídos das medidas das variáveis mais relevantes, ao nível das frequências. Uma análise, mostrando as relações entre eles, será posteriormente divulgada.

• A grande maioria das pessoas que concluem o pro- cesso de mediação, valorizam-na muito positi- vamente (percentagens que estão situadas nos 87,6%), considerando-a uma ajuda muito eficaz.

- também 73% declaram estar globalmente satisfeitos com o acordo alcançado. Entre eles 88,7% dos inquiridos in- dicam que se comprometem a cumprir os acordos e afir- mam recomendar a mediação (95,6%).

- O único aspecto referido que a mediação não tem tais re- sultados positivos é o da melhoria das relações com seu antigo companheiro. Considerando que apenas 25,5% ex- pressaram o sentimento dessa melhoria.

- Finalmente, 85,9% dos indivíduos sustenta que a media- ção tornou possível um melhor acordo do que o que se obteria por outro meio possivelmente utilizável.

• 88,8% dos sujeitos expressam uma firme von- tade prévia de chegar a acordo e 71,9% têm bas- tante ou muito confiança no resultado.

A atitude das partes em conflito, relativamente à mediação tem sido frequentemente vista como fundamental para o su- cesso do mesmo. Quando dizemos “atitude” referimo-nos a uma predisposição geral positiva para a mediação, o que sig- nifica que os indivíduos têm confiança que nesta circunstância o acordo será possível. Dito de outro modo, os participantes que anunciam estar motivados para iniciar o processo; apre- sentam, igualmente, uma expectativa de sucesso razoável que facilitará o esforço que, necessariamente, terão de enfrentar. Por outro lado, o aumento da confiança na mediação apre- senta uma correlação significativa com a “eficácia percebida”, abordagem clara, como dissemos, de sucesso na mediação.

- Do ponto de vista do fracasso é também evidente a impor- tância da motivação, porque as razões apresentadas pelas pessoas que abandonam o processo sem concluí-lo estão

relacionadas com problemas de interação com seus compa- nheiros, rigidez de posições e muita hostilidade.

• Com respeito às caraterísticas dos mediadores, como já foi sublinhado, surge como um possível preditor de sucesso da mediação. Neste contexto e tendo dados meramente descritivos, verificamos que mais de 90% da amostra sentiu que o mediador mostrou níveis muito elevados de imparcialidade, confiança, conhecimento, simpatia, firmeza, abordagem conciliatória e compreensão pelos interesses de ambos. É, portanto, um conjunto de re- cursos do mediador, que globalmente denominamos de “habilidades sociais”, que têm uma alta correlação com dois tipos de resultados bem-sucedidos na mediação. Especificamente, a “eficácia percebida” correlaciona sig- nificativamente com caraterísticas tais como imparcia- lidade, confiança, simpatia, abordagem conciliatória e compreensão. E a “satisfação com o acordo” é significati- vamente associada com imparcialidade, confiança, sim- patia e compreensão, também com taxas muito elevadas. Além disso, as intervenções do mediador determinam a atitu- de dos litigantes, no sentido de aumentar a confiança no pro- cesso de mediação. Prova disto é a existência de correlações significativas entre este aumento e alguns recursos sociais do mediador já referidos como habilidades relacionais.

• Com respeito às caraterísticas da rutura, as causas apon- tadas com maior frequência foram a “falta de comuni- cação”, considerada importante por 64,6% dos casos; em seguida, “desacordo sobre questões importantes” (52,9%) e finalmente, “desamor” e “incompatibilidade pessoal”, com 52%. Ao que parece, portanto, que a ex- plicação da ruptura não é tanto um facto ou uma con- duta específica mas uma situação continuada de falta de compreensão ou progressiva deterioração da relação. E que o que define a separação antes de ir para o serviço de mediação é o elevado nível do conflito, que para 66,4% dis- se ter passado por esta situação, durante o último período de coabitação. Para uma maior expressividade, observe-se que 72% dos entrevistados falam de muito difícil coabitação, 74% de incomunicabilidade, de incompreensão 72%, etc. Ou seja, a dimensão relativa ao nível de conflito apresenta um perfil claro e contundente.

Daí que a abordagem de muitos autores que consideram como mais adequado para a mediação de um nível interme- diário de conflito torna-se irrealista. Os dados mostram que o conflito quando chega à mediação já experienciou com muita frequência um aumento muito notável e rigidez de posições, em muitos casos, um processo de escalada.

VOL 1. Família, Justiça, soCial e Comunitária

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ConClusões

Sintetizaremos agora as principais conclusões que poderão ser retidas do presente trabalho.

A valorização da mediação é um dado salientado pelos entre- vistados em diferentes momentos do estudo. A mediação é va- lorizada pelos usuários, com expressões de satisfação elevada.

Na linha apresentada pelo modelo, a atitude geral dos liti- gantes e, mais especificamente, a sua motivação surgem como relevantes para o início, desenvolvimento e fim da mediação.

Um conjunto de caraterísticas do mediador, que podem ser denominadas de habilidades sociais afeta significativa e direc- tamente os resultados da mediação e, indirectamente, através de sua influência sobre a atitude das partes.

O grau de conflitualidade que leva os sujeitos a recorrer à me- diação é geralmente alto, com todas as consequências que isso implica.

Como nos refere Parkinson (2008), o estabelecimento de acordos concretos não é de modo algum nem o único nem necessariamente o principal objetivo da mediação, tornar possível que as pessoas entrem num diálogo que aumente a compreensão mútua vale a pena, mesmo que não cheguem a nenhum acordo escrito.

Importa ressalvar que a mediação constitui, a par da negocia- ção, arbitragem, conciliação e ação independente das partes uma via privilegiada de construção de paz, tal como nos refe- rem Pruitt e Carnevale (1993).

Em suma, procurou-se apresentar a perceção de alguns dos que experienciaram processos de mediação, de pacificação e de edificação de uma Cultura de Paz onde o Nós parental se sobrepôs aos Eu´s partes litigantes, nomeadamente na criação de ganhos e benefícios conjuntos de todos os envolvidos direta ou indiretamente no processo.

Por último, considerando que os primeiros dados que resul- tam desta investigação, por se apresentarem relativamente consistentes com outras pesquisas poderão constituir uma interessante contribuição para a problemática da eficácia da mediação na resolução construtiva de conflitos e espera-se que futuros resultados venham a corroborar o modelo no qual esta investigação se insere.

BiBliograFia

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