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cONtEXtO DA MEDIAÇãO FAMIlIAR

VERA RIbEIRO

ASSOCIAçãO DE mELhORAmENtOS E bEm EStAR SOCIAL DE PIAS, AmbESP

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RESUmO

Com um serviço de mediação adequado, o ideal de responsabilidade parental partilhada poderá vir a ser a realidade para a maioria dos pais divorciados ou separados. A mediação familiar pode oferecer os meios mais eficazes e eficientes para o conseguir. A mediação é utilizada para promover em pais separados e a parentalidade parti- lhada, como uma alternativa viável, reduzindo-lhes as suas ansieda- des, ajudando-os a trabalhar colaborativamente e a desenvolver um plano de parentalidade partilhada, ajudando na transição para uma parentalidade pós divórcio.

AbStRACt

With an appropriate mediation service, the ideal of shared paren- tal responsibility could be the reality for most divorced or separated parents. Family mediation can offer the most effective and efficient means to achieve it. mediation is used to promote in the divorced par- ents shared parenting as a viable alternative, reducing their anxieties, helping them to work collaboratively and to develop a shared parent- ing plan, assisting in the transition to a post-divorce parenting.

“A Parentalidade é porventura

a tarefa mais desafiante da vida adulta” (Cruz, 2005)

O objectivo desta comunicação pretende reflectir sobre o tema Parentalidade e Género em contexto de mediação.

temos conhecimento de que a família desempenha um papel essencial na formação de pessoas conscientes da sua responsa- bilidade social e ligadas aos nobres ideais de justiça, de paz, de liberdade e de amor por todos os seres humanos e pelas suas realizações criativas. Já em 1969, reiterando uma afirmação das Nações Unidas a família é considerada como, “o elemento básico da sociedade e meio natural para o desenvolvimento e bem-estar de todos os seus membros, deve ser ajudada e pro- tegida a fim de poder assumir plenamente as suas responsabi- lidades na comunidade”

Até meados do séc. XVIII a autoridade parental era carac- terizada pelo autoritarismo masculino, que se demonstrava pela rudês com que o pai tratava os filhos não havendo por isso espaço para que pudessem ser demonstrados afectos e emoções. Ao trabalho parental efectuado pelas mulheres chamaram-lhe função maternal, pois eram estas que tinham a função de procriar, educar, cuidar, cabendo-lhes toda a res- ponsabilidade pelos cuidados da criança. Ao longo dos tem- pos como é natural, estas ideias foram incutidas na sociedade o que fez com que chegássemos tão tarde à equidade das res- ponsabilidades parentais.

O termo parentalidade foi proposto por Paul Claude Reca- mier, em 1961, e foi utilizado por vários autores a partir da década de 80, para se referir aos pais e funções parentais.

José Luiz Caon, psicanalista, afirma que as várias opções do conceito de parentalidade obrigam o investigador de qualquer área a discernir bem o que é “estrutura parental”, o que é “fun- ção parental” e o que é “papel parental”.

Função parental é, então, uma função sem limites, sem li- mites nos cuidados prestados, sem limites nos sentimentos despertados, sem limites nos “fardos” suportados, e Papel pa- rental as competências adquiridas para o poder desempenhar. Quando falamos em Parentalidade vem nos à ideia a tão fa- lada parentalidade positiva (Recomendação do Conselho da Europa, Lisboa, 2006) referimo-nos a um “comportamento parental baseado no melhor interesse da criança e que assegu- ra a satisfação das principais necessidades das crianças e a sua capacitação, sem violência, proporcionando-lhe o reconheci- mento e a orientação necessários, o que implica a fixação de limites ao seu comportamento, para possibilitar o seu pleno desenvolvimento”. Este tipo de parentalidade segundo a Ame-

rican Academy of Pediatrics (2005), previne maus tratos- in-

fantis, aumenta a auto-estima e facilita o desenvolvimento da criança, sendo assim a chave para a preservação familiar em que os pais e as mães são a melhor fonte de protecção para as crianças e adolescentes, e o recurso normal para cobrir as suas necessidades de todo o tipo. Funciona como promotor da continuidade dos afectos das crianças na família.

A Parentalidade surge no contexto da família como uma prá- tica ancestral, pois é na família que a criança começa a utilizar os valores da inter-relação social que lhe vão marcar os pa- drões de conduta e reproduzir da micro para a macro socie- dade e onde a criança Segundo Ausloos (1996, cit. por Gomes, ) estabelece-se entre pais e filhos marcando o ciclo de vida da família, e tornando-se universal na medida em que todas as famílias experienciam o processo de Parentalidade.

“Um dos papeis mais importantes dos pais é o de ajudarem os filhos a crescer. Para isso, é preciso saber ser crescido com calma, segurança e paz, e dizer: “Vai, segue em frente. Olhos levantados” (Strecht, 2004).

Assim, qualquer que seja o modelo utilizado, o objectivo da mediação familiar é, então, o de reverter as componentes ne- gativas, destrutivas, alienantes e diabolizantes do conflito em

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Construir a Paz: VISõES INtERDISCIPLINARES E INtERNACIONAIS SObRE CONhECImENtOS E PRátICAS

componentes positivas, construtivas, de conexão e humani- zantes (bush & Folger, cit. por Gomes,).

Parece-nos importante que qualquer que seja o resultado e o contexto de uma mediação familiar, esta tenha que resul- tar em decisões parentais responsáveis e o impacto destas nas relações e no exercício da parentalidade. Sendo o papel do mediador familiar importantíssimo no garante do superior interesse da criança.

Os pais necessitam de apoios formais e informais para levar a cabo a sua função, sobretudo em situações de adversidade psicossocial, de forma a poderem exercer a Parentalidade Positiva.

Neste sentido surge-nos a educação parental que é definida por (Pugh et al., 1995) como “Um conjunto de actividades educativas e de suporte que ajudem os pais ou futuros pais a compreenderem as suas próprias necessidades sociais, emo- cionais, psicológicas e físicas e as dos seus filhos e aumente a qualidade das relações entre eles”.

No que à mediação diz respeito segundo Irving e benjamin (2005) existe o quadro mediador que é composto por sete etapas previamente definidas: 1) Responsabilidades parentais partilhadas; 2) os pais têm interesses comuns em relação aos filhos, 3) os pais são responsáveis pelas decisões familiares, 4) cada um dos pais tem liberdade para educar o filho quando este está consigo, 5) Os pais são responsáveis por colocar o in- teresse do filho em primeiro lugar, 6) deve haver uma separa- ção clara entre a separação conjugal e a parental, 7) O passado é um ponto de partida para uma história futura, por isso deve ser abordado na mediação.

mães e pais com interesses egoístas de se atingirem mutua- mente, quebram todas as hipóteses de consenso, prejudicando a criança que depende deles. Estas mães e estes pais privam os filhos da relação com o outro pai, reclamando a guarda sin- gular no que pode ser considerado um mau trato emocional grave. também em situações mais delicadas cabe ao mediador exercer mais afincadamente o seu papel de educador.

Ainda se torna necessário nos dias de hoje reflectir e discutir a responsabilidade da participação do elemento masculino no assumir em pleno as suas responsabilidades parentais. Fazer com que as estatísticas que demonstram que as crianças após a separação dos pais, independentemente das responsabilida- des parentais há pouco tempo a esta parte serem conjuntas, passarem mais tempo com a mãe, por ser a esta que compete por (herança cultural) e passarem a ter um crescimento com qualidade e quantidade igualitária de afecto parental. Pare- ce-nos aqui que a mediação pode e deve ter um papel muito importante no que diz respeito ao proporcionar um quadro adequado para a tomada de decisões relativas aos seus filhos, e à sua consequente responsabilização. há que mudar menta- lidades para que possa efectivamente haver uma superação da desigualdade de género. Os mediadores familiares têm aqui um grande desafio, vencer a neutralidade com todos os valores e crenças que a eles lhes estão associados.

É responsabilidade parental pôr o Superior Interesse do filho menor acima das divergências e chegar a um consenso que dê lugar à guarda conjunta (no sentido literal das palavras), única regulação ajustada do exercício do poder paternal.

mulheres e homens só se confrontam com a parentalidade quando a vivem. Uns serão mais competentes que outros, é certo, mas todos poderão ser auxiliados a desenvolver compe- tências ainda não exploradas. É um direito da criança, que os adultos que exercem a parentalidade, ponham o seu Superior Interesse acima das divergências e conflitos que os separam e caminhem para o consenso.

A importância da mediação como instrumento de apoio aos agentes do conflito para que cheguem à solução relativamente ao Superior Interesse das crianças e do seu melhor interesse é o caminho considerado. A mediação familiar já é utilizada no nosso país mas merece uma implementação mais eficaz. BiBliograFia

• Gomes, L. (2010). Percursos da mediação fami- liar. In Cunha, P. et al., II Colóquio sobre mediação

- Reflexões sobre práticas (pp. 65-75). Porto: Edi-

ções Universidade Fernando Pessoa, 2ª edição. • Irving, h. & benjamin, m. (2005). Using the “medi-

atable Frame” to Define the Problem in mediating a Parenting Plan, Mediation Quarterly, Vol. 22(4), 473-491. 1969, afirmação das Nações Unidas --- • http://www.gral.mj.pt • www.palavraescuta.com.br/textos/parentalidade • https://woc.uc.pt/fpce/getFile.do?tipo=2&id=8093 • www.attachmentparenting.org • www.psicologia.com.pt/artigos/textos/tL0100.pdf • www.fpce.uc.pt/familias/SemII/EdParentalDout.pdf • www.forma-te.com/mediateca/down- load.../7102-parentalidade.html

DA VIVÊNcIA EM VIOlÊNcIA FAMIlIAR À (RE)