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Carta de demissão de Carl Svensson à Örebromissionen

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CAPÍTULO 2 – IGREJA BATISTA SUECA: DISPUTA DE PODER RELIGIOSO ENTRE MISSIONÁRIOS SUECOS DA ÖM E PASTORES NATIVOS

2.3. Igreja Batista Sueca e a centralidade do poder sobre Erik Jansson

2.3.9. Carta de demissão de Carl Svensson à Örebromissionen

Apresentamos agora a carta que contém o pedido formal de demissão de Carl Svensson da ÖM, bem como um pedido de recomendação da instituição ao Svenka Satndarets Red, de Chicago, Estados Unidos.

Para a Örebromissionen, Suécia.207 Saudação de Paz!

Eu tenho pensado nas coisas que me foram apresentadas por meio do irmão Welander. (Não digo do irmão Welander) e, se cheguei a decisão de avisar a minha demissão para o dia 1º de Setembro, ou melhor, para o dia 10 de abril, já que ÖM acha que deve ser a data da demissão. Não posso fazer nada de bom nesta época com isto perante os meus olhos. Porque iria sentar aqui com uma aparência de importante. Eu vou descansar. (Irei trabalhar onde tenho oportunidades). Eu decidi com minha esposa que, se Deus permitir, viajar para os Estados Unidos da América e visitar os meus pais e, ao mesmo tempo ver algo para mim. Ainda não resolvi se vou continuar a trabalhar com o Evangelho. Não quero ser teimoso, mas estou achando que não posso terminar agora. O chamado de Deus de deixar a linha 8 aqui em Ijuí tenho sentido a um bom tempo, mas não sabia como isto iria acontecer. Agora sei. Sei que a minha esposa e toda a igreja já sabiam e, se não lembro errado, tenho conversado com alguns dos colegas sobre o mesmo. Agora está pronto. Não tenho reclamação, isto deixo para

outros. Também não quero brigar a respeito sobre um “pedaço de relva”. Os lugares e os campos são muitos e as almas preciosas demais. Se a ÖM acha que ainda posso participar no trabalho de ganhar almas como um missionário enviado, ficaria muito agradecido se uma recomendação sobre isso fosse enviado ao SVENSKA STANDARETS RED, CHICAGO. Ill. EUA, de preferência, antes do 1 de setembro. Não estou pedindo para continuar como seu obreiro. Isto nem os meus colegas vão querer e nem eu. Eu tenho ouvido de cima o clamor como o de Abraão para com seu sobrinho: Briga não pode haver entre nós, se queres ir a direita, vou a esquerda208

Svensson demonstra uma profunda decepção com o rumo que tomou sua atuação missionária no Brasil. Fica-nos evidente que os desgastes diante da missão e de Jansson chegaram a um limite intransponível, o que teria levado Svensson a tal atitude. Como nos informa Ulrich Elof Svensson209, filho do missionário Carl Svensson, afirma que seu pai trabalhou de 1914 a 1921 para a ÖM.

A tristeza e vergonha que agora está em meu interior não vale a pena mencionar. Com a ajuda de Deus, quero levantar o peso, que seria a única coisa certa. Vou rejeitar a todos os pedidos de cooperação daqui para frente. Quer dizer, se aqui ou ali vou começar um trabalho como pregador e vou fazer de tudo para tratar bem os meus irmãos em Cristo, como se deve. Não posso sentir desarmonia com eles enquanto vou “receber algo das fontes de cima e baixo”. Que Deus possa ajudar, para que não use erradamente o que foi me dado para o glorificar. O tesouro está num vaso de barro. Estou vendo que quase preguei, não foi a minha intenção. A intenção foi de pedir demissão e pedir a sua resposta até os EUA, ja que espero logo viajar para lá. Seu sempre agradecido e satisfeito,

Carl Svensson

Em 6 de junho de 1921, em uma reunião da diretoria na Suécia, Svensson e sua esposa foram excluídos da ÖM, como nos conta Svensson210: “porque não se achou conveniente, por certas razões, que permanecessem como missionários”. Há necessidade de verificarmos com maior profundidade as motivações da demissão de Svensson, entretanto, na batalha institucional empreitada entre Jansson e Svensson, o primeiro teve o resultado esperado, permanecendo como líder da ÖM no Brasil, monopolizando todas as esferas de poder institucional sobre si, algo que levou anos para reconquistar.

As constantes insatisfações entre os missionários da ÖM, Erik Jansson e Carl Svensson, que duraram por sete longos anos, entre 1914 e 1921, demonstram que, diante de relações de poder, que podem ser travadas durante longos períodos, a tentativa de minar as forças do

oponente é uma estratégia desgastante para todos. Tanto os missionários como a igreja sofreram

demasiadamente com a situação criada por ambos. A falta de estratégias, união e

208 Svensson faz alusão ao texto bíblico de Gênesis 13.8-9: “Então Abrão disse a Ló: ‘Não haja desavença entre mim e você, ou entre os seus pastores e os meus; afinal somos irmãos! Aí está a terra inteira diante de você. Vamos nos separar! Se você for para a esquerda, irei para a direita; se for para a direita, irei para a esquerda’”. Bíblia Sagrada (Nova Versão Internacional - NVI).

209 SVENSSON, Ulrich Olof. Não a nós, Senhor. Belo Horizonte, MG: Editora Betânia, 2002. p. 56. 210 Ibid., p. 56.

comprometimento foram determinantes para o crescimento denominacional lento. Devemos levar em consideração que a composição da igreja era de agricultores que, em alguns casos, percorriam grandes distâncias até os locais de cultos, dificultando o acesso de muitos.

Pensando nas relações de poder dentro da IBS e, posteriormente, da CIBSR, é possível afirmar que os missionários colocavam seus próprios interesses acima dos da comunidade de irmãos, o que certamente prejudicou o crescimento da IBS. Nessa constante batalha pelo poder, Jansson acabou saindo vencedor, entretanto todos perderam. As relações de poder são uma forma relativamente estabilizada de forças, evidenciando implicações de um acima e outro abaixo, como nos afirma Foucault211, demonstrando diferença de potencial.

A partir do pensamento de Foucault, podemos afirmar que Jansson teve seu potencial institucional reconhecido, pois, após perder espaço para Svensson, mudou sua estratégia de trabalho, influenciando com maior força as decisões denominacionais, isolando seu

colaborador e centralizando o poder institucional. Trata-se de uma questão de poder e não de

religião, de imposição frente à comunidade e não preocupação com a mesma. A prática ministerial de ambos os missionários suecos demonstram essa dinâmica, contudo, precisamos salientar que não está explicito nas cartas, porém, o distanciamento entre eles; as formas distintas em suas atuações ministeriais é que nos levam a tais argumentações.

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