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Carta de Erik Jansson a John Ongman

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CAPÍTULO 2 – IGREJA BATISTA SUECA: DISPUTA DE PODER RELIGIOSO ENTRE MISSIONÁRIOS SUECOS DA ÖM E PASTORES NATIVOS

2.3. Igreja Batista Sueca e a centralidade do poder sobre Erik Jansson

2.3.2. Carta de Erik Jansson a John Ongman

Com o passar do tempo, Jansson sentia-se à vontade para investir os recursos enviados pela ÖM ao Brasil com o intuito de consolidar os projetos da IBS que julgava serem importantes

183 Ibid., p. 101.

184 Trataremos logo à frente sobre esse assunto, quando iremos expor a carta de demissão de Erik Jansson. 185 Trataremos logo à frente sobre esse assunto, quando mencionaremos o episódio em que Svensson envia uma

em Guarani. Ocorreu que, em virtude de um mau planejamento financeiro e da falta de uma estratégia clara de implantação dos trabalhos, Jansson gastou mais do que recebeu da missão, pois, muitas vezes, os salários vinham atrasados em até três meses, o que teria ocasionado o endividamento do missionário. Entretanto, é preciso ressaltar que, para um andamento adequado do trabalho, fazia-se necessário gastar e investir o dinheiro com estratégias claras. Jansson contraiu as dívidas, pois desejava adquirir as posses para implantação da escola para os filhos dos colonos suecos, bem como para a construção de uma casa para ele e a esposa, Anna, e, ainda, a construção da igreja.

Na carta abaixo, Jansson demonstra o desconforto enfrentado diante dos colonos suecos quanto às dívidas da ÖM assumidas em seu nome.

Caro pastor John Ongman! A paz do Senhor. Agora posso avisar que Pr. C. Svensson e a minha noiva chegaram a Guarani. Irmão Svensson não passou muito bem durante alguns dias, mas agora está bem. Que Deus possa abençoa-lo. Foi necessário eu ir a colônia Ijuí, de onde estou escrevendo estas linhas, para fazer alguns negócios a respeito da construção. Estou preocupado que não chegou dinheiro no correio. Quando voltar a Guarani não sei como vai ficar. Certamente será uma crise difícil para mim, e não sei como passar. Necessito agora de mil réis para poder pagar as dívidas mais próximas. Seria muito triste se for necessário vender os terrenos e a casa que logo estará pronta. Se o Senhor não ajudar agora numa maneira tremenda perco de tudo, menos Deus. Aí vou ter que deixar a colônia. Deus conhece a minha intenção de engrandecer o seu nome.186

O missionário expõe sua frustração com a demora da ÖM em socorrê-lo diante das dificuldades financeiras mediante o envio de ofertas. Jansson assumiu muitos compromissos diante das necessidades e, ao que parece, algumas vezes sem o consentimento da missão, querendo, posteriormente, cobrar sobre algo que ele entendia ser necessário. Parece-nos que a ÖM não dava um cheque em branco ao missionário, antes, ele precisaria elaborar um planejamento a ser avaliado pela missão e, a depender do parecer desta, ele teria de se adequar.

Como o pastor certamente lembra, comprei, logo na chegada em Guarani, 3 terrenos por 160 mil reis. O terreno na esquina paguei, mas as outras duas ia pagar somente quando eu fosse começar a construir. Agora as leis são assim, deve-se construir dentro de um ano, ou pelo menos em dois anos. O meu pensamento era assim, que iríamos construir no terreno na esquina primeiro por ser o terreno mais valioso, e depois construir duas casas simples nos outros dois terrenos, que seriam simples armazéns. O fundamento da casa na esquina e feito segundo a planta que enviei, e vai custar mais ou menos mil reis. Somente posso dar números exatos quando tiver verificado as faturas. Já que não veio tanto dinheiro para a construção como necessitava, penso em construir uma casa de madeira mais simples no terreno ao lado. Pensei em ter esta casa pronta quando o irmão Svensson e a minha noiva chegassem, mas não foi possível. Agora não tenho dinheiro para pagar os trabalhadores, nem a madeira. Se posso ficar com os terrenos e a casa tenho que pedir aos trabalhadores para deixarem a obra, e eu mesmo também terei que fechar a escola, para que eu mesmo trabalhe com a obra. Tenho uma grande dívida para com eles. A missão necessitava tanto, tanto destes terrenos. Não ha outro lugar em Guarani para hospedar a missão. Por outro

lado, os terrenos valorizam e, depois de alguns anos a missão poderia receber uma boa verba, somente nos terrenos. Agora estou esperando o que Deus irá fazer!

Parece-nos que o missionário desejava constranger Ongman com a situação pela qual estava atravessando em Guarani. Não nos fica claro, mas surge-nos a suspeita que Ongman, como presidente da ÖM, não apoiava na integralidade o trabalho desenvolvido pelo missionário, sendo, talvez, esse o motivo de não enviar o recurso necessário para a ampliação dos trabalhos da IBS em Guarani. Ao chegar em Guarani, Svensson passou a reportar-se a Ongman, que, somente após ter a confirmação acerca das aquisições feitas por Jansson – o que denota essa possível falta de apoio integral ao trabalho do missionário –, começou a enviar o dinheiro necessário para o pagamento das dívidas assumidas. Svensson foi importante para novos investimentos financeiros feitos no Brasil pela ÖM, pois entendia que as necessidades expostas por Jansson deveriam ser sanadas, algo que ocorreu mais a frente.

Encerrando a carta, procurando dar uma boa notícia, anuncia seu casamento com Anna Malm, tentando, talvez, dar um alento ao excesso de força colocada em sua fala indignada. Na maioria das cartas de Jansson enviadas a Ongman, aparecem falas e reivindicações com referência a quantias em dinheiro. Aparentemente, a questão financeira não foi bem tratada entre a ÖM e Jansson, o que causou em vários momentos desconfortos para ambos. Após a chegada de sua noiva, Anna Malm, e do missionário Svensson, questões de cunho financeiro continuaram evidentes, contudo, Svensson exercia uma função não oficial como um certo tipo de avalista e, quando entendia que a ÖM devesse enviar novos recursos, escrevia para Ongman, que lhes enviava os recursos necessários para a implementação da IBS e de seus trabalhos.

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