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3.3 Estudos de caso de cidades inteligentes e humanas

3.3.2 Cases de Fracassos das Smart Cities

O caminho equivocado das Smart Cities originou alguns cases notáveis de fracasso, a exemplo das cidades de Masdar em Abu Dhabi, que visava usar tecnologias avançadas para se tornar a primeira cidade “zero de carbono” do mundo; Songdo na Coréia do Sul, uma cidade permeada por sensores para melhorar a sustentabilidade e gestão da cidade e o “Vale do Plan IT” em Portugal, com a visão de um "sistema de operação urbano" usado para gerenciar toda a cidade. O objetivo desses projetos foi a criação de novas cidades de alta tecnologia a partir do zero. No entanto, nenhuma delas acabou como planejado. A cidade de Masdar, que abriu o caminho em 2008, abriga apenas um punhado de edifícios que compõem o Instituto Masdar de Ciência e Tecnologia e alguns estudantes residentes. O Vale do Plan IT acabou não sendo construído por causa da crise financeira. Songdo é o mais desenvolvido dos três, mas não está claro se os $ 35 bilhões gastos com isso resultaram em uma cidade que é mais sustentável e habitável do que as cidades comuns.

Muitos dos campeões dessas primeiras Cidades Inteligentes eram empresas de TI (Tecnologia de Informação) que sabiam muito sobre tecnologias avançadas de rede e análise de dados, mas pouco sobre o funcionamento das cidades, e é por isso que eles se concentraram na

construção de novas cidades a partir do zero, em vez de se envolverem com as questões que as cidades atuais enfrentavam. No entanto, os críticos mostraram o quão impraticável seria aplicar tecnologia desenvolvida baseada em visões utópicas nas cidades do mundo real. Como resultado, as empresas de TI começaram a desenvolver produtos e serviços para vender às cidades existentes. Uma maneira como eles fizeram isso foi buscando entender os desafios das cidades.

Apesar do que as empresas aprenderam ao trabalhar com as cidades, as ferramentas oferecidas aos governos municipais hoje ainda são tecnologias de ponta. Por exemplo, o cerne da oferta da Cidade Inteligente muitas vezes é um núcleo de controle central, onde os "gerentes da cidade" podem monitorar suas cidades em centenas de computadores e em telas gigantes montadas na parede, uma prática extraída da gestão do tráfego, mas agora abrangida para a cidade e seus vários sistemas como um todo.

As Cidades Inteligentes estão agora alcançando um ponto de virada. Elas continuarão a se concentrar em tecnologia de ponta ou começarão a considerar as necessidades das pessoas e o papel que elas podem desempenhar para tornar suas cidades melhores? A China e a Índia até agora concentraram seus projetos-piloto principalmente nos aspectos de hardware do desenvolvimento da Cidade Inteligente, afirmando que os projetos da Cidade Inteligente devem usar sistemas inteligentes de monitoramento e controle automatizados para tornar os ambientes da cidade mais habitáveis e "sistemas de informação para gestão de cidades digitais e integradas” para tornar a gestão da cidade mais eficiente e precisa. No entanto as grandes adaptações de TICs já estão adaptando os seus produtos à plataforma aberta FIWARE, mas ainda mostram grandes dificuldades na área de consultoria de participação e inovação social. Vai ser necessário desenvolverem o ecossistema adequado incluindo empresas com esse conhecimento e nesta oportunidade que se enquadra a InovaCity.

As cidades devem estar cientes de quatro das maiores falhas com a visão de tecnologia das Cidades Inteligentes:

• Começando com tecnologia em vez de desafios urbanos. O trabalho em Cidades Inteligentes geralmente começa com a questão: como podemos aplicar as tecnologias de ponta já existentes? Isso acontece porque o principal objetivo dos projetos-piloto de Cidades Inteligentes é, muitas vezes, o desenvolvimento econômico. Ou seja, apoiar as empresas a criarem e comercializarem tecnologias que podem ser vendidas para cidades do mundo todo.

• Uso insuficiente ou falta de evidências. Apesar dos enormes valores investidos em Cidades Inteligentes em todo o mundo, há poucas evidências publicadas que mostram que

as soluções que elas oferecem realmente ajudam as cidades a enfrentar desafios do mundo real. Instalar sensores em toda a cidade ou usar dados para prever padrões de tráfego podem tornar as cidades mais eficientes e sustentáveis. Alternativamente, pode custar mais do que economizar, especialmente quando levamos em conta os custos de licenciamento e a manutenção. As cidades, atualmente, não possuem uma orientação clara sobre em quais tecnologias investir e isso continuará acontecendo até que os projetos-piloto das Cidades Inteligentes comecem a compartilhar suas descobertas.

• Falta de consciência de como os outros estão tentando melhorar as cidades. O campo das Cidades Inteligentes é, muitas vezes, bastante limitado, com os tecnólogos falando um com o outro, mas não buscando juntar suas descobertas ao trabalho que outros grupos estão fazendo para enfrentar os desafios urbanos; como aqueles que trabalham no governo da cidade em áreas de transporte e planejamento para desenvolvimento econômico e participação pública.

• Pouco espaço para o envolvimento dos cidadãos. Muitas estratégias de Cidades Inteligentes oferecem aos cidadãos pouca chance de se envolverem no design e implantação de novas tecnologias. Enquanto os cidadãos tendem a ser os beneficiários implícitos de projetos de Cidades Inteligentes, raramente são consultados sobre o que eles querem e sua capacidade de contribuir para melhorar a vida da cidade é muitas vezes ignorada.

Os efeitos dos painéis de dados nas tomadas de decisões das cidades ainda não são bem compreendidos, mas uma observação crítica é que seus usuários desconhecem as decisões subjetivas que foram feitas para selecionar e processar os dados como, por exemplo, quais métricas são incluídas e quais são deliberadamente excluídas. Para enfrentar esses desafios, as cidades criam aplicativos e serviços que tornam mais fácil para os cidadãos reportarem problemas. Eles podem, por exemplo, permitir que os cidadãos enviem uma foto do seu smartphone de um buraco que encontraram ou “tweetar” uma queixa sobre um ônibus que não chegou. Esses serviços surgiram desde a criação do Fix My Street, um site criado em 2007 que permite que os residentes relatem problemas para os conselhos locais, marcando-os em um mapa. Várias cidades ao redor do mundo, incluindo Helsinque na Finlândia, Lisboa em Portugal, Natal no Brasil e muitos outros os incorporaram em seu fluxo de trabalho.

Além de ajudar as cidades a reduzir custos, os cidadãos também podem usar sistemas de relatórios bidirecionais para uma variedade de outros fins. Por exemplo, em Manila, eles podem denunciar abusos por funcionários da cidade através da I am part of the solution (Eu sou parte da solução) e, na Índia, as mulheres podem usar o site Safecity para denunciar e mapear

agressões sexuais. Nesses casos, os mapas também são um recurso para que ativistas possam pressionar seus governos para lidar com essas questões.

As mudanças estão acontecendo muito rápido e tanto os cidadãos como as autoridades estão considerando novas abordagens para enfrentar e se adaptar a essas transformações. Na verdade, alguns sinais dessas novas abordagens são visíveis e estão surgindo novos modelos de inovação orientados para os cidadãos, com foco na redefinição e co-design dos serviços da cidade.

4 METODOLOGIAS, TECNOLOGIAS E FERRAMENTASPARA CONSTRUÇÃO DE CIDADES INTELIGENTES E HUMANAS