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O modelo de Cidade Inteligente e Humana é baseado em três componentes principais: Urban Living Labs (ULLs), bairros e sustentabilidade. Os ULLs representam o tipo de ambientes inovadores que o MyN pretende ativar (OLIVEIRA, 2013). O conceito ULL é relevante porque apresenta o que o projeto MyN considera como um quadro metodológico fundamental para gerar, experimentar, prototipar e testar soluções inovadoras que os cidadãos podem facilmente co-projetar e das quais podem se apropriar.

Os LLUs são considerados no MyN como ambientes criativos em que diversas partes interessadas [organizações não governamentais (ONGs), municípios, parceiros, indivíduos] colaboram para explorar novos serviços para abordar questões urbanas. Aqui, a criatividade tem a oportunidade de ganhar uma perspectiva de mercado. Na verdade, nestes ambientes é possível começar a considerar os problemas da vida diária e a maneira como eles acontecem localmente; então, as experiências dos cidadãos são transformadas em recursos para a inovação e os projetos-piloto aumentam suas chances de se tornarem serviços sustentáveis no médio a longo prazo. Assim, a inovação não requer necessariamente a identificação de espaços de mercado disponíveis para novos produtos ou serviços (MURRAY, GRICE, MULGAN, 2010).

O MyN não quer introduzir novos conceitos ou processos na vida dos cidadãos, em vez disso, a metodologia busca começar a partir do que existe e se conecta com essa realidade, tentando se tornar parte dela e dirigi-la para uma visão de desenvolvimento compartilhada. Além disso, a dimensão urbana introduz uma forte relação com o contexto local de uma cidade (Inteligente e Humana).

4.3.2 O bairro e a vizinhança

O segundo conceito central do MyN é o próprio bairro. Consideramos que o bairro é a escala adequada em que a criatividade para a inovação comunitária pode ser efetivamente ativada e cultivada (WEISSBOURD; BODINI, 2009). Esta convicção também é impulsionada por uma firme crença no domínio dos estudos urbanos, que localiza nesta escala urbana alguns dos maiores desafios ambientais e econômicos que as cidades enfrentam, atualmente. Além disso, consideramos a escala em que podemos encontrar o que chamamos de "poder da comunidade", ou um senso de comunidade que incentiva a capacidade dos cidadãos de se tornarem motores da mudança. Independentemente de tratarmos com uma área urbana de 2.000 ou 40.000 habitantes, é aqui que o senso de comunidade se revela. O tamanho físico do bairro em si não é relevante.

Esta é também a escala em que a proximidade geográfica dos atores urbanos ainda é um recurso, e não uma limitação. As cidades estão se manifestando como palcos teatrais onde as pessoas experimentam: solidão, isolamento e, finalmente, apatia. Mas, nas vizinhanças urbanas, a proximidade aparece como um valor e pode ser um recurso relevante para dar vida à inovação, que deve ser capturada em um processo do Living Lab. Neste tipo de contexto, a inovação começa sob a forma de "epifanias de inovação", seguindo a experiência dos problemas da vida diária. É nessa escala da vizinhança que os cidadãos, que sentem a ausência de soluções para as necessidades ou desejos da comunidade, podem começar ou experimentar possíveis soluções para seus próprios problemas. Essas situações são aquelas com as quais o MyN pretende se conectar, independentemente de derivarem das iniciativas dos governos locais (de cima para baixo) ou pelo impulso dos cidadãos (de baixo para cima).

Finalmente, é a nível de vizinhança que as pessoas não são apenas como simples "usuários de serviços" da cidade. Neste nível, as pessoas são consideradas seres humanos que moldam o capital social. Essa é a perspectiva preferida do MyN, que não trata apenas com meros usuários ou com pessoas com necessidades de ter respostas; ele também vê os cidadãos como atores da cidade, que são capazes de gerar mudanças relevantes e que querem uma vida social própria, acreditam no bem coletivo e também têm sentimentos, desejos e vontades a cumprir.

4.3.3 Sustentabilidade Urbana

O terceiro conceito principal do MyN é a sustentabilidade. A sua relevância pode ser vista no aumento não só dos desafios financeiros e econômicos, mas também dos ambientais e sociais que a humanidade enfrenta agora. É também um dos primeiros elementos da visão MyN. Na verdade, o MyN não procura necessariamente soluções de mercado convencionais, ou seja, produtos e serviços situados e baseados no mercado e com um preço determinado em coerência com o modelo econômico tradicional "baseado em custos". O MyN assume que uma economia alternativa é possível, em coerência com a ideia de que os cidadãos não são apenas usuários de serviços, mas principalmente seres humanos.

Portanto, considera a oportunidade de confiar em soluções "micro" não convencionais e não comercializáveis e em ideias pequenas e práticas desenvolvidas ad hoc, para resolver problemas onde estes são experimentados em escala. Considera também os serviços simples que podem ser concebidos em ambientes urbanos de co-design, enquanto trabalham com e para

os cidadãos e que são usados para empurrar os próprios cidadãos na direção da mudança sistêmica. A sustentabilidade, no sentido de MyN, não pode se materializar fora de um modelo econômico plural, ecológico, justo e ético, bem como profundamente enraizado na cidadania e equidade.

Nesse sentido, as experiências piloto são importantes para avaliar a viabilidade e otimizar novas soluções e são fundamentais para incentivar efeitos em larga escala e, portanto, alcançar a incorporação e escala urbana dessas soluções inovadoras. Os casos temporários devem ser transformados em fenômenos duradouros, não necessariamente em escala urbana, permitindo transformações duradouras e radicais nas comunidades locais que estão emergindo na forma de novos movimentos políticos da cidadania consciente empoderando o ativismo positivo na transformação e inovação da própria democracia centrada no cidadão, nas suas liberdades, capacidades e no bem comum. Estes movimentos encontram a sua força na prática política participativa abrindo caminhos progressivamente para o aperfeiçoamento da democracia, tornando-a aberta, transparente e justa.