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O caso específico da animação turística

Capítulo 5 Apresentação, análise e discussão dos dados recolhidos

5.2 Apresentação, análise e discussão dos dados

5.2.4 O caso específico da animação turística

Neste subcapítulo de análise e discussão dos dados, referente ao caso específico da animação turística, serão estudadas as respostas obtidas das entrevistas administradas às empresas que efetuam viagens de moliceiro na Ria de Aveiro, ao teatro, ao museu e à empresa de walking tours.

No que concerne às empresas que vendem viagens de moliceiro ao longo da Ria de Aveiro, foi pedido ao entrevistado, enquanto figura representativa da entidade, que delimitasse o que entendia por pacote turístico acessível. As duas respostas obtidas foram distintas. Enquanto um dos entrevistados referiu que “a política da empresa não passa por ter um pacote que se caracterize apenas pela acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida”, uma vez que “temos programas que podem ser usados por todos”, o outro aprofundou a questão segundo

Frequência das respostas

Sim Não

Existência de rampas de acesso 2 0

Entrada acessível 1 1

Balcão de receção rebaixado 0 2

Bons níveis de iluminação 2 0

Espaço de circulação dentro da parte física da entidade 2 0

Mobiliário rebaixado 1 1

Existência de superfície táctil informativa 0 2

Sinal de emergência audível e visível 1 1

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uma perspetiva mais exata e que ia ao encontro do pretendido. Assim, este último referiu que, na sua opinião, um pacote turístico acessível visava fatores como: preocupação em ajudar as pessoas com mobilidade reduzida, rampas de acesso devidamente adaptadas e guias em várias línguas, e em vários formatos.

Esta consciencialização reflete-se diretamente na pergunta que se seguiu, e que tinha como finalidade saber se os serviços prestados estavam equipados para que o turista com mobilidade reduzida pudesse usufruir de todo o produto que adquiriu. O primeiro entrevistado mencionou que não possuíam equipamentos, por exemplo, de multimédia e de segurança, que estivessem à disposição do visitante, fundamentando que a sua aquisição/aluguer não se justificava. O segundo, por outro lado, respondeu que detinham equipamentos que permitiam ao cliente usufruir dos produtos turísticos que vendiam, e que estes era propriedade da empresa.

Em ambos os casos procurou saber-se se os clientes, aquando do usufruto das viagens, detinham a sensação de segurança. As respostas foram positivas, indicando que situações constrangedoras, como o não usufruto dos serviços da empresa, nunca tinham sucedido, e que não era necessário os visitantes efetuarem comentários no sentido de ultrapassar possíveis barreiras.

Se juntarmos toda esta análise à anteriormente efetuada relativamente à formação dos colaboradores a operar nas empresas, será possível reafirmar a inacessibilidade de um serviço que à partida permitiria ao visitante dar resposta a um conjunto de motivações que os levam a viajar – o prazer de viver novas experiências e a vontade de superar desafios (Neumann & Reuber, 2004; Kastenholz et al., 2010).

Numa análise final a estes casos, dever-se destacar o fato de os dois entrevistados não deterem conhecimento da existência de empresas de animação turística especializadas no segmento do mercado do turismo acessível. Esta premissa reflete a falta de sensibilização para com este grupo de visitantes, pois através de uma pesquisa simples na internet facilmente obteriam exemplos de boas práticas nesta área.

Relativamente à empresa de animação cujos serviços visam o acompanhamento durante as visitas, a organização das mesmas, ao longo da cidade de Aveiro, esta possui uma política bastante interessante e positiva, e que vai ao encontro das necessidades especiais dos visitantes com mobilidade reduzida.

Aquando da solicitação dos seus serviços, a empresa procura sempre saber se existe alguém com necessidades especiais, a fim de serem adotadas medidas adequadas que lhes permitam usufruir de todo o programa. Nesse estudo prévio ao grupo, pretende-se saber que tipo de visitante se vai receber, e quais as suas necessidades. Para tal, são colocadas questões como

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a idade, a língua, os gostos, entre outras variáveis que demonstram ser importantes para a prestação de um bom serviço.

Caso exista no seio do grupo alguma necessidade especial, a visita é organizada consoante as características especiais dos visitantes. Por exemplo, quando se trata de idosos com dificuldade de locomoção a empresa subcontrata um serviço de transporte, e no caso de visitantes invisuais a entidade possui um colaborador capaz, que possibilita ao visitante perceber todo o percurso efetuado.

De ressaltar ainda que sempre que um grupo possua mais de vinte pessoas, este é acompanhado por dois guias, o que permite ultrapassar possíveis barreiras encontradas ao longo do percurso.

Questionado acerca do tipo de barreiras encontradas com maior frequência, a resposta obtida teve um único sentido – aquelas que estão diretamente ligadas à arquitetura da cidade e dos edifícios.

Face a esta conceção e para que o visitante não fique insatisfeito com possíveis casos de não usufruto dos produtos turísticos adquiridos, a empresa previne-se adotando uma política que visa executar sempre um estudo prévio de cada grupo, como já referido, bem como encarregar os seus colaboradores da criação dos pacotes vendidos, fazendo-os deslocar ao terreno a fim de percecionar que tipo de barreiras estão presentes, e se o grupo em causa pode, ou não, desfrutar daquilo que visita. Caso um determinado membro do grupo não o possa fazer, esse monumento, ou outro produto, não será incluído no percurso.

Contudo, existem barreiras que a empresa não consegue prever. Aquando desta situação, os guias tentam minimizar a situação e sucede, por vezes, os próprios visitantes fazerem comentários ou apresentarem soluções, como por exemplo “olhem no nosso destino sucedia o mesmo e nós recomendamos que se fizesse isto…”. Este é, sem dúvida, um conhecimento de extrema importância adquirido pela a empresa, e com um enorme contributo para o melhoramento do serviço prestado.

Analisados os casos de animação turística, será abordado agora o caso específico do teatro. Esta entidade caracteriza-se pela adoção gradual, ao longo dos anos, de medidas com vista a aumentar a acessibilidade no seu interior. São de referir a construção de um caminho contínuo até diferentes pontos-chave, através da eliminação de escadas, reserva de lugares nas salas de espetáculo para pessoas com mobilidade reduzida, e reforço de pessoal, quando assim se justifica. Isto reflete-se no que, para o teatro, é uma política de prestação de serviços acessíveis – “aqueles que permitem a todos usufruir, sem barreiras, do que os espetáculos em si têm para oferecer”.

Com o intuito de analisar a acessibilidade física do teatro questionou-se, segundo um conjunto de premissas devidamente sustentadas na literatura, se este possuía barreiras que impediam o

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usufruto dos espetáculos. Segundo as respostas obtidas, conclui-se que o nível de acessibilidade desta entidade de animação turística é elevado, pois somente não possuem balcão rebaixado e identificação tátil das várias instalações. Todas as outras possíveis barreiras, nomeadamente uma entrada inacessível, inexistência de rampas de acesso, inexistência de lugares reservados, quer de estacionamento, quer nas salas de espetáculo, fracos níveis de iluminação, ausência de espaço de circulação, inexistência de casas de banho adaptadas e sistema de alarme preparado para pessoas surdas ou invisuais, não se verificaram.

Todo este panorama é conseguido devido à existência de uma entidade fiscalizadora, a Inspeção Geral das Atividades Culturais (IGAC), que aquando da visita à instituição, e quando se verifica ser necessário, emite um conjunto de premissas para que a direção do teatro melhore a acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida.

O último caso a ser estudado refere-se ao museu, que desde logo, e devido às suas características arquitetónicas, possui uma parte completamente acessível a visitantes com mobilidade reduzida, enquanto a outra, a parte monumental, e embora seja objetivo da gestão do museu torná-la acessível, ainda não é um feito realizável.

Assim, e consciente desta premissa que dificulta a completa acessibilidade geral ao museu, foi pedido que segundo um conjunto de características, o entrevistado referisse se a entidade possuía, ou não, as barreiras em causa. Uma análise global à informação recolhida permite aferir que a entidade possui um número reduzido de fatores impeditivos ao seu pleno usufruto, nomeadamente a inexistência de lugares de estacionamento reservados para pessoas com mobilidade reduzida, balcão de receção com uma altura elevada, ausência de exposições adaptadas, segundo diferentes formatos linguísticos e auditivos, e carência de um sistema de alarme preparado para pessoas surdas ou invisuais. Contudo, princípios como existência de entrada acessível, rampas de acesso, de elevador, de bons níveis de iluminação, de sinais visuais de direção e acesso, de espaço de circulação, de casas de banho adaptadas, de acessibilidade aos espaços comuns, e permissão de cão guia, verificaram-se com premência no museu em estudo.

Todavia, era de extrema importância verificar se o museu estava equipado com painéis interpretativos e placas de identificação que obedeciam a critérios específicos, sendo esta uma das barreiras mais frequentemente citadas na literatura. As respostas obtidas permitem concluir que o posicionamento, a linguagem, a visibilidade dos conteúdos, a iluminação, e o tamanho das imagens e ilustrações que complementam a informação escrita vai ao encontro das pessoas com mobilidade reduzida. Permanece contudo a lacuna referente à inexistência de informação em braille, ou imagens em relevo que permitam dar resposta a pessoas invisuais.

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Numa conclusão final, e embora o número de entidades de animação turística sejam diminutas, face ao número de empresas existentes no destino Aveiro, deverá salientar-se que estas permitiram percecionar que o seu nível de acessibilidade vai ao encontro do exposto no estudo de Card et al., (2006). Segundo este, as atrações turísticas possuem, na sua generalidade, e na opinião dos visitantes, um nível de acessibilidade baixo, e o seu posicionamento ao nível das atitudes positivas do staff para os visitantes encontra-se ainda em quadrantes negativos. Contudo, na opinião dos prestadores de serviços integrantes na investigação em curso, as atitudes dos colaboradores são positivas, e o nível de acessibilidade é o mais elevado.

Por outro lado, sustenta-se o defendido por Carneiro (2010), que refere como principais barreiras, ao nível das atrações turísticas, a informação disponibilizada, a altura e conteúdos dos painéis interpretativos e placas de identificação, a falta de formação dos guias turísticos, a inexistência de meios audiovisuais e a altura dos balcões de atendimento.